Anais do XIV Congresso USP de Controladoria e Contabilidade
Anais do XIV Congresso USP de Controladoria e Contabilidade
Anais do
XIV Congresso USP de Controladoria e Contabilidade
Página inicial Voltar para a página anterior Fale conosco

RESUMO DO TRABALHO

Abrir
Arquivo

Clique para abrir o trabalho de código 397, Área Temática: Área IV: Contabilidade Gerencial

Código: 397

Área Temática: Área IV: Contabilidade Gerencial

Título: Public Value Scorecard: Alternativa para Avaliação de Desempenho em Hospitais Universitários

Resumo:
Propsito do Trabalho:
Diante da necessidade de melhorias administrativas nas organizações que compõem o sistema público de assistência à saúde, mecanismos que englobam indicadores de desempenho e planos com metas que possibilitem o acompanhamento da qualidade dos serviços prestados à população podem contribuir para tal necessidade, como os artefatos de avaliação de desempenho. O Public Value Scorecard (PVS) apresenta-se como uma alternativa para entidades sem finalidades lucrativas, especialmente para instituições hospitalares públicas (Zhang & Wang, 2010). O PVS engloba a estratégia do valor público, que chama a atenção dos gestores dessas entidades para três perspectivas: missão social, legitimidade e apoio e capacidades operacionais (Moore, 2003). Tendo em vista a inexistência de modelos conceituais na literatura acadêmica que apresentem indicadores e metas baseadas no PVS que estejam integrados à estratégia de organizações hospitalares públicas (Zhang & Wang, 2010), como os hospitais universitários, a presente investigação procura responder a seguinte questão: como desenvolver um modelo conceitual do PVS integrado ao planejamento estratégico de um hospital universitário federal? A realização da investigação é justificada por conta da escassez de fontes bibliográficas sobre o PVS no Brasil e no mundo, em especial quanto a modelos conceituais que apresentes indicadores e metas baseados nas considerações apresentadas na proposta do PVS em organizações hospitalares públicas, como defendem Zhang e Wang (2010), o que pode fornecer à literatura acadêmica uma nova possibilidade de sistema de avaliação de desempenho que possa ser integrada à estratégia dessas entidades.

Base da plataforma terica:
A evolução da contabilidade gerencial para uma abordagem mais estratégica, remetendo à preocupações acerca da identificação, mensuração e gestão dos principais direcionadores financeiros e não financeiros do sucesso da estratégia adotada. Dentre os artefatos de contabilidade gerencial que atendem essas necessidades, inserem-se os sistemas de avaliação de desempenho (Ferreira & Otley, 2009). Na literatura acadêmica e na realidade empresarial, destaca-se o Balanced Scorecard (BSC) dentre os modelos existentes de avaliação de desempenho, modelo que envolve relações de causa e efeito entre indicadores financeiros e operacionais voltados à estratégia (Kaplan & Norton, 1992). Contudo, as entidades sem finalidades lucrativas possuem características específicas que devem ser consideradas na escolha de um determinado artefato de contabilidade gerencial (Bresser-Pereira & Spink, 1998; Zimmerman, 2011). Quanto à avaliação de desempenho, dentre as alternativas voltadas a essas entidades, surge a proposta do Public Value Scorecard (Moore, 2003). Baseada no modelo BSC, a proposta do PVS é embasada principalmente em pontos existentes nesse modelo que não estariam de acordo com o contexto no qual as entidades sem fins lucrativos operam, muitos desses pontos reconhecidos por Kaplan (2009). De acordo com Moore (2003), as métricas não financeiras introduzidas no BSC possuem o propósito de apoiar os gestores a verificar de que forma manter um desempenho financeiro sustentável na entidade, representando o objetivo final da empresa, enquanto para as entidades sem fins lucrativos os recursos financeiros representam um meio para o alcance de sua finalidade, o alcance de sua missão social. Em segundo lugar, Moore (2003) enfatiza as características diferenciadas dos clientes existentes em entidades sem fins lucrativas, com a existência dos clientes downstream, aqueles que recebem os produtos e serviços fornecidos pela organização mesmo sem pagar nada diretamente por isto, sendo por meio desses a realização da sua missão social; e os clientes upstream, aqueles que repassam recursos financeiros para as entidades sem fins lucrativos, sendo doadores de diversos tipos e o próprio governo, e de quem essas organizações dependem para a continuidade de sua missão. Com isso, argumenta-se que manter esses diferentes grupos de clientes satisfeitos difere de forma relevante do modelo de manutenção da lealdade de clientes existente em empresas privadas. Finalmente, Moore (2003) ressalta a distorção existente no BSC quanto à existência implícita da busca de obtenção de vantagem competitiva em seu modelo para as entidades sem fins lucrativas. Mesmo considerando que, na prática, exista certa concorrência entre as entidades sem fins lucrativos em busca da obtenção de maior parcela de fundos doados ou repassados pelo governo, o que se espera é que haja cooperação dessas entidades em busca da obtenção de efetividade de suas ações, ou seja, que as ações tomadas de modo coordenado entre as entidades sem fins lucrativos gerem o resultado esperado diante de certo problema social, considerando que uma única entidade não seria capaz de solucionar o problema abordado. Com isso, o autor apresenta uma alternativa que possa ser adaptável a entidades sem fins lucrativos, capaz de chamar a atenção dos gestores dessas entidades para três perspectivas que podem contribuir para o alcance dos seus objetivos: (i) missão social; (ii) capacidades operacionais; (iii) legitimidade e apoio.

Mtodo de investigao:
Quanto à abordagem metodológica, a presente pesquisa enquadra-se como interpretativista (Burrell & Morgan, 1979). Quanto à estratégia de pesquisa, realizou-se um estudo de caso único (Yin, 2001) no Hospital de Clínicas da Universidade Federal do Paraná (HC/UFPR). Para a realização do estudo de caso, elaborou-se um protocolo de estudo de caso (Yin, 2001), que congregou técnicas de coleta de dados primários e secundários, tendo sido cumpridos os procedimentos éticos determinados pelo Comitê de Ética em Pesquisa em Seres Humanos do Hospital de Clínicas da Universidade Federal do Paraná. Quanto aos procedimentos de campo, foram realizadas entrevistas semi-estruturadas com base em roteiros previamente elaborados, sendo divididas em quatro etapas: (i) entrevista com a Direção Geral (uma entrevista); (ii) entrevistas com as Assessorias (três); (iii) entrevistas com as Diretorias de área subordinadas à Direção Geral (seis); (iv) entrevistas com as Unidades Gerenciais e áreas assemelhadas subordinadas às diretorias de área (vinte e uma). As referidas entrevistas foram realizadas no período entre abril e setembro/2013. A entrevista com a Direção Geral envolveu quatro fases: (a) identificação dos clientes upstream (financiadores) e downstream (receptores dos serviços oferecidos); (b) identificação dos agentes da sociedade civil, órgãos reguladores do governo e os principais parceiros ou co-produtores que se relacionam com a entidade objeto de estudo; (c) alinhamento dos objetivos estratégicos da entidade com os itens presentes no modelo PVS; (d) determinação de indicadores, metas, pesos e áreas subordinadas ligadas ao alcance dos objetivos estratégicos determinados (assessorias ou diretorias). As entrevistas com as assessorias foram realizadas tomando como base os indicadores derivados do apontamento realizado pela Direção Geral na etapa anterior, tendo sido determinados indicadores, metas e quais diretorias possuem ações a tomar com relação ao indicador definido, visto a estrutura hierárquica da entidade. Tal procedimento seguiu-se para as diretorias e áreas e unidades gerenciais, determinando indicadores, metas, fórmula e a fonte de dados.

Resultados, concluses e suas implicaes:
A estratégia escolhida para a proposição de um modelo conceitual de avaliação de desempenho baseado no PVS, para o hospital universitário federal objeto de estudo, conduziu à elaboração de scorecards para áreas localizadas em diversos níveis hierárquicos da organização, com a preocupação de manutenção da congruência dos elementos que os compõem ao plano estratégico vigente na instituição. O scorecard principal, proposto para a Direção Geral, é composto por 45 indicadores. Notou-se que o PVS é capaz de chamar a atenção dos gestores para pontos relevantes da operação de uma organização sem fins lucrativos, adaptando-se, portanto, a essa realidade, cujo alcance da missão social da instituição deve ser o principal enfoque e não o alcance de resultados financeiros, pressuposto implícito em artefatos de avaliação de desempenho como o BSC. Contudo, tomando em consideração as premissas adotadas no trabalho original de Moore (2003), sugere-se cautela nas abordagens relacionadas à captação de equipamentos e de voluntários para instituições semelhantes ao caso estudado. O aumento na captação desses recursos para um hospital universitário federal não pode significar necessariamente melhorias nas condições da instituição no cumprimento de sua estratégia, fazendo-se necessário a adoção de critérios e limites para que a referida captação não se torne, às vezes, um problema ou um risco para a organização. Com isso, julga-se que o PVS é uma ferramenta de avaliação de desempenho capaz de contribuir para a demandada evolução administrativa nas entidades públicas brasileiras, especialmente nas organizações hospitalares pertencentes ao sistema público de saúde, motivo de preocupações e questionamentos da população brasileira. Ainda, espera-se que o estudo de caso relatado por meio desse relatório possa fornecer contribuições teóricas para o desenvolvimento dessa ferramenta e implicações práticas para a sua implantação em outras organizações, tendo em vista sua validação realizada ao longo do processo de modelagem conceitual (com ressalvas em alguns pressupostos, como já comentado nesse item), além de contribuir para o rol de pesquisas empíricas realizadas com a temática da avaliação de desempenho em entidades públicas e em entidades hospitalares. Reconhece-se como principal limitação dessa investigação o fato de se tratar de um estudo de caso, com a implicação de que os resultados obtidos nessa pesquisa não podem ser generalizados. Ainda, deve-se reconhecer que, por se tratar de uma pesquisa qualitativa com abordagem metodológica interpretativa, pode constar viés do pesquisador quanto às interpretações da realidade observada. Contudo, entende-se que o presente relatório fornece informações sobre ligações importantes presentes no mundo real que podem contribuir para o desenvolvimento teórico e prático da ferramenta em diversas organizações, agregando dessa forma ao rol de conhecimentos sobre o assunto na literatura acadêmica. Para hospitais universitários federais, hospitais universitários de outras esferas de governo, demais instituições hospitalares públicas ou filantrópicas e órgãos responsáveis pela gestão de saúde pública, os resultados desse trabalho buscam contribuir ao apresentar o PVS como uma ferramenta de controle gerencial válida para essas organizações, capaz de colaborar para o desenvolvimento de sua gestão e, em conseqüência, para a eficiência, eficácia e efetividade das ações públicas de saúde. Para pesquisadores em Contabilidade Gerencial e/ou Controle Gerencial, almeja-se que essa investigação chame a atenção ao campo da saúde pública como uma área com oportunidades de pesquisa e com necessidade de desenvolvimento. A realização de proposições e de pesquisas empíricas em Contabilidade Gerencial aplicadas em entidades públicas, especialmente naquelas ligadas à assistência à saúde, pode fomentar melhorias na utilização dos recursos públicos nessa área e na efetividade dos serviços prestados, acarretando em vantagens para toda a sociedade.

Referncias bibliogrficas:
Burns, J. & Scapens, R. W. (2000). Conceptualizing management accounting change: an institutional framework. Management Accounting Research, 11 (1), 3-25. Burrell, G. & Morgan, G. (1979). Sociological paradigms and organisational analysis. Londres: Heinemann. Ferreira, A. & Otley, D. (2009). The design and use of performance management systems: an extended framework for analysis. Management Accounting Research, 20 (4), 263-282. Kaplan, R. S. (2009). Conceptual foundations of the balanced scorecard. In C. S. Chapman, A. G. Hopwood & M. D. Shields (Orgs.), Handbook of Management Accounting Research (Vol. 3, pp. 1253-1269), Amsterdã: Elsevier. Moore, M. H. (2003). The Public Value Scorecard: a rejoinder and an alternative to “strategic performance measurement and management in non-profit organizations” by Robert Kaplan. Hauser Center for Nonprofit Organizations. Cambridge, Inglaterra. Neely, A., Richards, H., Mills, J., Platts, K. & Bourne, M. (1997). Designing performance measures: a structured approach. International Journal of Operations & Production Management, 17 (11), 1131-1152. Rocha, W. & Guerreiro, R. (2010). Desenvolvimento de modelo conceitual de sistemas de custos – um enfoque institucional. Revista de Contabilidade e Organizações, 4 (8), 24-46. Zhang, S. & Wang, L. (2010). A public value approach to service management in public hospitals: an alternative to the balanced scorecard. In 4 International Conference on Management and Service Science, Wuhan, China.

 

APOIO
REALIZAÇÃO
PATROCINADORES
Logos dos Realizadores Logos dos Patrocinadores
Anais do XIV Congresso USP de Controladoria e Contabilidade