Anais do XIV Congresso USP de Controladoria e Contabilidade
Anais do XIV Congresso USP de Controladoria e Contabilidade
Anais do
XIV Congresso USP de Controladoria e Contabilidade
Página inicial Voltar para a página anterior Fale conosco

RESUMO DO TRABALHO

Abrir
Arquivo

Clique para abrir o trabalho de código 299, Área Temática: Área VI: Educação

Código: 299

Área Temática: Área VI: Educação

Título: Determinantes do Desempenho Acadêmico em Ciências Contábeis: Uma Análise de Variáveis Comportamentais

Resumo:
Propsito do Trabalho:
Compreender o processo de aprendizagem sempre foi importante em todos os sistemas e programas educacionais, pois proporciona aperfeiçoamento das técnicas de ensino e melhoria nas políticas educacionais. Todavia uma série de fatores está ligada ao desempenho dos alunos, tais como: qualificação do corpo docente, infra-estrutura da instituição de ensino, características sócio-demográficas dos discentes, fatores internos do aluno entre outras (Tinto, 1975, Miranda, 2011, Santos, 2012, Lemos, Pimenta & Ferreira, 2013). Diante do exposto, surge a seguinte questão de pesquisa: quais as variáveis estão relacionadas com o desempenho dos estudantes do curso de ciências contábeis de uma universidade pública brasileira? Para tanto, elegeu-se como medida de desempenho acadêmico o Coeficiente de Rendimento do Aluno (CRA) e como variáveis explicativas as escalas psicológicas de autoeficácia, autoestima, otimismo e lócus de controle, assim como duas variáveis proxies de autocontrole: consumo de bebida alcoólica e hábito de fumar. No contexto do curso de ciências contábeis, o estudo de algumas variáveis psicológicas auxiliará na compreensão do comportamento dos alunos, uma vez que ela se encarrega da análise das escolhas dos seres humanos decorrentes de suas necessidades humanas e do uso dos recursos escassos (Ferreira, 2007). Entre as justificativas, destaca-se o fato de que não foram encontrados estudos que relacionassem variáveis comportamentais conjuntamente com variáveis sócio-demográficas no desempenho dos estudantes do curso de ciências contábeis. O estudo também poderá contribuir com os atores envolvidos no processo de ensino e aprendizagem na área contábil auxiliando o corpo acadêmico no planejamento de estratégias pedagógicas mais adequadas às necessidades dos estudantes.

Base da plataforma terica:
A descrição das pesquisas sobre desempenho discente é densa e aponta que existem fatores externos e internos à unidade escolar correlacionados com a excelência do desempenho do aluno. Algumas pesquisas (Nossa, 1999, Waiselfisz, 2000, Alves, Corrar & Slomski, 2004, Miranda, 2011) apontam que a qualificação acadêmica do corpo docente, professores com conteúdos atualizados, diferentes técnicas de ensino, atividades de pesquisa, uso de livro ao invés de apostilas e resumos, pleno acesso a microcomputadores estão positivamente associadas ao desempenho dos alunos do curso de ciências contábeis. Miranda et al., (2013) analisaram 39 artigos que pesquisaram sobre as variáveis que afetam o desempenho dos alunos. Os autores classificaram as variáveis estudadas em três grupos: corpo docente, corpo discente e variáveis institucionais. Os pesquisadores salientam que as variáveis demográficas não são as de maior peso no sucesso acadêmico dos alunos, dentre elas as variáveis positivamente relacionadas ao desempenho são a situação socioeconômica e o número de filhos. Destaca-se que as variáveis comportamentais também refletem no desempenho discente, dentre elas a motivação, aptidão para a área contábil, e tipo de aprendizagem têm impacto positivo no desempenho do aluno, já a ansiedade reflete negativamente no desempenho acadêmico (Miranda et al., 2013). Nesse contexto, surge as seguintes hipóteses de pesquisa: H1: a variável autoestima afeta os resultados do desempenho dos alunos. O otimismo também tem sido objeto de pesquisa na temática de desempenho acadêmico. Bandeira et al., (2002) realizaram uma investigação com 396 alunos, com idade média de 22,34 anos. Foi constatado que o nível baixo de otimismo influencia na adaptação dos estudantes ao ambiente universitário, e causa menor desempenho acadêmico H2: a variável otimismo afeta os resultados do desempenho dos alunos. Conforme argumenta Bandeira et al., (2002) situações ou eventos passados influenciam as expectativas em relação a eventos futuros. As atribuições de que eventos negativos possuem causas internas, estáveis e globais estariam relacionadas a uma orientação pessimista. H3: a variável lócus de controle afeta o desempenho dos alunos. A justificativa para a utilização desta hipótese é que, de acordo com Rogers Silva (2011), indivíduos com maior grau de lócus de controle interno têm a percepção de serem mais responsáveis sobre os eventos do dia a dia ao seu redor, e indivíduos com maior grau de lócus de controle externo têm a percepção de que pouco influencia os eventos cotidianos à sua volta. H4: a variável autoeficácia tem influência no desempenho dos alunos. O estudo da autoeficácia busca principalmente compreender o poder na crença do indivíduo com relação a suas competências pessoais que lhe permitam lidar com uma variedade de situações e sua capacidade de realizar várias tarefas em diferentes contextos (Medeiros, 2006). H5: a variável autocontrole está associada ao desempenho dos alunos. Destaca-se que o aluno, quando recebe convite dos amigos para ir para um bar, ele pode ter dois comportamentos. Primeiro ele pode agir compulsivamente e ir ao bar com os amigos e desfrutar do prazer da companhia dos amigos, da música, da bebida, mesmo que isso lhe traga consequências no trabalho, deixar de assistir uma aula com um conteúdo importante que o professor ministrou. Ou ele pode pensar nas consequências futuras que essa atitude pode lhe trazer, como perder conteúdo ministrado, ser penalizado na pontuação, etc., surgindo então o autocontrole, que repele o convite dos amigos(Cruz, 2006).

Mtodo de investigao:
Para realizar a pesquisa, a população definida foi composta pelos alunos matriculados a partir do segundo período do curso de graduação em Ciências Contábeis de uma universidade pública brasileira, pois os alunos do primeiro período ainda não têm CRA. Os questionários com respostas válidas totalizaram 494 indivíduos, representando, aproximadamente, 49% dos alunos matriculados no curso. O instrumento de coleta dos dados buscou informações sobre o comportamento sócio econômico de alunos do curso de graduação em ciências contábeis, para posteriormente relacionar com seu CRA. Na primeira parte do questionário foi coletado o número de matrícula do aluno; na segunda parte encontram-se as questões, separadas de acordo com as escalas psicológicas. As outras variáveis são: sexo, estado civil, idade e hábitos de fumar e consumo de bebida alcoólica, como proxies de autocontrole. O questionário foi testado por meio de um pré-teste com os 13 alunos do curso de mestrado em ciências contábeis da instituição objeto da pesquisa. Sendo assim, a estruturação das escalas em relação aos itens dos questionários dos 4 constructos foi dividida da seguinte forma: o constructo autoeficácia no presente modelo foi utilizado por meio da Escala Geral de Autoeficácia, desenvolvido por Schwarzer (1992). Esta escala foi validada por Nunes et al (1999) e utilizada por Medeiros (2006) no âmbito de aprendizagem em administração de empresas. A Escala de Lócus de Controle foi baseada em Levenson, devido à sua simplicidade (pequena quantidade de itens) e generalidade (Dela Coleta & Dela Coleta, 1997). Para a construção da variável otimismo, utilizou-se do Teste de Orientação da Vida (TOV), proposto originalmente por Scheier, Carver e Bridges (1994) e validado no Brasil por Bandeira et al., (2002). A escala de autoestima de Rosenberg foi selecionada para construir a variável autoestima, pois é um dos instrumentos mais utilizados para a avaliação da autoestima global (Romano, Negreiros & Martins, 2007, Martin-Albo, Núnez, Navarro & Grijalvo, 2007) e foi validada nacionalmente pelo trabalho de Avanci et al. (2007). Utilizou-se o teste de alfa de cronbach (α) para estimar a confiabilidade das escalas psicológicas do questionário aplicado nessa pesquisa. Segundo Hora, Monteiro e Arica (2010), os coeficientes de α devem apresentar resultado maior que 0,60 para serem considerados confiáveis.

Resultados, concluses e suas implicaes:
Todas as escalas psicológicas, exceto lócus de controle interno, apresentaram alfa de cronbach superiores a 0,60, motivo pela qual seu resultado não é considerado nos resultados. Salienta-se que se adotou o mesmo procedimento de imputação dos valores perdidos nas escalas psicológicas de Rogers Silva (2011), ou seja, de preencher o valor perdido em cada pergunta da escala a partir da regressão da referida pergunta contra as outras perguntas da escala psicológica. No geral, os dados perdidos não mostraram potencial de problemas, pois não somaram mais de 2% da base de dados. O CRA dos alunos mostra que em média os estudantes têm desempenho de 70,10%, esse desempenho mediano pode ser justificado pela falta de experiência prática na área contábil, pois 65,44% dos respondentes disseram que não possuem experiência na área contábil. É possível caracterizar, por meio de tratamentos estatísticos, o perfil dos alunos do curso de ciências contábeis que fizeram parte da amostra: a maioria (56,28%) é do sexo masculino, corroborando com os estudos de Masasi (2012); 68,04% estão na faixa etária de 20 anos a 30 anos; 89,47% dos respondentes são solteiros, apenas 2,89% têm o hábito de fumar, e 45,28% responderam que consomem bebidas alcoólicas, o que mostra que o consumo de álcool é maior do que o consumo de cigarro entre esses alunos. Analisando os resultados das escalas psicológicas, apenas o constructo do lócus de controle externo (o poder e o acaso) apresentou significância estatística, mostrando que a crença do controle por pessoas poderosas está positivamente associada ao desempenho discente. Os achados evidenciam também que a crença no acaso, sorte ou destino está negativamente relacionada ao rendimento do aluno. As demais variáveis: autoeficácia, otimismo, lócus de controle interno, alta estima e baixa estima não se mostraram relacionadas ao desempenho discente dos alunos do curso de ciências contábeis objeto do estudo. Com isso dentre as hipótese H1a H4, apenas a hipótese H3, não foi rejeitada no que se refere ao lócus de controle externo, isto é, essa constatação está alinhada com Cornachione et al., (2010) ou seja, a maior frequência de causas externas está relacionada ao desempenho inferior. A despeito dos achados não significativos para as escalas de autoestima, autoeficácia e otimismo, salienta-se que esses constructos estão muito relacionados entre si, como apontam Bandeira et al., (2002) de forma que a escala de lócus de controle externo, significativa no modelo final, possa estar captando as informações oriundas das outras escalas: as significativas correlações entre as escalas. Com os resultados, infere-se que dentre as drogas lícitas mais consumidas no Brasil (álcool e tabaco), apenas o tabaco têm impacto sobre o rendimento escolar, portanto não se rejeita a hipótese H5. Apesar do consumo de bebidas alcoólicas não ter apresentado resultados estatisticamente significativos, para inferir sobre os efeitos negativos na vida escolar dos discentes, o número de jovens menores de 30 anos que são consumidores merece atenção da sociedade: 93,67% dos 221 respondentes que se declararam consumidores de bebidas alcoólicas são jovens menores de 30 anos. Em relação à faixa etária, a idade entre 20 e 40 anos está negativamente associada ao desempenho do aluno. E a variável tempo de experiência na área contábil mostra que o tempo de dois a três anos de vivência com a prática está positivamente relacionado aos resultados acadêmicos. Quanto ao estado civil não se mostrou estatisticamente significativo, ou seja, não está associado à performance do estudante de contabilidade. Os resultados mostram ainda que as mulheres apresentam rendimento acadêmico superior aos dos homens. Assevera-se que não foi constatada associação entre otimismo e desempenho dos alunos, contradizendo os estudos de Bandeira et al. (2002) e Smith e Hoy (2007). Essas contradições nos resultados das pesquisas mostram que o assunto merece ser discutido e investigado empiricamente em outros contextos. Sendo assim rejeita-se a hipótese H2: a variável otimismo impacta nos resultados do desempenho dos alunos.

Referncias bibliogrficas:
Arquero, J. L., Byrne, M., Flood, B., & Gonzalez, J. M. (2009). Motives, expectations, preparedness and academic performance: a study of students of accounting at a Spanish University. Revista de Contabilidad-Spanish Accounting Review, v. 12, n. 2, p. 279-300. Avanci, J. Q., Assis, S. G., Santos, N. C., & Oliveira, R. V. C. (2007). Adaptação transcultural de Escala de Auto-estima para adolescentes. Psicologia: Reflexão e Crítica. v. 20, n. 3, p.397-405. Dela Coleta, M. F., & Dela Coleta, J. A. (1997). Estudos sobre o lócus de controle: uma amostra da pesquisa brasileira no período 1979-1995. Cadernos de Psicologia, n.1, p.135-141. Doran, B. M., Bouillon, M. L., & Smith C.G. (1991). Determinants of student performance in Accounting Principles I and II. Issues in Accounting Education, v. 6, n.1, p. 74-84. Masasi, N. J. (2012). How personal attribute affect students’ performance in Undergraduate Accounting Course. A Case of Adult Learner in Tanzania.International Journal of Academic Research in Accounting, Finance and Management Sciences, v. 2, n. 2, p. 201-211. Pasqualotto, A. C., Pasqualotto, G. C., Santos, R. P., Segat, F. M., Guillande, S., & Benvegnú, L. A. (2002). A Relação entre o adolescente e o tabaco: estudo de fatores sóciodemográficos de escolares em Santa Maria, Rs. Pediatria, vol. 24, pp. 11-16. Rogers Silva, P. (2011). Psicologia do risco do crédito: análise da contribuição de variáveis psicológicas em modelos de creditscoring. 2011. 232 f. Tese (Doutorado) - Curso de Administração, Faculdade de Economia, Administração e Contabilidade, Universidade de São Paulo, São Paulo. Scheier, M. F., Carver, C. S., & Bridges, M. W. (1994). Distinguishing optimism from neuroticism (and trait anxiety, self- mastery, and self-esteem) – a reevaluation of the Life Orientation Test.Journal of Personality and Social Psychology. v. 67, v. 6, p. 1063-1078.

 

APOIO
REALIZAÇÃO
PATROCINADORES
Logos dos Realizadores Logos dos Patrocinadores
Anais do XIV Congresso USP de Controladoria e Contabilidade