Anais do 16º International Conference in Accounting - 16º  2016
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RESUMO DO TRABALHO

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Clique para abrir o trabalho de código 171, Área Temática: Área V: Contabilidade Governamental e Terceiro Setor

Código: 171

Área Temática: Área V: Contabilidade Governamental e Terceiro Setor

Título: Isomorfismo, Tribunais de Contas e a Automatizao da Coleta de Dados de Municpios

Resumo:
Propsito do Trabalho:
O movimento de automatizao de governos comeou por volta dos anos 90, e com o tempo tem sido ampliado em escopo (Dawes, 2008). A partir de 2001 a ONU j comeou a divulgar ndices peridicos sobre o desenvolvimento do e-government, que a aplicao de TI ICT (information & communication technology) em rgos do setor pblico com objetivo de ganho de produtividade, e incluso de cidados no processo de accountability e definio de polticas pblicas (OECD, 2008). Apesar de estudos que mostram impactos positivos do uso de TI no desempenho de governos (Andersen et al., 2010), pouco se tem pesquisado sobre desenvolvimento de TI em relaes intergovernamentais. Este artigo visto como um caso de aplicao de TI em relaes entre rgos de governo e a automatizao de Tribunais de Contas com jurisdio sobre governos locais (TCs) no processo de coleta, armazenamento e processamento prvio de dados (CAPP) fiscais, oramentrios e contbeis destes entes. O Brasil um dos pases em que a autoridade em auditar contas e atos de governos locais, exercida pelos TCs, recebe dados de diversos rgos para serem usados no processo de auditoria. At onde revimos a literatura, nas discusses e pesquisas de finanas e contabilidade pblicas muito se fala de informaes sendo enviadas por municpios e estados para TCs. Contudo, pouco se discute a respeito das particularidades de como este envio feito, como tem sido desenvolvido e de seus impactos no controle externo. Assim, o objetivo da pesquisa apresentar os efeitos institucionais da regulao e redes profissionais nas rotas de automatizao da coleta de dados fiscais, oramentrios e contbeis dos municpios pelos TCs.

Base da plataforma terica:
Organizaes respondem s instituies a que esto sujeitas. Instituies, como estruturas sociais, compostas por elementos de regulao, normativos e culturais-cognitivos, do estabilidade e significado vida social (Scott, 2014:56). Organizaes operam em um certo campo, e esto sujeitas s influncias institucionais deste campo. Campo organizacional a ordem social local em que operam tais organizaes, ele d o contexto no qual as atividades executadas por elas ganham significado e esto inseridas (Scott, 2014: 223). Assim, a lgica institucional que suporta e envolve a relao entre TCs e jurisdicionados no Brasil, bem como as crenas, os ritos e seus significados, todos estes estruturam o campo organizacional da tomada de contas no processo de controle externo. Ainda, alguns atores principais, como TCs, Prefeituras e Cmaras, provedores de sistemas e aplicativos de contabilidade, Secretaria do Tesouro Nacional, Secretaria do Oramento Federal representam, para Scott (2014:288), construes sociais que processam identidades institucionalmente definidas, incluindo capacitaes, direitos e responsabilidades. Ajudam a estruturar o campo organizacional, as relaes entre os atores, hierarquizao das relaes, tipo de contratao, participao em associaes, compartilhamento de interesses. No comeo de um processo de inovao, algumas organizaes escolhem suas solues, e iro alterar o campo organizacional em que operam. O efeito agregado dessas respostas pode ser limitado quanto sua diversidade, gerando uma homogeneizao, ou isomorfismo (DiMaggio & Powell, 1983). No incio de uma fase nos campos organizacionais, eles podem apresentar significativa diversidade. As organizaes iro escolher suas solues racionalmente em busca de seus interesses, enquanto em fases posteriores as demais organizaes similares seguem as mesmas solues por presses normativas, ou em busca de legitimidade (Meyer & Rowan, 1977; Tolbert & Zucker, 1983). Quando o campo se torna maduro e bem estabelecido, tende homogeneizao (DiMaggio & Powell, 1983:148). J bem conhecidos na literatura, os 3 mecanismos de isomorfismo atuam de forma complementar. Coercitivo: Presses formais e informais sobre uma organizao vindas de outras organizaes das quais so dependentes, ou por de expectativas da sociedade em relao funo de tais organizaes so fonte. Mimtico: A imitao da soluo incentivada por tecnologias organizacionais pobremente compreendidas, metas ambguas, ou incerteza simblica no campo organizacional. Normativo: Presso sobre o indivduo, principalmente por pertencer uma classe profissional, uma ocupao em relao expectativa de comportamento e mtodos de trabalho. Em certas condies uma certa soluo se desenvolve de tal maneira que difcil se no impossvel, reverter o curso ou considerar o uso de abordagens alternativas mesmo que levando a resultados superiores (Scott, 2014: 144). Tal efeito de path-dependence ocorre por um processo de feedback-positivo. A cada novo desenvolvimento que valide a mesma escolha tecnolgica anterior, mais custoso sair dessa escolha. O custo de sada pode vir de perda dos investimentos feitos, ou custo de mudana, como novo projeto, adequaes em aplicativos associados e incertezas geradas. Quando uma soluo, ou mesmo organizao criada, existe forte influncia do contexto social tecnolgico existente, elas so estampadas (imprinted) com as caractersticas existentes poca. E estas tendem a se perpetuar, so estveis, reforadas pelo efeito de path-dependence (Scott, 2014: 194).

Mtodo de investigao:
Efetuou-se um estudo de caso longitudinal das rotas de automatizao, no nvel de anlise do campo organizacional dos Tribunais de Contas de Municpios, no perodo de 2000 a 2013. O campo organizacional envolve os TCs, Atricon, IRB, prefeituras e cmaras municipais e provedores de servios de TI. O espao do campo organizacional o processo de controle externo de governos locais. Tribunais de Contas tem claros limites de responsabilizao por seus jurisdicionados, por exemplo, municpios de um certo estado. A rea de influncia pode extrapolar estes limites, mas a competncia de atuao no. A escolha dessa unidade de anlise nos d possibilidade de observar a evoluo do campo, e no de organizaes e atores especficos observando a totalidade do setor. Assim, nossas concluses so sobre o setor, e no sobre TCs especficos. Foram realizadas entrevistas contextualizadas (episodic interviews) com diretores e servidores seniores de tecnologia de informao (TI) de 20 tribunais de contas. Nas entrevistas, alm do contexto do desenvolvimento do sistema de coleta de dados (SCD), foi perguntada a existncia de acordos de cooperao com outros tribunais para cesso do sistema. Adicionalmente foi entrevistado o responsvel tcnico da pesquisa de TI desenvolvida pelo Instituto Rui Barbosa (IRB) em 2011, que diagnosticou os SCDs, incluindo plataformas, linguagens e detalhes tcnicos. Por fim, foram entrevistados consultores de municpios que lidam diretamente com a transmisso de dados aos Tribunais de Contas, como forma de triangulao das informaes dos Tribunais. Como forma adicional de triangulao conduzimos uma anlise documental em relatrios de atividade dos tribunais e documentos que retratam o PROMOEX, para construir uma narrativa de como se deu a informatizao dos TCs em seus diversos processos, incluindo o de coleta de dados dos entes jurisdicionados. Para mapear o estado atual do nvel de automatizao do processo CAPP foi enviado um questionrio, no incio de 2016, para o responsvel de TI de todos os 26 TCs analisados. Um dos autores atuou por mais de 15 anos como consultor de TI em municpios conhecendo SCDs de alguns tribunais. A partir desta experincia foi desenvolvido um questionrio e aplicado a um auditor de um dos tribunais para validao.

Resultados, concluses e suas implicaes:
Podem-se identificar 4 fases na automatizao do processo CAPP, sendo (i) pr-LRF (1994-1999), (ii) ps-LRF (2000-2005), (iii) PROMOEX (2006-2012), (iv) ps-PROMOEX (a partir de 2013). A primeira e segunda fases do processo de informatizao das prestaes ocorrem em um ambiente tecnolgico incipiente. A partir do PROMOEX, Tribunais de Contas e, consequentemente municpios, passam a investir em softwares, internet banda larga e equipamentos de informtica. A automatizao do processo da coleta, armazenamento e pr-processamento (CAPP) de dados fiscais, oramentrios e contbeis dos municpios pelos Tribunais de Contas comea em 1994 com o esforo individual do Tribunal de Contas de Santa Catarina, e impulsionada pela necessidade de se adequarem regulao de responsabilidade fiscal entre 1999 e 2001. Entre outras legislaes federais, a LRF aumentou significativamente a amplitude de atuao dos TCs na fiscalizao oramentria e fiscal. No houve coero sobre o processo de TI em si, mas a imposio de novas anlises representou um isomorfismo coercitivo, impondo a todos a emisso de alertas aos jurisdicionados, e maior escopo de dados coletados para executar as novas tarefas de auditoria. Assim, o primeiro evento de isomorfismo mimtico aconteceu entre 1999-2002, quando 4 tribunais assinaram acordo de cooperao com o Tribunal de Santa Catarina para adoo do ACP. Na fase PROMOEX existem outros casos de isomorfismo mimtico nos estados da Paraba, Piau e Gois. Finalmente, a nova contabilidade pblica aqueceu o processo a partir de 2008, e a necessidade de readequao ao novo plano de contas (PCASP) trouxe nova onda de mudanas de sistemas ps-PROMOEX, devido ao fato de que a incerteza do impacto da nova contabilidade ou as dificuldades de migrao de sistemas pode ter postergado a migrao entre sistemas e a adoo de sistemas por outros tribunais. Apesar do isomorfismo observado, diferentes rotas de automatizao levaram os tribunais a se distriburem entre 3 sistemas compartilhados e 17 sistemas prprios. Diferentes nveis de automatizao levam maior ou menor potencial de coero destas cortes em seus jurisdicionados. Como a dinmica de auditoria e de tomadas de contas explicaria o desempenho de municpios em matrias fiscais, tais diferenas deveriam ser consideradas nas pesquisas em Finanas Pblicas. Em estudos longitudinais, por exemplo, deve-se estar atento que para alguns perodos, ex. 2000-2007 em que os municpios de alguns estados estavam em um grau de ateno muito aqum de outros. Mesmo nos perodos recentes, ex. 2013-2014, ps adoo do PCASP, mostramos que certos TCs tm alcance muito maior de fiscalizao, pelo uso de dados detalhados, que outros. As diferenas de coero controladas isolariam o efeito coero dos tribunais na anlise. Por fim, o maior ganho da automatizao vir pela transformao do processo de auditoria dos tribunais, passando o auditor a atuar de forma concomitante no processo de monitoramento (e-auditing).

Referncias bibliogrficas:
Andersen, K. N., Henriksen, H. Z., Medaglia, R., Danziger, J. N., Sannarnes, M. K., & Enemrke, M. (2010). Fads and Facts of E-Government: A Review of Impacts of E-government (20032009). International Journal of Public Administration, 33(11), 564579. Dawes, S. S. (2008). The evolution and continuing challenges of E-governance. Public Administration Review, 68. DiMaggio, P. J., & Powell, W. W. (1983). The iron cage revisited: Institutional isomorphism and collective rationality in organizational fields. American Sociological Review, 48(2), 147160. Meyer, J. W., & Rowan, B. (1977). Institutionalized Organizations: Formal Structure as Myth and Ceremony. American Journal of Sociology, 83(2), 340. OECD. (2008). OECD e-Government Studies: Belgium 2008. Bruxelas. Scott, R. W. (2010). Reflections: The Past and Future of Research on Institutions and Institutional Change. Journal of Change Management, 10(1), 521. Scott, R. W. (2014). Institutions and Organizations. Ideas, Interests, and Identities (4th ed.). Thousand Oaks, CA: SAGE Publications. Tolbert, P. S., & Zucker, L. G. (1983). Institutional Sources of in the Formal Change Structure of Organizations: The Diffusion of Civil Service Reform, 1880 - 1935. Administrative Science Quarterly, 28(1), 2239.

 

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