Resumo: Propsito do Trabalho: O desenvolvimento tecnolgico acelerado e o ambiente global em que as empresas esto inseridas, obrigam as organizaes a procurar inovaes e definir boas estratgias para se manterem ativas no mercado. Dessa forma, uma questo chave para as empresas obterem sucesso e terem um bom desempenho econmico-financeiro pelas suas escolhas estratgicas (Morgan & Strong, 2003). Dependendo dessas escolhas, o desempenho econmico pode sofrer influncias positivas e negativas. Ou seja, um desempenho indesejado pode ser resultado de uma adoo estratgica incorreta, e, um bom desempenho pode ser resultado das escolhas estratgias apropriadas ao ambiente e ao mercado que esto inseridas (Venkatraman & Prescoot, 1990).
Mesmo com os avanos das pesquisas tericas e empricas sobre estratgias e desempenho, existem pouca consonncia sobre as tipologias estratgicas e como elas se associam com o desempenho econmico-financeiro das empresas. Diante desse contexto, apresenta-se o seguinte problema de pesquisa: Qual a relao das estratgias competitivas de Miles e Snow (1978) e de Porter (1980) no desempenho econmico-financeiro de empresas brasileiras do setor cclico? Nesse sentido, com o intuito de responder a questo apresentada, o objetivo deste estudo identificar a relao das estratgias competitivas de Miles e Snow (1978) e de Porter (1980) no desempenho econmico-financeiro de empresas brasileiras do setor cclico.
Base da plataforma terica: As tipologias estratgicas podem ser categorizadas de diferentes maneiras, as mais conhecidas e divulgadas na literatura so a de Miles e Snow (1978) e Porter (1980). Na tipologia estratgica de Miles e Snow (1978), as empresas so classificadas em defensora, analisadora, prospectora e reatora (Miles, Snow, Meyer, & Coleman, 1978). As empresas que mantem estratgias defensoras buscam estabilidade organizacional, agem progressivamente para impedir que os concorrentes entrem no seu mercado. J as empresas prospectoras esto em um ambiente mais dinmico em relao s defensoras. Essa estratgia tem como principal caracterstica encontrar e explorar novas oportunidades de produtos e mercado, ser inovadora, mesmo com preos mais elevados. Enquanto o defensor e o prospector esto em extremidades opostas, o analisador pode ser considerado uma combinao ou uma alternativa para essas duas estratgias, pois as empresas analisadoras buscam minimizar o risco e maximizar a oportunidade de lucro. Pode ser considerado que os analisadores, os prospectores e os defensores so proativos no ambiente onde atuam, o que no se confirma nas estratgias reatoras, na qual existe uma instabilidade constante, respondem inadequadamente mudana e incerteza, consequentemente reflete em um mau desempenho como resultado (Miles et al., 1978).
Para ganhar vantagem competitiva sobre seus concorrentes, uma empresa deve realizar atividades a um custo menor ou realiz-las de uma forma que leva diferenciao e um preo com foco no cliente (Porter & Millar, 1985). Ento, alm das quatro estratgias competitivas de Miles e Snow (1978), existem as trs estratgias desenvolvidas por Michael Porter de 1980 que so liderana em custo, diferenciao e foque.
A tipologia estratgica de Porter (1980) auxilia a analisar a indstria como um todo, a prever futuras evolues, compreender a concorrncia e a traduzir essa anlise em uma estratgia competitiva para um determinado ramo de negcio. Na estratgia de liderana em custo a empresa concentra os esforos na busca constante de eficincia produtiva, ampliao do volume de produo, minimizao de gastos com propaganda, assistncia tcnica, pesquisa e desenvolvimento, apresentando por meio do seu preo o principal atrativo para o consumidor. No entanto pela estratgia competitiva de diferenciao, a empresa investe mais em imagem, tecnologia, assistncia tcnica, pesquisa e desenvolvimento, recursos humanos, pesquisa de mercado e qualidade, tendo como finalidade a criao de diferenciais para os seus consumidores. E a estratgia competitiva de foco significa escolher um alvo restrito pelo qual, atravs da diferenciao ou do custo, a empresa se especializar atendendo a segmentos ou nichos especficos (Porter, 1980).
Para Teeratansirikool, Siengthai, Badir e Charoenngam (2013), uma empresa formula estratgias para atingir seus objetivos de longo prazo usando um sistema de controle para medir o progresso em direo s metas e fazer os ajustes necessrios (avaliao de desempenho). Ainda conforme os autores, a medio do desempenho tem uma gama de fatores para a sobrevivncia do negcio e deriva da estratgia competitiva.
A relao entre a estratgia e desempenho um paradigma na literatura e empresas, pelo fato das escolhas estratgicas influenciarem no desempenho econmico-financeiro das mesmas (Miles et al., 1978; James & Hatten, 1994; Desarbo, Benedetto, Song, & Sinha, 2005). Se a empresa tiver um desempenho indesejado, pode ser resultado de escolhas estratgicas apropriadas (Venkatraman & Prescoot, 1990).
Mtodo de investigao: A pesquisa caracteriza-se como descritiva, por meio da anlise documental e com abordagem quantitativa. A populao do estudo composta pelas empresas brasileiras do setor de consumo cclico listadas na Bolsa de Valores de So Paulo (BOVESPA). Das 65 empresas neste setor, uma foi excluda por no estar disponvel na pgina institucional o relatrio de administrao e 7 foram excludas por no apresentarem na base de dados Economtica todas as informaes necessrias para o clculo dos indicadores econmico-financeiros utilizados neste estudo. Por fim a amostra do estudo composta por 57 empresas.
Aps definida a amostra do estudo, foram baixados os relatrios de administrao das empresas do ano de 2014, para a identificao das estratgias referentes tipologia de Miles e Snow (1978). Em seguida, as estratgias adotadas pelas empresas foram tabuladas em planilha eletrnica, onde as empresas que no foram identificadas as tipologias de Miles e Snow (1978) no relatrio de administrao foram categorizadas como 1, as que foram identificadas como defensoras foram categorizadas como 2, as identificadas com estratgia prospectora como 3, as empresas que foram identificadas como analticas foram categorizadas como 4 e, por fim, as que foram identificadas com estratgia reativa foram categorizadas como 5.
Para a identificao das estratgias referentes tipologia de Porter (1980) foram verificadas as pginas institucionais das empresas que compuseram a amostra. As estratgias identificadas nas pginas institucionais das empresas foram tabuladas em planilha eletrnica, e nas empresas em que no foi possvel identificar a estratgia conforme Porter (1980) foram categorizadas como 1, as empresas identificadas com estratgia de diferenciao foram categorizadas como 2, as empresas identificadas com estratgia de liderana em custos foram categorizadas como 3 e as empresas identificadas com estratgia em foco foram categorizadas como 4.
Posteriormente, foram tabuladas em planilha eletrnica as informaes necessrias para clculo dos indicadores econmico-financeiros, que estavam contidas nas demonstraes contbeis divulgados em 31 de dezembro de 2014 das empresas que compuseram a amostra do presente estudo. Aps, foi aplicado os testes Kolmorogov-Smirnov, Shapiro-Wilk e Kruskal-Wallis.
Resultados, concluses e suas implicaes: Para alcanar o objetivo do presente estudo, a anlise dos resultados foi dividida em dois momentos. Inicialmente, ser apresentado os resultados encontrados referente relao das tipologias estratgicas de Miles e Snow (1978) no desempenho econmico-financeiro das empresas e, em um segundo momento ser apresentada a relao das tipologias estratgicas de Porter (1980) no desempenho econmico-financeiro das empresas que compuseram a amostra do estudo. Por meio das inferncias observadas nos relatrios de administrao e pginas institucionais das empresas, foi estabelecida a categorizao das tipologias estratgias de Miles e Snow (1978) e Porter (1980). Referente as tipologias estratgicas de Miles e Snow (1978), 12 empresas foram categorizadas por meio dos relatrios de administrao como defensoras, 19 como prospectoras, 12 como analisadoras e 7 como reativas. Nas demais empresas que compuseram a amostra (7 empresas) no foi possvel identificar por meio do relatrio de administrao a tipologia estratgica adotada pelas mesmas.
Referente as tipologias estratgicas de Porter (1980), as quais foram identificadas por meio das pginas institucionais das empresas, 24 empresas foram categorizadas como empresas que adotam a tipologia estratgica de diferenciao, 5 de liderana em custos e 15 como empresas que adotam a tipologia de Foco. Nas demais 13 empresas que compuseram a amostra, no foram possveis identificar por meio das pginas institucionais a tipologia estratgica de Porter (1980) adotada pelas mesmas.
Com o auxilio dos testes estatsticos de Kolmogorov- Smirnov e Shapiro-Wilk foi possvel verificar que as variveis dependentes do estudo apresentaram distribuio no-normal, ou seja, p < 0,05 e, por este motivo, foi utilizada a anlise dos dados por meio do teste Kruskal-Wallis. O teste realizado utilizando a tipologia estratgica de Miles e Snow (1978) indicou que a escolha das tipologias estratgicas de Miles e Snow (1978) nas empresas afetam os indicadores de Liquidez Corrente e Rentabilidade do Patrimnio Lquido. J em relao ao teste utilizando as tipologias estratgicas de Porter (1980) pode-se concluir que a escolha das tipologias de Porter (1980) nas empresas afeta o indicador de Liquidez Geral.
Ainda, verificou-se por meio das mdias de cada uma das variveis de desempenho econmico-financeiro que apresentou significncia no teste Kruskal-Wallis que, entre as 4 tipologias estratgicas de Miles e Snow (1978), as empresas que adotam a tipologia estratgica Prospectora so as que apresentam a maior mdia nos indicadores de Liquidez Corrente e Rentabilidade sobre o Patrimnio Lquido. J em relao s tipologias estratgicas de Porter (1980), verificou-se por meio das mdias que as empresas que adotaram a tipologia estratgica Diferenciao apresentaram a maior mdia referente ao indicador de Liquidez Geral.
Logo, pode-se concluir que as tipologias estratgicas de Miles e Snow (1978) e Porter (1980) possuem relao com os indicadores de desempenho econmico-financeiro das empresas investigadas.
Esta pesquisa, apesar de suas contribuies, apresenta limitaes. Uma delas refere-se ao fato de que pode haver outras variveis de desempenho econmico-financeiro que so afetadas pelas tipologias estratgicas, as quais no foram investigadas neste estudo. Alm disto, 7 empresas foram excludas no momento da anlise de Miles e Snow (1978) e 13 foram excludas durante a anlise de Porter (1980), ambas por no terem apresentado evidncias das tipologias estratgias nas suas pginas institucionais.
Para futuras pesquisas recomenda-se a utilizao de outras variveis de desempenho econmico-financeiro, com o intuito de investigar se as mesmas possuem relao significativa com a tipologia estratgica adotada pela empresa. Tambm se recomenda para estudos futuros a alterao da amostra deste, com com o intuito de verificar a relao entre as tipologias estratgicas de Miles e Snow (1978) e Porter (1980) e o desempenho econmico-financeiro em diferentes tipos de organizaes. Alm de ampliar e comparar o estudo para mais pases.
Referncias bibliogrficas: Desarbo, W. S., Benedetto, C. A. di, Song, M., & Sinha, I. (2005). Revisiting the Miles and Snow strategic framework: uncovering interrelationships between strategic types, capabilities, environmental uncertainty, and firm performance. Strategic Management Journal, 26(1), 47-74.
James, W. L., & Hatten, K. J. (1994). Evaluating the performance effects of Miles' and Snow's strategic archetypes in banking, 1983 to 1987: Big or small?. Journal of Business Research, 31(2), 145-154.
Miles, R. E., Snow, C. C., Meyer, A. D., & Coleman, H. J. (1978). Organizational strategy, structure, and process. Academy of management review, 3(3), 546-562.
Morgan, R. E., & Strong, C. A. (2003). Business performance and dimensions of strategic orientation. Journal of Business Research, 56(3), 163-176.
Porter, M. E. (1980). Competitive strategy. New York: The Free Press.
Teeratansirikool, L., Siengthai, S., Badir, Y., & Charoenngam, C. (2013). Competitive strategies and firm performance: the mediating role of performance measurement. International Journal of Productivity and Performance Management, 62(2), 168-184.
Venkatraman, N., & Prescoot, J. E. (1990). Environment-strategy coalignment: an empirical test of its performance implications. Strategic Management Journal, 11(1), 1-23.
Venkatraman, N., & Ramanujam, V. (1986). Measurement of business performance in strategy research: A comparison of approaches. Academy of management review, 11(4), 801-814.
|