Resumo:
Propsito do Trabalho:
A teoria do ciclo de vida organizacional tem sido adotada para analisar o desenvolvimento da contabilidade gerencial nas organizaes. Embora haja diferentes modelos tericos para subdividir os estgios organizacionais (ciclos de vida), no estudo optou-se por utilizar o desenvolvido por Anthony e Ramesh (1992), que subdividem o ciclo de vida das organizaes em trs estgios: crescimento, maturidade e declnio.
A literatura tem apresentado evidncias de que a formalizao do Sistema de Controle Gerencial (SCG) sofre alteraes para se adaptar s caractersticas especficas de cada estgio do ciclo de vida (Moores & Yuen, 2001). Tais alteraes contribuem para a evoluo dos artefatos de contabilidade gerencial, que so segregados por autores como Chenhall e Langfield-Smith (1998) em tradicionais e modernos.
Estudos indicam que o SCG torna-se mais interativo e sua adoo se intensifica conforme a organizao migra de um estgio do ciclo de vida para outro (Lavarda & Pereira, 2012) e que diferentes estgios de ciclo de vida demandam diferentes artefatos de contabilidade gerencial (Correia, Gomes, & Bruni, 2011; Valeriano, 2012). Assim, h indcios de que o estgio de ciclo de vida possui relao com os tipos de artefatos adotados. Alinhado com as pesquisas supracitadas, o artigo tem por objetivo relacionar o estgio de ciclo de vida organizacional com o uso de artefatos de contabilidade gerencial tradicionais ou modernos, em empresas do setor de consumo cclico. A pesquisa contribui para o entendimento das mudanas nas prticas de contabilidade gerencial nas organizaes, tomando por base a teoria do ciclo de vida, e diferencia-se dos demais estudos por utilizar dados contbeis e pblicos, eliminando assim a subjetividade das respostas coletadas por meio de questionrio.
Base da plataforma terica:
As organizaes aparentam possuir uma vida semelhante dos seres vivos (Lester & Parnell, 2005), uma vez que as mesmas [...] nascem, tm infncia e adolescncia, atingem a maioridade, envelhecem e morrem (Marques, 1994: 20). E, por apresentarem tal caracterstica, os pesquisadores vm sugerindo que o comportamento e desenvolvimento das empresas seguem modelos de ciclo de vida organizacional (Quinn & Cameron, 1983).
Embora a literatura apresente diferentes modelos para classificar o ciclo de vida em que uma organizao se encontra (Chandler, 1962; Quinn & Cameron, 1983; Miller & Friesen, 1984), no estudo optou-se pelo modelo proposto por Anthony e Ramesh (1992) que divide o ciclo de vida organizacional em trs estgios: crescimento, maturidade e declnio. No crescimento, as empresas registram alto nvel de despesas de capital, uma vez que, durante este estgio apresentam elevao nas vendas e um crescimento rpido. No estgio de maturidade, a empresa muda sua estratgia de crescimento das vendas para o crescimento da rentabilidade. J no estgio de declnio, as empresas tendem a enfatizar a minimizao de custos, por meio da eficincia operacional (Black, 1998). A preferncia pelo modelo de Anthony e Ramesh (1992) deu-se pela possibilidade de classificar a amostra a partir das demonstraes contbeis.
Quanto aos SCGs, para cumprir com seus objetivos, precisa fornecer informaes para o planejamento, avaliao e controle organizacional (IFAC, 1998). Nessa direo, a contabilidade emprega mtodos, instrumentos e filosofias de gesto normalmente denominadas de artefatos (Borinelli, 2006). Tais artefatos se desenvolvem e se aperfeioam para atender as novas e cada vez mais complexas necessidades organizacionais.
Com o intuito de segregar os artefatos de contabilidade gerencial, conforme suas caractersticas e finalidade (estgio evolutivo), a International Federation of Accountants (IFAC) emitiu a International Management Accounting Practice 1 (IMAP 1) que subdivide os artefatos em quatro estgios (IFAC, 1998). Assim, Soutes (2006) sugere que os artefatos compreendidos nos dois estgios iniciais da contabilidade gerencial, proposto pelo IFAC, sejam denominados de tradicionais, ao passo que aqueles compreendidos nos dois estgios finais sejam denominados de modernos.
Evidncias empricas dos estudos de Correia, Gomes e Bruni (2011) e Valeriano (2012) tm demonstrado que h relao entre o estgio de ciclo de vida organizacional, em que a empresa se encontra, e os artefatos de contabilidade gerencial por ela utilizados, o que instiga a realizao de novos estudos, a fim de entender a evoluo do uso dos artefatos conforme a empresa progride em seu ciclo de vida.
Mtodo de investigao:
A populao da pesquisa compreendeu as 66 empresas do setor de consumo cclico listadas na BM&FBovespa, no ano de 2014. Foram excludas dez empresas por no apresentarem dados suficientes para a determinao do ciclo de vida. Das 56 empresas restantes, categorizadas conforme sua fase no ciclo de vida, em 12 no foi possvel identificar, nos Relatrios de Administrao (RAs), a utilizao de artefatos da contabilidade gerencial. Por esta razo, tais empresas foram tambm excludas da amostra final, sendo que a mesma ficou composta por 44 empresas.
Para identificar o estgio de ciclo de vida utilizou-se os quintis das variveis: despesas de capital, crescimento das vendas, payout dos dividendos e idade da empresa, conforme o modelo proposto por Anthony e Ramesh (1992). A coleta das informaes necessrias para o clculo das variveis proxies contbeis foi realizada por meio do banco de dados Economtica, tomando-se por base o ano de 2014. Posteriormente, procedeu-se a coleta dos dados que indicam o uso de artefatos de contabilidade gerencial. Para tanto, efetuou-se a anlise de contedo dos Relatrios de Administrao (RAs) das empresas analisadas, tambm no ano de 2014. Os RAs foram lidos na ntegra, por um especialista em contabilidade, a fim de identificarem-se trechos que remetessem utilizao de algum artefato da contabilidade gerencial. Aps a leitura e a tabulao dos dados referente aos artefatos, uma segunda leitura foi realizada por outro especialista, com o intuito de reduzir a subjetividade da interpretao.
Posteriormente, aplicou-se o modelo de anlise multicritrio TOPSIS, com o intuito de determinar se a empresa possua maior aderncia aos artefatos tradicionais ou aos artefatos modernos. Por fim, para relacionar os estgios do ciclo de vida com os artefatos identificados, utilizou-se a Anlise de Correspondncias.
Resultados, concluses e suas implicaes:
Verificou-se que o estgio com maior quantidade de empresas, no setor de consumo cclico brasileiro, foi o de maturidade, o qual representou 58,9% da amostra do estudo, enquanto o estgio de declnio foi o que apresentou menor quantidade de empresas, apenas 17,9%. J em relao aos artefatos de contabilidade gerencial, constatou-se que o EBITDA foi o artefato evidenciado com maior frequncia nos Relatrios analisados (88,6%), seguido pelo Planejamento Estratgico (31,8%). Por outro lado, os artefatos Preo de Transferncia, Moeda Constante, Simulao e Ciclo de Vida do Produto foram evidenciados em menor frequncia, apenas 2,3% cada.
Aps a identificao dos artefatos aplicou-se a tcnica TOPSIS, com o intuito de verificar se a empresa estava mais aderente aos artefatos tradicionais ou aos artefatos modernos. Este procedimento resultou em 35 empresas com maior utilizao de artefatos tradicionais e 9 empresas com maior utilizao de artefatos modernos.
A anlise de correspondncia indicou que as empresas, no estgio do ciclo de vida denominado de crescimento, possuem maior aderncia aos artefatos modernos e que as empresas do estgio maturidade possuem maior utilizao de artefatos do tipo tradicionais. Por outro lado, as empresas classificadas como em estgio de declnio no apresentaram proximidade com nenhum dos grupos de artefatos analisados.
Estes resultados, em certa medida, divergem do que preconiza a literatura do ciclo de vida organizacional, quanto sofisticao da contabilidade gerencial. Deste modo, conforme evidncias da literatura (Miller & Friesen, 1984), esperava-se que empresas em estgio de crescimento apresentassem maior utilizao de artefatos tradicionais e empresa em estgio de maturidade ou declnio apresentassem maior utilizao de artefatos modernos. Por sua vez, a ausncia de associao entre o estgio de declnio e os artefatos de contabilidade gerencial modernos e tradicionais est em consonncia aos achados de Miller e Friesen (1984), em que as empresas deste estgio do ciclo de vida tendem a declinar a utilizao de instrumentos sofisticados, adotando solues simples frente a problemas mais graves.
Referente Hiptese 1 do estudo, de que existe uma relao entre a utilizao de artefatos tradicionais e modernos da contabilidade gerencial e o estgio de ciclo de vida organizacional em que a empresa se encontra, no foi rejeitada, uma vez que houve agrupamento estatisticamente significativos entre as categorias analisadas.
Dentre as limitaes do estudo, tem-se a fonte de coleta dos dados para identificar os artefatos de contabilidade gerencial, embora a coleta nos RAs evite o vis e a subjetividade passvel de ocorrer com o uso de inquritos, a falta de relato no permite afirmar que no existam outros artefatos que so utilizados, pois a base de anlise o que a empresa divulga, embora evite o vis e subjetividade do respondente.
Referncias bibliogrficas:
Anthony, J. H., & Ramesh, K. (1992). Association between accounting performance measures and stock prices: A test of the life cycle hypothesis. Journal of accounting and Economics, 15(2), 203-227.
Black, E. L. (1998). Life-cycle impacts on the incremental value-relevance of earnings and cash flow measures. Journal of Financial Statement Analysis, 4, 40-57.
Chenhall, R. H., & Langfield-Smith, K. (1998). The relationship between strategic priorities, management techniques and management accounting: an empirical investigation using a systems approach. Accounting, Organizations and Society, 23(3), 243-264.
Correia, R. B.; Gomes, S. M. S.; & Bruni, A. L. (2011). Um Estudo Emprico Sobre Ciclo de Vida Organizacional e Instrumentos de Gesto. Anais do Congresso ANPCONT, Vitria, Espirito Santo, Brasil, 5.
International Federation of Accountants (IFAC/IMAP). Management Accounting Concepts (IMAP 1). 1998. Disponvel em: . Acesso em: 17 de julho de 2015.
Lester, D., & Parnell, J. (2005, october). The progression of small and medium-sized enterprises (sme) through the organizational life cycle. Anais do 28th Annual Conference of the Association for Small Business and Entrepreneurship.
Soutes, D. (2006). Uma investigao do uso de artefatos da contabilidade gerencial por empresas brasileiras. Dissertao de mestrado, Universidade de So Paulo, So Paulo, So Paulo, Brasil.
Valeriano, C. E. B. (2012). Ciclo de vida organizacional e artefatos de contabilidade gerencial: uma investigao nas 250 pequenas e mdias empresas que mais cresceram no Brasil entre 2008 e 2010. Dissertao de Mestrado, Universidade de So Paulo, So Paulo, So Paulo, Brasil.
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