Resumo: Propsito do Trabalho: O trabalho em questo se pe no contexto de contribuir para o esclarecimento da importncia dos padres contbeis na evidenciao do desempenho econmico, caso em que inicialmente se adota o prisma terico de que a realidade econmica ocorrida independe da opo de representao contbil, mas que esta pode por luz em aspectos mais ou menos relevantes da referida realidade econmica.
Para tal, o trabalho se prope a investigar o impacto dos diferentes padres contbeis International Financial Reporting Standards (IFRS) e United States Generally Accepted Accounting Principles (USGAAP) no Economic Value AddedTM (EVA) para a Vale S.A., uma vez que (i) essa uma metodologia de representao de performance econmica e de valor amplamente adotada no mercado e discutida na academia; (ii) o USGAAP o padro contbil referencial para a literatura do EVA enquanto o IFRS o padro de crescente relevncia internacional e (iii) a Vale S.A. foi a nica empresa identificada divulgando e reconciliando nesses dois padres contbeis na mesma moeda.
Especificamente, so avaliadas a grandeza das diferenas dos EVA e os fatores contbeis e de negcios que as originaram e possveis itens que, por serem potenciais geradores de desalinhamento remanescente entre os padres, meream ajustes subsequentes ou cautela por parte do analista.
Base da plataforma terica: O conflito de agncia, proposto por Jensen e Meckling (1976), demanda o emprego de mtricas para que fomentem a criao de valor e possam reflet-la, sendo uma de grande destaque o EVA, que se enquadra no paradigma marshaliano do residual income.
O EVA e outras mtricas desse paradigma utilizam demonstraes contbeis para subsidiar a representao do fenmeno econmico, embora este seja inafetado pela escolha contbil.
Stewart (1991) apresenta a mtrica EVA como blindada ao padro e escolha contbil, dado o fato de ela pressupostamente representar a realidade econmica. O autor defende esse ponto de vista pois o EVA inovou em ajustar os demonstrativos contbeis ao que chama de perspectiva econmica, para, apenas ento, realizar clculos.
Palepu e Healy (2007) reconhecem que o ajuste contbil, de maneira geral, possibilita colocar outra perspectiva ao fato econmico que as demonstraes querem retratar, mas que esse retrato ajustado dificilmente consegue ser to bem reconstitudo quanto se queira, e que existem limitaes prticas a tal tarefa, de maneira que no seria plenamente possvel relevar a paradigmtica viso econmica vislumbrada pelo EVA.
McIntyre (1999) realiza uma crtica mais contundente e aponta que rotular aquilo que seria viso econmica de maneira irrestrita e absoluta uma imposio unilateral e, na prtica, comercial. Na prtica, a cincia contbil buscou fazer essa representao de maneira cada vez mais adequada e reconhece que no existe um padro nico e livre de problemas, postura essa que, segundo o autor, parece mais sensata.
Nesse trabalho, assumido que a viso econmica do EVA adequada, mas que a eficcia dos ajustes pode no ser plena em revel-la, ou seja, reconhecida a possibilidade de padres diferentes, mesmo depois de ajustados, resultarem em EVAs diferentes.
Na perspectiva econmica do EVA, o valor patrimonial dos demonstrativos deve considerar (i) todos e apenas os ativos existentes (mas no os decorrentes das oportunidades crescimento futuro, como o goodwill); (ii) englobando os recursos efetivamente empregados na operao (ou seja, estruturas como leasings operacionais no devem desativar recursos) e (iii) sendo eles mensurados com base em desembolso de caixa histrico (sem influncia de mercado e valor justo, como no impairment).
Custos e despesas, por sua vez, (i) devem refletir aquilo que foi sacrificado para a criao da receita corrente (no sendo, portanto, o caso de gastos com pesquisa e desenvolvimento) e (ii) no devem gerar benefcio econmico futuro (pois seriam ativados) (STEWART, 1991);( YOUNG; OBYRNE, 2000).
O objetivo desses princpios medir quo bem os gestores esto conseguindo extrair benefcios peridicos do capital que aplicaram e no necessariamente fazer a melhor retrato patrimonial.
Esses princpios geram uma extensa e discutvel coleo de potenciais ajustes contbeis, os quais frequentemente apresentam resultados empricos controversos: Anderson, Bey e Weaver (2004) dizem que os ajustes so "muito a fazer para nada", enquanto Biddle, Bowen e Wallace (1997) apontam que a capacidade explicativa do preo por parte do EVA parecida com a do lucro, enquanto que os ajustes geram ganhos marginais.
Beuren, Hein e Klann (2008) encontraram em uma amostra de amostra internacional de 37 empresas que reportaram em IFRS e USGAAP que no houve diferena significativa entre os indicadores financeiros, no incluso o EVA.
A pergunta de pesquisa que emerge naturalmente : o EVA calculado sobre o IFRS e o USGAAP diferem? Se sim, o que motivaria essas diferenas?
Mtodo de investigao: O presente estudo de natureza exploratria, cuja abordagem quantitativa e qualitativa e se desenvolve por meio de um estudo de casos. Esta metodologia se apresenta adequada uma vez que o escopo do trabalho , no apenas avaliar os efeitos numricos dos distintos padres contbeis no EVA, mas, tambm, dar luz aos porqus dos mesmos (BRESSAN, 2000), da existe a possibilidade de se debruar profunda e exaustivamente nos demonstrativos envolvidos, avaliando-os, inclusive, no mrito das notas explicativas.
O objeto desse estudo de caso a empresa Vale S.A. Essa escolha adequada para comparao desejada pois nica empresa brasileira encontrada que apresentou, para ao menos um ano, seus demonstrativos financeiros completos em uma mesmo moeda de apresentao (no caso, o dlar) tanto em IFRS quanto em USGAAP, devido ao fato de ser cross-listed no mercado americano e a Securities and Exchange Commission ter passado a aceitar a divulgao de demonstrativos em IFRS para empresas nesta situao, com conciliao na transio.
Durante o desenvolvimento dos resultados, os EVAs so calculados inicialmente de maneira bsica, baseando-se nos demonstrativos originais, sem ajustes contbeis, situao em que se faz uma primeira anlise de diferenas. Em seguida so realizados os ajustes contbeis cabveis em cada demonstrativo, os quais so tambm comparados e apresentada uma segunda anlise de diferenas. Finalmente, esta ltima complementada com uma conciliao detalhada que observa conta a conta componente na nota de reconciliao de maneira a conjugar tanto as mudanas de politica contbeis associada quanto os fatores de negcios. No decorrer dessa anlise, ateno dada no somente s diferenas (absolutas e relativas) entre os itens, mas tambm na consistncia delas entre os mesmos e possibilidade de efeitos relevantes de impacto oposto se anularem no quadro agregado. Ainda, caso identificadas situaes de potenciais discrepncias ou discrepncias no corrigidas pelos ajustes, cuida-se de notificar o leitor para que tenha cautela analtica adicional ou para que implemente ajustes adicionais na disponibilidade de maiores informaes.
Resultados, concluses e suas implicaes: Em resumo, o trabalho evidencia que as diferenas no EVATM foram pouco significativas, mas que o USGAAP apresentou resultados levemente menores. Esse diagnstico se repete consistentemente tanto no NOPAT quanto no Capital Applied. Em cada um desses, os itens que os compem so impactados tambm leve e consistentemente, no havendo efeitos idiossincrticos e de grande valor que se cancelem por ocorrerem independentemente com sinal opostos recorrentemente, o que ocorre so reclassificaes ou ajustes em sinal oposto correlacionados, que no surgem independentemente. Em alguns poucos pontos, entretanto, o trabalho aponta alguns alertas aos analistas, que sugeririam ajustes subsequentes, na ausncia de informao ou critrio para tal, e cautela, na medida em que tais ajustes podem distorcer o EVA so exemplos: ativos/passivos previdencirios e de planos de benefcios, impostos diferidos (caso no previamente extirpados do Capital Applied), amortizao de goodwill, etc.
Ainda, especificamente sobre os ajustes, nota-se que os realizados em ambos os padres tiveram valor parecidos, e que os realizados apenas em um aproximaram a representao contbil dos padres. Aqueles que tiveram maior relevncia monetria foram os relacionados a impairment e a valor justo e P&D. Coerentemente, aps os ajustes, a diferena monetria dos EVAs cai, embora no se consiga zer-la. A queda foi perceptvel, porm longe de imperativa, e a mudana nos EVAs no alterou significativamente o quadro aqui avaliado.
Os resultados do trabalho so consistentes com os encontrados por Anderson, Bey e Weaver (2004), em que os ajustes do EVATM se mostravam um processo trabalhoso que no implicava mudanas significativas.
Os mesmos tambm so consistentes com os encontrados por Beuren, Hein e Klann em 2008, onde os autores investigam estatisticamente uma amostra internacional de 37 empresas britnicas cross-listed na bolsa nova-iorquina NYSE que, em 2005, reportaram tanto em USGAAP quanto em IFRS. Eles encontraram que, para uma variedade de indicadores financeiros clssicos, no h evidncia de que os padres neles impliquem diferena significativa.
Ao fim, cabe ressaltar que os resultados aqui apreciados so sugestivos e alinhados com evidncias de outras pesquisas empricas mais gerais. Entretanto, generalizaes devem ser tomadas com grande cautela, uma vez que o trabalho em questo um estudo de caso e se depara com limitaes de amostra que impedem afirmaes genricas sobre o problema.
Pesquisas futuras podem contribuir para esse tema de pesquisa (i) explorando tambm o impacto em padres contbeis distintos, como o BRGAAP anteriormente aplicado no Brasil, (ii) contrastando o EVA calculado em diferentes padres com os preos, para ver qual tem maior capacidade informacional ou (iii) em um mesmo padro contbil, contrastar preos com o EVA calculado em diversas combinaes de ajustes contbeis, para ver quais dessas verses possui maior qualidade informacional.
Referncias bibliogrficas: ANDERSON, Anne; BEY, Roger; WEAVER, Samuel. Economic Value Added Adjustments: Much to Do About Nothing?. Midwest Finance Association Meetings, Mar. 2004. Disponvel em: .
BUEREN, Ilse; HEIN, Nelson; KLANN, Roberto. Impact of the IFRS and US-GAAP on economic-financial indicators. Managerial Auditing Journal, v. 23, n. 7, p. 632-649, 2008.
MCINTYRE, Edward. Accounting Choices and EVA. Business Horizons, v. 42, n. 1, p.66-72, Jan./Feb. 1999.
PALEPU, Krishna; HEALY, Paul. Business Analysis & Valuation: Using Financial Statements. 5th ed. Manson: South-Western Cengage Learning, 2013.
STEWART, III, Bennett G. The Quest for Value: The EVA Management Guide. 1st ed. New York: HarperBusiness, 1991.
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