Resumo: Propsito do Trabalho: A partir de uma ampla anlise a respeito do comportamento dos custos nas organizaes, Anderson, Banker e Janakiraman (2003) conseguiram comprovar que os custos no se alteram na mesma intensidade que as receitas obtidas pelas empresas. De tais evidncias surgiu a abordagem terica denominada sticky costs, que tem estimulado o interesse de pesquisadores em todo o mundo. Diferentes fatores tm sido abordados na literatura para avaliar o comportamento assimtrico dos custos. No entanto, poucos estudos investigam tal comportamento observando os efeitos dos perodos de pr-crise e ps-crise. Conforme Vidal (2011), as turbulncias causadas pelas crises financeiras em todo o mundo, levam os estudiosos a analisarem os impactos das mesmas. Neste sentido, surgem os PIIGS (Portugal, Itlia, Irlanda, Portugal e Espanha), termo utilizado aps a crise de 2008 para se referir a um grupo de pases europeus que apresentaram srios problemas econmicos, causados pelos altos dficits que ocorrem no momento em que o pas gasta mais do que arrecada (Bartokova, 2012). Evidncias encontradas na literatura tm chamado a ateno para a necessidade do desenvolvimento de estudos sob a perspectiva cross-countries, avaliando se os efeitos econmicos influenciam o comportamento assimtrico dos custos de maneira diferente entre as organizaes (Banker et al., 2014; Pamplona, Fiirst, Silva, & Zonatto, 2016). Com base nesta lacuna de pesquisa, emerge-se a seguinte questo de pesquisa: Qual o comportamento dos custos de empresas dos pases que compem o PIIGS nos perodos pr-crise e ps-crise financeira de 2008? Logo, o objetivo do estudo analisar o comportamento dos custos de empresas dos pases que compem o PIIGS nos perodos pr-crise e ps-crise financeira de 2008.
Base da plataforma terica: Estudos sobre o comportamento dos custos ganharam maior notoriedade a partir da pesquisa desenvolvida por Noreen e Soderstrom (1994), quando afirmaram que os custos possuem comportamento assimtrico e, assim, variam em maior intensidade quanto do aumento do nvel de atividades do que em sentido contrrio, isto , com relao diminuio do grau de atividades. Mesmo com as prerrogativas dadas por Noreen e Soderstrom (1994), diversos pesquisadores acreditavam ainda no modelo de comportamento dos custos tradicional, defendendo que o comportamento dos custos similar em acrscimos e decrscimos de receitas, ou seja, os custos variam de forma proporcional quando as receitas aumentam ou reduzem em uma organizao. Anderson et al. (2003), em um amplo estudo com empresas americanas, comprovaram empiricamente que os custos variam de forma assimtrica, corroborando com os achados seminais de Noreen e Soderstrom (1994) e indo de encontro ao pensamento defendido por estudiosos tradicionais de custos. De fato, a pesquisa de Anderson et al. (2003) alavancou uma srie de estudos sobre o assunto, que foi denominado de sticky costs. Calleja et al. (2006) destacam que uma importante hiptese para a assimetria dos custos que no momento em que h contratos firmados, muitas vezes os gerentes das empresas no conseguem encerrar ou ento renegociar os termos. Quando o fazem, passam a se tornar caros em funo das multas contratuais. Diante disso, os gerentes podem optar em reter recursos ao invs de incorrer em custos de rompimento de contratos, ocasionando a assimetria nos custos, corroborando com a abordagem dos sticky costs. De acordo com Banker et al. (2013), muitos custos surgem como resultado de decises feitas pelos gestores. Contudo, preciso uma anlise cuidadosa do comportamento dos custos, no s em relao aos fatores especficos da empresa, mas tambm no que tange o nvel de caractersticas estruturais dos pases. Assim, cabe destacar que os PIIGS, que possuem economias altamente endividadas surgem como um cenrio de intensa crise e, consequentemente, propcio a pesquisas sobre o tema, visando analisar qual o comportamento dos custos das empresas em situaes de declnio econmico. Mais especificamente, os pases que compreendem o PIIGS ainda passam por um perodo de excessiva dvida, no qual o aumento do endividamento acaba provocando um impacto negativo na taxa de crescimento do PIB das economias (Boas, 2014). Por fim, Richartz e Ensslin (2013) destacam que surgiram diversos estudos a partir do comportamento dos custos sob a tica sticky costs que buscaram contribuir ou aperfeioar o desenvolvimento dessa teoria, proposta por Anderson et al. (2003). Desta forma, este estudo visa contribuir para com o desenvolvimento da literatura testando o comportamento dos sticky costs pr e ps-crise, testando as seguintes hipteses de pesquisa: H1: O comportamento dos custos das empresas que compem o grupo PIIGS assimtrico, sendo que o aumento dos custos mediante ao aumento da receita lquida de vendas superior quando comparado com a reduo dos custos em virtude de uma reduo proporcional na receita lquida de vendas. H2: O comportamento dos custos das empresas que compem o grupo PIIGS assimtrico antes da crise financeira de 2008. H3: O comportamento dos custos das empresas que compem o grupo PIIGS no assimtrico no ps-crise de 2008.
Mtodo de investigao: Este estudo tem por objetivo analisar o comportamento assimtrico dos custos das empresas atuantes nos pases que compem o grupo PIIGS nos perodos pr-crise e ps-crise financeira de 2008 sob a tica do sticky costs. Metodologicamente, o estudo configurou-se como descritivo quanto aos objetivos (Andrade, 2004), documental em relao aos procedimentos (Martins & Thephilo, 2009) e quantitativo no que tange a abordagem do problema (Raupp & Beuren, 2006). A amostra do estudo ficou composta por 28 empresas de Portugal, 108 empresas da Itlia, 8 empresas da Irlanda, 105 empresas da Grcia e 83 empresas da Espanha. O perodo analisado compreendeu aos anos de 2002 a 2014, sendo que o mesmo se justifica pela necessidade da realizao de um corte entre o perodo no qual as empresas do PIIGS ainda no tinham sido afetadas pela crise financeira de 2008, isto , do ano de 2002 ao ano de 2007, e o perodo aps a crise, de 2009 a 2014. O modelo emprico utilizado para testar as hipteses elaboradas no estudo e tambm o modelo utilizado para verificar se o crescimento do PIB e a inflao influenciam tal comportamento foram adaptados do modelo desenvolvido por Anderson, Banker e Janakiraman (2003). As informaes para o clculo dos Custos Totais e da Receita Lquida de Vendas foram coletadas da base de dados Thomson, sendo que da mesma forma como realizado por Banker et. al. (2012), Richartz e Borget (2014) e Pamplona et al. (2016), tais informaes foram ajustadas pela inflao para diminuir as distncias temporais referentes aos dados quantitativos coletados. Tais informaes para a varivel inflao e crescimento do PIB foram coletados por meio do website do World Bank. A tcnica utilizada para responder a questo de pesquisa do estudo e testar as demais hipteses do mesmo foi regresso por meio de dados em painel, na qual se utilizou o software SPSS.
Resultados, concluses e suas implicaes: Os resultados encontrados evidenciaram que as empresas da Irlanda, Itlia, Grcia e Espanha apresentaram comportamento assimtrico em seus custos totais quando analisado de forma geral (2002 2014) os perodos objetos de estudo. Estes resultados revelam que, nestes casos, o aumento dos custos diante do incremento da receita lquida de vendas em 1% foi maior do que a reduo dos custos diante do decrscimo da receita liquida de vendas tambm em 1%, considerando-se todo o perodo analisado. Assim, corroboram para a confirmao da hiptese H1 do estudo para as empresas desses pases. A hiptese H2, que pressups que em perodos em que as empresas dos pases pertencentes ao grupo PIIGS no haviam sido afetadas pela crise, o comportamento dos custos destas empresas tenderiam a ser assimtrico, foi aceita com consistncia apenas para as empresas italianas. Por outro lado, a hiptese H3 que sugeriu que o comportamento dos custos das empresas que compuseram a amostra deste estudo no seria assimtrico no perodo posterior a crise foi aceita com consistncia apenas para as empresas de Portugal, da Grcia e tambm pelas empresas da Espanha. Estes resultados revelam que os efeitos dos diferentes perodos econmicos (pr-crise e ps-crise) impactaram de maneira distinta no comportamento assimtrico dos custos das empresas dos pases do PIIGS. Investigando-se a influncia do crescimento do PIB e da inflao no comportamento assimtrico dos custos das empresas pesquisadas, percebeu-se que no perodo total objeto de estudo (2002 - 2014), o crescimento do PIB influenciou o comportamento dos custos das empresas da Irlanda e que a taxa de inflao influenciou o comportamento nas empresas da Itlia, Grcia e Espanha. Por outro lado, observando-se de forma separada os perodos pr-crise e ps-crise, percebeu-se que a influncia destas variveis foi destacada apenas no perodo ps-crise, sendo a influncia do crescimento do PIB evidenciada nas empresas da Irlanda e a da taxa da inflao evidenciada nas organizaes da Itlia. Neste contexto, considerando-se os resultados encontrados nesta pesquisa, pode-se concluir que o comportamento assimtrico dos custos de empresas dos pases que compe o PIIGS no uniforme, sendo impactado de maneira diferente pelos perodos pr-crise e ps-crise, o que tambm observado em relao aos efeitos do crescimento do PIB e taxa de inflao. Esta pesquisa, apesar de suas contribuies em relao ao comportamento dos custos das empresas do PIIGS, possui limitaes. Dentre estas se destaca principalmente que pode haver outras variveis que influenciaram o comportamento dos custos nos pases do PIIGS no perodo analisado que no foram utilizadas nesta pesquisa e que podem ser testadas posteriores em outros artigos. Para futuras pesquisas sugere-se a utilizao de outras variveis de controle que podem influenciar o comportamento dos custos das empresas, como por exemplo, contratos firmados pelas empresas, questes econmicas as quais as empresas esto inseridas e at mesmo questes relacionadas com o otimismo dos gestores. Alm disso, recomenda-se verificar o comportamento dos custos em diferentes pases, a fim de comparabilidade com este estudo.
Referncias bibliogrficas: Anderson, M. C., Banker, R. D., & Janakiraman, S. N. (2003). Are selling, general, and administrative costs sticky?. Journal of Accounting Research, 41(1), 47-63.
Banker, R. D., Byzalov, D., & Chen, L. T. (2013). Employment protection legislation, adjustment costs and cross-country differences in cost behavior. Journal of Accounting and Economics, 55(1), 111-127.
Boas, B. M. N. V. (2014). Impacto da Dvida Pblica no Crescimento Econmico: uma abordagem aos PIIGS. Tese de doutorado, FEP Economia e Gesto, Faculdade de Economia da Universidade do Porto, Porto, Portugal.
Calleja, K., Steliaros, M., & Thomas, D. C. (2006). A note on cost stickiness: Some international comparisons. Management Accounting Research, 17(2), 127-140.
Noreen, E., & Soderstrom, N. (1994). Are overhead costs strictly proportional to activity?: Evidence from hospital departments. Journal of Accounting and Economics, 17(1), 255-278.
Pamplona, E., FIIRST, C., Silva, T. B. de J., & Zonatto, V. C. da S. (2016). Behavior of costs focused on sticky costs of the largest companies in Brazil, Chile and Mexico between 2002 and 2013. Revista Contadura y Administracin, Disponvel em: < http://www.cya.unam.mx/index.php/cya/article/view/1000/913>. Acessado em 01 de fevereiro de 2016.
Richartz, F., & Borgert, A. (2014). O comportamento dos custos das empresas brasileiras listadas na BM&FBOVESPA entre 1994 e 2011 com nfase nos sticky costs. Contadura y Administracin, 59(4), 39-70.
Vidal, T. L. (2011). Crises financeiras: efeito contgio ou interdependncia entre os pases? Evidncias utilizando uma abordagem multivariada. 173 f. 2011. Dissertao (Mestrado em Administrao de Empresas)-FEA/USP Faculdade de Economia, Administrao e Contabilidade, Universidade de So Paulo, So Paulo, SP, Brasil.
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