Resumo: Propsito do Trabalho: Este trabalho trata da análise de demonstrações financeiras da AmBev na visão de Warren Buffett, seguindo os critérios apresentados por Buffett e Clark (2010). Nas condições de mercado financeiro perfeito, as decisões de investimento e financiamento são independentes e que a relação entre liquidez, rentabilidade e endividamento é irrelevante para o valor da empresa. No entanto, existe uma linha de pensadores com visão baseada na ineficiência do mercado de capitais, essa linha acredita que com as imperfeições de mercado há empresas com características peculiares, das quais são capazes de trazer retornos acima da média. É o caso dos seguidores de investimento em valor (value investing), entre os quais o Warren Buffett é um dos mais bem sucedidos, ocupando a quarta posição entre os bilionários do planeta, segundo a revista Forbs, com uma fortuna superior a 53 bilhões de dólares. É de interesse da sociedade acadêmica e empresarial descobrir os “segredos” de organizações que tem se destacado com resultados elevados, como é o caso da AmBev, cujos controladores – Jorge Paulo Lemman, Marcell Telles e Beto Sicupira – são conhecidos como seguidores da mesma filosofia de investimento e de gestão de negócios. Os objetivos deste trabalho são: 1) Analisar as demonstrações financeiras da AmBev no período seguindo os critérios de Warren Buffett; 2) Analisar o comportamento econômico e financeiro da empresa na visão de Warren Buffett, interpretada através de teorias de trade-off e pecking order.
Base da plataforma terica: Em um mercado de capitais eficiente, o valor de um ativo é reflexo do consenso dos participantes com relação ao desempenho esperado, ou seja, o preço de um ativo qualquer é formado com base nas diversas informações disponíveis, não permitindo que haja ganhos ou perdas consistentes para os investidores. Neste mercado, não seria possível uma empresa dar ganhos consistentemente superiores à média aos investidores, balanceando-os aos riscos, seja no curto seja no longo prazo. Na visão de Warren Buffett, entretanto, este ganho superior à média é possível. A visão deste mega investidor segue o investimento em valor, apresentado originalmente em Graham e Dodd (1934), antes do desenvolvimento das teorias ligadas à eficiência do mercado de capitais, que ocorreu a partir de Markowitz (1952). Nesta visão, é possível um investidor calcular o valor intrínseco das ações de uma empresa e comprá-las quando estiverem com um preço abaixo deste valor e obter ganhos. Certas características presentes nas empresas, como boa gestão, baixo risco e bom lucro como fatores determinantes de desempenho acima da média. Enquanto Graham desenvolvia o investimento em valor, Philip Fisher (1996) desenvolvia o que mais tarde ficaria conhecido como investimento em crescimento (Growth Investing), um estilo de investimento em empresas com forte crescimento de seus lucros. Se as ações certas fossem compradas e mantidas por um longo tempo elas sempre iriam trazer ganhos. Benjamim Graham e Philip Fisher foram os pilares da visão de Warren Buffett. Buffett e Clark (2010) apresentam os principais critérios de análise das demonstrações financeiras que o mega investidor utiliza para estar avaliando empresas que possuem vantagem competitiva de longo prazo, que levam aos ganhos dos investidores. Estes critérios da visão de Warren Buffett podem ser analisados pelas teorias de trade-off e pecking order, que tratam de políticas financeiras relacionadas às relações entre rentabilidade, liquidez e endividamento de empresas. Consistentemente com a teoria de pecking order, Warren Buffett entende que empresas com vantagem de longo prazo precisam de pouca ou nenhuma dívida de longo prazo para manter suas operações.Em consonância com a teoria de trade-off, Warren Buffett busca empresas com liquidez relativamente baixa. O poder de gerar lucros de uma empresa de vantagem competitiva durável é muito forte e pode facilmente cobrir seu passivo circulante.
Mtodo de investigao: Este estudo quantitativo descritivo foi realizado através da análise das demonstrações financeiras da empresa AmBev, no qual buscou interpretar os indicadores obtidos através dos critérios de Warren Buffett, apresentados em Buffett e Clark (2010), além de analisar a consistência com as teorias de trade-off e pecking order. Os dados das demonstrações financeiras foram obtidos da Economática para o período de Janeiro de 1996 a Junho de 2013. Os dados utilizados forma anuais, exceto no último ano, que foi o semestral. Através dos dados da demonstração de resultado do exercício, foi possível analisar as margens de lucro, despesas de vendas gerais e administrativas, depreciação e despesas financeiras. Os dados de pesquisa e desenvolvimento não eram disponíveis, sendo deixado de fora da análise. Com o balanço patrimonial, foi possível conduzir a análise do endividamento e da liquidez e calcular os indicadores de rentabilidade. A análise do fluxo de caixa permitiu a análise das despesas com ativos fixos e a emissão e ao resgate de ações. O histórico da AmBev é marcado por um processo de crescimento através de aquisições de outras empresas no mesmo mercado, o que a tornou cada vez mais forte ao proporcionar poder de barganha e ganhos de escalas. Dessa maneira, os seus dados econômicos e financeiros não podem ser analisados desprezando este comportamento. A AmBev, ao longo dos últimos 18 anos analisados, teve três momentos extremamente importantes. Em 1999, houve a aquisição da Antarctica pela Brahma, formando a AmBev. Em 27 de agosto de 2004, foi aprovada a conclusão das operações com a Interbrew S.A, em que a empresa belga adquiriu a AmBev, formando-se a InBev. Finalmente, em 2008 a InBev adquiriu Anheuser-Busch, fabricante da Budweiser por 52 bilhões de dólares. Outro ponto que merece destaque também é a consideração da influência da disposição das informações de acordo com a Lei 11.638/07, com base nos padrões internacionais (IFRS) a partir de 2009.
Resultados, concluses e suas implicaes: Dos 22 critérios de Warren Buffett analisados, a empresa não atendia muitos desses critérios até 1999, ano da aquisição da Antarctica e formação da AmBev; porém, passou a atender em grande parte (mais de 50% dos fatores propostos) a partir de 2000. A partir de 2009, quase todos os critérios de Warren Buffett começaram a ser atendidos, o que pode ser explicado pela adoção das normas IFRS ou ainda pela aquisição da empresa americana Anheuser-Busch. Por fim, nota-se que o atendimento aos critérios cai bastante em 2013, por algum motivo ainda desconhecido. Até 1999, a AmBev não tinha vantagem competitiva de longo prazo de acordo com os critérios de Warren Buffett, quando a liquidez era baixa, a rentabilidade era baixa e o endividamento era alto. Estes resultados foram coerentes com a teoria de pecking order da estrutura de capital e de liquidez, pois a baixa rentabilidade está associada ao alto endividamento e à baixa liquidez. A liquidez aumentou, a rentabilidade aumentou e o endividamento aumentou no período de 2000 a 2003, sendo coerente nesse período com a teoria de trade-off de estrutura de capital onde um maior endividamento está associado a uma maior rentabilidade e com a teoria pecking order na liquidez, pois a rentabilidade maior está associado à liquidez maior. Neste aspecto, observa-se que, ao aplicar os critérios de Warren Buffett estaticamente, percebe-se que a empresa atende aos critérios no período mencionado; no entanto, ao considerar as variações no tempo, o comportamento da empresa de aumentar o seu endividamento é contrário aos critérios de Warren Buffett. No período de 2004 a 2013, a AmBev apresentou liquidez relativamente baixa, aumento na rentabilidade e redução do endividamento, o que é consistente com a visão de Warren Buffett e com a teoria de pecking order de estrutura de capital, com alta rentabilidade e baixo endividamento, e com a teoria de trade-off, com alta rentabilidade e baixa liquidez. Nos períodos de negociações de crescimento estratégico – na compra da Antarctica (1999), com as negociações com a Interbrew (2004) e na compra da Anheuser-Busch (2008), a empresa deixou de atender aos muitos desses critério. Uma dúvida nesta análise reside no fato de Buffett e Clark (2010) não esclarecerem quanto ao número de critérios que necessitam ser atendidos para que a empresa seja considerada boa para o investimento. Em outras palavras, os referidos critérios permitem fazer uma análise de nível de atendimento aos mesmos pela empresa, porém não permite concluir se atende satisfatoriamente ou não à visão de Warren Buffett. Os referidos critérios também não abordam as decisões estratégicas, envolvendo o processo de crescimento, que levam à piora momentânea dos indicadores econômicos e financeiros, porém serem de extrema importância para o futuro da empresa. Este estudo é análise de uma empresa específica, que não pode ser generalizada para casos de outras empresas. Recomenda-se fazer estudos similares para outras empresas de diversos setores.
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