Resumo: Propsito do Trabalho: A reputao corporativa se apresenta como um diferencial competitivo a ser obtido pela empresa junto aos seus stakeholders, e, ainda, como fator que busca maximizar o valor da empresa (Van Riel & Fombrun, 2007; Cole, 2012). Zabala et al. (2005) definem a boa reputao como o reconhecimento, pelos stakeholders, de que uma empresa executa as melhores prticas em sua gesto de recursos. Dentre outros aspectos, destaca-se que esse reconhecimento somente possvel em um ambiente com reduzida assimetria informacional (Yoon, Guffey, & Kijewski, 1993) e baixo risco, em que os atores da gesto e do controle das empresas desempenham papel fundamental.
A reduo de riscos no relacionamento entre esses atores implica uma diminuio nos custos de transao, representando um elemento de eficincia na competitividade das empresas. De acordo com Soares (2008), a existncia dos custos de transao deve-se a dois pressupostos comportamentais, abordados pela Teoria da Economia dos Custos de Transao (ECT): racionalidade limitada e oportunismo dos agentes.
Por sua vez, a reputao, tanto dos atores quanto da empresa, tende a atenuar os incentivos para um comportamento oportunstico e reduzir os custos de transao associados racionalidade limitada (Chiles & McMackin, 1996). Nesse contexto, as empresas precisam coordenar as aes dos indivduos para tentar reduzir os custos de transao, impulsionando a adoo de melhores prticas de governana corporativa como fiscalizadora dos pressupostos comportamentais dos gestores e dos acionistas (Silva Jnior, Silva, & Silva, 2013), e obter vantagem competitiva.
Diante do exposto, o objetivo geral do estudo consiste em investigar a relao entre a reputao corporativa e a oportunidade de crescimento das empresas listadas na BM&FBovespa.
Base da plataforma terica: A reputao tida como um mecanismo que pode minimizar os custos de transao, na medida em que uma maior reputao dos atores corporativos sugere menos dispndio de recursos para reduzir aes oportunsticas (Karuna, 2009). Bromley (2001) define reputao como a distribuio de opinies sobre uma pessoa ou outra entidade, por parte dos stakeholders.
Cruz e Lima (2010) definem reputao corporativa como o resultado das interaes repetidas e de experincias acumuladas nos diversos nveis de relacionamento da organizao, pressupondo que a repetio de comportamentos da organizao gera uma expectativa de continuidade para os stakeholders, interpretando-a tambm como oportunidade de crescimento e de vantagem competitiva da empresa em relao s demais.
Laird, Zboja, Martinez e Ferris (2013) conceituam reputao pessoal como uma identidade formada a partir da percepo dos demais, e que representa a combinao das caractersticas pessoais, revelaes e comportamento demonstrados em determinado perodo. Segundo Alsop (2006), a reputao pessoal tem influncia significativa nas decises econmicas e financeiras e no valor de mercado das aes; logo, para manter nveis favorveis de reputao corporativa, a organizao precisa ter pessoas (diretor executivo e acionista majoritrio) com reconhecimento no mercado.
Karuna (2009) apresenta duas consequncias da relao entre boa reputao da gesto e a economia dos custos de transao (ECT). A primeira que quanto mais alta for a reputao do diretor executivo, menor ser a probabilidade de ele se envolver em aes que possam comprometer sua imagem, diminuindo, com isso, os custos de transao. A segunda que o diretor executivo com alto reconhecimento poder manipular resultados e superavaliar os retornos dos investimentos, j que ele se sente pressionado para manter o alto nvel de reputao. Em consequncia, mesmo com diretores executivos e acionistas majoritrios com boa reputao, necessrio possuir e/ou manter fortes mecanismos de governana.
Dessa forma, a governana corporativa tambm se caracteriza como um importante mecanismo, que permite, dentre outros, mitigar a assimetria informacional e o oportunismo dos agentes (Peres, 2007; Silva Jnior et al., 2013), assegurando mais retornos sobre os investimentos, haja vista que reduz os custos de transao e a assimetria informacional, tornando a organizao mais atraente. Assim, ao remunerar os investidores da empresa, o administrador o faz para garantir vantagem competitiva, reduzir o risco em suas operaes e manter uma boa reputao, com o intuito de conseguir novos financiadores (Peixe, 2003).
Pela tica da ECT, ao adotar boas prticas de governana, a empresa minimiza os custos dos contratos derivados das aes oportunsticas dos agentes e oferece mais proteo aos investidores contra eventuais oportunismos, assegurando a maximizao do seu valor (Silveira, Leal, Carvalhal-da-Silva, & Barros, 2010). Destarte, de forma similar ao mecanismo governana, a reputao do diretor executivo e do acionista majoritrio (definida a partir de caractersticas pessoais) reduz os custos com monitoramento de possveis aes oportunsticas (Karuna, 2009).
Pode-se afirmar que, por meio dos mecanismos reputao (diretor executivo e acionista majoritrio) e governana corporativa, as empresas elevam seus nveis de controle e monitoramento com vistas reduo dos custos de transao, de forma a atrair investimentos e maximizar a oportunidade de crescimento e valor, garantindo a sua continuidade.
Mtodo de investigao: A amostra do estudo rene 230 empresas listadas na BM&FBovespa na posio de 22/11/2015. Para se obter a varivel reputao corporativa (REP), utilizou-se a Anlise Fatorial, a partir da reputao do acionista majoritrio, reputao do diretor executivo e governao corporativa. Os dados foram coletados no Formulrio de Referncia e nas Balano Patrimonial, referentes ao exerccio de 2013, disponveis na BM&FBovespa, alm das informaes consignadas no Estatuto Social, disponvel no website de cada empresa, e no ranking Proprietrios do Brasil (Instituto Mais, 2014).
A reputao do acionista majoritrio (RAM) utiliza o ndice de Poder Acumulado (IPA), do ranking Proprietrios do Brasil, que demonstra o poder econmico de cada acionista. O poder acumulado definido como a cascata recursiva de todas as participaes diretas e indiretas do acionista, at o final da cadeia de participaes. Foi identificado o ltimo proprietrio de cada cadeia de empresas.
A reputao do diretor executivo (RDE) foi construda a partir de Niap e Taylor (2012), considerando-se quatro categorias: (i) as qualificaes do diretor executivo; (ii) participao em conselhos; (iii) o mandato de diretor executivo com a empresa no perodo; e (iv) experincia prvia do diretor executivo. Todas as categorias apresentam pontuao no intervalo de 1 a 3 e o ndice foi construdo por meio da soma das pontuaes do diretor para as quatro categorias.
A governana corporativa (GOV) foi mensurada a partir das respostas a 15 questes base do estudo de Lameira (2012), representativas da adoo de boas prticas pelas empresas, divididas em 5 categorias: estrutura de propriedade e controle; nvel de disclosure das informaes e benefcios privados de controle; auditoria e conselho fiscal; conselho de administrao e poltica de remunerao; e relacionamento com investidores.
Aplicou-se a Regresso Linear Mltipla com erros robustos, utilizando a defasagem temporal entre a varivel independente reputao corporativa (REP) e a varivel dependente oportunidade de crescimento (OPC); assim, as informaes financeiras necessrias ao estudo se referem ao exerccio findo em 31/12/2014 e foram levantadas no banco de dados Economatica. As variveis de controle utilizadas so: desempenho econmico, endividamento, crescimento das vendas, risco de mercado e tamanho.
Resultados, concluses e suas implicaes: De uma forma geral, verificou-se que as prticas de governana corporativa esto distribudas homogeneamente, embora as empresas registrem ndice mdio de prticas de governana. Em relao reputao do diretor executivo, verifica-se distribuio uniforme entre as empresas, sugerindo que elas procuram contratar gestores com nveis de escolaridade, sapincia e experincia profissional similares, embora essas qualificaes ainda possam ser consideradas medianas, segundo o critrio utilizado no estudo. Constatou-se, tambm, que a reputao do acionista majoritrio se encontra abaixo da mdia, em decorrncia da forte presena de empresas familiares na amostra. Essas variveis formaram um fator intitulado reputao corporativa (REP), aplicando-se a Anlise Fatorial.
Observando-se o coeficiente de variao de todas as variveis do estudo, nota-se que h heterogeneidade entre as empresas. Isso pode ser devido s caractersticas reputacionais, que geram diferenas entre as empresas, especialmente entre aquelas que competem no mesmo setor, sendo perceptvel na varivel reputao (REP) que apresenta maior coeficiente de variao. Em mdia, as empresas revelam oportunidade de crescimento, indicando que a utilizao de ativos intangveis no mensurveis, entre eles a reputao, gera maior valor para as empresas, e que, mesmo em meio a um menor crescimento, levando-se em conta as vendas, as empresas conseguiram, em mdia, produzir um retorno operacional positivo. As empresas possuem em torno de 64% dos seus ativos financiados por dvidas. Em mdia, so empresas consideradas de baixo risco, j que o coeficiente inferior a um, e podem ser consideradas de grande porte, a partir do valor mdio do ativo total identificado.
Por meio da Regresso Linear Mltipla, verificou-se que todas as variveis independente e de controle, com exceo da varivel risco de mercado, influenciam a oportunidade de crescimento. Com base nos resultados, no foi possvel rejeitar a hiptese de pesquisa h relao positiva entre a reputao corporativa e a oportunidade de crescimento das empresas.
A relao positiva entre a oportunidade de crescimento e a reputao corporativa, que inclui a dimenso governana corporativa, mostrou-se significante no presente estudo, corroborando os estudos realizados por Caixe e Krauter (2014), Melo et al. (2013), Men (2012), Niap e Taylor (2012), Lee e Roh (2012) e Rossoni e Machado-da-Silva (2013). Enquanto isso, o estudo de Caixeta et al. (2011) identificou uma influncia negativa da reputao corporativa sobre o desempenho empresarial. Levando em conta a governana na constituio da reputao corporativa, o presente estudo se diferencia ainda, dos achados de Batistella et al. (2004), em que se constatou que um melhor nvel de governana corporativa no proporciona uma elevao significativa no desempenho empresarial.
Ressalta-se que a reputao, pessoal ou corporativa, um ativo que as empresas conseguem junto aos seus stakeholders, e tem como caractersticas o diferencial competitivo, a vantagem competitiva, a oportunidade de crescimento, a maximizao do valor da empresa, a reduo de assimetria informacional e risco, alm de atenuar os incentivos para um comportamento oportunstico e reduzir os custos de transao associados racionalidade limitada (Chiles & McMackin, 1996; Roberts & Dowling, 2002; Zabala et al., 2005; Thomaz & Brito, 2010).
Assim, com base na reduo dos preceitos da ECT, os acionistas majoritrios e diretores executivos com melhor reputao, em empresas com boa governana corporativa, tendem a no adotar comportamento oportunstico, e assim reduzem os custos de transao, que desencadeiam em oportunidade de crescimento e maximizao do valor das empresas, uma vez que essas empresas se legitimam no mercado e constroem sua reputao. Sob essa perspectiva, os resultados procuram contribuir para o melhor entendimento da relao entre reputao (pessoal ou corporativa), governana corporativa e oportunidade de crescimento, visando expanso do conhecimento e referncias para novas pesquisas.
Referncias bibliogrficas: Alsop, R. J. (2006). The 18 immutable laws of corporate reputation: Creating, protecting and repairing your most valuable asset. London: Kogan Page Publishers.
Caixe, D. F., & Krauter, E. (2014). Relao entre governana corporativa e valor de mercado: mitigando problemas de endogeneidade. BBR Brazilian Business Review, 11(1), 96-117.
Chiles, T., & McMackin, J. (1996). Integrating variable risk preferences, trust, and transaction cost economics. Academy of Management Review, 21, 73-99.
Karuna, C. (2009). CEO reputation and internal corporate governance [Working paper]. The Paul Merage School of Business, University of California at Irvine, 2009.
Laird, M. D., Zboja, J. J., Martinez, A. D., & Ferris, G. R. (2013). Performance and political skill in personal reputation assessments. Journal of Managerial Psychology, 28(6), 661-676.
Niap, D. T. F., Taylor, D. (2012). CEO personal reputation: does it affect remuneration during times of economic turbulence? Procedia Economics and Finance, 2, 125-134.
Roberts, P. W., & Dowling, G. R. (2002). Corporate reputation and sustained superior financial performance. Strategic Management Journal, 23(12), 1077-1093.
Van Riel, C. B. M., & Fombrun, C. J. (2007). Essentials of corporate communications. New York: Routledge.
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