Resumo: Propsito do Trabalho: A fronteira do resultado divulgado pela contabilidade tem sido fruto de debates entre a academia, normatizadores e preparadores das demonstraes contbeis, existindo basicamente duas linhas: (i) tratar como resultado apenas o que evidenciado na demonstrao do resultado do exerccio; (ii) considerar as variaes provocadas no PL por receitas e/ou despesas que no transitaram ainda pela demonstrao do resultado resultado abrangente. Desta forma usando como base de sustentao os conceitos enunciados na Teoria da Contabilidade para receita e despesa e considerando (i) o resultado como um confronto entre receitas e despesas; (ii) a funo informativa da contabilidade, de se supor que o resultado abrangente parece mais apropriado para tais propsitos. Diante desta perspectiva existe uma lacuna em se verificar a volatilidade do resultado abrangente para explicar risco no mercado de capitais brasileiro. Desta forma este estudo tem como contribuio compreender como a volatilidade do RAT pode explicar o risco sistemtico (beta) e idiossincrtico (volatilidade dos retornos das aes) de empresas no financeiras de um mercado emergente, no caso o Brasil, j que as pesquisas internacionais o tem estudado em mercados desenvolvidos, tais como, Estados Unidos e Nova Zelndia (Khan e Bradbury, 2014; Khan e Bradbury , 2015), respectivamente, e em bancos norte americanos (Barth et al, 1995; Hodder et al., 2006; Black, 2014). Dentro deste contexto levanta-se a seguinte questo de pesquisa: quais as implicaes da volatilidade do Resultado Abrangente Total (RAT) sobre o risco? Desta forma esta pesquisa tem como objetivo mostrar como os Outros Resultados Abrangentes (ORA) impem volatilidade ao lucro lquido atravs do RAT e qual a influncia desta volatilidade sobre o risco.
Base da plataforma terica: De acordo com Khan, Bradbury (2014) o reporte dos ORA em uma nica demonstrao de desempenho uma questo controversa. O FASB e o IASB, atravs da SFAS 130 e IAS 1, respectivamente, permitem que a Divulgao do Lucro Abrangente seja em um nico ou em mltiplos relatrios, junto com a DRE e/ou com a DMPL. Para Khan, Bradbury (2015) ao rever esta norma, o IASB respondeu favoravelmente aos preparadores de demonstraes financeiras que fizeram lobby contra uma nica declarao de desempenho, nos seguintes argumentos: a) os itens dos ORA so volteis e que a sua incluso com resultados principais do negcio ir confundir os usurios de demonstraes financeiras e levar a erros de interpretao significativa de desempenho de uma entidade. b) a declarao nica diminui a importncia de lucro (lucro lquido), tornando-o um subtotal. c) As possveis causas para a confuso do usurio criado por uma nica instruo que os itens dos ORA so de natureza diferente, menos controlveis, difcil de prever e no atribuvel ao desempenho da gesto. d) ORA no podem ser usados para inferir tendncias de longo prazo. e) no so susceptveis de persistir e esto sujeitos a mudanas futuras em estimativas ou preos. Ainda no que se refere opo de divulgar na DMPL e/ou na DRE, Bamber et al. (2010), diz que apesar dos normatizadores preferirem que as empresas relatem resultados abrangentes em uma declarao de desempenho, que eles consideram como mais transparente, preparadores no seguem essa preferncia, em vez disso relatam resultados abrangentes na DMPL, na percepo de que se ORA fossem divulgados junto com a DRE traria maior percepo de risco e consequentemente avaliao inadequada da gesto. Desta forma volatilidade do resultado abrangente sugere percepo de risco, pela sua baixa preditividade de fluxos de caixa futuros. Outras implicaes que alguns itens do ORA so marcados a mercado e esto sujeitos a taxas de juros, variao cambial e outros ndices (Dantas, Medeiros, Galdi e Costa, 2013), ou seja, condies de mercado que esto fora do controle da gesto (Black, 2014). Ainda no que se refere a volatilidade Dechow e Schrand (2010) cita que quando os lucros ou fluxos de caixa so mais persistentes refletem melhor os fluxos de caixa futuros, deste modo melhoram a capacidade do mercado em capturar informaes mais confiveis. De acordo com Paulo (2007) empresas podem utilizar-se do income smoothing (suavizao dos resultados) como forma de reduzir a volatilidade dos resultados reportados, pois os investidores avessos ao risco preferem que os lucros sejam estveis. De acordo com Black (2013) na literatura ainda no se tem um argumento forte sobre o que impulsiona a relao (ou falta dela) da volatilidade dos ORA e o risco da empresa e que devemos ser capazes de aprender mais sobre a volatilidade dos ORA e risco da firma. Assim segundo Khan e Bradbury (2014) estudos de risk relevance do resultado abrangente podem ser teis para normatizadores, pois a anlise da volatilidade do resultado abrangente em relao ao lucro pode trazer respostas significativas no que diz respeito a percepo do mercado em relao ao risco. Segundo Maines e Mcdaniel (2000), normatizadores acreditam que a apresentao do resultado abrangente junto com a demonstrao de desempenho iria melhorar a sua visibilidade, aumentando assim a utilizao dos investidores desta informao. J gerentes corporativos propem que resultado abrangente seria mais apropriadamente apresentado na demonstrao do patrimnio lquido.
Mtodo de investigao: Para verificar o efeito da volatilidade dos resultados abrangentes sobre as variveis de risco, utilizou-se duas amostras de empresas, com dois modelos economtricos distintos. Para o mtodo de diferenas em diferenas foi utilizado uma amostra de 220 empresas que negociam aes da BM&FBovespa, compreendendo o perodo do primeiro trimestre de 2004 ao terceiro trimestre de 2015. J a subamostra foi composta por 88 empresas que apresentaram ORA entre o primeiro trimestre de 2010 a ao terceiro trimestre de 2015. Para os dois modelos o ano de 2010 foi tomado como referncia, pois, marca a data de incio da obrigatoriedade da divulgao, pelas companhias de capital aberto, da demonstrao do resultado abrangente. Inicialmente buscou-se dados dos ORA junto a base de dados da Economtica e Thomson Reuters, mas pela indisponibilidade dos mesmos, os dados foram coletados manualmente, empresa por empresa, no site da BM&FBovespa. Desta forma esta pesquisa busca avaliar se os ORA imps volatilidade ao lucro lquido atravs do RAT e qual a influncia desta volatilidade sobre as variveis de risco. Para isso utilizou-se como parmetros o efeito do tempo antes (do primeiro trimestre de 2004 ao quarto trimestre de 2009) e depois (do primeiro trimestre de 2010 ao terceiro trimestre de 2015) da obrigatoriedade das empresas a divulgar a demonstrao do resultado abrangente (DRA). Para grupo de tratamento utilizou aquelas empresas que apresentaram ORA de 2010 em diante, 88 empresas, e aquelas empresas que no apresentaram, 132 empresas, como grupo de controle. O grande apelo da estimativa por diferena em diferenas vem de sua simplicidade, assim como o seu potencial para contornar muitos dos problemas de endogeneidade que tipicamente surgem ao fazer comparaes entre indivduos heterogneos e problemas de autocorrelao (Bertrand et al. 2003). Outro aspecto que outras variveis, no capturadas no modelo e que no seja a volatilidade do RAT, podem afetar o risco da empresa durante o perodo de anlise. Para confirmar o efeito da volatilidade do RAT foram reestimados os dados utilizando, uma subamostra de 88 empresas, entre o primeiro trimestre de 2010 e o terceiro trimestre de 2015.
Resultados, concluses e suas implicaes: A forma de demonstrar o desempenho de uma gesto atravs do lucro sempre esteve evidenciado em debates, entre colocar no lucro apenas receitas e despesas realizadas no perodo, j outra linha defende que o lucro seria melhor mensurado quando inclui-se tambm receitas e despesas ainda no realizadas, resultado abrangente. Esta ultima forma de apresentao do desempenho foi acolhida como a melhor forma de mostrar o desempenho de uma gesto pelos normatizadores, apesar de preparadores preferirem reportar o tradicional lucro lquido. Os resultados deste debate foi consubstanciado em norma atravs da SFAS 130 (1997), pelo FASB e mais tarde pelo IASB, IAS 1 (2007), dando a opo dos preparadores apresentarem a demonstrao do resultado abrangente (DRA) junto ou separada do lucro lquido. Diante da opo de divulgar a DRA junto ou separada do lucro lquido que preparadores tem argumentado que se divulgada com o lucro lquido poderia confundi-los sobre o real desempenho da gesto, pois os outros resultados abrangentes so itens muito volteis o que poderia sugerir idia de risco. Desta forma esta pesquisa buscou verificar se a volatilidade do resultado abrangente total (RAT) tem maiores implicaes sobre o risco da empresa que o lucro lquido. As principais concluses do trabalho mostraram que apesar do resultado abrangente total ser mais voltil que o lucro lquido, isto de fato no faz com que a percepo que o mercado tenha diante de tal volatilidade seja mais acentuada com o resultado abrangente total que o lucro lquido. Estes resultados contribuem para (i) entendimento de como o mercado reage informao incremental dos outros resultados abrangentes quando reportado junto do lucro lquido para explanar o resultado abrangente total e (ii) como os mercados emergentes como o brasileiro se comporta diante desta informao j que a maior parte das pesquisas anteriores est direcionada para mercados desenvolvidos que tem mostrado resultados diferentes, ou seja, que a volatilidade do resultado abrangente total explica melhor o risco que o lucro lquido (Khan e Bradbury, 2014; Hodder et al.,2006). Em uma anlise mais detalhada sobre se a informao incremental que foi imposta ao lucro lquido, outros resultados abrangentes, possui implicaes sobre o risco de forma isolada. Verificou-se que a volatilidade incremental no est relacionada as variveis de risco, conforme estudos internacionais (Kabir e Laswad, 2011; Khan e Bradbury, 2014 e Khan e Bradbury, 2015). Mas como os outros resultados abrangentes so constitudos de itens heterogneos, fiz-se uma analise item a item, do qual foi constatado que de forma individual os itens sugerem respostas diferentes nas variveis de risco como, os AFDV esto significativamente relacionados ao beta e a volatilidade dos retornos das aes e que o HFC e OE estatisticamente relacionadas ao VaR e volatilidade. Tais concluses levantam novas discusses a respeito dos itens que compem os outros resultados abrangentes que alm de serem itens que no transitaram ainda pelo resultado so, segundo Ohlson (1999) itens que por natureza so transitrios, ou seja, so value irrelevante. Desta forma segundo Khan e Bradbury (2014) se este fosse o critrio esses itens no poderiam figurar como ORA por outro lado outros itens que compem o lucro poderiam figurar como ORA. Desta forma os objetivos da pesquisa foram alcanados e a hiptese de pesquisa no foi confirmada de que a volatilidade do resultado abrangente total tem maiores implicaes sobre o risco que o lucro lquido. Assim no caso do mercado de capitais brasileiro, em empresas no financeiras, a volatilidade do lucro ainda mais importante, isso pode dever-se a sofisticao e entendimento do investidor sobre qual a melhor mensurao do lucro para avaliao de desempenho de uma gesto. Prope-se para pesquisas futuras estudar a nvel mais detalhado cada item dos outros resultados abrangentes considerando a sua heterogeneidade e possveis implicaes nas variveis de risco, principalmente no setor bancrio.
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