Resumo: Propsito do Trabalho: Rating de crédito é uma avaliação de risco de uma empresa, ou seja, pondera e mensura por meio de variáveis determinantes, a probabilidade de default da mesma. Segundo Silva (2006), em finanças, risco existe quando o tomador de decisões pode basear se em probabilidades objetivas para estimar diferentes resultados, de maneira que sua expectativa baseia se em dados históricos e, portanto, a decisão é tomada a partir de estimativas julgadas aceitáveis pelo tomador de decisões.
O rating de crédito é atribuído baseado em aspectos quantitativos e qualitativos do título. Segundo a Standard & Poors (2011), no aspecto quantitativo, o foco principal é a análise econômico - financeira e pode incluir uma ponderação dos princípios e práticas contábeis do devedor. No aspecto qualitativo, a análise está voltada em vários fatores, incluindo: risco-país, características setoriais e fatores específicos à entidade.
Focando-se especificamente no aspecto quantitativo das avaliações, o presente estudo tem como objetivo avaliar o impacto de índices econômico-financeiros obtidos por intermédio das demonstrações financeiras de empresas brasileiras de capital aberto na atribuição de ratings de crédito de agências classificadoras de risco. Mais especificamente, a agência selecionada foi a Fitch Ratings.
Base da plataforma terica: A teoria da eficiência de mercado, conforme Fama (1970) vale - se da hipótese de que um mercado tido como eficiente, os preços das ações refletem prontamente a informação disponível.
Fama (1970) segrega a eficiência de mercado em três principais formas. A primeira delas explicita que os preços refletem toda a informação contida no registro dos preços passados, sendo chamada de forma fraca de eficiência. Na segunda forma, considera-se que os preços refletem não só o seu comportamento passado, como também o restante da informação publicada (Demonstrações Financeiras). A essa forma foi dado o nome de eficiência semiforte. Os testes da forma semiforte procuram especificar quão rápido os preços dos ativos refletem as informações públicas. E finalmente, há a eficiência na forma forte, na qual os preços refletem não só a informação pública, mas toda a informação que pode ser obtida, inclusive as chamadas informações privilegiadas (insiders).
O presente trabalho baseia-se na teoria de eficiência de mercado na sua forma semi-forte, pois acredita-se que a tomada de decisão das agências classificadoras de risco é influenciada quando da publicação das demonstrações financeiras das empresas no mercado.
Na classificação dos ratings existem os de crédito corporativo e o de risco soberano. O de risco soberano, conforme a agência classificadora Fitch Ratings (2012), reflete uma opinião sobre a capacidade de um país honrar suas dívidas, observando um período de avaliação de longo prazo.
Estudo realizado por Damasceno (2008) teve como um dos seus objetivos, desenvolver uma metodologia de rating baseada no modelo probit ordinal em painel, que, através da utilização de variáveis contábeis e indicadoras (dummies), seja capaz de prever o nível de rating para aquelas companhias que não possuem nenhuma avaliação de crédito. E as variáveis, “lucro líquido sobre o total de ativos” (ROA), “dívida total sobre total de ativos” (DT) e a variável de “presença no Ibovespa” (IBOV) foram as que, conjuntamente, melhor explicaram os ratings no modelo proposto, conforme já evidenciado anteriormente.
Outro estudo sobre a influência dos índices contábeis, este realizado por Brito (2008), teve o intuito de examinar se eventos de default de companhias abertas no Brasil são previstos por um sistema de classificação de risco de crédito baseado em índices contábeis. E os resultados apurados evidenciaram que insolvências empresariais podem ser previstas por sistemas de classificação de risco baseados, apenas, em índices contábeis.
Mtodo de investigao: A amostra inicial de dados selecionados abrangeu 78 empresas brasileiras de capital aberto, as quais tiveram o rating nacional de longo prazo determinado pela agência classificadora de risco Fitch Rantigs, sendo a data - base de consulta desses ratings, 07/05/2013. Foi escolhido o rating nacional de longo prazo, pelo fato desta avaliação atribuir um menor peso ao risco soberano nacional.
A amostra foi ajustada para 57 empresas, pois os dados de 08 estavam faltando na base de dados do Economática, e 13 foram consideradas outliers (aquelas em que os dados de seus índices econômico-financeiros estavam acima de três desvios-padrão a contar da média, seja para mais ou a menos).
As variáveis utilizadas foram os ratings nacionais de longo prazo atribuídos pela Fitch Ratings a empresas brasileiras de capital aberto, conforme explicitados na Tabela 2, e índices econômicos - financeiros calculados a partir das demonstrações contábeis de 31/12/2012.Com base nos estudos de Damasceno (2008), Brito (2008), Pinches (1973), Molinero (1996), e Poon (1999), os índices escolhidos foram: Tamanho, Presença no Ibovespa, Giro do Ativo, Liquidez Corrente, Dívidas Totais sobre Ativo, Dívida Bruta sobre EBITDA, Retorno sobre o Patrimônio Líquido, Retorno sobre ativo.
Neste trabalho foi desenvolvido um modelo de regressão logístico capaz de exprimir o quanto índices econômicos - financeiros explicam o rating da agência Fitch Ratings. A regressão logística, ou análise logit, é uma técnica apropriada para as situações nas quais a variável dependente é categórica e assume um entre dois resultados possíveis (binária). Ressalta-se que a escolha da regressão logística binária, em detrimento do modelo logístico multinomial, foi motivada essencialmente pelo reduzido número de empresas em determinada categorias e pelo tamanho da amostra. A utilização de diversas variáveis dependentes reduziria os graus de liberdade, e consequentemente, influenciaria na capacidade de análise da significância estatística dos parâmetros em estudo.
Resultados, concluses e suas implicaes: O presente estudo teve como objetivo explicar como os índices econômico-financeiros influenciam a atribuição dos ratings nacionais de longo prazo das empresas brasileiras de capital aberto, pela agência classificadora de risco Fitch Ratings. Valendo-se da teoria de eficiência de mercado na sua forma semi-forte, , acredita-se que a tomada de decisão das agências classificadoras de risco é influenciada quando da publicação das demonstrações contábeis das empresas no mercado.
Com isso, ao utilizar a técnica de regressão logística, uma vez que os ratings são variáveis dicotômicas-assumindo resultados entre 0 e 1, sobre amostra de 56 empresas brasileiras de capital aberto, obtiveram-se evidências que índices contábeis, são capazes de predizer os ratings. Os índices estatisticamente significativos encontrados, foram: tamanho da empresa (Lnativo) e retorno sobre o ativo (ROA), para a regressão cujas variáveis explicadas foram os ratings AA (bra) ou AAA (bra). Quanto ao nível de acurácia do modelo, o mesmo foi capaz de prever corretamente 81% da amostra de dados, respectivamente, nível esse superior de alguns estudos na mesma área. Ademais, demonstrou uma maior sensitividade em detrimento da especificidade, provavelmente derivada da concentração da amostra nas empresas que foram explicadas como a probabilidade do evento ocorrer.
Diante do exposto, os resultados expuseram que, quanto maior a rentabilidade sobre o ativo total e o tamanho da empresa, maior será a probabilidade dos ratings atribuído pelas Fitch Ratings às empresas brasileiras de capital aberto, serem classificadas como de baixo ou baixíssimo risco de inadimplência. Assim, pode-se dizer que empresas com rentabilidade decrescente, ou parte de seus ativos liquidados, há chances de terem seus ratings rebaixados, ou seja, uma maior probabilidade de não cumprimento de seus compromissos de dívidas. Apesar dos resultados corroborarem com estudos desenvolvidos na área (DAMASCENO,2008; PINCHES,1973), é importante ressaltar o pequeno número de índices estatisticamente significativos encontrados no estudo.
Essa limitação pode ser explicada pelo baixo número de empresas presentes na amostra, em função das agências classificadoras de risco não atribuírem suas opiniões de risco de crédito a muitas empresas de capital aberto do Brasil. Isso porque o mercado de título de dívidas no Brasil não é muito difundido. Outra limitação do estudo é o fato de que numa análise de risco de inadimplência, não é considerado apenas indicadores contábeis, mas também aspectos qualitativos, como: risco-país, características setoriais e fatores específicos à entidade.
Como sugestão para futuras pesquisas sobre o assunto, a inclusão de variáveis qualitativas como o nível de disclosure das empresas, ressalvas em pareceres de auditoria, risco-país, informações de tendência do setor, e impacto de informações de fatos relevantes. Além disso, uma análise histórica da variação dos ratings atribuídos relacionando-os com a publicação das informações contábeis na respectiva data, trará um maior número de informações à amostra, aprofundando o estudo.
Referncias bibliogrficas: Brito, G. A. S.; Neto, A. A. (2008) Modelo de Classificação de Risco de Crédito de Empresas. Revista Contabilidade & Finanças [online], 19 (46), 18-29.
Cardoso, M. A. S. (2000) Rating de Crédito: O Papel das Agências Especializadas. Cadernos Discentes COPPEAD. 1, 92-104.
Damasceno, D. L.; Artes, R. & Minardi, A. Maria A. F. (2008) Determinação de rating de crédito de empresas brasileiras com a utilização de índices contábeis. RAUSP [online], 43.n.4.
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Molinero, C. M.; GOMEZ, P. A.; CINCA, C. S. (1996) A Multivariate Study of Spanish Bond Ratings. Omega, Int. J. Mgmt Sci, 24 (4), 451-462.
Pinches, George E.; Mingo, Kent A. (1973) A Multivariate analysis of industrial bond ratings. The Journal of Finance.vol.28.n.1.
Poon, W. P.H.; Firth, M.; Fung, H. (1999) A multivariate analysis of the determinants of Moody’s bank financial strength ratings. Journal of International Financial Markets, Institutions and Money 9 267- 283.
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