Anais do XIV Congresso USP de Controladoria e Contabilidade
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RESUMO DO TRABALHO

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Código: 118

Área Temática: Área IV: Contabilidade Gerencial

Título: Relao entre Folga Organizacional e Inovao em Empresas da BM&FBovespa

Resumo:
Propsito do Trabalho:
A folga organizacional, entendida como a existência de recursos potenciais e reais superiores às necessidades operacionais, permite que a organização se adapte às mudanças ambientais. Nesta concepção, a folga pode se configurar como um impulsionar do processo de inovação organizacional. Todavia, a relação dos diferentes tipos de folga organizacional com atividades de inovação é uma lacuna a ser pesquisada. Assim, este estudo objetiva identificar a relação da folga absorvida, inabsorvida e potencial com a inovação de empresas de setores membros do ranking setorial de inovação do Índice Brasil de Inovação (IBI), listadas na BM&FBovespa. A relevância desta pesquisa está na sua contribuição teórica, dada a escassez de estudos envolvendo essas variáveis em âmbito nacional. Folga organizacional e inovação têm sido objetos de estudo em maior representatividade internacionalmente (Damanpour, 1991; Zajac, Golden & Shortell, 1991; Nohria & Gulati 1996; Geiger & Cashen, 2002; Geiger & Makri, 2006; Herold, Jayaraman & Narayanaswamy, 2006; Huang & Chen, 2010; Chen, Yang & Lin, 2013), do que em âmbito nacional (Dieguez-Barreiro, Sousa & Paulista, 2011; Quintas & Beuren, 2011). Também não se identificaram estudos que utilizaram como métrica o ativo intangível para mensurar a inovação e possíveis relações com medidas de folga. O estudo justifica-se ainda pela relevância do tema para as organizações, uma vez que contribui para uma possível criação de vantagem competitiva. Um indicador disso é o aumento de estudos sobre o ativo intangível no meio acadêmico e corporativo, principalmente devido ao cenário de convergência aos padrões internacionais de contabilidade, sustentado pela Lei n° 11.638/2007 e Lei n° 11.941/2009, e pelo Pronunciamento Técnico 04 – Ativos Intangíveis.

Base da plataforma terica:
A definição mais difundida para folga organizacional é a de Bourgeois III (1981, p. 30), parafraseada de Cyert e March (1963), caracterizando-a como “o ‘colchão’ de recursos potenciais e reais que faz com que as organizações possam se adaptar de forma satisfatória às inúmeras mudanças existentes ao meio em que estão inseridas, incluindo adaptações de estratégias perante o meio externo”. O estudo pioneiro de Bourgeois III (1981), complementado pelo de Bourgeois III e Singh (1983), embasaram grande parte das pesquisas sobre medidas de folga organizacional. Sender (2004) destaca três tipos de folga organizacional abordados na literatura: folga potencial, folga recuperável/absorvida e folga disponível/inabsorvida. A folga potencial refere-se à capacidade da empresa em obter recursos extras do ambiente, ou seja, às habilidades em criar recursos extraordinários perante o ambiente, por exemplo, capacidade de aumento de capital, empréstimo adicional ou investimento em ações no mercado (Bourgeois III & Singh, 1983; Moses, 1992; Cheng & Kesner, 1997). A folga recuperável/absorvida caracteriza-se por todos os recursos que em determinado momento foram absorvidos por uma entidade, e que podem ser recuperados por meio do incremento na eficiência, por exemplo, redução de despesas gerais (Moses, 1992; Herold, Jayaraman & Narayanaswamy, 2006). A folga disponível/inabsorvida, segundo Thomson e Millar (2001, p.66), “relaciona-se à folga líquida de recursos líquidos, podendo ser rapidamente alocada para melhorar a produtividade ou contribuir para o cumprimento de uma determinada meta”. Esses recursos ainda não foram assimilados ao design técnico da entidade, estando possivelmente relacionados a uma liquidez excedente (Bourgeois III & Singh,1983; Cheng & Kesner, 1997). No tocante ao processo de inovação, a folga organizacional, pode contribuir no desempenho da inovação, diminuir custos adicionais com inovação e criar uma cultura de experimentos. Entretanto, a folga também pode ser uma força negativa ao processo inovador, proporcionando riscos aos negócios, tornando-se um problema de agentes organizacionais (Keegan & Turner, 2002; Tan & Peng, 2003; Yang et al., 2009; Huang & Chen, 2010). Ao refletir sobre o significado de inovação, floresce a ideia de novidade ou até mesmo de renovação. Na terceira edição do Manual de Oslo, a inovação é caracterizada como o processo de implementação de um produto, bem ou serviço novo ou consideravelmente melhorado, ou até mesmo um processo ou um novo método organizacional nas práticas de negócios, seja no local de trabalho ou nas relações externas (Santos et al., 2012). Den Hertog, Bilderbeek e Maltha (1997) criticam a ideia de que a inovação está relacionada apenas com aspectos tecnológicos de fato. Os autores afirmam que os intangíveis já provaram que são essenciais à inovação. Kramer et al. (2011) foram além, relatando que os ativos intangíveis passaram a ser vistos como propulsores decisivos na inovação e também para a criação de conhecimento, e consequentemente, contribuindo para o crescimento econômico, intitulando-os como motores da inovação. Empresas com investimentos significativos em P&D podem desenvolver diferentes estruturas organizacionais a fim de agilizar o processo de inovação (Dahlander & Gann, 2010). As pesquisas que alcançam resultados positivos são capazes de proporcionar às empresas ativos intangíveis, tais como o registro de marcas e patentes de determinado produto. Santos et al. (2012) aduzem que as empresas de forte caráter inovador possuem intensivos investimentos em ativos intangíveis.

Mtodo de investigao:
Esta pesquisa descritiva teve como população empresas de setores membros do ranking setorial de inovação do Índice Brasil de Inovação (IBI). Nos setores indicados como inovadores na segunda edição do IBI, identificaram-se as companhias abertas. Das 551 empresas listadas na BM&F Bovespa, 208 estão classificadas em setores considerados inovadores no IBI. A amostra totalizou 112 empresas, as que apresentaram os dados necessários para a pesquisa. A coleta de dados para mensurar a folga organizacional foi realizada na base de dados da Economática®. Os dados financeiros relativos aos ativos intangíveis foram coletados mediante a utilização do sistema EmpresasNet e das informações disponibilizadas no site da BM&FBovespa. Nas Notas Explicativas das Demonstrações Financeiras Padronizadas dos anos de 2010, 2011 e 2012 foi coletada a composição dos ativos intangíveis de cada empresa. Esse conjunto de dados permitiu realizar o cálculo dos indicadores para identificar os tipos de folga organizacional e a inovação, como segue: (i) Folga Potencial = Patrimônio Líquido/Capital de Terceiros; (ii) Folga Disponível/Inabsorvida = Lucro Líquido - Dividendos/ Vendas (+) Disponível - Passivo corrente/ Vendas (-) Dividendos/ Patrimônio Líquido; (iii) Folga Recuperável/Absorvida = Despesas/ Vendas (+) Contas Receber/ Vendas (+) Estoques/ Vendas; (iv) Inovação = Composição dos ativos intangíveis. Nas medidas de folga aplicou-se o modelo estatístico dados em painel, para avaliar a relação dos tipos de folga organizacional com os intangíveis das empresas. Para a realização dos procedimentos estatísticos elaborou-se o seguinte modelo: INTANG = βo + β1FPOT +β2 FDISPON + β3FRECUP + β4 VARCONTROLE + ε. Em que: INTANG = Intangível; FPOT = Folga Potencial; FDISPON = Folga Disponível/Inabsorvida; FRECUP= Folga Recuperável/Absorvida; VARCONTROLE= Variáveis de Controle; ε = Termo de erro. Para restringir as relações entre as variáveis e de minimizar possíveis problemas de endogeneidade, os dados relativos ao porte das empresas e os respectivos grupos de inovação do IBI foram utilizados como variáveis de controle. Para o porte das empresas adotou-se a classificação do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social, que leva em consideração o faturamento bruto anual. Definido o modelo, os dados foram analisados quantitativamente com a utilização do software Statistics Data Analysis 12.0.

Resultados, concluses e suas implicaes:
Considerando a relação tanto positiva como negativa existente entre as medidas de folga organizacional e inovação (Nohria & Gulati, 1996; Wang & Cheng, 2009) e no pressuposto de que empresas com forte caráter inovador realizam volumosos investimentos em ativos intangíveis, além de se demonstrarem capazes de gerar vantagens competitivas que influenciam na sua criação de valor (Santos et al., 2012), este estudo analisou a relação da folga absorvida, inabsorvida e potencial com a inovação de empresas de setores membros do ranking setorial de inovação do Índice Brasil de Inovação (IBI) listadas na BM&FBovespa. Para as empresas da amostra pesquisada, o cálculo das medidas de folga organizacional revelou que a folga potencial foi a que mais se diferenciou. Em relação ao desvio padrão, a folga absorvida obteve a maior aproximação com a média dos indicadores de folga, e as folgas potencial e inabsorvida apresentaram desvios padrões semelhantes, o que demonstra uma maior variabilidade em torno da média. Na pesquisa documental relativa aos ativos intangíveis, observou-se a sua representatividade nos recursos investidos pelas empresas em inovação, demonstrando a contribuição dos ativos intangíveis no processo inovador, de geração de conhecimento e criação de valor para as empresas. Utilizando a técnica estatística dados em painel, foram realizados testes estatísticos para definir o modelo mais apropriado ao estudo. O primeiro teste realizado foi o estimador de efeitos fixos, seguido do teste de Breusch-Pagan e, por último, o teste de Hausman. Estes apontaram o modelo de efeitos aleatórios como o mais apropriado para verificar a relação entre os ativos intangíveis e as variáveis explicativas independentes. Nesse modelo, observou-se que 25,55% da variabilidade dos ativos intangíveis foi explicada pelas variáveis dependentes (folga potencial, absorvida e inabsorvida) e de controle. Esta informação e os valores do R² indicaram uma satisfatória adequação do modelo, permitindo inferir que a folga organizacional é capaz de impactar no nível de inovação das empresas estudadas. Com os resultados apresentados, assim como os do estudo de Sharfman et al. (1988) e Sender (2004), é possível afirmar que quanto maior o tamanho da empresa, maior será sua folga organizacional. Mais especificamente, os achados da pesquisa demonstram que quanto maior a folga potencial e a absorvida, mais inovadoras são as empresas. Já em relação à folga inabsorvida, os resultados demonstraram uma relação entre as variáveis menos expressiva, corroborando com as inferências de Greve (2007) e Vinces, Cepeda-Carrión e Chin (2012), que defendem que um alto nível de folga inabsorvida é capaz de gerar problemas no processo inovador e influenciar negativamente nos projetos de desenvolvimento. Conclui-se que os resultados apontam relação em maior grau da folga absorvida e da potencial e em menor grau da folga inabsorvida com a inovação das empresas pesquisadas. Os resultados desse estudo estão em consonância com os presentes na literatura, tais como os de Keegan e Turner (2002) e Tan e Peng (2003) que inferiram que a folga organizacional colabora com a inovação das organizações, reduzindo os custos adicionais com inovação e criando uma cultura de experimentos. No entanto, esses resultados estão limitados a constatação da folga organizacional determinada com base em indicadores financeiros, bem como a inovação consubstanciada nos registros em ativos intangíveis das empresas.

Referncias bibliogrficas:
Bourgeois III, L. J. (1981). On the measurement of organizational slack. Academy of Management review, 6(1), 29-39. Greve, H. R. (2007). Exploration and exploitation in product innovation. Industrial and Corporate Change, 16(5), 945–975. Keegan, A., & Turner, J. R. (2002). The management of innovation in project-based firms. Long Range Planning, 35(4), 367-388. Kramer, J. P., Marinelli, E., Iammarino, S., & Diez, J. R. (2011). Intangible assets as drivers of innovation: Empirical evidence on multinational enterprises in German and UK regional systems of innovation. Technovation, 31(9), 447-458. Sender, G. (2004). O papel da folga organizacional nas empresas: um estudo em bancos brasileiros. 2004. 226f. Dissertação de Mestrado, Universidade Federal do Rio de Janeiro, Rio de Janeiro, Brasil. Sharfman, M. P., Wolf, G., Chase, R. B., & Tansik, D. A. (1988). Antecedents of organizational slack. Academy of Management Review, 13(4), 601-614. Tan, J., & Peng, M. (2003). Organizational slack and firm performance during economic transitions: Two studies from an emerging economy. Strategic Management Journal, 24(13), 1249–1264. Vinces, J. C., Cepeda-Carrión, G., & Chin, W. W. (2012). Effect of ITC on the international competitiveness of firms. Management Decision, 50(6), 1045-1061.

 

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