Anais do XIV Congresso USP de Controladoria e Contabilidade
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RESUMO DO TRABALHO

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Código: 180

Área Temática: Área IV: Contabilidade Gerencial

Título: Avaliao de Desempenho em Hospitais Universitrios: uma Anlise Emprica em uma Instituio Federal

Resumo:
Propsito do Trabalho:
O sistema de avaliação de desempenho, recomendado para a implantação de estratégias e para a melhoria do desempenho organizacional, necessita estar integrado ao campo institucional onde ocorre sua implantação, o que conduz à necessidade de avaliar o modelo mais adequado tendo em vista fatores contextuais e culturais que permeiam o ambiente organizacional, sob o risco da ocorrência de esforços desconexos com a estratégia, problemas na priorização de ações estratégicas e confusão gerencial. Dentre as entidades que possuem características específicas que devem se refletir na escolha do artefato de avaliação de desempenho incluem-se as organizações hospitalares, especialmente aquelas sem finalidades lucrativas, como as entidades públicas. Quanto aos hospitais universitários, tal complexidade é agravada, já que possuem a incumbência de fornecer atividades de ensino, pesquisa e extensão universitária na área da saúde, devendo ser referências em procedimentos de média e alta complexidade e em tecnologia de ponta, ao mesmo tempo em que possuem o encargo de manutenção da qualidade da atenção clínica aos pacientes. Dessa forma, compreender a forma como é realizada a avaliação de desempenho organizacional nessas instituições torna relevante, principalmente ao explorar os reflexos que as diversas especificidades possam provocar na adoção de tais práticas, bem como avaliar a compatibilidade entre a ferramenta adotada e a estratégia definida pela organização. Com isso, a presente investigação é norteada pela seguinte questão: como é realizada a avaliação de desempenho em um hospital universitário à luz da gestão de sua estratégia?

Base da plataforma terica:
De acordo com Kaplan e Norton (2001), para que uma entidade seja capaz de manter a estratégia como foco do seu processo de gestão, cinco princípios devem ser observados: (i) traduzir a estratégia para termos operacionais; (ii) alinhar a organização para a estratégia; (iii) fazer da estratégia o trabalho do dia-a-dia de cada um; (iv) fazer da estratégia um processo contínuo de construção; (v) mobilizar o processo de mudança por meio da liderança executiva. Dentre os artefatos de controle gerencial capazes de auxiliar os gestores nessa tarefa estão os sistemas de avaliação de desempenho, em especial os sistemas estratégicos de avaliação de desempenho, aqueles voltados à identificação e alinhamento dos processos e da tomada de decisão com a estratégia adotada (Ittner, Larcker & Randall, 2003; Micheli & Manzoni, 2010). Abordagens contemporâneas relacionadas aos sistemas de avaliação de desempenho destacam a importância do alinhamento entre estratégia, indicadores (financeiros e não financeiros) e metas do artefato, como elemento facilitador em processos de adaptabilidade dinâmica frente a mudanças contextuais, na definição de aperfeiçoamentos operacionais prioritários que estejam congruentes com o plano estratégico, e no acompanhamento da execução da estratégia (Ittner et al., 2003; Elzinga, Albronda & Kluijtmans, 2009; Bortoluzzi, Ensslin, Ensslin & Vicente, 2010; Veen-Dirks, 2010). Tratando sobre as entidades hospitalares, Souza, Rodrigues et al. (2009) entendem que a avaliação de desempenho organizacional é fundamental para tomada de decisão dos gestores hospitalares quanto à eficiência, a eficácia e a efetividade dos serviços oferecidos. Tais artefatos também são importantes por conta da possibilidade de equilibrar os interesses dos diversos stakeholders presentes nessas instituições (Kollberg & Elg, 2011). Vale ressaltar a consideração realizada por Bisbe e Barrubés (2012), ao considerarem imprescindíveis adaptações de modelos existentes à realidade das entidades hospitalares, mesmo entendimento que possuem Bresser-Pereira e Spink (1998) ao tratarem sobre adaptações à realidade pública de artefatos oriundos da iniciativa privada. Na realidade brasileira, o movimento de implantação de tais práticas nas organizações hospitalares tem como um dos principais propulsores o processo de acreditação hospitalar (Schiesari & Kisil, 2003), enquanto ao tratar de organizações públicas, destaca-se o movimento da Nova Administração Pública (Propper & Wilson, 2003; Gomes, Ribeiro, Carvalho & Nogueira, 2007). Apesar de ser considerada importante nesse contexto (Van Helden, Johnsen & Vakkuri, 2012), a avaliação de desempenho tem sido adotada em passos lentos nas organizações públicas (Niven, 2003; Bovaird, 2005), sendo geralmente empregada sob pressão de órgãos ou autoridades hierarquicamente superiores (Rantanen, Kulmala, Lönnqvist & Kujansivu, 2007; Fryer, Antony & Ogden, 2009). Niven (2003) também esclarece que inseguranças ao experimentar a implantação de artefatos oriundos da iniciativa privada, além de receios quanto à possibilidade de um desvio de foco da verdadeira missão orientadora da entidade podem explicar tal situação.

Mtodo de investigao:
Com relação à abordagem metodológica, a pesquisa enquadra-se como interpretativista, (Burrell & Morgan, 1979), e quanto à estratégia de pesquisa, a investigação é encarada como uma pesquisa-diagnóstico (Martins & Theóphilo, 2007). Para isso, conduziu-se um estudo de caso único (Yin, 2001) em um hospital universitário federal localizado na região Sul do Brasil. O estudo de caso envolveu coleta de dados por meio de entrevistas semi-estruturadas, pesquisa documental (Martins & Theóphilo, 2007) e observação participante (Richardson, 2008), que sofreram análise documental e análise de conteúdo das entrevistas realizadas (Bardin, 2004), permitindo dessa forma a triangulação de dados (Yin, 2001) e a adoção de uma perspectiva êmica pela observação participante, viabilizado a realização de explicações robustas que contribuem para a validade da pesquisa interpretativa (Lukka & Modell, 2010). Para condução dos procedimentos metodológicos, foi elaborado um protocolo de estudo de caso específico para a investigação (Yin, 2001). Para a realização das entrevistas semi-estruturadas foi considerada toda a população de diretores, assessores, gerentes e responsáveis por áreas assemelhadas da instituição. A determinação da quantidade de gestores entrevistados ocorreu com a análise da estrutura hierárquica da entidade e validação com a Direção Geral. Em consequência, foram realizadas 33 entrevistas nos meses de março e abril/2013, considerando a população de 34 gestores mapeados. Quanto ao perfil dos respondentes, esses atuam no cargo atual, em média, há 3 anos e 5 meses, e trabalham na entidade, em média, há 22 anos e meio, tais fatos que conferem maior confiabilidade às respostas obtidas. A análise das questões abertas contou com o apoio do software Sphinx Survey ®, Edição Léxica para realização de análise categorial. O software Microsoft Excel ®, por sua vez, foi utilizado para importação dos dados das entrevistas à referida ferramenta. Também foram seguidos os procedimentos éticos necessários, o que é consubstanciado pela aprovação do projeto de pesquisa pelo Comitê de Ética em Pesquisa da instituição objeto do estudo de caso e aplicação de Termo de Consentimento Livre e Esclarecido aos respondentes.

Resultados, concluses e suas implicaes:
Com a aplicação dos procedimentos, notou-se que tais contratos não envolvem os diferentes níveis hierárquicos da instituição ou todas as áreas consideradas relevantes em termos de processos e custos. Para as áreas que possuem contratos de gestão vigentes, verificou-se que tais contratos não são considerados pela gestão como uma ferramenta voltada à comunicação da estratégia ao longo da organização. Reforça-se a ausência de integração entre os contratos e a estratégia ao verificar que os indicadores e metas que os compõem são formulados principalmente pela própria área avaliada pelo contrato de gestão e com base nas necessidades e fraquezas dessa área, sendo colocado em segundo plano o disposto no plano estratégico nesse processo de elaboração. Considerando ainda que os indicadores existentes nas unidades são utilizados como base parcial do processo de tomada de decisão, pode-se entender que, ao não estarem ligados com a estratégia e serem elaborados pelos membros das próprias áreas com base em necessidades internas, os indicadores existentes possam estar conduzindo os gestores a priorizar elementos que não sejam congruentes com a estratégia adotada pela organização, fator que pode ser reforçado pela existência de incentivos ligados ao alcance das metas dos contratos de gestão (mesmo que tais recompensas sejam consideradas inadequadas pelos gestores entrevistados). Nessa situação, a falta de congruência entre os contratos de gestão e a estratégia da instituição pode incentivar o risco de fomentar um processo de tomada de decisão pelos gestores que não venha a agregar àquilo que é almejado pela organização como um todo, o que é declarado em seu plano estratégico, dessa forma dificultando sua implantação. Com isso, sugere-se que a instituição objeto do estudo de caso reavalie a forma como está sendo utilizada a ferramenta dos contratos de gestão e seu papel no processo de implantação da estratégia vigente, e se realmente essa ferramenta pode ser capaz de cumprir esse intuito além de cumprir o papel de avaliar adequadamente o desempenho das unidades e demais áreas da organização. Caso a entidade considere a adoção de uma nova ferramenta de avaliação de desempenho que seja compatível com a missão social da entidade e que auxilie na implantação de sua estratégia, recomenda-se a busca por um artefato de avaliação de desempenho que seja capaz de se integrar ao plano estratégico da instituição, e que seja compatível ou que esteja adaptado para a realidade das organizações públicas e/ou organizações hospitalares, dessa forma considerando fatores culturais e contextuais, e que, além disso, seja capaz de promover alinhamento de objetivos entre todas as áreas relevantes da organização. Apesar das limitações presentes nesse estudo, por ser um estudo de caso e por conta da abordagem interpretativa empregada, almeja-se que a investigação possa fornecer subsídios teóricos e práticos para organizações assemelhadas ou relacionadas para o desenvolvimento e avaliação de ações relacionadas à avaliação de desempenho organizacional, com ênfase à importância da congruência desse artefato à estratégia da instituição, conforme o estado da arte da literatura acadêmica, dessa forma contribuindo para a eficiência, eficácia e efetividade das ações desenvolvidas. Com isso, para pesquisados em contabilidade gerencial, encoraja-se a realização de novos estudos que possam agregar ao rol de pesquisas acadêmicas nessa área, como a realização de novos estudos de caso em entidades assemelhadas que utilizem outro artefato de avaliação de desempenho ou proposições de modelos estratégicos de avaliação de desempenho que possam ser utilizados nessas instituições. A realização de proposições e de pesquisas empíricas em contabilidade gerencial aplicadas em entidades públicas, especialmente naquelas ligadas à assistência à saúde, pode fomentar melhorias na utilização dos recursos públicos nessa área e na efetividade dos serviços prestados, acarretando em vantagens para toda a sociedade.

Referncias bibliogrficas:
Abernethy, M. A., Chua, W. F., Grafton, J. & Mahama, H. (2007). Conceptual accounting and control in health care: behavioural, organisational, sociological and critical perspectives. In C. S. Chapman, A. G. Hopwood & M. D. Shields (Orgs.), Handbook of Management Accounting Research (Vol. 2, pp. 805-829), Amsterdã: Elsevier. Bisbe, J. & Barrubés, J. (2012). The Balanced Scorecard as a management tool for assessing and monitoring strategy implementation in health care organizations. Revista Española de Cardiologia, 65 (10), 919-927. Bonacim, C. A. G. & Araujo, A. M. P. (2011). Avaliação de desempenho econômico-financeiro dos serviços de saúde: os reflexos das políticas operacionais no setor hospitalar. Ciência & Saúde Coletiva, 16, 1055-1068. Ferreira, A. & Otley, D. (2009). The design and use of performance management systems: an extended framework for analysis. Management Accounting Research, 20 (4), 263-282. Ittner, C. D., Larcker, D. F. & Randall, T. (2003). Performance implications of strategic performance measurement in financial services firms. Accounting, Organizations and Society, 28 (7-8), 715-741. Propper, C. & Wilson, D. (2003). The use and usefulness of performance measures in the public sector. Oxford Review of Economic Policy, 19 (2), 250-267. Rantanen, H., Kulmala, H. I., Lönnqvist, A. & Kujansivu, P. (2007). Performance measurement systems in the Finnish public sector. International Journal of Public Sector Management, 20 (5), 415-433. Yin, R. K. (2001). Estudo de caso: planejamento e métodos (2a ed.). Porto Alegre: Bookman.

 

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