Resumo: Propsito do Trabalho: O objetivo deste trabalho foi analisar a influncia da governana corporativa na acurcia das previses dos analistas em ambientes de instabilidade econmica nas empresas abertas brasileiras entre 2005 e 2014. Os analistas so importantes agentes informacionais do mercado de capitais, que a partir da reunio de informes pblicos e privados de fontes diversas, se utilizando de todo o corpo informativo sobre a empresa, do setor econmico e do ambiente macroeconmico na qual a firma est inserida para realizar projees de lucros e de cenrios possveis para a companhia, de modo a fundamentar recomendaes de compras e vendas de aes. (Healy & Palepu, 2001; Martinez, 2004). Para que as informaes produzidas por esses analistas sejam de fato relevantes, elas precisam apresentar preciso e acurcia, isto , que se aproximem ao mximo dos reais. Existem alguns fatores que podem influenciar os nveis desses atributos, como, por exemplo, a instabilidade macroeconmica e o grau de governana corporativa das empresas. A instabilidade atua aumentando os nveis de incerteza e impreciso das informaes, quando, por outro lado, a governana busca acurar as informaes divulgadas, tanto em qualidade quanto em quantidade.
Base da plataforma terica: O analista de mercado um importante agente do mercado de capitais, cujos principais contribuies so na consolidao das informaes e das expectativas do mercado, alm de contriburem para o monitoramento da qualidade dos lucros. So agentes que tem acesso a um conjunto robusto de informaes acerca das empresas, tanto de cunho corporativo atravs das demonstraes contbeis e relatrios relacionados, quanto acerca do ambiente macroeconmico em que esto inseridas; e com base nele, constroem previses e projees de resultados futuros. Nesse sentido, os analistas almejam os construrem com acurcia, de modo que a mdia de erros de previso absoluta seja reduzida, isto , que o valor previsto esteja o mais prximo possvel da realidade, e; com preciso, ou seja, que o resultado seja determinado com um nvel de exatido, de maneira que seja reprodutvel.
Sob essa perspectiva, necessrio que essas informaes sejam confiveis e relevantes. Para que esse objetivo seja alcanado, alm da boa qualidade das informaes das demonstraes contbeis, os analistas buscam analisar o ambiente macroeconmico ao qual a empresa se expe, e a sua estrutura de governana corporativa. As condies macroeconmicas devem ser observadas pelos analistas, haja vista serem um fator no-diversificvel. Martinez (2004) sugere que as expanses ou recesses econmicas podem caracterizar um fator que justifica erros de previso dos analistas, pois durante perodos de mudana no ambiente macroeconmico as atividades dos analistas se tornam mais difceis, com os erros de previso tendendo a serem menores em perodos de crescimento econmico.
Nesse contexto, observa-se a nfase ao papel da governana corporativa de atuar contribuindo com a qualidade do ambiente informacional em que esses agentes atuam, caracterizando-se como um importante fator para a tomada de decises sobre investimentos, pois a sua contribuio ao nvel de disclosure proporciona um maior grau de confiabilidade informao, cuja evidenciao tende a ser mais clara, completa e objetiva, alm de reduzir os custos de capital, maximizar o valor de mercado da empresa ao acionista e reduzir o risco associado ao controle de informao.
No Brasil, evidncias nesse sentido foram observadas por Black, Carvalho e Gorga (2012), Lima e Sanvicente (2013) e Black, Carvalho e Sampaio (2014), em que a adoo de prticas de governana apresentaram efeitos positivos sobre tais variveis. Complementarmente, para os analistas a quantidade e a qualidade das informaes disponibilizadas est associada com um maior nvel de monitoramento da empresa por parte dos analistas, menor disperso nas projees e menor volatilidade na reviso de estimativas, logo, maior acurcia das previses, haja vista que elas pressupem a reduo das incertezas acerca de performances futuras, menores nveis de revises das previses e menores disperses entre os analistas (Lang & Lundholm, 1993; Healy & Palepu, 2001; Bhat et al., 2006; Malacrida & Yamamoto, 2006; Yu, 2010; Dalmcio et al.,2013).
Mtodo de investigao: A pesquisa se realizou com uma amostra de 77 empresas de capital aberto que negociaram aes na BM&FBovespa e que possuam cobertura dos analistas durante todos os anos de 2005 a 2014, cujos foram coletados da base de dados da Thomson Reuters, totalizando 225 observaes, com excluso de 28 informaes que se categorizaram como outliers.
Com base em Dalmcio et al (2013), cuja metodologia tem base na literatura internacional, a acurcia dos analistas foi computada como o erro de previso, calculado como a diferena absoluta entre o resultado previsto pelos consensos dos analistas (expresso como lucro por ao) e o resultado realizado (lucro por ao) deflacionado pelo preo da ao no perodo anterior, ou seja, no ano t-1, tudo multiplicado por (-1). Dessa forma, a varivel Acurcia interpretada da seguinte forma: quanto maior o seu valor, maior a acurcia e, quando uma varivel independente se relacionar negativamente com a Acurcia, porque ela sinaliza predies menos acuradas.
O modelo aplicado para investigar a relao da governana corporativa e da situao econmica do Brasil com a acurcia das previses foi estimado em dados em painel, onde a varivel dependente foi a acurcia calculada atravs do mtodo supracitado, e as variveis independentes compreenderam tanto os determinantes da acurcia das previses dos analistas como as variveis de controle. As variveis explicativas que impactam a acurcia das previses utilizadas neste trabalho so governana corporativa, representada pela presena da firma nos nveis diferenciados de governana corporativa da BM&FBovespa, sendo que se espera que a empresa apresente maior acurcia quando estiver listada em um desses segmentos de governana (Martinez, 2007; Dalmcio et al., 2013); a situao econmica, representada pela instabilidade macroeconmica no Brasil medida pela variao do PIB, sendo que se espera que haja maior acurcia quando a situao econmica favorvel e mais estvel (i.e. crescimento econmico) (Martinez, 2004).
Resultados, concluses e suas implicaes: Foram aplicadas duas regresses, uma com as variveis independentes principais do estudo, isto : governana corporativa (GC) e instabilidade macroeconmica (INSTA); e as variveis de controle, sendo o retorno (RET), a volatilidade (VOL) e o tamanho (TAM), alm das interaes com a INSTA (INSTA*RET, INSTA*VOL, INSTA*TAM e INSTA*GC); e outro modelo sem as variveis de interaes com a varivel INSTA. Os modelos foram estimados por regresso Quantlica na mediana, dado que ela se apresenta mais robusta a outliers.
As evidncias apontaram uma relao positiva e significante entre governana corporativa e acurcia das previses dos analistas, resultado de acordo com o observado em Dalmcio et al. (2013) para as empresas presentes no Novo Mercado. Em contrapartida, quando existe instabilidade macroeconmica, a acurcia das previses dos analistas financeiros de mercado para os resultados das empresas reduzida, como esperado, mediante a literatura pertinente (Martinez, 2004); podendo ser justificada pela reduo da previsibilidade das variveis que fomentam as previses dos analistas, tanto em termos de informaes macroeconmicas quanto em termos de nmeros contbeis referente as firmas, especificamente (Joya, 2011). Nesse sentido, foi observado por Costa et al. (2012) que, ao analisarem a relevncia da informao contbil em perodos de crise, notou um decrescimento da utilidade das projees dos fluxos de caixa e um aumento no conservadorismo contbil, devido aos impactos da instabilidade econmica.
percebido que em perodos de instabilidade macroeconmica h maior dificuldade em cumprimento de contratos, assim como elevao das taxas de juros e decrescimento dos preos das aes, o que impacta negativamente o mercado de capitais. Observa-se, tambm, desvalorizao da moeda local (Costa et al., 2012). Esses fatos contribuem para maior volatilidade nos resultados das companhias, o que impacta as projees, dificultando o trabalho dos analistas financeiros. Entretanto, quando a econmica passa por perodos de instabilidade e as companhias apresentam altos nveis de volatilidade dos resultados, evidncias demonstram aumento na acurcia das previses dos analistas, devido ao comportamento mais pessimista e cauteloso desses intermedirios financeiros, o que os fazem realizar previses com tendncia mais negativa ou piores.
Diante do exposto, destacam-se as contribuies desta pesquisa sob o aspecto emprico, isto , a presena de prticas de governana corporativa afeta positivamente nas previses dos analistas, ajudando a reduzir os efeitos negativos da assimetria informacional, enquanto que a instabilidade econmica fomenta um ambiente mais voltil e de difcil consecuo dos contratos, o que contribuir para reduzir a acurcia das previses dos analistas, uma vez que, estes se utilizam das informaes disponveis pelas companhias para realizar predies, o que reafirma a importncia da governana corporativa, sobretudo no ambiente brasileiro atual que enfrenta perodos de crises econmicas. No tocante a parte metodolgica, foi aplicada a regresso quantlica, procedimento metodolgico robusto, o qual no apresenta sensibilidade outliers e que fornece mais capacidade explicativa em presena de heterogeneidade, fato apresentado em amostras de dados contbeis e financeiros.
Por fim, ressalta-se que os resultados se restringem amostra analisada de 77 empresas que negociam aes na BM&FBovespa durante o perodo descrito, sem a finalidade de serem tomados como respostas definitivas ao problema investigado. Entretanto, possvel perceber a validade dessas evidncias, frente aplicao de uma metodologia robusta e fundamento numa literatura consolidada, tanto internacionalmente quanto no mbito nacional. Sugere-se para pesquisas futuras, portanto, a ampliao da amostra que inclua outros pases e que expanda o lapso temporal.
Referncias bibliogrficas: Costa, F. M.; Reis, D. J. S.; Teixeira, A. M. C. (2012). Implicaes de Crises Econmicas na Relevncia da Informao Contbil das Empresas Brasileiras. Revista de Educao e Pesquisa em Contabilidade, 6(2), pp. 141-153.
Dalmcio, F. Z.; Lopes, A. B.; Rezende, A. J.; & Neto, A. S. (2013). Uma Anlise da Relao entre Governana Corporativa e Acurcia das Previses dos Analistas do Mercado Brasileiro. Revista de Administrao de Mackenzie, 14(5), pp. 104-139.
Healy, P. M.; & Palepu, K. G. (2001). Information asymmetry, corporate disclosure, and the capital markets: A review of the empirical disclosure literature. Journal of Accounting and Economics, 31, pp. 405-440.
Joya, Omar. (2011). Macroeconomic Instability in Afghanistan: Causes and Solutions. Masters dissertation in Applied Economics, Development in University of Bourdeux, France.
La Porta, R.; Lopez-de-Silanes, F; Shleifer, A; & Vishny, R. (2000). Investor protection and corporate governance. Journal of Financial Economics, 58, pp. 3-27.
Martinez, A. L. (2004). Analisando os analistas: estudo emprico das projees de lucros e das recomendaes dos analistas de mercado de capitais para as empresas brasileiras de capital aberto. Tese de Doutorado em Administrao de Empresas, Escola de Administrao de Empresas de So Paulo da Fundao Getlio Vargas, So Paulo, SP, Brasil.
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