Resumo: Propósito do Trabalho: Avaliar e analisar o desempenho das empresas permite aos administradores tomar decisões ajustadas a organização, para manter a competitividade empresarial (Wernke & Lembeck, 2004). Em busca da competitividade Donaire (1994) infere que o ambiente externo demanda cada vez mais das companhias a adequação ao mercado e o desenvolvimento de atividades ligadas as questões ambientais. O ambiente externo está cobrando cada vez mais a postura responsável das empresas e investidores buscando empresas que desenvolvam práticas sustentáveis. No mercado financeiro, diversas bolsas de valores implantaram os índices de sustentabilidade. Iniciado no ano de 1999 no mercado americano o Dow Jones Sustainability Índices (DJSI), em 2001 na bolsa de Londres o FTSE4Good, na África do Sul em 2004 o Johannesburg Stock Exchange (JSE), e no Brasil em 2005 o Índice de Sustentabilidade Empresarial (ISE). Corporações que adotam as práticas de sustentabilidade asseguram vantagens competitivas e eficiência empresarial (Lee & Saen, 2012). Eccles, Ioannou e Serafeim (2012) acrescentam que além da vantagem competitiva a empresa tem um crescimento no desempenho financeiro a longo prazo, resultando na valorização da empresa. Diante do exposto, o objetivo desta pesquisa é analisar o efeito da participação no ISE no desempenho econômico-financeiro das empresas do setor de transporte listadas na BM&FBOVESPA. Conforme resultados não significantes para a influência do índice de sustentabilidade e o desempenho financeiro encontrados por Ziegler (2012), Lameira et al. (2013) e Callens e Tyteca (1999) apresenta-se a necessidade de análise das empresas por setor de atuação, apresentando a abordagem diferenciada desta pesquisa que consiste em analisar por meio da teoria dos jogos, empresas do setor de transportes.
Base da plataforma teórica: O desenvolvimento sustentável é um meio de alcançar o desenvolvimento humano e implica na interdependência e equilíbrio entre o meio social, econômico e ecológico (Gladwin, Kenelly, & Krause, 1995). No âmbito corporativo a sustentabilidade consiste no cumprimento das necessidades dos stakeholders e dos futuros acionistas, que são os funcionários, clientes e a sociedade (Dyllick & Hockerts, 2002). Para responder esta demanda, foram criados ao redor do mundo índices de sustentabilidade empresarial. O mercado americano no ano de 1999 foi o primeiro a lançar o DJSI (DJSI, 2015), a bolsa de Londres implantou o FTSE4Good em 2001 (FTSE RUSSEL, 2015), a bolsa de valores da África do Sul o JSE em 2004 (JSE, 2015). A bolsa de valores brasileira no ano de 2005, inspirada no DJSI, FTSE4Good e JSE criou o índice de sustentabilidade empresarial (ISE) que agrupa as empresas com os níveis mais elevados de sustentabilidade e responsabilidade social (Bovespa, 2015). Portanto, as empresas que aderem ao desenvolvimento sustentável, pactuam um compromisso com o meio ambiente e a responsabilidade social (Rezende, Nunes, & Portela, 2008). Segundo Marcondes e Bacarji (2010) além dos três eixos do triple bottom line de Elkington (2001) que são o social, ambiental e econômico, o ISE integra a governança corporativa como um quesito para a empresa ser considerada sustentável. López, Garcia e Rodrigues (2007) afirmam que as empresas que divulgam suas informações de forma a fazer parte dos índices de sustentabilidade criam um diferencial, apresentam vantagem perante seus concorrentes e agregam valor a longo prazo para os acionistas. O desempenho financeiro é influenciado positivamente com o bom desempenho socioambiental das empresas, isto é, aumenta o retorno sobre o patrimônio e sobre os ativos (Bovespa, 2015). Deste modo, Groppelli e Nikbakht (2002) afirmam que por meio das demonstrações financeiras é possível avaliar o desempenho das empresas, permitindo aos administradores identificar os pontos fracos e planejar a utilização de recursos de forma eficaz. Diante deste cenário, diversos estudos investigam os índices de sustentabilidade com o desempenho da empresa. Os resultados internacionais não são unânimes, os resultados encontrados por López, Garcia e Rodrigues (2007) indicam que as despesas incorridas por suas ações socialmente responsáveis podem levar as empresas a desvantagens a curto prazo, porém, após certo período o resultado negativo é minimizado Lee e Faff (2006) e Ziegler (2012) não encontraram diferenças entre os retornos de empresas com elevadas práticas sustentáveis e as demais empresas. Referente ao desempenho financeiro Orlitzty, Schmidt e Rynes (2003), Ameer e Othman (2011) encontraram resultados favoráveis as empresas com elevados níveis de sustentabilidade. No cenário Brasileiro, os estudos relacionados ao ISE também encontram divergências nos resultados. Os autores Vital, Cavalcanti, Dalló, Oliveira Moritz, & Costa (2009) e Lameira, Ness Jr, Quelhas, & Pereira, (2013), identificaram melhor desempenho financeiro de empresas que estão listadas no ISE. Entretanto Machado, Machado e Corrar (2009) não identificaram diferença nos resultados entre os investimentos em empresas listadas no ISE e as demais empresas. Ao analisar a rentabilidade do índice de sustentabilidade empresarial, Beato, Souza e Parisotto (2009) obtiveram resultados positivos em relação aos demais índices tradicionais da Bolsa de valores brasileira.
Método de investigação: O estudo caracteriza-se como descritivo quanto ao objetivo, por apresentar as características de uma determinada amostra, e coleta de dados documental por meio do método arquivo/empirista. Quanto aos procedimentos, é uma pesquisa de natureza quantitativa, haja vista que se utiliza de métodos estatísticos para a análise dos dados. A população da pesquisa é composta por empresas brasileiras listadas na bolsa de valores, especificamente no setor de transportes. A coleta de dados utilizados para a análise econômico-financeira ocorreu por meio da base de dados Economática® e foram utilizados indicadores de rentabilidade e liquidez. Os indicadores de rentabilidade selecionados foram: retorno sobre o patrimônio líquido e retorno sobre o ativo. Os indicadores de liquidez selecionados foram liquidez geral, liquidez corrente e liquidez imediata. Os dados referentes as ações e classificação das ações, setor de atividade e informações de adesão e exclusão do ISE, foram extraídos do sitio da BM&FBOVESPA e o período selecionado foi de 2005 a 2014. Após a coleta de dados, foram excluídas as empresas que não continham todas as variáveis, e considerando a análise dos dados ano a ano, o ano de 2005 compreendeu 12 empresas e o último ano analisado de 2014 compreendeu 21 empresas. Os dados da amostra foram tabulados em planilhas eletrônicas e analisados por meio da Teoria dos Jogos. Os indicadores de rentabilidade e liquidez foram utilizados para instrumentalização da pesquisa e construção dos rankings com base no desempenho econômico e financeiro das empresas. Incialmente para a composição dos rankings foram calculados os indicadores referentes a cada empresa da amostra para cada ano do período analisado e solução do problema de programação linear foi dada por meio do software PLM. A segunda etapa, após a composição dos rankings, foi a comparação dos resultados entre as empresas que aderiram ao ISE e as demais empresas, no respectivo ano. A terceira etapa foi a análise geral do ranking do período de 2005 a 2014 para identificar o efeito da adesão ao ISE no desempenho econômico-financeiro a curto e longo prazo.
Resultados, conclusões e suas implicações: O objetivo deste estudo foi analisar o efeito da participação no índice de sustentabilidade empresarial (ISE) no desempenho econômico-financeiro das empresas do setor de transporte. Os resultados encontrados neste estudo por meio dos rankings obtido com a aplicação da teoria dos jogos possibilitaram verificar que, para o setor de transportes, as empresas que participaram do ISE, avaliado de acordo com o desempenho econômico-financeiro obtiveram melhora no ranking. No ano de 2005 as empresas aderiram ao ISE somente no mês de dezembro, portanto, neste ano os dados foram analisados sem o relacionamento com o ISE. As empresas ALL Amer Lat e Gol que participaram somente em 2006 e 2007 do ISE, apresentaram queda no ranking após o último ano de participação. A empresa Ecorodovias apresentou melhora no desempenho econômico-financeiro, quando comparado com as empresas do setor, apesar da empresa participar do ISE somente nos anos de 2012 a 2014, a análise de curto período pode indicar que o investimento em sustentabilidade resulta em benefícios econômico-financeiros para a empresa, este resultado contrapõem os resultados de Lópes, Garcia e Rodrigues (2007), que indicaram resultado negativo a curto prazo para as práticas sustentáveis. A CCR foi a empresa mais presente no ISE no período de 2005 a 2014. Nos três anos que a empresa não esteve listada no índice, o desempenho econômico-financeiro apresentou resultado desfavorável se comparado com os rankings dos anos que a empresa esteve listada no ISE. Por fim, os achados indicam a possibilidade de que as melhores práticas sustentáveis resultem em ganhos econômico-financeiros para as empresas quando estas são mantidas num longo período. Conclui-se, portanto que, para o grupo de empresas analisadas nesta investigação, melhores práticas sustentáveis resultam no incremento nos ganhos econômico-financeiros, ou seja, a participação no ISE influencia positivamente no resultado dos indicadores econômico-financeiros. Corroborando com os resultados positivos encontrados por de Sousa et al (2011) em comparação a empresas listadas no ISE e a lucratividade de empresas não listadas. Vital et al. (2009) e Lameira et al. (2013) também identificaram que as empresas listadas no ISE apresentam melhor desempenho financeiro que as demais empresas. Entretanto, Macedo et al. (2009) não corrobora com os resultados, porém o autor analisou liquidez, endividamento e lucratividade de empresas em setores distintos. A recomendação para estudos futuros é analisar outros setores para a comparação dos resultados. Encontrar setores que contenham empresas que se mantiveram os 10 anos no ISE, para análise de longo período dos efeitos do ISE no desempenho econômico-financeiro. Recomenda-se também aplicar outros métodos de análise para a verificação das colocações obtidas nesta pesquisa.
Referências bibliográficas: Ameer, R., & Othman, R. (2012). Sustainability practices and corporate financial performance: A study based on the top global corporations. Journal of Business Ethics, 108(1), 61-79.
Dyllick, T., & Hockerts, K. (2002). Beyond the business case for corporate sustainability. Business strategy and the environment, 11(2), 130-141.
Eccles, R. G., Ioannou, I., & Serafeim, G. (2012). The impact of a corporate culture of sustainability on corporate behavior and performance. National Bureau of Economic Research.
Gladwin, T. N., Kennelly, J. J., & Krause, T. S. (1995). Shifting paradigms for sustainable development: Implications for management theory and research. Academy of management Review, 20(4), 874-907.
López, M. V., Garcia, A., & Rodriguez, L. (2007). Sustainable development and corporate performance: A study based on the Dow Jones sustainability index. Journal of Business Ethics, 75(3), 285-300.
Machado, M. R., Machado, M. A. V., & Corrar, L. J. (2009). Desempenho do índice de sustentabilidade empresarial (ISE) da Bolsa de Valores de São Paulo. Revista Universo Contábil, 5(2), 24-38.
Rezende, I. A. C., Nunes, J. G., & Portela, S. S. (2009). Um estudo sobre o desempenho financeiro do Índice BOVESPA de Sustentabilidade Empresarial. Revista de Educação e Pesquisa em Contabilidade (REPeC), 2(1), 93-122.
Orlitzky, M., Schmidt, F. L., & Rynes, S. L. (2003). Corporate social and financial performance: A meta-analysis. Organization studies, 24(3), 403-441.
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