Anais do 16º International Conference in Accounting - 16º  2016
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RESUMO DO TRABALHO

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Clique para abrir o trabalho de código 31, Área Temática: Área III: Contabilidade Financeira

Código: 31

Área Temática: Área III: Contabilidade Financeira

Título: Consequências do Conservadorismo Contábil na Assimetria da Informação em Empresas Brasileiras

Resumo:
Propósito do Trabalho:
O conservadorismo contábil pode gerar consequências positivas e negativas na assimetria da informação. O conservadorismo pode deteriorar o ambiente de informação (Lafond & Watts, 2008), principalmente no aumento da probabilidade de litígio, volatilidade de retornos e causar assimetria informacional (Khan & Watts, 2009). Todavia, segundo Lara et al. (2014), o aumento do conservadorismo contábil pode também melhorar as informações contábeis. Há diferentes formas de se verificar a assimetria da informação entre gestores e agentes econômicos, sendo que uma delas é a análise da relevância das informações que os gestores divulgam aos usuários externos por meio das demonstrações financeiras (Brown Jr et al., 2006, Lafond & Watts, 2008, Khan & Watts, 2009, Hui, Matsunaga & Morse, 2009, Lara et al., 2014). Há resultados conflitantes sobre a influência do conservadorismo contábil na assimetria da informação, desta forma, a fim de auxiliar nesta problemática, tem-se como problema de pesquisa: quais as consequências do conservadorismo contábil na assimetria da informação em empresas brasileiras? A fim de solucionar a questão problema, têm-se como objetivo analisar a relação entre o conservadorismo contábil e a relevância das informações contábeis de empresas brasileiras. Diante da incipiência de estudos sobre o tema em âmbito nacional, espera-se que ao ampliar o período de análise, compreendido entre os anos de 2005 a 2014, bem como separando-o em período pré convergência às IFRS (2005 a 2009) e pós convergência às IFRS (2010 a 2014), possa-se trazer novas evidências empíricas sobre o tema, com análise da relação entre conservadorismo e assimetria da informação e a influência da convergência contábil nesse processo, algo não tratado por Ramos (2013).

Base da plataforma teórica:
Estudos vêm sendo desenvolvidos a fim de identificar as consequências do conservadorismo na assimetria da informação. Como proxy de análise da assimetria da informação observou-se medidas que verificaram o impacto das informações no preço das ações (value relevance). Brown Jr. et al. (2006) investigaram se o conservadorismo condicional afeta a relevância de valor de lucros contábeis em 20 países diferentes. Os resultados demonstraram que o lucro mais condicionalmente conservador tem um maior grau de relevância de valor. Verificaram também que os mecanismos de proteção aos acionistas atuam como incremento na relação entre conservadorismo e relevância de valor. LaFond e Watts (2008) analisaram o efeito da assimetria de informação (variação no preço da ação) entre gestores e investidores no conservadorismo contábil. A amostra restringiu-se a empresas listadas na NYSE. Os resultados demonstraram que as empresas analisadas incorporaram menos informações sobre os ganhos e mais informações sobre as perdas nas demonstrações financeiras. O reconhecimento assimétrico dos ganhos e perdas aumenta o nível de assimetria da informação, desta forma, os investidores exigem da empresa o reconhecimento de lucro mais conservador, com o intuito de mitigar problemas de agência. Os autores constaram que as empresas aumentam o nível de ganhos conservadores com o intuito de mitigar problemas de agência, entretanto, esta prática acaba por si só aumentando também os problemas de agência, uma vez que a empresa divulga lucros menores do que os reais ao mercado de capitais, ou seja, a assimetria da informação continua a existir nas empresas, por mais que esta realize esforços com o intuito de diminuí-la. Khan e Watts (2009) estimaram uma medida de conservadorismo contábil como uma métrica para investigações empíricas e verificaram seu efeito na assimetria da informação, sendo que a assimetria da informação foi observada pela ótica da relevância da informação contábil. Com amostra de empresas dos EUAs, os achados evidenciaram que empresas com ciclos de investimentos longos, incerteza no mercado e com assimetria da informação são mais conservadoras. Constatou-se que o conservadorismo contábil aumentou a probabilidade de litígio, volatilidade de retornos e assimetria da informação das empresas analisadas. Hui et al. (2009) examinaram as relações empíricas entre medidas de conservadorismo e previsões de lucros em empresas dos EUAs. Os achados demonstraram que o conservadorismo contábil reduz a qualidade das previsões. Inferiu-se que o conservadorismo diminui a assimetria da informação no mercado (pela ótica da relevância da informação contábil) e o incentivo para a divulgação de informações adicionais. Ramos (2013) verificou se a variação no conservadorismo contábil direcionou a variação no value relevance de empresas brasileiras, no período de 2005 a 2012. Os achados evidenciaram que houve redução no conservadorismo contábil e aumento na relevância da informação contábil com a convergência às normas internacionais e que o conservadorismo contábil impactou na redução do value relevance. Lara et al. (2014) analisaram as consequências de informação do conservadorismo contábil em empresas dos EUA. Os resultados demonstraram que o aumento do conservadorismo contábil no exercício reduziu a assimetria da informação (value relevance) no exercício posterior. O aumento do conservadorismo impactou o comportamento dos analistas de mercado, melhorando suas previsões e interesse para com a empresa, o que reduziu a volatilidade do retorno das ações.

Método de investigação:
A presente pesquisa configurou-se como descritiva, documental e quantitativa. A população do estudo compreendeu todas as empresas listadas na BM&FBOVESPA. A amostra correspondeu a 46 empresas, as quais detinham todas as informações necessárias para a realização do estudo em todo o período de análise (2005 a 2014). O período de análise foi segregado em dois conjuntos de observações: período pré IFRS no Brasil (2005 a 2009) e o período pós IFRS (2010 a 2014). A coleta de dados se deu por meio da base de dados Economática®. Foram formuladas 3 equações para a análise dos dados. A primeira equação representa o modelo de value relevance de Collins et al. (1997), a qual foi calculada para cada empresa da amostra, a fim de identificar o R² por empresa, tanto para o período pré IFRS, quanto para o pós IFRS. Este R² representa a proxy de assimetria da informação pela ótica da relevância da informação, o qual foi utilizado como variável dependente na equação 3. Este procedimento foi adotado inicialmente pelo estudo de Ramos (2013). (1) Pit = ß1 + ß2 LPAit + ß3 VPAit + eit A equação dois representa o modelo de conservadorismo contábil de Ball e Shivakumar (2005). Calculou-se este modelo também para cada empresa no período pré e pós IFRS, a fim de identificar o coeficiente padronizado do ß3 de cada empresa, o qual refere-se à proxy de conservadorismo contábil, utilizado na equação 3, como variável independente. Lara et al. (2014) utilizaram este procedimento para verificar a proxy de conservadorismo, entretanto, utilizaram o modelo de Basu (1997). (2) ?NIt = ß0 + ß1 D?NIt-1 + ß2 ?NIt-1 + ß3 D?NIt-1 * ?NIt-1 + eit A equação três tem por intuito verificar a influência do conservadorimo contábil (ß3, de cada empresa, da equação 2) na assimetria da informação (R², de cada empresa, da equação 1) no período pré e pós IFRS. Desta forma, tem-se o R² do value relevance (VREL) como variável dependente, a qual retrata a assimetria da informação, e o coeficiente do ß3 do conservadorismo contábil (CONS) como variável independente. (3) VRELit = ß1 + ß2 CONSit + eit Com base nas equações 1, 2 e 3, a análise dos dados foi perpetuada pela utilização de técnicas estatísticas, como estatística descritiva dos dados e regressão linear múltipla, por meio do software SPSS®, bem como para a consecução dos testes de pressupostos para os dados.

Resultados, conclusões e suas implicações:
Os resultados obtidos por meio da análise descritiva mostraram uma redução no lucro por ação (LPA) e um aumento no valor patrimonial por ação (VPA) das empresas analisadas do período pré para o período pós IFRS. Em relação à variação no LPA, tal resultado poderia estar relacionado a um aumento no nível de conservadorismo contábil das empresas após a adoção das IFRS, o que na verdade não se confirmou, permitindo concluir que tal redução do LPA tenha outras motivações econômicas, internas e externas às empresas. Já o aumento no VPA no período pós IFRS pode estar relacionado a adoção do custo atribuído pelas organizações, o que pode ter contribuído também para o aumento do value relevance das demonstrações contábeis neste período, o qual foi confirmado neste estudo pela variação da variável VREL (R² do value relevance) entre os dois períodos. O nível de conservadorismo contábil, medido neste estudo pela variável CONS, mostrou-se superior no período pré IFRS, o que pode representar que a adoção da representação fidedigna, sugerida pelas normas IFRS, tenha contribuído para redução do conservadorismo contábil no período pós adoção, o que não foi investigado mais a fundo por não se tratar do foco deste estudo, mas que pode ser uma lacuna de pesquisa a ser investigada futuramente. Considerando o pressuposto de que ao variar o conservadorismo contábil, haveria uma variação na assimetria da informação (value relevance), conclui-se que no período anterior às IFRS, o conservadorismo contábil não impactou expressivamente a assimetria da informação entre os usuários das informações (internos e externos). No entanto, tal aspecto foi observado no período pós IFRS. Depreende-se do exposto que o conservadorismo contábil, a partir de um cenário em que as demonstrações contábeis tornaram mais relevantes para o mercado com a adoção das IFRS, também passaram a ter maior atenção por parte desses usuários. Esta percepção está embasada no fato de que o conservadorismo no período pré IFRS, mesmo sendo superior ao período pós, não se mostrou significativo para o mercado. Já após a adoção das IFRS, mesmo com a redução no nível de conservadorismo, este se mostrou significativamente relacionado com a relevância da informação contábil. Assim, duas conclusões importantes podem ser feitas a partir destes resultados. A primeira é que não é possível afirmar se foi o conservadorismo que contribuiu para a elevação do value relevance da informação contábil e, consequentemente, redução da assimetria no período pós IFRS, ou se a maior importância dada pelo mercado às informações contábeis após as IFRS tenha, consequentemente, elevado também a importância do nível de conservadorismo contábil. A segunda conclusão refere-se ao fato de que o nível de conservadorismo contábil diminuiu após a adoção das IFRS. Assim, é possível que essa associação positiva com a relevância da informação contábil, neste período, tenha se dado pela redução do nível de conservadorismo, com informações mais livres de vieses (representação fidedigna). Isso levaria à conclusão de que o mercado dá maior importância a informações menos conservadoras, ao invés do contrário. De acordo com Lara et al. (2014), há também debates no meio acadêmico e empresarial se o conservadorismo contábil deve ou não ser excluído em quadros conceituais de órgãos reguladores contábeis, pela influência que possui na assimetria da informação. Os resultados empíricos da presente pesquisa não respondem a esta questão, mas suscitam outras questões para discussão, como se o mercado deseja ou dá maior importância para informações mais ou menos conservadoras. A contribuição deste estudo também reside no fato de analisar quais as consequências do conservadorismo contábil na assimetria da informação de empresas brasileiras no período pré e pós implementação das IFRS, (visto que há poucos estudos sobre a temática), apresentando contribuições para a atividade acadêmica, buscando ampliar o entendimento da relevância da informação, práticas conservadoras e assimetria de informação. Por fim, há de se considerar também como uma limitação do estudo a amostra da pesquisa, visto a análise de somente 46 empresas brasileiras.

Referências bibliográficas:
Ball, R. & Shivakumar, L. (2005). Earnings quality in UK private firms: comparative loss recognition timeliness. Journal of accounting and economics, 39 (1), 83-128. Collins, D. W., Maydew, E. L. & Weis, I. S. (1997). Changes in the value relevance of earnings and book values over the past 40 years. Journal of Accounting and Economics, 24 (1), 39–68. Hui, K. W., Matsunaga, S. & Morse, D. (2009). The impact of conservatism on management earnings forecasts. Journal of Accounting and Economics, 47 (3), 192-207. Khan, M. & Watts, R. L. (2009). Estimation and empirical properties of a firm-year measure of accounting conservatism. Journal of accounting and Economics, 48 (2), 132-150. Lafond, R. & Watts, R. L. (2008). The information role of conservatism. The Accounting Review, 83 (2), 447-478. Lara, J. M. G., Osma, B. G. & Penalva, F. (2014). Information consequences of accounting conservatism. European Accounting Review, 23 (2), 173-198. Ramos, D. A. (2013). Conservadorismo e relevância da informação contábil: verificação empírica no mercado de capitais brasileiro. Dissertação (Mestre em Ciências Contábeis) - Programa Multiinstitucional e Inter-Regional de Pós- Graduação em Ciências Contábeis da Universidade de Brasília, da Universidade Federal da Paraíba e da Universidade Federal do Rio Grande do Norte, Brasil. Watts, R. L. (2003). Conservatism in accounting part I: Explanations and implications. Accounting horizons, 17 (3), 207-221.

 

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