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Anais do XIV Congresso USP de Controladoria e Contabilidade
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RESUMO DO TRABALHO |
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Código: 487 |
Área Temática: Área III: Contabilidade Financeira |
Título: CONTABILIDADE, ECONOMIA E EFICIÊNCIA DA FIRMA: UMA ABORDAGEM POR MEIO DA ALAVANCAGEM OPERACIONAL |
Resumo: Propsito do Trabalho: Este artigo discute desempenho e eficiência econômica da firma associando reações do mercado com combinações de intervalos de Grau de Alavancagem Operacional (GAO) e intervalos de variações da receita liquida de vendas (DRLV), obtidas de pesquisa realizada nas demonstrações financeiras de 1996 a 2008, de 130 firmas brasileiras do segmento de manufatura, com observações estratificadas por trimestre. A pesquisa tem por objetivo testar empiricamente como, sob o controle da receita liquida de vendas, no mercado concorrencial, as percepções da economia e da contabilidade sobre o desempenho e eficiência econômica da firma podem convergir em determinado intervalo de GAO, e testa a proposição teórica de De França e Lustosa (2011), de que uma firma economicamente eficiente tem seu melhor desempenho com GAO na vizinhança de 2, que coincidiria com o argumento da teoria econômica de que firmas maximizam lucro no ponto em que a razão entre receita marginal e custo marginal é igual a 1. Partindo desse objetivo a pesquisa investiga em que nível de GAO o mercado sinaliza positivamente o desempenho ótimo da firma, utilizando técnicas regressivas para modelagem dos dados e testar hipóteses. Os resultados dos testes estatísticos sugerem reação inversa do mercado ao nível de GAO e melhor desempenho no intervalo de 1 a 4 (1<GAO≤4) com qualquer combinação de variação da receita líquida de vendas, mas o desempenho ótimo ocorre no intervalo de crescimento da receita líquida de vendas entre 0 a 15% (0<ΔRLV≤ 0,15). Contudo, a resposta dos testes é focada no segmento de manufatura em mercado concorrencial. A resposta para outros segmentos e estruturas de mercado depende de novos estudos.
Base da plataforma terica: A discussão do desempenho e da eficiência econômica da firma é provocada pela proposição teórica elaborada por De França e Lustosa (2011), de que uma firma tem seu melhor desempenho e é economicamente eficiente quando o seu GAO, obtido por meio do modelo GAO=1+F/π, sendo F os custos fixos e π o lucro operacional, estiver na vizinhança de 2.
A utilização do GAO tem a finalidade de sinalizar o nível de produção em que a firma maximiza o emprego de sua capacidade instalada (Eficiência Econômica) quando a relação entre Receita Marginal (RMg) e Custo Marginal (CMg) é igual a 1 (RMg/CMg = 1).
A teoria econômica (ver, por exemplo, Lovell, 1992; Cespedes, 2003; Schettine, 2010), revela que em determinado volume ascendente de produção a firma atinge seu máximo rendimento no ponto em que o custo marginal e a receita marginal são iguais e, consequentemente, o lucro econômico é nulo. A partir desse ponto a firma perde em eficiência, mostrando rendimento marginal negativo e rendimento acumulado decrescente. Em termos gráficos, a curva do rendimento acumulado atinge o máximo e a curva do custo total atinge o mínimo o que, em termos matemáticos, corresponde ao ponto de intersecção da curva de receita com a curva de custo, a partir do qual a derivada primeira da função receita total assume sinal negativo.
Eficiência neste contexto é o máximo resultado que a firma pode obter fazendo uso da capacidade instalada e demais recursos alocados. Desempenho, no mesmo contexto, é o máximo benefício esperado pelos agentes como resultado da eficiência, com base na reposta do mercado.
Neste artigo se reconhece que há diferenças entre os modelos de apuração do lucro utilizados pela contabilidade e pela economia, como sintetizado por Schroeder, Clark & Cathey (2005(. Essas diferenças são oriundas do reconhecimento dos custos implícitos pela economia que não são reconhecidos pela contabilidade, e pelo reconhecimento da receita de venda pela economia em função da produção, enquanto que a contabilidade só reconhece a receita pela venda do produto.
Na percepção da Contabilidade, para lucro positivo, é esperado que o GAO seja maior do que 1 (GAO > 1) e que, em escala crescente, haja um nível ou um intervalo de níveis de GAO que sinalize que a firma é economicamente eficiente pela maximização do uso da planta ou da capacidade instalada.
Na percepção da Economia é esperado que a máxima eficiência econômica ocorra no ponto em que a relação entre a receita marginal e o custo marginal seja igual a 1. Esse ponto, para a contabilidade, deve corresponder ao de menor nível de GAO, a partir do qual sua curva, em relação ao eixo horizontal, tem comportamento assintótico, sinalizando que a firma não poderá produzir uma unidade a mais sem que incorra em rendimento negativo.
Embora a atividade de produzir possa ser exercida por indivíduos e firmas, a abordagem da pesquisa somente contempla a produção por meio de firma. Firma, nesse amplo contexto, é entendida como uma entidade econômica destinada a produzir utilidades, sustentada pela geração de lucros positivos suficientes para remunerar o capital próprio e de terceiros, e ainda contribuir para promoção do bem-estar social (Henderson & Quandt (1971).
Mtodo de investigao: A modelagem é composta de equações, com a equação (1) identificando o custo variável da firma por meio de proxy, regredindo o Custo dos Produtos Vendidos (CPV) contra a Receita Líquida de Vendas (RLV); a equação (2) calcula o GAO por meio da divisão da Margem de Contribuição (MC) pelo lucro; a equação (3) processa a capitalização contínua do retorno da ação; por meio da equação (4) é calculada a variação da receita; e a equação (5) regride o retorno das ações contra as variáveis de controle (VI) e testa a aderência da reação do mercado à eficiência da firma.
Modelo de cálculo do custo variável trimestral por firma:
CPVit= β0i+ β1iRLVit+ εit (1)
Onde:
CPV = Custo dos Produtos Vendidos;
o = proxy para o Custo Fixo (CF);
1 = coeficiente angular que identifica o custo variável unitário;
RLV = receita líquida de vendas;
ε = termo de erro ≈ N (0 ; σ2];
i identifica a firma;
t identifica o trimestre;
Modelo de cálculo do GAO trimestral por firma:
GAOit = 1 + Fit/πit (2)
Onde:
it = lucro da firma no trimestre; e Fit = soma dos custos fixos, a partir da equação (1) com as despesas fixas totais da firma no trimestre, obtidas nas demonstrações financeiras publicadas;
Modelo de cálculo do retorno da ação.
Rit= ln(Pit/(Pit-1) (3)
Onde:
Rit = retorno trimestral da ação da firma i;
ln é o logaritmo natural; Ptit = preço da ação de uma firma no trimestre de referência; Ptit-1 = preço da ação da mesma firma no trimestre anterior.
Modelo para cálculo da variação da receita liquida da empresa, no trimestre, ∆RLV.
∆RLVit = (RLVit - RLVit-1)/RLVit-1 (4)
Onde:
RLVit = Receita Líquida de Vendas da firma no trimestre de referência; RLVit-1 = Receita Líquida de Vendas da mesma firma no trimestre anterior.
Modelo econométrico que testa o desempenho e a eficiência da firma
Ritj= β0 + β1VI1itj + β2VI2itj+ ….+ β9VI9itj+ ϵitj
Onde:
= coeficiente angular de cada variável independente; e VIitj = variável de controle que combina o intervalo de níveis de GAO com o intervalo de variações da RLV.
Resultados, concluses e suas implicaes: A Tabela 1 exibe coeficientes dos testes e estatísticas críticas das variáveis primárias da pesquisa, evidenciando a significância na associação do Retorno (R) com o GAO, sem controle da receita liquida, revelando que quando o GAO médio da amostra total aumenta (diminui) de 1 ponto, o retorno médio do conjunto de firmas da amostra aumenta (diminui) 0,39%, com confiança de 99%.
Tabela 1 - Resultado do teste de associação R com GAO e ΔRVL
Variable Coefficient Standard Error t-statistics Prob
GAO 0.0039 0.0011 3.5152 0.0004
Δ RLV 0.0146 0.0216 0.6753 0.4995
GAO* ΔRLV -0.0037 0.0060 -0.6207 0.5348
R-squared = 0.007182 R-squared adjusted= 0.006274 Durbin-Watson = 1.9415
A Tabela 2 apresenta os resultados dos testes das associações de R com as combinações de GAO e de ΔRLV, contra as quais R foi regredido. Os resultados contemplam a associação de três intervalos de GAO (1 ≤ GAO ≤ 4; 4<GAO ≤ 8; 8<GAO≤30) com três faixas de variação da receita liquida de vendas (ΔRLV≤ 0; 0<ΔRLV≤ 0,15; ΔRLV> 0,15).
As respostas às variáveis VI1 a VI3 sinalizam significância do teste com confiança de 90%, 95% e 99% de que o mercado reage positivamente ao desempenho de firmas com GAO compreendido entre 1 e 4 e receita liquida de vendas variando positiva ou negativamente. Contudo, questiona-se por que com crescimento negativo da receita liquida de vendas, o mercado reage positivamente ao desempenho da firma? O contraponto poderia ser que, na vizinhança da eficiência econômica, ainda haverá o equilíbrio marginal com resultado econômico nulo, sem prejudicar pequenas variações positivas ou negativas.
Em relação às respostas do mercado às variáveis VI4, VI5, e VI6, que associam os níveis de GAO de 4 a 8 com todos os intervalos de variação da receita líquida de vendas, o mercado reage positivamente ao desempenho de firmas com receita liquida de vendas crescendo positivamente até 15% (VI5) e não se mostra confiante no desempenho de firma com ΔRLV crescendo negativamente ou positivamente mais que 15%. A indagação agora é por que com GAO nessa faixa de variação mais alta o mercado ainda reage positivamente ao desempenho da firma? A hipótese provável é a proximidade do nível superior do primeiro intervalo de GAO com o nível inferior do segundo intervalo (4).
Tabela 2 - Resultado do teste de associação do R com o GAO sob controle da Receita Líquida de Vendas
Variable Coefficient Standard Error t-statistics Prob
VI1 -0.0421 0.0189 -2.2197 0.0265
VI2 0.2699 0.0694 3.8867 0.0001
VI3 0.0003 0.0002 1.7313 0.0835
VI4 0.0042 0.0269 0.1575 0.8748
VI5 0.1083 0.0631 1.7153 0.0864
VI6 0.0022 0.0180 0.1239 0.9014
VI7 -0.0113 0.0098 -1.1570 0.2473
VI8 -0.0060 0.0308 -0.1953 0.8452
VI9 -0.0053 0.0087 -0.6061 0.5444
R-squared = 0.0125 R-squared adjusted = 0.0089 Durbin-Watson =1.587
Os resultados apresentados nas Tabelas 1 e 2 são confortavelmente robustos porque o R-quadrado é inferior à estatística DW, evidenciando que a série é estacionária e os coeficientes de Pearson não mostram indícios de auto-correlação.
Com base nessas evidências, a pesquisa se posiciona da seguinte forma:
(a) no contexto da amostra o Retorno (R) das ações é inverso ao GAO, ou seja, quando o GAO aumenta de nível o retorno decresce em percentual, mostrando coerência entre eficiência e desempenho;
(b) o resultado do teste para GAO entre 1 e 4 (1GAO4), combinado com as variações de crescimento da receita liquida de vendas, positivo e negativo, mostra-se significativo com confiança de 90%, 95% e 99%, sugerindo que para qualquer nível de GAO no intervalo de 1 a 4 a firma é economicamente eficiente e a reação do mercado é de confiança no desempenho da firma;
(c) combinação de (4<GAO8) com (0<RLV0,15), em VI5, mostra eficiência econômica com confiança de 90% e o mercado sinaliza positivamente com menor grau de convencimento para desempenho da firma;
(d) demais combinações de GAO com variações da receita líquida de vendas os resultados sinalizam que não há eficiência e o mercado não confia no desempenho da firma.
Em síntese, o mercado reconhece que firmas com GAO entre 1 e 4, com vendas crescentes de até 15%, são mais eficientes, por estarem no pleno uso da sua capacidade instalada.
Referncias bibliogrficas: REFERÊNCIAS
De França, J.A., & Lustosa, P.R.B. (2011). Eficiência e Alavancagem Operacional sob Concorrência Perfeita: Uma Discussão com Base nas abordagens Contábil e Econômica, 14(3), 60-76.
Dugan, M. T., & Shriver, K. A. (1989). The Effects of estimation period, industry and proxy on the calculation of the degree of operating leverage. The Financial Review, 24 (1), 109-122.
Fare, R., Grosskopf, S., Norris, M., & Zhang, Z. (1994). Productivity growth, technical progress, and efficiency change in industrialized countries.The American Economic Review, 84 (1), 66-83.
Mas-Colell, A., Whinston, M. D., & Green, J. R. (1995). Microeconomic theory. New York: Oxford.
Pindyck, R. S., & Rubinfeld, D. L. (2010). Microeconomia. (7th.ed.). São Paulo: Pearson.
Schettine, D.C.D. (2010) Eficiência Produtiva da Indústria de Transformação nas Regiões Brasileiras: uma análise de fronteiras estocástica e cadeias espaciais de Markov. Tese de Doutorado, Programa de Pós-Graduação em Economia, Universidade de São Paulo, Brasil. 201p.
Schoreder, R. G., Clark, M. W., & Cathey, J. (2005). M. Financial accounting theory and analysis. (8th.ed.). USA: Wiley.
Van Horne, J.C., & Wachowich, J.M. (2008). Fundamentals of Financial Management. (13th.ed.). London; Prentice Hall, Inc.
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