Resumo: Propsito do Trabalho: A economia brasileira sempre dependeu da força do Estado, que através de sua capacidade de investimento alavancava certos setores. Na década de 90, com o os movimentos privatizadores e com a escassez do poder investidor/gestor do Estado, as organizações buscavam formas de financiar suas atividades. Surgem as conexões políticas, como forma de avaliar fatores que interligam empresas ou grupos econômicos aos governos. Estas se dão pela estrutura de propriedade, conexões dos membros do board ou dos conselhos de administração com os governos e através de doações à campanhas políticas, conforme evidenciado na literatura.
Para Wu; Wu; Rui, (2012) as organizações agregam valor, a partir de suas conexões políticas, a depender da estrutura de propriedade. Verifica-se um maior valor para empresas que apenas têm laços com o governo, não sendo integrante de sua estrutura ou tendo sua participação direta
Lazzarini (2011) aponta que, no caso brasileiro, as conexões políticas e o que ele descreve como “capitalismo de laços”, apresentam algumas disfunções e distorções, no entanto, segue, em linhas gerais, o que se manifesta no mundo. Segundo ele, alguns pontos históricos ajudam a entender essa premissa: (a) a interferência governamental ao longo de décadas no setor empresarial, estimulando e promovendo a ação; (b) o movimento de desestatização e privatização ocorrido na década de 90; e (c) a presença ainda marcante dele, agora de maneira indireta como acionista/proprietário.
Este estudo busca avaliar se os analistas estão propensos a manterem empresas, na sua carteira de investimentos, que têm conexões políticas explicitas. Este seria uma das formas de identificar a formação de portfólios com tal características, uma vez que, isso poderia levar a identificação de investidores
Base da plataforma terica: O Estado brasileiro se mantém como uma força capaz de mobilizar e promover o desenvolvimento de áreas específicas da economia, por ser difícil o investimento privado ou por questões estratégicas. Essa presença representa, em inúmeros casos, posições de destaque. Verifica-se que, durante a década de 90, o país viveu momentos de estagnação e altas taxas inflacionárias, os quais resultaram na adesão ao movimento mundial que culminou com a privatização de diversas empresas governamentais e a redução de sua participação na economia.
No que tange à influência, em alguns casos apenas houve uma mudança da forma de participação do Estado na economia e, mesmo com todo o movimento de reestruturação ocorrido na década de 90, alguns atores apresentam maior centralidade na economia nacional e, assim, influenciando-o como um todo. Tais atores podem exercer opções, colocar a venda posições acionárias e obter até privilégios em função das informações privilegiadas e das conexões políticas de seus gestores ou proprietários (Lanzzarini, 2011).
O governo, por ser o acionista majoritário nessas empresas, interfere para que as suas operações sejam alinhadas com as metas sociais e políticas de sua gestão. Tais ações visam o atingimento dos objetivos macros do governo por meio da nomeação de gestores com ligações políticas, como, por exemplo, o bem-estar social em detrimento da maximização do valor da companhia (Wu et al., 2012).
Na teoria moderna do portfólio verifica-se a necessidade dos investidores em buscar a diversificação do risco em seus investimentos, esta atitude acontece em decorrência do aspecto racional que eles assumem e como o ativo deve ser precificado e relaciona-se com o retorno esperado daquele investimento. O investidor almeja aproximar-se do risco em detrimento da incerteza, uma vez que, ele será ou não propenso ao risco a partir de seu perfil. Para administrar o risco existem alguns elementos: (a) Hedging; (b) Seguro; e (c) Diversificação (Carmona, 2009).
Segundo, Markowitz, (1952) a seleção de uma carteira de investimento é feita seguindo um procedimento dividido em duas etapas principais. Na primeira o investidor analisará as empresas/ativos que irão compor a carteira de investimentos a partir da observação e de sua experiência, na segunda etapa, ele buscará avaliar as expectativas futuras de retorno destes ativos pré-escolhidos. O autor desenvolve seu trabalho focado apenas na segunda etapa, uma vez que pressupõe que o investidor fez ou deveria ter feito tais análises que visam promover a maximização dos retornos esperados. As regras das relações entre crenças e escolha de portfólio de acordo com o retorno esperado e a variância dos retornos, são ilustradas geometricamente no modelo proposto pelo autor (Markowitz, 1952).
Nos seus estudos, Shefrin; Statman (2000) comparam a fronteira eficiente da BPT com a da média-variância de Markowitz, (1952), e encontraram que elas não coincidem, ou seja, as carteiras na fronteira eficiente BPT geralmente não estão na fronteira eficiente da média-variância. O que permeia a decisão de cada um dos grupos é bem diferente, enquanto os investidores de média-variância escolhem suas carteiras considerando a média e variância, os de BPT, utilizam como pilares basilares de sua escolha a riqueza esperada, desejo de segurança e potencial, níveis de aspiração, e as probabilidades de alcançar os níveis de aspiração. Elas ainda diferem dos que optam pelo CAPM, metaforicamente é o contrates das obrigações do seguro e da aquisição do bilhete da loteria (Shefrin & Statman, 2000).
Mtodo de investigao: Utilizou-se o método indutivo, com estratégia semiexperimental, o mesmo grupo respondeu a todas as etapas da pesquisa, e no decorrer desta, eles recebiam novas informações e eram questionados sobre a manutenção de sua decisão. Foram utilizadas as plataformas on line do Google Docs® para hospedagem do questionário e a do Youtube® para o vídeo. Os respondentes de todo o país, nas categorias de professores, estudantes e outros profissionais, das áreas de ciências contábeis, administração, economia e áreas afins.
Foram geradas duas situações de conexões segundo a literatura: (a) Relacionando a Empresa Beta ao financiamento de campanhas eleitorais, desde a década de 90, e mais fortemente na campanha de 2010 para presidência da república, onde financiara o partido vencedor e conseguiria contratos novos, que geraram um lucro acima do esperado após o início do governo. Diante destes fatos, analistas políticos, imaginam que provavelmente a empresa Beta será convocada a no próximo ano (2014) a financiar da campanha presidencial do partido (Claessens et al.,2008); e (b) A empresa Beta teve uma importante parcela de seu capital adquirida por dois fundos de pensões de empresas estatais (propriedade). A consequência desta aquisição é que, como na assembleia que acontecerá no próximo mês, estes dois fundos de pensões estatais irão indicar 50% do Conselho de Administração e a presidência da empresa. (Ang e Ding, 2006)
Nossa população foi de 408 (quatrocentos e oito) observações, sendo que a amostra final, teve um total de 308 (trezentos e oito) questionários. Esta amostra é considerada não probabilística, e se deu por acessibilidade a estes.
O modelo estatístico foi o Logit ou de regressão logística. As Variáveis do Modelo são: (a) Variável Dependente Mantenho no meu portfólio a empresa; (b) Variável Independente (Classificação Política, Filiação Partidária, Ajuda do Estado às empresas em dificuldade, O Estado como motor da economia, Ter indicado a empresa para o portfólio, Profissão); e (c) Variável DUMMYTer assistido ao vídeo com imagens de conexões políticas.
A regressão logística, o teste Hosmer e Lemeshow e o Count R² foram estimados com o auxílio do software estatístico Eviews 3.0®. Já as crosstabs da estatística descritiva, foram elaboradas a partir do software estatístico SPSS® versão 15.0 para Windows.
Resultados, concluses e suas implicaes: O perfil dos respondentes quanto ao tipo (aluno, professor ou outro profissional) e sua área de atuação, evidência uma predominância da área contábil, tal fato deve-se a ligação da área e programa contatados dos pesquisadores.
Outro ponto basilar do perfil relacionava-se com a percepção de como os inquiridos se classificavam politicamente, para referendar esta medida, questionou-se ainda se eles eram filiados a algum partido político. Como se verifica o maior público é apolítico e não filiado.
Verificou-se que em decorrência da postura “politicamente correta”, evidenciada por uma divisão bem equitativa e uma grande opção pelo apolítico nas respostas da Tabela 4, alguns dos respondentes poderiam responder o questionário de forma viesada, e não declarar a sua real preferência política, daí, buscando minimizar tal efeito, optou-se por questioná-los o que achavam das posturas do Estado relacionado com: (a) o auxílio à empresas em dificuldades financeiras; (b) e a ser o maior motor da economia. As respostas que foram obtidas no item, confirmaram a postura apolítica do grupo de respondentes e que fora verificado no quesito anterior.
Os resultados da regressão logística, estimada no software Eviews. Apreende-se do teste que o nível de significância do modelo é de 3.16E-05, ou seja, 0,0000316, apresentando-se com isso que pelo menos uma variável não é zero, daí ao analisar-se a 10%, verifica-se que as variáveis: (a) Classificação Política (CLAS); (b) Filiação Partidária (FIL); e (c) Indicar a Empresa sem Conhecimento da Conexão (IND), são significativas, a 10%, para o modelo. Enquanto as variáveis: (d) Ajuda do Estado à Empresas (AJU); (e) Respondente/Profissão (PROF); (f) Estado como motor da Economia (MOT); e (g) Dummy ter assistido ao vídeo (DUM_ASS) não foram significativas e apontaram para rejeição de H0.
Foi realizado ainda o teste Count R2, com base nos seus resultados pode-se afirmar que o modelo acertou 70,45% das previsões, errando apenas 29,55% delas, fato que, referenda o poder explicativo do modelo Logit, desenhado para a hipótese de pesquisa.
O teste de Hosmer-Lemeshow possui uma hipótese nula que pressupõe a não existência de diferença entre os valores previstos e observados, diante deste fato, a 8 graus de liberdade o modelo não rejeita H0, pois seu resultado foi 0,05 < 0.1879. Tal afirmação denota que o modelo desenvolvido é aderente aos dados
O estudo conclui que num primeiro momento imaginava-se que alguns fatores eram preponderantes e influenciariam a escolha dos analistas, daí, trabalhou-se no instrumento de pesquisa e incluem-se as variáveis: (a) Classificação Política (CLAS); (b) Filiação Partidária (FIL); (c) Indicar A Empresa Sem Conhecimento Da Conexão (IND), (d) Ajuda do Estado às Empresas (AJU); (e) Respondente/Profissão (PROF); (f) Estado como motor da Economia (MOT); e (g) Dummy ter assistido ao vídeo (DUM_ASS).
No entanto, o nível de significância utilizado a partir dos resultados da regressão logística aponta que apenas a classificação política, a filiação partidária e o fato de se ter indicado a empresa para participar do portfólio, foram estatisticamente significativas. E com base da teoria da propriedade que corrobora com o fato do respondente ter anteriormente indicado à empresa para compor sua carteira quando não havia informações que denotavam suas conexões políticas.
Chega-se ainda a conclusão de que a conexão política não é percebida pelas imagens de interações de políticos e empresários, mas pelas informações da mídia em geral, uma vez que o fato de ter assistido ao vídeo não influência o modelo.
Sugestão para próximas pesquisas: Buscar um público que seja do mercado, ou com um conhecimento prévio de finanças/mercado financeiro; Tentar avaliar adicionalmente as empresas por outros dados econômico-financeiros e não apenas pelas informações diretas induzidas.
Referncias bibliogrficas: ANG, James S. & DING, David K. (2006) Government ownership and the performance of government-linked companies: the case of Singapore. Journal of Multinational Financial Management, Columbia, v. 16, n. 1, p. 64-88.
CAMILO, Silvio P. O. Conexões políticas e desempenho das empresas listadas na BM&FBovespa: análise sob a ótica da governança e da dependência de recursos. 2011. 223 f. Tese (Doutorado em Administração e Turismo) – Univali, Biguaçu-SC, 2011.
CARMONA, Charles Ulises de Montreuil. (2009) Finanças Corporativas e Mercados. São Paulo: Atlas.
CLAESSENS, Stijn; FEIJEN, Erik; & LAEVEN, Luc. (2008) Political connections and preferential access to finance: the role of campaign contributions. Journal of Financial Economics, New York, v. 88, n. 3, p. 554-580.
LAZZARINI, Sérgio G. (2011) Capitalismo de laços: os donos do Brasil e suas conexões. 4. reimp. Rio de Janeiro: Elsevier.
MARKOWITZ, Harry. (1952) Portfolio Selection. The Journal of Finance, Vol. 7, No. 1. pp. 77-91.
SHEFRIN, H., STATMAN, M. (2000) Behavioral portfolio theory. Journal of Financial and Quantitative Analysis. 35 (2), 127–151.
WU, Wenfeng; WU, Chongfeng; RUI, Oliver M. (2012) Ownership and the value of political connections: evidence from China. European Financial Management, v. 18, n. 4, p. 695-729.
|