Resumo: Propsito do Trabalho: A evasão universitária é um problema que cerca as Instituições de Ensino Superior, tanto públicas quanto privadas. O abandono do curso gera desperdícios financeiros, sociais e acadêmicos. Apesar das diferenças socioeconômicas e culturais entre instituições, alguns estudos apontam características semelhantes desse fenômeno entre as diversas áreas do saber e entre países. Nesse contexto, verifica-se uma intensificação dos estudos sobre evasão no ensino superior nas últimas décadas. Contudo, os trabalhos relacionados à área contábil ainda são incipientes. Mesmo a literatura sobre o assunto identificando que há similaridades nas questões relativas ao abandono do curso superior, entre as diversas áreas do saber, torna-se fundamental averiguar quais as razões levam os estudantes de graduação em Ciências Contábeis a abandonarem o curso antes de sua conclusão. Assim, o objetivo desta pesquisa é buscar evidências que permitam identificar as variáveis que poderiam determinar a evasão de estudantes do curso de Ciências Contábeis em IES públicas no seu primeiro ano de graduação. Adicionalmente, buscou-se analisar as características socioeconômicas desses estudantes e as possíveis influências que os fizeram optar pelo curso. Ao identificar os principais fatores que geram descontentamento com o curso de graduação em Ciências Contábeis, acredita-se que além de contribuir para o entendimento sobre a evasão no ensino superior público brasileiro, será possível contribuir com a elaboração de políticas que visem à retenção dos alunos de graduação em contabilidade a fim de minimizar o desperdício de recursos decorrente do abandono escolar.
Base da plataforma terica: A escolha profissional é uma manifestação do subjetivo do indivíduo e por essa razão é um processo complexo e influenciado por fatores ambientais (estímulos e aptidões motoras, por exemplo) e sociais (família, parentes e amigos) desde a sua infância, conforme considera Super (1990) na Teoria do Desenvolvimento Vocacional (Balbinotti, 2003). Super (1990) propõem uma concepção de escolha profissional com base em conceitos que indicam um processo de desenvolvimento e que, portanto, contrasta com a simples teoria dos traços e fatores (balbinotti, 2003) que já foi estudado anteriormente a partir de diversas perspectivas: as motivações inconscientes, motivações verbalizadas, antecedentes familiares, valores, representação social da profissão (Magalhaes; Straliotto; Keller & Gomes, 2001). Em decorrência dessa complexidade, cada vez mais os indivíduos vêm dispondo de recursos para que possam proceder a sua escolha profissional de modo consciente, seguro e eficiente. A eficiência nesse caso em questão é medida inicialmente pela permanência dele no curso universitário que escolher e mais tarde na sua satisfação ao desempenhar sua profissão. Para ajudar os alunos na tomada de decisões de carreira, conselheiros escolares tem que localizar as dificuldades que os adolescentes enfrentam e fornecer -lhes orientações sobre como superar, ou pelo menos minimizar, essas dificuldades (Gati & Saka, 2001). Nesse sentido, os fatos e contextos que envolvem a escolha do curso universitário é significativamente preocupante para os estudantes e consequentemente para a sociedade, pois repercutirão na permanência deles no curso. Porque quando um estudante ingressa em um curso universitário, Bardagi (2007), considera que ele passara por quadro fases: fase do entusiasmo; da decepção com o curso; da reconquista e da expectativa da formatura. Por meio dessa revisão sobre a literatura relacionada à evasão, é possível identificar algumas evidências. A primeira delas é a de que existe uma influência significativa da repetência na evasão dos estudantes (Vianna, 1991). Conforme ressaltam Leon e Menezes Filho (2002) a taxa de evasão de um estudante repetente pode ser três vezes maior do que a do estudante que nunca repetiu. Por fim, o abandono dos discentes no âmbito do ensino superior pode estar, ainda, relacionado com os seguintes fatores: condições socioeconômicas do estudante, compatibilidade do estudo com a inserção no mercado de trabalho, condições econômicas e sociais da região onde vive o indivíduo, custeio do ensino médio (público ou particular), idade, sexo, talento, determinação e vontade de continuar (Brawer, 1996; Leon & Menezes-Filho, 2002; Bensimon, 2007; Stratton et al. 2008; Andriola, 2009). É possível destacar que a evasão está relacionada a fatores de ordem vocacional; desempenho acadêmico; questões didáticas e pedagógicas; dificuldades de inserção no ambiente social da academia; currículo; problemas relacionados à falta de estrutura do curso para corresponder às demandas; influências de amigos e familiares; interesses pessoais; e, características institucionais (Sparta & Gomes, 2005; Bensimon, 2007; Gonçalves & Coimbra, 2007; Palharini, 2008; Cislaghi, 2008; Smitina, 2009; Walmsley et al., 2010).
Mtodo de investigao: Em decorrência do objetivo este estudo pode ser classificado como descritivo com utilização de questionário para a coleta de dados dos respondentes. A estruturação do referido instrumento de coleta se deu a partir das referências bibliográficas que buscaram indícios dos motivos de abandono de um curso de ensino superior pelos estudantes desses cursos. A estruturação do questionário foi realizada em três partes: a primeira composta de 11 perguntas sobre a realidade socioeconômica do respondente. Foram incluídas perguntas de natureza descritiva da amostra (idade, gênero, estado civil, faixa de renda e outros) e questões que viabilizassem a análise de possíveis fatores que envolviam o processo de evasão. A segunda parte, constituída de 6 questões, teve por objetivo identificar possíveis fatores que influenciaram os estudantes a escolher o curso de contabilidade e também identificar a forma de ingresso deles no curso. Foi incluída uma questão para identificar o (s) sentimento (s) do discente durante o primeiro ano do curso em relação ao ambiente acadêmico e na qual os respondentes deveriam avaliar os agentes (colegas, professores, coordenação, instituição e rotinas de estudo) com base na relação que mantinham durante o semestre. Por essa razão foi apresentada uma escala de juízo de valor (muito bom, bom, regular, ruim e péssimo) para que eles atribuíssem sua percepção. Por fim, a terceira parte foi elaborada para identificar as variáveis que, conforme constatado no levantamento bibliográfico, seriam os motivos que possivelmente influenciariam na decisão dos estudantes de abandonar o curso. Como a intenção era avaliar qual o impacto que cada uma das variáveis poderia ter sobre a possível evasão dos estudantes, solicitou-se que atribuíssem uma nota de 0 a 10. A amostra da pesquisa configura-se como não probabilística, pois foi constituída, por conveniência, por meio de contato telefônico com os coordenadores dos cursos de contabilidade das instituições de ensino superior da região sudeste do Brasil, que aplicaram os questionários em estudantes de sua IES ingressantes no ano de 2013. Ao final foram levantados dados com 06 IES federais da região sudeste.
Resultados, concluses e suas implicaes: Constatou-se que 50% dos estudantes são do gênero feminino , 89% são solteiros e que a média de idade dos respondentes é de 20,8 anos. Verificou-se também que, apesar de a maioria dos estudantes (56%) ter cursado grande parte do ensino médio na escola pública, a faixa de renda familiar da maioria deles (72%) está acima de R$ 2.000,00 mensais, sendo que a de 23% dos estudantes está acima de R$ 6.000,00 mensais. Por essa razão, possivelmente, a maioria (71%) não desenvolve outra atividade além de estudar. Um dado interessante que foi observado é que a maioria dos pais dos estudantes não possui ensino superior (59% das mães e 62% dos pais possuem até o ensino médio completo). Esse dado é significativo, pois outros trabalhos (Sparta &; Gomes, 2005; Gonçalves & Coimbra, 2007) indicam existir uma relação entre ingressar num curso superior e a escolaridade parental, pois os genitores com formação superior, além de motivarem seus filhos a ingressar numa IES, também exercem influência na própria escolha do curso. Isso permitiu identificar que a decisão de cursar uma faculdade, para a amostra, está associada a outras variáveis como, por exemplo, um futuro profissional estável, conforme indica a Teoria do Capital Social. Ainda, merece destaque a ausência de influências externas sobre a escolha do curso (família, amigos ou orientação especializada, como, por exemplo, de um psicólogo): 67% dos respondentes indicaram ter escolhido o curso sem a influência de terceiros. Trata-se de um dado que requer muita atenção da IES onde esses estudantes estão matriculados, pois está relacionado com a possibilidade de evasão desses alunos. Como grande parte dos alunos (65%) foi aprovada no primeiro processo seletivo e sem a ajuda de um profissional (psicólogo, pedagogo, professor etc.) ou mesmo de um parente, para a escolha do curso, os estudantes podem não ter tido a oportunidade de refletir se aquele curso estaria de fato relacionado à sua vocação, na medida em que a escolha do curso foi estritamente baseada na percepção de autoimagem que o estudante tinha. Assim, caso essa percepção não seja significativamente realista (o que é difícil acontecer, em razão da pouca idade), há uma grande chance de a escolha se mostrar inadequada face aos verdadeiros anseios do estudante. À conclusão acima exposta soma-se outro dado interessante: muitos dos estudantes não desejavam, num primeiro momento, cursar graduação em Ciências Contábeis: 46% foram selecionados para o curso porque não possuíam nota suficiente para ingressar naquele que seria a sua primeira opção ou então foram reprovados em processos seletivos para outros cursos, como direito (curso que teve a maior procura), engenharias, economia ou administração. Isso expõe o perfil de um aluno que tende a se sentir frustrado com a sua escolha, já que vai de encontro com os seus objetivos iniciais. Em relação à adaptação dos estudantes à vida universitária, percebeu-se que a maioria já está bem ambientada. Isso porque 91% já consideram que a relação com os colegas é boa ou muito boa. Em relação aos professores e a IES a maioria significativa dos respondentes também indicou que suas relações são boas ou muito boas. A evidência que talvez requeira maior observação está relacionado ao coordenador do curso e às rotinas de estudo. Para esses fatores, apesar de terem uma boa avaliação, são os que apresentam o maior número de estudantes pouco satisfeitos. Finalmente, no que tange as motivações para evasão dos estudantes, percebeu-se que de modo geral os estudantes não parecem estar propensos a abandonar o curso. Dentre os 20 fatores apresentados como capazes de influenciá-los na decisão de abandono curso nenhum teve média de nota maior que 3,3 (as notas poderiam variar entre 0 e 10) apesar de um Alfa de Cronbach de 0,922. Esse resultado é condizente com o que Bargadi (2007) indica como a primeira das 4 fases pelas quais um estudante passa durante o curso universitário, fase do entusiasmo. Exatamente por esse excesso de entusiasmo, a frustração que o estudante poderia ter ao perceber suas expectativas frustradas o faria se sentir desmotivado, resultando na maior influência para fazê-lo abandonar o curso.
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