Anais do 13º Congresso USP de Iniciação Científica em Contabilidade - 13º  2016
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RESUMO DO TRABALHO

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Clique para abrir o trabalho de código 22, Área Temática: Área II: Auditoria e Perícia

Código: 22

Área Temática: Área II: Auditoria e Perícia

Título: Relatrio com Modificao de Opinio: Risco para o Auditor?

Resumo:
Propsito do Trabalho:
A auditoria vista como primordial para o funcionamento dos mercados de capitais, tendo a misso de agregar confiabilidade e credibilidade s informaes financeiras. Se justifica pelos potenciais interesses que a administrao da entidade divulgadora possa ter no sentido de manipular as informaes e obter benefcios em relao aos usurios, sendo essencial que o auditor exera sua atividade com independncia. Como, no entanto, a empresa auditada quem contrata e remunera os servios de auditoria, isso acaba por gerar questionamentos sobre se essa relao no afetaria a independncia desses profissionais, uma vez que a administrao da empresa no ficaria satisfeita em receber opinio contrria aos seus interesses. A esse respeito, Hennes, Leone and Miller (2013) ressaltam que uma opinio modificada gera altos custos para o cliente, desde pagamentos de honorrios extras para a auditoria verificar de maneira mais aprofundada os problemas, at o custo de oportunidade do investidor, que ao ver uma opinio com ressalva decide por migrar o seu investimento para outra companhia. Nesse sentido, este estudo tem por propsito avaliar se a emisso de um relatrio de auditoria com opinio modificada impacta a sequncia do contrato entre auditor e cliente, ou seja, se a emisso de opinio contrria aos interesses da administrao coloca em risco a continuidade do contrato de prestao de servios entre as partes. Adicionalmente, verificado se essa relao afetada pelo fato da firma de auditoria ser uma big four ou a companhia auditada adotar prticas de governana corporativa reconhecidas no mercado. Para tanto, so examinados relatrios de auditoria sobre as demonstraes contbeis anuais, de 2009 a 2014, das companhias abertas no financeiras listadas na BM&FBovespa.

Base da plataforma terica:
Woods, Humphrey, Dowd and Liu (2009) afirmam que o papel do auditor afirmar, de maneira imparcial e independente, se as demonstraes financeiras apresentadas pela empresa representam uma viso justa (fair view) da situao econmico financeira da companhia. A delimitao das responsabilidades dos auditores se depreende da afirmao de Watts and Zimmerman (1986), que citam os possveis conflitos da teoria de agncia, destacando que a auditoria ajuda a reduzir a assimetria da informao, assegurando a confiabilidade das demonstraes e protegendo os usurios de distores materiais que possam prejudicar a tomada de deciso. A respeito da relao auditor-cliente e da presso que pode ser desencadeada, Hennes, Leone and Miller (2008) destacam que a emisso de uma opinio modificada ressalva, absteno de opinio ou adversa pode gerar a demisso do auditor devido a: a administrao da empresa acreditar que a auditoria deveria ter encontrado tal erro ou distoro contbil a tempo de ser corrigida; ou por reprovao do board da companhia, visto que a diretoria esperava um relatrio "limpo". As consequncias da emisso de uma opinio modificada uma questo que gera debates e questionamentos, notadamente quanto a se e de que forma o auditor pode ser influenciado pelo cliente e qual seria essa influncia sofrida. Sobre essas questes, Francis and Wilson (1998) encontraram evidncias de que as empresas de maior porte tendem a demitir menos auditores e procuram negociar o relatrio devido ao alto preo pago pelo servio, temendo os altos custos que podem incorrer em caso de opinio modificada. J Carcello and Neal (2003) obtiveram evidncias de que as empresas tendem a manter uma parceria de longa durao com seus auditores, para poder aperfeioar seus controles e gerar confiana nos investidores. Anteriormente, Haskins and Willians (1990) tinham constatado que as empresas buscam evitar a demisso de auditores que tm ampla experincia no seu ramo de negcios, temendo reao negativa dos investidores. Hennes et. al. (2008) afirmam que uma das consequncias do relatrio com ressalvas a demisso de diretores e que o board da empresa pode ter incentivos para demitir o auditor aps a revelao de uma fraude, se eles acreditarem que essa mudana ajude a restaurar a credibilidade da empresa. Assim como Carcello and Neal (2003), Hennes et. al. (2013) constataram que as consequncias da emisso de um relatrio modificado vm crescendo substancialmente ao longo dos anos e que os auditores so demitidos numa taxa maior do que o normal aps as republicaes, em decorrncia de erros materiais significativos. Em relao reao do mercado, os autores constataram: reao positiva, quando isso decorre da constatao de uma irregularidade e a mudana de auditoria foi de uma empresa de menor porte para outra de maior porte; e negativa, quando o auditor pede demisso ou a mudana do auditor devida a discordncias com a administrao da empresa. Teoh (1992) obteve resultados que sugerem que o auditor ser relutante em modificar uma opinio devido a uma possvel demisso, mas que isso no uma regra e pode haver excees. Em contrapartida, foi observado que a existncia de custos indiretos na emisso de uma opinio modificada desencoraja o auditor a emitir opinies modificadas. Como se percebe, pesquisas sobre as consequncias, para o auditor, da emisso de relatrio com opinio modificada tm sido objeto de discusso na literatura internacional, mas no foi encontrada pesquisa em mbito nacional sobre o tema.

Mtodo de investigao:
Tendo em vista os objetivos da pesquisa, foram formuladas trs hipteses de pesquisa, baseadas nos fundamentos tericos discutidos na Seo anterior, para compreender se um relatrio com modificao de opinio pode vir a se configurar em um risco para as firmas de auditoria em relao continuidade do contrato entre auditor e cliente. A hiptese H1 prev a associao entre a emisso de relatrio com opinio modificada e a substituio do auditor no perodo imediatamente seguinte. As hipteses H2 e H3 pressupem que nos casos em que a firma de auditoria uma big four ou a empresa auditada adota prticas de governana corporativa reconhecidas no mercado, respectivamente, a probabilidade de demisso do auditor, nos casos de emisso de relatrio com opinio modificada ser menor. Para testar essas hipteses, foi desenvolvido modelo de regresso, com dados em painel, tendo como varivel dependente a troca de auditoria, no perodo t, e como variveis independentes a emisso de relatrio com modificao de opinio, alm de sua interao com a condio da auditoria ser uma big four e a empresa auditada integrar o rol de companhias que fazem parte de um dos segmentos de governana corporativa da BM&FBovespa. Em todas essas relaes, cabe ressaltar que a varivel dependente contempornea e as variveis independentes so defasadas, de forma a identificar se a troca de auditoria, no momento t, influenciada pelo comportamento das variveis independentes no perodo anterior (t-1). Para a realizao dos testes empricos foram selecionadas, inicialmente, as 392 empresas no financeiras listadas nas BM&FBovespa. Dentre essas, 59 no foram consideradas na amostra devido a no apresentarem informaes suficientes para anlise dos dados. Assim, a pesquisa abrangeu os relatrios dos auditores independentes sobre as demonstraes financeiras anuais de 333 companhias, considerando o perodo de 2009 a 2014.

Resultados, concluses e suas implicaes:
A primeira etapa dos testes consistiu em analisar os relatrios de auditoria sobre as demonstraes financeiras das 333 companhias da amostra, considerando o perodo de 2009 a 2014. A anlise dos 1.905 relatrios de auditoria revela, em relao ao tipo de opinio emitida pelos auditores independentes, que a expressiva maioria das demonstraes financeiras (92%) recebeu opinio no modificada relatrio sem ressalvas. Foram encontrados 153 relatrios (8% da amostra) com opinio modificada relatrios com ressalvas ou com absteno de opinio. No foi identificado nenhum relatrio com opinio adversa, que representa o mais alto grau de discordncia do auditor e emitido quando as distores detectadas pelos auditores so materiais e generalizadas. Sobre as caractersticas de quem auditou e de quem auditado, foi constatado que 55,70% das demonstraes examinadas foram preparadas por empresas que participam de algum tipo de segmento de governana corporativa da BM&FBovespa e que 73,50% dos relatrios analisados foram emitidos por uma das big four. So dados que evidenciam que boa parte das companhias brasileiras j integram um dos segmentos de corporativa e que h predominncia dos auditores de maior porte no mercado de capitais brasileiro. No que se refere aos casos de trocas de auditoria, que so consideradas como a mudana da firma de auditoria de um ano para outro, foram identificadas 389 trocas, o que corresponde a 20,4% do total dos relatrios de auditoria analisados. Esses so os casos de interesse no presente estudo, que caracterizam a varivel dependente do modelo testado. Para os testes das hipteses de pesquisa foram realizadas estimaes de derivaes do modelo de referncia, com o uso de dados em painel com efeitos fixos nos perodos, utilizando o mtodo de covarincia SUR (PCSE) perodo, que gera parmetros robustos mesmo na presena de heterocedasticidade e autocorrelao nos resduos. Os resultados dos testes empricos, nas quatro estimaes, revelam que h associao positiva e estaticamente relevante entre a varivel dependente troca de auditoria e a varivel independente de interesse opinio modificada no perodo anterior. Esses resultados corroboram as expectativas da hiptese H1, no sentido de que a emisso de opinio modificada por parte do auditor tem consequncias para a continuidade da relao contratual auditor-cliente. Esses achados so coerentes com as evidncias encontradas por Hennes et. al (2013) a respeito de uma maior taxa de demisso dos auditores em situaes do gnero. O passo seguinte consistiu em verificar se essa relao impactada pelo fato de a firma de auditoria ser uma big four. Os testes revelaram que a relao dessa com a varivel dependente no apresentou relevncia estatstica. Assim, no obstante as evidncias de Hennes et. al. (2013), no sentido de que as empresas tendem a evitar a troca de auditoria quando essa uma das big four, os resultados evidenciam que no h diferena estatisticamente relevante entre a emisso de opinio modificada por uma big four ou no big four em um perodo e a descontinuidade da relao contratual auditor-cliente no perodo seguinte. Com isso, a hiptese H2 no corroborada. Por fim, foi testado se os auditores independentes teriam menor risco de demisso caso a empresa auditada integrasse o rol de entidades que adotam nveis de governana corporativa reconhecidos pelo mercado. Isso o que d base formulao da hiptese H3. Os resultados encontrados demonstram, porm, que os casos de substituio do auditor no so afetados pelo fato de uma opinio modificada ter sido emitida sobre esse tipo de entidade refutando-se a hiptese de pesquisa. Pioneiro na literatura nacional em relao a esse tema especfico, este estudo contribui para o desenvolvimento da literatura sobre a atuao da auditoria independente, particularmente quanto relao auditor/cliente. As evidncias empricas identificadas demonstram um quadro preocupante em relao garantia da independncia de atuao dos auditores, na medida em que a emisso de relatrio com opinio modificada aumenta a probabilidade de resciso contratual com o cliente.

Referncias bibliogrficas:
Carcello, J. V., & Neal, T. L. (2003). Audit committee characteristics and auditor dismissals following new going-concern reports. The Accounting Review, 78(1), 95-117. Francis, J. R., & Wilson, E. R. (1988). Auditor changes: A joint test of theories relating to agency costs and auditor differentiation. Accounting Review, 663-682. Haskins, M. E., & Williams, D. D. (1990). A contingent model of intra-Big 8 auditor changes. AUDITING-A JOURNAL OF PRACTICE & THEORY, 9(3), 55-74. Hennes, K. M., Leone, A. J., & Miller, B. P. (2008). The importance of distinguishing errors from irregularities in restatement research: The case of restatements and CEO/CFO turnover. The Accounting Review, 83(6), 1487-1519. Hennes, K. M., Leone, A. J., & Miller, B. P. (2013). Determinants and market consequences of auditor dismissals after accounting restatements. The Accounting Review, 89(3), 1051-1082. Teoh, S. H. (1992). Auditor independence, dismissal threats, and the market reaction to auditor switches. Journal of Accounting Research, 1-23. Watts, R. L., & Zimmerman, J. L. (1986). Positive accounting theory. Woods, M., Humphrey, C., Dowd, K., & Liu, Y. L. (2009). Crunch time for bank audits? Questions of practice and the scope for dialogue. Managerial auditing journal, 24(2), 114-134.

 

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