Resumo: Propsito do Trabalho: Dentre as teorias que foram desenvolvidas no campo da estrutura de capital, destaca-se a teoria do Pecking Order, também denominada de ordem de preferência, proposta por Myers (1984) e Myers e Majluf (1984). Esta teoria conforme os autores, leva em conta a assimetria de informação que acontece no mercado de capitais, na medida em que os administradores das empresas possuem mais informações do que os investidores, em relação aos negócios da empresa.
No intuito de analisar a teoria do Trade Off e Pecking Order das empresas da América Latina, o estudo busca responder ao seguinte problema de pesquisa: Quais são os fatores determinantes da estrutura de capital das empresas de capital aberto da América Latina? O objetivo da pesquisa é analisar os fatores determinantes da estrutura de capital das empresas de capital aberto da América Latina, com base na teoria do Trade Off e Pecking Order.
A relevância do estudo baseia-se no contexto abordado por Bastos e Nakamura (2009), pois, destacam que o assunto relacionado a estrutura de capital das empresas é considerado um dos temas mais complexos da teoria financeira, pois verifica a relação entre a utilização do capital próprio e o capital de terceiros, estes que permitem elevar o valor da empresa.
Portanto, esta pesquisa justifica-se segundo Deesomsak, Paudyal e Pescetto (2004), pois, ainda não há evidências empíricas suficientes relacionadas às teorias sobre a estrutura de capital das empresas e a forma que estas apresentam-se nos mercados e podem ser aplicadas a diferentes realidades, com o intuito de averiguar os ambientes legais e institucionais.
Base da plataforma terica: A estrutura de capital foi instituída por alguns autores como Modigliani e Miller (1958) para auxiliar as empresas na melhoria da competitividade, minimizar o custo de capital e maximizar o valor das empresas, porém, em certos momentos a estrutura de capital torna-se irrelevante para o valor da empresa.
No que diz respeito a existência de uma estrutura de capital, Miller (1977) propõem a Teoria do Trade Off e Myers (1984) a Teoria do Pecking Order. Sendo assim, em relação a teoria do Trade Off, Miller (1977) salienta que, nesta teoria existe um nível ótimo de endividamento, este que é possível a partir da mudança dos custos e benefícios da dívida.
Por meio dos critérios utilizados pelas empresas para a escolha ideal da estrutura de capital, Myers (1984) discute em finanças corporativas a questão de como a empresa escolhe sua estrutura de capital. Salienta ainda que é de difícil entendimento essa questão, pois é desconhecida a maneira que as empresas escolhem suas dívidas e a constituição do seu capital próprio.
Já Modigliani e Miller (1958), contribuíram com o desenvolvimento com diversos estudos na área de finanças corporativas, dentre eles, a teoria do Pecking Order. Em seu estudo, apresentaram a estrutura de capital a partir do custo de capital total da empresa, este que engloba o retorno exigido pelos acionistas e credores. Ressaltam ainda que, não há custos de transação e, a inexistência de impostos faria com que os custos de capital das empresas e seu valor, não dependessem da sua estrutura de capital. Assim, as decisões de financiamento não seriam relevantes, pois não iriam agregam valor à entidade, porém, as decisões de investimentos seriam relevantes e dessa forma, não existiria uma estrutura ótima de capital.
Para Myers (1984) a teoria do Trade Off apresenta que, a estrutura ótima de capital das empresas é possível por meio do equilíbrio relacionado aos efeitos que os impostos auferem nas dívidas e nos custos de falência voltados à alavancagem. Nesse sentido a empresa aumenta seu endividamento até o período que o benefício fiscal sobre a dívida seja compensado. A mensuração dos impactos do benefício fiscal e das dificuldades financeiras faz com que, o valor da empresa seja maximizado por meio do nível de endividamento.
Conforme Myers e Majluf (1984) e Myers (1984), a teoria do Pecking Order, sugere que no momento que a empresa detém ativos, oportunidades de crescimento e, além disso, almeja a estrutura de capital como uma forma de desempenho, será necessário utilizar as dívidas como uma possibilidade de adquirir, seja por meio de financiamentos, ativos e ações para o crescimento da empresa. Além disso, Myers e Majluf (1983) salientam que as empresas tendem a consumir folga financeira, objetivando aumentar o capital interno, antes mesmo de recorrerem à alavancagem financeira.
Mtodo de investigao: O presente estudo possui característica descritiva que decorre do fato de que o estudo tem como finalidade descrever a situação identificada referente aos determinantes da estrutura de capital das empresas de capital aberto da América Latina. Em relação aos procedimentos adotados neste estudo, tem-se uma pesquisa documental, visto que foram extraídos das demonstrações financeiras relativas ao de 2009 a 2012, retirados do banco de dados da Thomson One Banker, além disso os dados financeiros são expressos em dólares americanos, a fim de facilitar as comparações. Optou-se pelo período inicial de 2009, pois o ano de 2008 ocorreu a crise, o que poderia afetar os resultados da pesquisa. No tocante à abordagem do problema, esta pesquisa é classificada como quantitativa, que após a quantificação e mensuração dos dados, foi aplicado nos mesmos um tratamento estatístico de Dados em Painel.
A população de pesquisa compreende empresas de capital aberto da América Latina, perfazendo um total de 752 companhias, exceto as classificadas como bancos, companhias de seguro e holdings, devido às características singulares de suas atividades. Dos países da América Latina, apenas seis países participaram da população, visto que foram os países disponibilizados pelo banco de dados da Thomson One Banker. Em decorrência dos períodos analisados, a amostra da pesquisa compreendeu as 313 empresas, que apresentavam todas as variáveis necessárias para análise.
Foram utilizados três variáveis de endividamento contábil e cinco variáveis econômico-financeiras. As variáveis de endividamento contábil abordam três níveis de estrutura de capital abordados pela teoria, a saber, endividamento total contábil (ETC), endividamento de curto prazo contábil (ECPC) e endividamento de longo prazo contábil (ELPC). Das variáveis econômico-financeiras determinantes da estrutura de capital são as mesmas apresentadas no tópico formulação das hipóteses, a saber, liquidez corrente, Market-to-book, retorno do ativo total, tamanho e tangibilidade. Os dados para composição das variáveis de endividamento contábil e econômico-financeiras foram coletados diretamente do banco de dados da Thomson One Banker.
Resultados, concluses e suas implicaes: Para a análise dos resultados foram utilizados diferentes testes estatísticos, como segue: (i) correlação de Pearson para verificar a intensidade e o sentido das relações entre as variáveis e; (ii) os testes de Chow, LM de Breusch-Pagan e Hausman para definir se deve ser utilizado o método pooling, efeitos fixos ou aleatórios na regressão de dados em painel; (iii) regressão por meio de dados em painel para verificar quais são os fatores determinantes da estrutura de capital.
Os resultados da correlação de Pearson demonstram que não há alto grau de correlação entre as variáveis explicativas (correlação superior a 85%), denotando não haver problemas elevados de multicolinearidade que possam afetar os resultados do modelo de regressão de dados em painel com as variáveis utilizadas. Dessa forma, todas as variáveis explicativas podem ser utilizadas para explicar os fatores determinantes da estrutura de capital das empresas latino americanas listadas de capital aberto.
Quanto aos resultados das regressões, no que se refere a relação da liquidez corrente com o endividamento de curto prazo e total contábil, todos os países apresentaram uma relação negativa significativa, pode-se observar que as empresas com melhores liquidez, são menos endividadas no curto e no seu total, ou seja, essas empresas são capazes de pagar seu passivo circulante, não necessitando de financiamento externo para cobrir suas dívidas de curto prazo e total (Myers & Rajan, 1998). Por outro lado, no endividamento de longo prazo contábil (ELPC), apenas três países apresentaram-se significativos, visto que o Brasil foi a única que apresentou uma relação negativa e o Chile e México apresentaram uma relação positiva.
Quanto ao crescimento da empresa representado pelo Market-to-book, apresentou um relação positiva em todos os níveis de endividamento, contrariando a teoria do Trade Off e Pecking Order. Para Myers (1984), esperasse uma relação negativa entre o crescimento da empresa e seus endividamento, pois organizações com altas oportunidades de crescimento futuro, são mais propensas a utilizar recursos internos como forma de financiamento de seus investimentos, tal afirmação não foi encontrada neste estudo.
A Rentabilidade do Ativo Total apontou tanto uma relação negativa para os níveis de endividamento de endividamento contábil dos países da américa latina, tal achado confirma, fortemente, a teoria do Pecking Order. Essa relação negativa decorre do fato de que as empresas argentinas (ETC), chilenas (ECPC, ELPC e ETC), mexicanas (ELPC e ETC) e peruanas (ELPC e ETC), não precisam depender tanto de financiamento externo, em vez disso, preferem utilizar os fundos internos acumulados de lucros passados (Myers,1984; Myers & Majluf, 1984).
A variável Tamanho apresentou relação positiva significativa para todos os índices de endividamento contábil. Estes resultados apresentam indicativos de que as maiores empresas latino americanas, possuem maior facilidade em obter recursos financeiros externo, visto que possuem um menor risco e probabilidade de falência, apoiadas na teoria do Trade off (Bastos & Nakamura, 2009).
A Tangibilidade apresentou relação positiva e significante para o endividamento de curto prazo contábil e negativa significante para o endividamento de longo prazo e total contábil, corroborando com a teoria do Trade Off e Pecking Order. Os achados quanto ao endividamento de curto prazo contábil reflete que, as empresas argentinas, brasileiras e mexicanas, com altos níveis de ativos tangíveis assumem relativamente mais dívidas de curto prazo, apoiando a teoria do Trade Off (Rajan & Zingales, 1995). Já para o endividamento longo prazo contábil as entidades pertencentes ao Brasil e México com altos ativos tangíveis, são menos propensas a emitir dívida de longo prazo, bem como aquelas pertencentes a Argentina, Chile e Peru, emitem menos dívidas em um conjunto total, confirmando assim a teoria do Pecking Order (Myers, 1984).
Conclui-se que as empresas latino americanas de capital aberto quanto ao seu endividamento, estão apoiadas tanto na teoria do Pecking Order como na Trade Off.
Referncias bibliogrficas: Bastos, D. D., & Nakamura, W. T. (2009). Determinantes da estrutura de capital das companhias abertas no Brasil, México e Chile no período 2001-2006. Revista Contabilidade & Finanças-USP, 20(50), 75-94.
Deesomsak, R., Paudyal, K., & Pescetto, G. (2004). The determinants of capital structure: evidence from the Asia Pacific region. Journal of Multinational Financial Management, 14(4), 387-405.
Jensen, M. C., & Meckling, W. H. (1976). Theory of the firm: managerial behavior, agency costs and ownership structure. Journal of Financial Economics, 3(4), 305-360.
Miller, M. H. (1977). Debt and taxes. The Journal of Finance, 32(2), 261-275.
Modigliani, F., & Miller, M. H. (1958). The cost of capital, corporation finance and the theory of investment. The American Economic Review, 48(3), 261-297.
Myers, S. C. (1984). The capital structure puzzle. The Journal of Finance, 39(3), 574-592.
Myers, S. C., & Majluf, N. S. (1984). Corporate financing and investment decisions when firms have information that investors do not have. Journal of Financial Economics, 13(2), 187-221.
Rajan, R. G., & Zingales, L. (1995). What do we know about capital structure? some evidence from international data. The Journal of Finance, 50(5), 1421-1460.
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