Anais do 16º International Conference in Accounting - 16º  2016
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RESUMO DO TRABALHO

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Código: 105

Área Temática: Área VI: Educação

Título: Cultura organizacional de cursos de Cincias Contbeis: um estudo em duas universidades pblicas

Resumo:
Propsito do Trabalho:
O objetivo deste artigo conhecer o atual estgio da Cultura Organizacional Acadmica (COA) em duas instituies de ensino superior (IES) pblicas, visando identificar possveis relaes entre a cultura e os resultados decorrentes do desempenho dessas. A base terica do trabalho fundamenta-se nas abordagens de Schein (2009), Denison et al. (2012) e Hofstede (2003) sobre cultura organizacional A metodologia foi qualitativa, baseada em etnografia, observao participante e uso de entrevistas em profundidade. Utilizou-se a tcnica do Discurso do Sujeito Coletivo de Levevre e Lefevre (2012), usando o Qualiquantsoft. O campo emprico foi realizado em dois cursos de Cincias Contbeis de IES pblicas contatadas por acessibilidade: a Universidade de So Paulo (USP); e a Universidade Estadual de Feira de Santana na Bahia (UEFS). Foram entrevistados 18 docentes, sendo dez da USP e oito da UEFS. Adicionalmente foi realizado um levantamento com os alunos, sendo 122 da USP e 84 da UEFS. Os principais achados apontam que o atual estgio da COA nos dois cursos situa-se em polos diametralmente opostos. H fora na COA do curso da USP, notada na responsabilidade de, no s manter os padres alcanados outrora, como buscar aumentar essa alta referncia no pas, com orientao estratgica para internacionalizao. Em contraste, a situao do curso da UEFS oposta. Segundo seus docentes, atravessa-se um perodo de queda e fragilidade na sua COA que se mantm basicamente adormecida face s mudanas do ambiente externo, resultando em queda na qualidade do curso, motivao de alunos e docentes. Em sntese, os resultados decorrentes do desempenho do curso dependem fortemente da solidez da sua COA, materializada na responsabilidade, qualificao e empenho de seus docentes e gestores.

Base da plataforma terica:
Esta base contempla as abordagens tericas sobre Cultura Organizacional (CO) de Schein (2012), Denison, Hooijberg, Lane & Lief (2012) e Hofstede (2003). Schein (2009) define CO como um padro de suposies bsicas compartilhadas, aprendido por membros de uma organizao medida que estes solucionavam suas questes de adaptao externa e de integrao interna. Este autor distingue trs nveis essenciais que compem a CO: artefatos; crenas e valores expostos; e suposies ou pressupostos bsicos. A essncia da cultura de um grupo o seu padro de suposies bsicas, compartilhadas, internalizadas e assumidas como verdadeiras. O autor sugere trs etapas para se avaliar a CO: i) definir o problema da organizao; ii) rever o conceito de cultura; iii) identificar os artefatos; iv) identificar os valores da organizao; v) comparar os valores com os artefatos; vi) repetir o processo com outros grupos; e vii) avaliar as certezas compartilhadas. Baseado na abordagem de Schein, Denison et al. (2012) desenvolveu a sua prpria, incluindo mais duas dimenses: a misso e a consistncia. Os autores comentam que a cultura de uma organizao possui impacto sobre o seu desempenho para agir, pelo menos, de quatro formas: i) criar e desenvolver o sentido de misso e direo em uma organizao; ii) construir e manter um alto nvel de adaptabilidade e flexibilidade ao ambiente; iii) nutrir o envolvimento e o engajamento dos seus colaboradores; e iv) suprir uma consistncia que esteja fortemente enraizada em um conjunto de crenas e valores essenciais. Denison et al. (2012) relacionam e caracterizam as dimenses do seu modelo: i) uma misso clara fornece propsito e significado ao definir um papel social convincente e um conjunto de metas para a organizao; ii) a adaptabilidade indica que as entidades adaptveis rapidamente convertem as demandas do ambiente organizacional em resposta s alteraes no ambiente de negcios; iii) o envolvimento sugere que os membros da organizao esto fortemente comprometidos com suas atividades laborais, estas, diretamente ligadas aos objetivos organizacionais; e iv) na consistncia est a compreenso de que a efetividade das organizaes influenciada fortemente pela coerncia e boa integrao do seu ambiente interno. J Hofstede (2003) apresenta quatro nveis da CO nas quais ele apoia a sua abordagem, denominando-os de manifestaes de cultura. So eles: os smbolos; os heris; os rituais; e os valores. Os smbolos so palavras, gestos ou objetos que carregam um significado particular que reconhecido s pelos que compartilham a cultura. Os rituais so atividades grupais, tecnicamente suprfluas, que visam atingir alvos desejados, porm tidos como fundamentais em uma dada cultura. O ncleo da cultura abrange os valores, cuja maioria inconsciente, no perceptvel do exterior pelo pesquisador. Hofstede (2003) comenta que a contabilidade e seus sistemas de controle de gesto so manifestaes da cultura e refletem suposies culturais fundamentais. Contudo, pouco provvel que os contabilistas se convertam em heris nas organizaes, mas o desempenho deles relevante na identificao e consagrao de heris porquanto so os contadores que passam o atestado de bom ou mau comportamento na medida as demonstraes contbeis recebem o certificado das empresas de auditoria, indicando que elas representam com fidedignidade, em seus aspectos relevantes, a situao econmica, financeira e patrimonial das entidades.

Mtodo de investigao:
A metodologia utilizada de natureza emprico-analtica e descritiva, com predomnio qualitativo. A varivel de estudo a COA de cursos de Cincias Contbeis em IES pblicas. A estratgia utilizada baseou-se na Abordagem Etnogrfica, com o uso de entrevistas em profundidade com elementos da Observao Participante, o uso de um levantamento e pesquisa documental. A tcnica do Discurso do Sujeito Coletivo (DSC) foi usada no tratamento dos contedos das entrevistas. As IES escolhidas foram duas universidades pblicas: a de So Paulo (USP) e a de Feira de Santana (UEFS), na Bahia. Na USP, o acesso foi por meio do Departamento de Contabilidade e Aturia (EAC) da Faculdade de Economia, Administrao e Contabilidade (FEA). Da mesma forma, na UEFS, o acesso foi por meio do Departamento de Cincias Sociais Aplicadas (DCIS). As duas IES tm em comum o fato de serem pblicas e estaduais. Durante maro a maio de 2015 - primeiro na USP e depois na UEFS - foram entrevistados 18 docentes, sendo 10 da FEA/USP e oito do DCIS/UEFS; e tambm foi aplicado um levantamento em 206 alunos, sendo 122 da FEA/USP 84 do DCIS/UEFS. As entrevistas foram gravadas e depois transcritas e editadas para posterior tratamento por meio da Tcnica do DSC de Lefevre e Lefevre (2012), usando o software Qualiquantisoft, e os questionrios, com escala Likert, foram tabulados, usando o software da QuestionPro. A Tcnica do DSC adota uma suposio de base socioantropolgica, ancorada na Teoria das Representaes Sociais, de que o pensamento de uma coletividade sobre um determinado tema pode ser visto como as representaes sociais existentes da cultura daquele grupamento social sobre esse o tema (Lefevre & Lefevre, 2005). Os elementos do DSC propiciam organizar os vrios contedos dos discursos, visando apresent-los de forma mais didtica e ordenada como uma fala individual, porm coletiva. Para responder questo da pesquisa, foram elaborados pelos autores 26 DSC a partir dos depoimentos dos docentes, sendo 12 DSC para FEA/USP e 14 DSC para o DCIS/UEFS. Alm disso, dois DSC adicionais foram feitos sobre fragmentos histricos de cada curso. J o levantamento foi composto de 16 questes fechadas, quatro para cada dimenso de forma a avaliar a percepo dos alunos quanto a COA dos cursos da FEA/USP e do DCIS/UEFS.

Resultados, concluses e suas implicaes:
Foram obtidos 28 DCS originais, dos quais 12 da FEA/USP e 14 do DCIS/UEFS, desdobrados nas quatro dimenses da COA: misso; adaptabilidade externa, integrao interna e consistncia. H um DSC de retrospectiva histrica, na viso dos docentes, para cada IES. Foi extrado ainda um DSC de pontos em comum dos DSC das duas IES. Em sntese, percebe-se que o atual estgio da COA, nos dois cursos das duas universidades pesquisadas, apresenta-se em polos diametralmente opostos. H fora na COA do curso da USP, que se reflete na responsabilidade de manter, no presente, os padres alcanados no passado e buscar aumentar essa alta reputao e visibilidade do curso no pas, na Amrica Latina e com forte orientao estratgica para a internacionalizao. Por outro lado, a situao encontrada no curso do DCIS/UEFS oposta. Segundo seus docentes, h enfraquecimento e fragilidade da sua COA, que vem se mantendo basicamente adormecida e esttica, frente s mudanas do ambiente externo, o que se reflete na queda dos nveis de qualidade do curso, dos alunos, alm de desmotivao nestes e at nos docentes. Sobre o DSC dos pontos comuns entre as duas IES, foram encontrados apenas aspectos negativos: ambas as universidades possuem caractersticas culturais assemelhadas, como alta burocracia, que se traduzem em morosidade, relaes de poder limitadas que dependem muito de caractersticas pessoais dos gestores e falta de carisma de alguns docentes que se sucedem nos cargos de liderana e gesto. No caso da UEFS, esse aspecto mais crtico, talvez devido a fatores que estejam fora do controle da administrao da autarquia, e que dependem da Secretaria de Educao do Estado. Visando apresentar as concluses, o objetivo deste trabalho foi compreender o atual estgio das COA em duas IES brasileiras, visando identificar possveis relaes entre essa cultura e os resultados decorrentes do desempenho dessas IES. A reviso de literatura contemplou as teorias de Schein (2009); Denison et al. (2012); Hofstede (20030; e mais uma reviso da literatura emprica com alguns dos principais trabalhos adequados a esse tipo de pesquisa. Foram elaboradas duas hipteses: i) Quanto mais fora e solidez tiver a COA do curso nas respectivas IES, melhores devero ser os seus resultados em termos de desempenho e visibilidade externa; e ii) A cultura organizacional existente nas IES pblicas apresenta baixa adaptabilidade externa, que se reflete em uma baixa integrao interna. Quanto s hipteses, possvel afirmar que ambas no foram rejeitadas, pelo exposto a seguir: i) na primeira, as descobertas encontradas esto em linha com quase todos os achados dos referenciais empricos; e ii) na segunda, h os seguintes argumentos: a) embora o curso da FEA, pela alta qualificao do seu quadro docente e pela responsabilidade de seus membros em manter a alta referncia e visibilidade do curso, consiga se empenhar na criao de mudanas como a diretriz de internacionalizao, no h alto grau de flexibilidade e capacidade de resposta ao ambiente de negcios (Denison et al., 2012); b) sua burocracia limita as aes, ou seja, segundo esses autores, as organizaes com forte senso de propsito e direo geralmente so as menos adaptveis e mais difceis de mudar (p.7), e o curso do DCIS/UEFS no possui esta ltima caracterstica; a julgar pelos DSC, parece que o curso vive desconectado do ambiente externo; e c) em ambos os cursos, o aspecto de mais destaque foi a baixa integrao interna entre os seus membros, mormente os docentes. Como limitaes desta pesquisa, pode-se considerar: i) s duas IES pblicas foram pesquisadas, o que no permite generalizar as concluses; e ii) o uso de uma tcnica quantitativa mais robusta complementaria a combinao de metodologias, podendo melhorar os achados. Diante dos resultados apresentados, recomenda-se para outros pesquisadores: i) explorar este tema tambm em IES privadas e em outros cursos da rea de Cincias Sociais Aplicadas; e ii) adotar combinao de metodologias qualitativas e quantitativas e um recorte longitudinal que propiciem descobrir resultados mais robustos.

Referncias bibliogrficas:
Denison, D; Hooijberg, R; Lane, N., & Lief, C. (2012). A fora da cultura organizacional nas empresas globais: como conduzir mudanas de impacto e alinhar estratgia e cultura. (E. Furmankiewicz, Trad.). Rio de Janeiro: Elsevier Fleury, M. T. L. (1996). O desvendar a cultura de uma organizao: uma discusso metodolgica. In M. T. L. Fleury, & R. M. Fischer (Orgs.). Cultura e poder nas organizaes (2a ed.). So Paulo: Atlas. Hofstede, G. (2003). Culturas e organizaes: compreender a nossa programao mental (1a ed.). (A. Fidalgo, Trad.). Lisboa: Edies Slabo Lefevre, F., & Lefevre, A. M. (2005). Discurso do sujeito coletivo: um novo enfoque em pesquisa qualitativa (desdobramentos) (2a ed.). Caxias do Sul: EdUCS. Lefevre, F., & Lefevre, A. M. (2012). Pesquisa de representao social: um enfoque qualiquantitativo. A metodologia do discurso do sujeito coletivo (2a ed.). Braslia: Liberlivro. Schein, E. H. (2007). Guia de sobrevivncia da cultura corporativa (2a ed.). (M. Braga, Trad.). Rio de Janeiro: Jos Olympio. Schein, E. H. (2009). Cultura organizacional e Liderana. (A. B. Brando, Trad.). So Paulo: Atlas. Uprety, R., & Chhetri, S. B. (2014). College Culture and Student Satisfaction. Journal of Education and Research, 4(1), 77-92

 

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