Resumo: Propsito do Trabalho: O trabalho tem objetivo de investigar a intensidade em que empresas brasileiras de manufatura em cinco segmentos especficos adotam abordagem colaborativa com fornecedores para realizar gesto de custos. Neste sentido, por meio de anlise do anurio exame das melhores e maiores, edio 2014, foram selecionadas 344 empresas, sendo 56 empresas do segmento automotivo, 115 do segmento de bens de consumo, 35 de eletroeletrnicos, 74 de qumica e 64 de metalurgia. Uma das principais contribuies deste trabalho o desenvolvimento de um instrumento para mensurar o nvel de adoo de abordagem colaborativa para gesto de custos nas empresas, composto por um questionrio contendo 15 questes, que avalia aspectos de integrao interna e externa em trs dimenses da abordagem colaborativa: (1) comprometimento de pessoas chaves; (2) desenho do processo de gesto de custos; (3) suporte da tecnologia de informaes. O questionrio foi respondido por 85 gestores de compras, suprimentos e relao com fornecedores das empresas selecionadas. Outra contribuio que pode ser destacada no trabalho foi a construo e teste de 10 hipteses de pesquisas com a finalidade de identificar fatores que podem influenciar a adoo de abordagem colaborativa para gesto de custos nessas organizaes.
Base da plataforma terica: A proposio da adoo de abordagem colaborativa para gesto de custos suportada pela plataforma terica da viso baseada em recursos. Essa perspectiva terica sugere que organizaes busquem obter vantagem competitiva por meio do acesso a recursos e capacidades que so difceis de serem imitadas por seus concorrentes. Nesse sentido, uma abordagem colaborativa entre duas organizaes poder combinar recursos e capacidades de uma empresa, com recursos e capacidades de seus fornecedores, criando assim novos recursos e capacidades que no podem ser encontradas no mercado, ou seja, a abordagem colaborativa poder ampliar conhecimentos, promover sinergias e aumentar a eficincia e competitividade das organizaes envolvidas.
Segundo Grant (1991) as principais fontes de retornos das empresas no longo prazo so os seus recursos e capacidades. Assim, recursos de uma organizao so as fontes principais das capacidades, enquanto que as capacidades so as fontes principais de vantagem competitiva (Grant, 1991, p. 119).
Grant (1991) relacionada ainda seis categorias de recursos de uma organizao, sendo: (1) financeiro; (2) fsico; (3) humano; (4) tecnolgico; (5) reputao e (6) organizacionais. As capacidades, por sua vez, so o resultado produzidos pelas equipes e resultado do trabalho em conjunto (Grant, 1991, p. 120).
J para Wernerfelt (1984), os recursos de uma empresa em um determinado momento podem ser definidos como ativos (tangveis e intangveis) que esto vinculados semipermanente empresa. Exemplos incluem marcas, conhecimento de tecnologias prprias, empregados qualificados, contratos comerciais, mquinas, processo eficazes, capital etc.
Wernerfelt (1984) complementa que, em uma viso baseada em recursos, empresas interessadas em combinar negcios (e.g. fuses, aquisies, contratos de colaborao etc.) procuram adquirir mais recursos que elas j possuem ou, em uma abordagem suplementar, ter acesso a recursos que, combinados com aqueles que j possuem poder trazer maiores resultados, em uma abordagem complementar.
Slavov (2013) acredita que a perspectiva terica da viso baseada em recursos pode ser utilizada para justificar a adoo de uma abordagem colaborativa para gesto de custos, e complementa que estudos na rea de gesto estratgica de custos que se apropriam da perspectiva terica da viso baseada em recursos so raros (Slavov, 2013, p. 90).
Mtodo de investigao: Este estudo pode ser definido como uma investigao emprica com abordagem positivista. Segundo Martins e Thephilo (2009), o mtodo emprico caracteriza-se pela observao de fenmenos da vida real e a abordagem positivista oferece suporte ao mtodo.
A tcnica selecionada para coleta dos dados foi o survey, porque a mais aderente aos objetivos da pesquisa. Segundo Pinsonneault e Kenneth (1993), o survey tem como objetivo produzir descrio quantitativa fenmeno sob investigao, a coleta de dados consiste em fazer perguntas estruturadas e pr-definidas aos participantes do estudo e tem como objetivo estudar uma frao de uma populao especfica e generalizar os resultados para esta populao.
A amostra investigada composta por profissionais de compras, suprimentos e relao com investidores, que trabalham em empresas de manufatura de grande porte. Esses profissionais responderam a um questionrio contendo 15 questes acerca de sua percepo sobre adoo de abordagem colaborativa para gesto de custos em suas respectivas organizaes. Cada questo possua uma escala de concordncia de at 5 pontos. Assim, a somatria dos pontos das 15 questes comps a medida de intensidade (pontuao) de abordagem colaborativa para gesto de custos de cada empresa.
Alm disso, foram desenvolvidas 10 hipteses de pesquisas para testar as proposies tericas de diversos autores sobre o tema abordagem colaborativa para gesto de custos.
Para teste das hipteses de pesquisa utilizou-se o mtodo de teste de mdia, sendo que as hipteses com respostas dicotmicas, cujo agrupamento pode ser dividido em duas amostras, foi utilizado o teste de Mann-Whitney, enquanto que as hipteses com mais de duas respostas possveis, cujo agrupamento se d em k amostras (com k>2) foi utilizado o teste de Kruskal-Wallis.
Para realizar o teste de mdia utilizou o software estatstico Stata 12.0.
Resultados, concluses e suas implicaes: Dentre os principais resultados e concluses destacam-se os seguintes:
1. As empresas do segmento de eletroeletrnicos foram as que apresentaram maior intensidade de adoo de abordagem colaborativa, enquanto que as empresas do segmento automotivo se mostraram as mais fechadas abordagem colaborativa para gesto de custos.
2. Dentre as trs dimenses da abordagem colaborativa para gesto de custos identificadas na reviso da literatura (pessoas, processos e tecnologia), a dimenso da tecnologia foi a que mais se destacou na percepo dos respondentes, seguido pelo desenho do processo e a dimenso menos desenvolvida diz respeito ao comprometimento das pessoas com essa abordagem. Embora a percepo de adoo de abordagem colaborativa para gesto de custos tenha apresentado nveis altos, atingindo 70% da pontuao mxima, pelo padro de respostas pode-se notar que necessrio desenvolver mais integrao com fornecedores, seja por meio de troca de informaes ou com formao de equipes de trabalho interorganizacional.
3. A pesquisa constatou que a utilizao de artefatos de controle gerencial, tais como o custeio por atividades (ABC) ou custeio alvo, est associado a maiores nveis de adoo de abordagem colaborativa para gesto de custos. Este achado importante porque corrobora o argumento de Bhimani et al. (2011) e Cooper e Slagmulder (1999), de que tais instrumentos podem servir como mecanismos disciplinadores, contribuindo para o sucesso na implementao dessa abordagem. Alm disso, a utilizao desses artefatos proporciona uma viso horizontal sobre atividades e processos, que segundo Chenrall (2008) fundamental adoo de uma filosofia de organizao horizontal, ideal para adoo de prticas colaborativas.
3. O estudo tambm identificou que empresas que trabalham com maior diversidade de fornecedores adotam a abordagem colaborativa para gesto de custos com maior intensidade. Esse resultado contrasta com o argumento de Bhimani et al. (2011), de que quanto menor a quantidade de fornecedores maior a interdependncia e maior adoo de prticas colaborativas. Na verdade, o estudo encontrou exatamente o contrrio, ou seja, quanto mais fornecedores maiores as oportunidades de adoo de abordagem colaborativa para gesto de custos.
4. Por fim, os resultados demonstram ainda que empresas que se relacionam com fornecedores de tamanho equivalente adotam prticas colaborativas para gesto de custos com maior intensidade. Este resultado corrobora com a viso de Stafford (1994) e Kulmala (2004), sobre a importncia de se buscar equilbrio de poder na relao entre compradores e fornecedores. Nos casos em que o fornecedor maior do que a empresas foram encontrados os menores nveis de adoo de prticas colaborativas, demonstrando que as organizaes tendem a adotar abordagem colaborativa com fornecedores de tamanho equivalente ou menores.
Referncias bibliogrficas: Anderson, S. W. & Dekker, H. C. (2009a).Strategic Cost Management in Supply Chains, Part 1: Structural Cost Management. Accounting Horizons, 23(2), 201-220.
Axelsson, B., Laage-Hellman, J., & Nilsson, U. (2002). Modern management accounting for modern purchasing. European Journal of Purchasing & Supply Management, 8(1), 53-62.
Bastl, M., Grubic, T., Templar, S., Harrison, A., Fan, I.S. (2010). Inter-organizational costing approaches: the inhibiting factors. The International Journal of Logistics, 21(1), 65-88.
Becker, T. E. (2005). Potential problems in the statistical control of variables in organizational research: A qualitative analysis with recommendations. Organizational Research Methods, 8(3), 274-289.
Bhimani, A., De Souza, B. C., & Rocha, W. (2011). Inter-organizational cost management in a Brazilian context. Cost Management, (Dec), 5-16.
Borin, N., & Farris, P. (1990). An empirical comparison of direct product profit and existing measures of SKU productivity. Marketing, 8.
Chenhall, R. H. (2008). Accounting for the horizontal organization: A review essay. Accounting, Organizations and Society, 33(4), 517-550.
Cokins, G. (1998). Why is traditional accounting failing managers? Hospital materiel management quarterly, 20(2), 72-80.
Cokins, G. (2000). Measuring costs across the supply chain. AACE International Transactions, P17A.
Cokins, G. (2001). A management accounting framework. Journal of Corporate Accounting & Finance, 13(1), 73-82.
Cokins, G. (2003). Measuring profits and costs across the supply chain for collaboration. Journal of cost management, 17(5), 22-29.
Cooper, R., Yoshikawa, T. (1994).Inter-organizational cost management systems: the case of the Tokyo-Yokohama-Kamakura supplier chain. International Journal of Production Economics, 37(1), 51-62.
Cooper, R., Slagmulder, R. (2003a). Interorganizational cost management and relational context. Accounting, Organization and Society, 29(1), 14-21.
Cooper, R., Slagmulder, R. (2003b). Interorganizational costing. Part I. Cost Management, 17(6), 12-24.
Cullen, J., Berry, A.J., Seal, W., Dunlop, A., Ahmend, M. et al. (1999). Interfirm supply chains: the contribution of management accounting. Management Accounting, 77(6), 30-2.
Das, T. K.; Teng, B. S. (1999). Managing risks in strategic alliances. Academy of Management Executive, 13(4), 50-62.
Davenport, T. H., Marchand, D. A., & Dickson, T. (2004). Dominando a gesto da informao. Bookman.
Dekker, H. C. (2003). Value chain analysis in interfirm relationship: a field study. Management Accounting Research, 14, 1-23.
Ellram, L. M. (1996). The use of the case study method in logistics research. Journal of business logistics, 17(2), 93.
Ellram, L. M. (2002a). Supply management's involvement in the target costing process. European Journal of Purchasing & Supply Management, 8(4), 235-244.
Ellram, L. M. (2002b). Strategic cost management in the supply chain: A purchasing and supply management perspective (pp. 16-18). Tempe, AZ: CAPS Research.
Ellram, L. M. (2006). The implementation of target costing in the United States: theory versus practice. Journal of Supply Chain Management, 42(1), 13-26.
Ellram, L. M., & Siferd, S. P. (1998). Total cost of ownership: a key concept in strategic cost management decisions. Journal of business logistics, 19(1), 55.
Fvero, L. P., Belfiore, P., Silva, F. L., Chan, B. L. (2009). Anlise de dados: modelagem multivariada. So Paulo: Campos.
Grant, R. M. (1991). The resource-based theory of competitive advantage: implications for strategy formulation. California management review, 33(3), 114-135.
|