Resumo: Propsito do Trabalho: O planejamento financeiro uma das ferramentas gerenciais que auxilia na tomada de deciso. O gestor precisa decidir sobre a necessidade de financiamentos ou de realizao de investimentos no curto prazo, de forma que os recursos possam ser utilizados de maneira mais eficiente.
No Brasil, pesquisas recentes sobre planejamento financeiro tm-se se voltado para as pequenas e mdias empresas (ver, por exemplo, Dias e Laufer (2014) e Vianna (2014)). Estudar as pequenas e mdias empresas ganha relevncia pela importncia que elas desempenham na economia nacional. Dados do Servio Brasileiro de Apoio s Micro e Pequenas Empresas (SEBRAE) (2014) apontam que, na economia brasileira, os pequenos negcios so 8,9 milhes de micro e pequenas empresas e respondem por 27% do PIB, 52% dos empregos com carteira assinada e 40% dos salrios pagos.
Esta pesquisa tambm ganha importncia por serem poucos os estudos sobre as pequenas e mdias empresas do Estado de Sergipe.
Ante o exposto, tem-se como questo de pesquisa: Quais mecanismos de planejamento financeiro de curto prazo so utilizados pelas pequenas e mdias empresas do Estado de Sergipe? Para responder a esta questo de pesquisa, o presente trabalho tem por objetivo investigar os mecanismos de planejamento financeiro utilizados pelas pequenas e mdias empresas do Estado de Sergipe.
Como contribuio do ponto de vista prtico, conhecendo os mecanismos de planejamento financeiro utilizados pelas empresas, espera-se que estas possam estabelecer melhor suas estratgias de gesto de recursos de curto prazo. Assim, espera-se que os resultados aqui apresentados possam proporcionar melhor uso das ferramentas gerenciais para fins de tomada de deciso por parte dos gestores.
Base da plataforma terica: De acordo com Ross et al. (2009), as finanas a curto prazo preocupam-se com as atividades operacionais a curto prazo. Estes autores explicam que:
Essas atividades geram padres no sincronizados e incertos de entrada e sada de caixa. No so sincronizados porque os pagamentos de compras de matria-prima no ocorrem ao mesmo tempo que o recebimento de dinheiro correspondente venda do produto. So incertos porque as vendas e os custos futuros no so conhecidos com certeza (Ross et al. (2009, p. 602).
Convm destacar que as decises financeiras a curto prazo envolvem entradas e sadas de caixa no prazo mximo de um ano (Ross et al., 2009). Por esta razo, a gesto financeira de curto prazo tambm chamada de gesto do capital circulante ou do capital de giro.
Ao discutir planejamento financeiro importante observar o ciclo operacional e o ciclo financeiro da empresa. Conforme Ross et al. (2009), o ciclo operacional o prazo entre a chegada de matria-prima para estoque e a data na qual as contas a receber so pagas pelos cliente e o ciclo financeiro inicia-se quando as compras de matrias-primas so pagas e termina quando se recebe o pagamento das contas a receber. A anlise desses ciclos contribui para que a empresa mantenha uma boa gesto financeira, sem que haja dficit ou excesso de recursos no curto prazo. Em outras palavras, contribui para que, havendo previso de dficit de recursos, a empresa busque alternativas de financiamento, ou havendo sobra de recursos, busque alternativas de investimentos no curto prazo.
Segundo Brealey, Myers & Allen (2013), as decises sobre os ativos de curta durao estoques, contas a receber, caixa e ttulos negociveis so interdependentes. Eles esclarecem que:
Por exemplo, suponha que o gestor financeiro decida oferecer mais tempo para seus clientes pagarem as encomendas. Isso reduz os fluxos de caixa futuros e os saldos de caixa, ou, talvez, o gerente de produo adote um sistema just-in-time para encomendar as suas matrias-primas. Isso permite empresa operar com estoques menores e, portanto, liberar capital (Brealey et al. (2013, p. 679).
Assim, o planejamento financeiro possibilitar a tomada de decises mais acertadas acerca das necessidades de recursos financeiro no curto prazo por parte da empresa. Nesta linha, Ross et al. (2009) explicam que:
A necessidade de tomada de decises financeiras a curto prazo indicada pela defasagem entre as entradas e sadas de caixa. Essa defasagem depende da durao do ciclo operacional e do prazo para pagamento de contas. Essa defasagem pode ser coberta pela obteno de emprstimos ou pela manuteno de uma reserva de liquidez em ttulos negociveis. Pode ser encurtada pela alterao dos prazos de estoques, contas a receber e contas a pagar (Ross et al. (2009, p. 603).
Com relao ao trabalhos empricos publicados mais recentemente sobre o tema, destaca-se o estudo de Marinho (2015), que teve por objetivo analisar as polticas de tesouraria e financiamento de curto prazo usadas nas pequenas e mdias empresas (PMEs) portuguesas antes da crise econmica e financeira de 2008 e quais as fontes de financiamento de que dispem e utilizam atualmente.
J no mbito nacional, destacam-se estudos empricos realizados por Dias e Laufer (2014), Vianna (2014), Belo (2009) e Pohren (2007).
Observa-se que os instrumentos de planejamento financeiro previstos na literatura ainda no so totalmente empregados pelas pequenas e mdias empresas.
Mtodo de investigao: A presente pesquisa pode ser caracterizada como exploratria-descritiva.
A fonte consultada para obter informaes do universo da pesquisa foi o Cadastro Industrial de 2012 da Federao das Indstrias do Estado de Sergipe (FIES) (2015), por ser este o mais recente disponibilizado por esta instituio. Para compor o universo a ser pesquisado foram selecionadas as empresas localizadas na cidade de Itabaiana, pela sua relevncia econmica em Sergipe, haja vista que a terceira maior cidade do Estado em termos populacionais e a segunda em volume de negcios, perdendo apenas para a capital. As empresas investigadas pertencem a diferentes segmentos industriais, conforme Classificao Nacional de Atividades Econmicas (CNAE).
A amostra foi selecionada por acessibilidade, sendo composta pelas empresas que se disponibilizaram a participar da pesquisa, totalizando 30 empresas, o que representa 40,5% do universo investigado.
Uma das particularidades da pesquisa descritiva a utilizao de tcnicas padronizadas de coleta de dados, tais como o questionrio (Gil, 2010). A coleta de dados foi realizada em janeiro/2016 por meio de questionrio, composto por questes de mltiplas escolhas. Os questionrios foram aplicados diretamente pelos pesquisadores.
A anlise do dados foi feita com estatstica descritiva, com auxlio do aplicativo estatstico Statistical Package for the Social Sciences (SPSS) e as tabelas e quadros foram elaboradas tambm com auxlio do Microsoft Excel.
Resultados, concluses e suas implicaes: Os resultados mostram que um tero dos entrevistados foram os prprios proprietrios das empresas. No entanto, outros profissionais da empresas se apresentaram como aptos para responder ao questionrio, certamente pelo fato de nas micro e pequenas e at nas mdias empresas as pessoas acumularem mais de uma funo e por boa parte delas serem de natureza familiar.
Dos entrevistados, 57% possui mais de 6 anos de experincia no setor, sendo que 33% atua entre 6 e 10 anos e 24% h mais de 15 anos. Apenas 23% dos entrevistados possuem menos que 5 anos de atuao no setor. Isso demonstra que a maior parte dessas empresas apresentam condies favorveis a permanncia de seus funcionrios por um quantidade significativa de anos. Alm disso, representa a confiabilidade dos proprietrios no responsvel pela rea financeira, percebido pelo tempo que os pesquisados atuam na rea.
Observa-se que 86,7% das empresas investigadas so de natureza familiar, sendo esta uma caracterstica das empresas brasileiras e no apenas das pequenas e mdias empresas.
Considerando o critrio do nmero de funcionrios, observa-se que 93,3% das empresas investigadas so micro e pequenas empresas, sendo que mais da metade (53,3%) formada por microempresas.
Considerando o critrio da receita bruta anual, observa-se que 90% so microempresas ou empresas de pequeno porte, o que est em linha com a classificao segundo o nmero de funcionrios apresentado anteriormente.
Conforme os entrevistados, 73,3% informaram que realizam previso formal de entradas e sadas de caixa. Este resultado se aproxima daquele obtido por Vianna (2014), segundo o qual 81% das empresas elaboram e utilizam o fluxo de caixa.
Observa-se que as trs principais formas de recebimento so vista (90%), em cheque pr-datado (73,3%) e com carto de crdito (53,3%); em contrapartida, o recebimento atravs de credirio da prpria empresa e por meio de financeiras, so as forma de recebimento menos utilizadas, correspondendo a 10% e 6,75%, respectivamente.
Observa-se que na maior parte (70%) das empresas o recebimento das vendas realizadas ocorre num perodo de at trs meses, e em um tero dos casos (26,7% + 6,7%) acontece dentro de um ms.
De acordo com o que foi investigado, 86,7% das empresas entrevistadas do descontos para pagamentos feitos vista. Isso acontece, principalmente, para driblar as taxas de transao dos cartes de crdito e de dbito, em que as empresas oferecem o valor que pagariam operadora como desconto para o cliente no pagamento vista. Alm disso, um trao cultural do comrcio local oferecer 10% de desconto para os pagamentos realizados em espcie (dinheiro).
Verifica-se que 93,3% das empresas industriais investigadas recebem at trs meses de prazo para pagamento aos seus fornecedores, sendo que 46,7% destas recebem apenas o prazo de um ms, demonstrando que as empresas tm um curto prazo para pagamento de seus fornecedores.
Com relao aos prazos mdios, quando comparados os prazos de pagamentos a fornecedores e os prazos de recebimento das vendas, nota-se que enquanto 46,7% das empresas tem apenas um ms para realizar os pagamentos de suas compras junto aos fornecedores, somente 26,7% dessas empresas recebem de seus clientes dentro do prazo de um ms. Se no fosse a grande representatividade dos recebimentos vista, certamente estas empresas enfrentariam problemas de fluxo de caixa devido a esse desequilbrio entre os prazos de pagamento e recebimento. Desse modo, percebe-se a importncia do planejamento financeiro no curto prazo.
Conforme os resultados apresentados, o prazo mdio de estocagem de 76,6% das empresas de at 30 dias, destacando-se 33,3% apresentam prazo mdio entre 6 e 15 dias e outras 33,3% que possuem prazo mdio de 16 a 30 dias. Esse prazo mdio de giro do estoque de um ms parece estar bem alinhado com o prazo recebido dos fornecedores e tambm com aquele concedido aos clientes.
Evidencia-se que metade das empresas no utilizam financiamento de curto prazo, mas nos casos em se faz necessrio optam em sua maioria pela negociao com fornecedores (16,6%), recorrendo em seguida s alternativas relacionadas instituio bancria.
Referncias bibliogrficas: Alhabeeb, M. J. (2015). Entrepreneurial Finance: Fundamentals of Financial Planning and Management for Small Business. New Jersey/USA: John Wiley & Sons, Inc.
Belo, L. C. (2009). Contribuio para o estudo do planejamento financeiro em pequenas empresas com contabilidade terceirizada (Dissertao de mestrado). Pontifcia Universidade Catlica de So Paulo, So Paulo, SP, Brasil.
Dias, T. F., & Laufer, J. (2014). Planejamento financeiro de curto prazo: Um estudo exploratrio em empresas supermercadistas compactas do Vale dos Sinos/RS Brasil. Revista de Estudos do CEPE, (39), 11-13.
Marinho, S. C. B. G. (2015). A gesto de tesouraria e polticas de financiamento a curto prazo nas PME (Dissertao de mestrado). Associao de Politcnicos do Norte, Bragana, Distrito de Bragana, Portugal.
Pohren, D. S. (2007). Planejamento financeiro em empresas de pequeno e mdio porte na atividade de comrcio (Dissertao de mestrado). Universidade Federal do Rio Grande do Sul, Porto Alegre, RS, Brasil.
Roberts, R. (2015). Finance for Small and Entrepreneurial Business. New York/USA: Routledge.
Tavares, F. O.; Pacheco, L.; Almeida, E. F. (2015). Financiamento das pequenas e mdias empresas: anlise das empresas do distrito do Porto em Portugal. RAUSP - Revista de Administrao, 50 (2), 254-267.
Vianna, C. T. (2014). Gesto financeira de curto prazo PMEs: Os desafios de um programa operacional e o modelo de Fleuriet (Dissertao de mestrado). Universidade Federal de Santa Catarina, Florianpolis, SC, Brasil.
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