Anais do XIV Congresso USP de Controladoria e Contabilidade
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RESUMO DO TRABALHO

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Clique para abrir o trabalho de código 247, Área Temática: Área III: Contabilidade Financeira

Código: 247

Área Temática: Área III: Contabilidade Financeira

Título: O Lado B do Insider Trading: Relevância, Tempestividade e Influência do Cargo

Resumo:
Propsito do Trabalho:
Nos mercados de capitais, para que haja a aloca��o eficiente de recursos entre os agentes superavit�rios e os deficit�rios � preciso que sejam dados "sinais" aos investidores de que aquele investimento poder� lhes render fluxos de caixa futuros que compensem o risco do investimento. Considerando a Hip�tese de Mercados Eficientes (Fama, 1970), os pre�os dos ativos devem refletir a qualquer momento todas as informa��es dispon�veis, de modo que o investidor possa avaliar se deve ou n�o comprar determinado ativo. Contudo, Fama (1970) relaxa essa hip�tese afirmando que um n�mero suficiente de investidores informados garante a efici�ncia dos pre�os. Em diversos mercados, a utiliza��o de informa��o privilegiada na negocia��oo de a��es (insider trading) � qualificada como uma pr�tica il�cita (Cohen, Malloy, & Pomorski, 2012). Isto porque uma de suas principais motiva��es � a obten��o de ganhos instant�neos com base em informa��es ainda n�o divulgadas ao p�blico em geral. Todavia, alguns mercados de capitais, como o norte-americano, possuem regulamenta��o espec�fica para controlar as negocia��es realizadas por insiders (h� tamb�m no Brasil, por�m mais branda). Nesse sentido, em conson�ncia com o modelo de "equil�brio do desequil�brio" de Grossman and Stiglitz (1980), considera-se o car�ter sinalizador das opera��es conduzidas por agentes internos, que podem ser �teis aos demais investidores por emitirem "sinais". Com base nisso, esta pesquisa objetiva analisar o impacto das negocia��es dos insiders nas decis�es dos investimentos em uma empresa fict�cia. Nesse sentido, tr�s hip�teses de pesquisa foram testadas, sobre a relev�ncia, a tempestividade e a influ�ncia dos cargos dos insiders nas decis�es de investimentos na companhia.

Base da plataforma terica:
A base te�rica da pesquisa considera que nem todas as informa��es s�o perfeitamente distribu�das entre os participantes do mercado de capitais, pois pode haver, mesmo ap�s o disclosure das informa��es, assimetria informacional entre quem produz a informa��o e quem a utiliza. Segundo Akerlof (1970), os negociadores tendem a negociar com base na informa��o que possuem sobre o ativo. Na vis�o do autor, o vendedor de um ativo possui maior conhecimento sobre suas qualidades e potencial, por essa raz�o, tende a vend�-lo acima do pre�o que ele realmente valeria, se o comprador possu�sse todas as informa��es sobre esse ativo. Sabendo disto, o comprador, como n�o disp�e de toda a informa��o para atestar sua qualidade, tende a comprar o ativo por um pre�o inferior �quele que ele valeria, se todas as informa��es estivessem dispon�veis ao mercado. Nesse cen�rio surge a assimetria informacional, que, no limite, levar� o mercado � sua extin��o. Por�m, conforme Akerlof (1970), a interfer�ncia governamental (no Brasil, a Comiss�o de Valores Mobili�rios) tem um papel fundamental na manuten�ao do mercado e no bem estar de todas as partes. No que se refere ao insider trading e a sua influ�ncia no pre�o das a��es, Grossman and Stiglitz (1980) propuseram um modelo te�rico no qual os pre�os das a��es refletem as informa��es dos agentes que utilizam recursos para obter tais informa��es (privilegiadas) com o objetivo de obter retornos anormais. Com base nesse modelo, as negocia��es desses agentes sinalizam boas ou m�s not�cias ao mercado. Assim, o poder informativo dos pre�os das a��es � diretamente proporcional � quantidade de investidores informados (volume de negocia��es informadas), ou seja, aqueles que consumiram recursos para obter informa��es privilegiadas. A teoria de Grossman and Stiglitz (1980) tem o mesmo fundamento de Akerlof (1970), onde quem tem melhores informa��es pode expropriar quem tem menos ou piores informa��es. Se o insider perceber que h� um potencial de valoriza��o do ativo, iniciar� um movimento de compra que lan�ar� o pre�o desse ativo para cima. Caso o insider perceba que h� um potencial de desvaloriza��o, iniciar� um movimento de venda, lan�ando o pre�o do ativo para baixo. Com base em Grossman and Stiglitz (1980), os insiders emitem sinais ao mercado, em forma de informa��es indiretas, sobre o desempenho futuro da empresa e outras informa��es que podem impactar os pre�os das a��es. Desta forma, quanto maior for o volume de negocia��es informadas, mais forte ser� esse efeito e mais informativos ser�o os pre�os. Como inicialmente todos os indiv�duos t�m as mesmas expectativas em rela��o a um determinado ativo (Grossman and Stiglitz, 1980), espera-se que os investidores avaliem o ativo de forma semelhante. � medida que um indiv�duo consome recursos para obter informa��es privilegiadas, ele mudar� suas expectativas em rela��o aos demais, e na medida em que ele for negociando, as informa��es, at� ent�o, privilegiadas, ser�o divulgadas ao mercado indiretamente. No limite, se houver um volume muito alto de negocia�es informadas, todos os investidores ser�o informados e n�o haver� assimetria informacional, muito menos motiva��o para consumir recursos para obter informa��es privadas, j� que os pre�os ser�o totalmente informativos.

Mtodo de investigao:
O instrumento de coleta de dados utilizado nesta pesquisa foi um question�rio com perguntas direcionadas em fun��o do objetivo do estudo. Sua escolha se deu tendo em vista a necessidade de alcance dos respondentes em diferentes localidades do pa�s em um curto espa�o de tempo. Por isso, ele foi elaborado e disponibilizado eletronicamente na plataforma do Survey Monkey durante 19 dias, entre os dias 30 de maio e 17 de junho de 2013. Foram criados dois tipos de question�rio, um com negocia��es normais e outro com negocia��es anormais, os quais foram enviados para os endere�os eletr�nicos de alunos, professores e coordenadores de cursos de gradua��o e p�s-gradua��o, al�m de profissionais de Administra��o, Ci�ncias Cont�beis, Economia e Ci�ncias Atuariais de todo o pa�s. Esse envio se deu aleatoriamente (de acordo com a base de emails em posso dos pesquisadores), de modo que metade dos respondentes pudessem acessar o question�rio Tipo I e a outra metade o Tipo II. Pelo email enviado, solicitou-se que as pessoas encaminhassem o question�rio para outros poss�veis participantes. Para analisar os dados coletados e testar se houve diferen�a nos pre�os atribu�dos �s a��es foram utilizados alguns testes estat�sticos, entre eles o teste de normalidade de Kolmogorov-Smirnov e de homocedasticidade de Levene. Se ambos os pressupostos fossem atendidos, utilizavam-se testes param�tricos: (a) F ANOVA e testes post hocs para analisar mais de dois grupos; ou (b) o teste t para duas amostras. Se os pressupostos n�o fossem atendidos, utilizavam-se testes n�o param�tricos para testar as hip�teses da pesquisa: (a) o teste Kruskal-Wallis e o Mann-Whitney, como post hoc dele, para analisar mais de dois grupos; ou (b) o teste de Mann-Whitney para analisar dois grupos. N�o foi preestabelecido nenhum n�vel de signific�ncia, pois o objetivo � comparar a signific�ncia das informa��es das negocia��es dos insiders. Desse modo, foram aceitos como significativos os p-valores entre 0,000 e 0,150.

Resultados, concluses e suas implicaes:
Os resultados da pesquisa apontaram que as negocia��es dos insiders s�o relevantes para as decis�es de investimentos dos demais investidores e, ainda, que a tempestividade dessas informa��es tamb�m exerce influ�ncia em tais decis�es, sendo as negocia��es anormais aquelas que t�m maior influ�ncia. Salienta-se a ratifica��o dos pressupostos de Grossman and Stiglitz (1980), na amostra analisada, pois a exist�ncia de insider trading sugeriu informatividade ao sistema de pre�os das a��es. Isso pode ser visto quando se compara os pre�os da empresa fict�cia Gross que possu�a informa��es das negocia��es dos insiders, pois quando a informa��o foi de compra, o pre�o da a��o subiu e, quando foi de venda, o pre�o da a��o desceu. N�o se pode perceber o mesmo movimento na empresa que n�o tem essas informa��es divulgadas (Lemon), visto que a m�dia dos pre�os n�o pode ser considerada estatisticamente diferente. A priori, era esperado que o efeito do cargo tivesse um impacto significativo na decis�o. Quando o indiv�duo respons�vel por um projeto que pode trazer bons lucros para a empresa comprou as a��es, ele deveria estar sinalizando ao mercado que o novo projeto poderia dar certo. Contudo, n�o foi encontrada diferen�a estat�stica entre os dois cargos, o que pode estar relacionado ao fato de um dos cargos ter grande relev�ncia (Diretor-Presidente) e o outro estar ligado a um projeto que poderia gerar fluxos de caixa no futuro. Talvez com a considera��o de um cargo de conselho, o resultado pudesse ser diferente. Contudo, no Brasil, n�o � poss�vel identificar as negocia��es individuais desses insiders. Dois pontos espec�ficos precisam ser exaltados. O primeiro � que os resultados permitem uma reflex�o sobre a regulamenta�oo do insider trading no Brasil, tendo em vista a inefici�ncia da legisla��o em vigor (Instru��o CVM n� 358/2002), pois possibilita o acesso �s informa��es com atraso. O segundo est� ligado aos resultados encontrados, que refor�am a import�ncia da transpar�ncia das negocia��es dos insiders, para que os participantes do mercado possam fiscalizar e controlar melhor as suas opera��es, bem como utilizar alguma estrat�gia de investimento baseada nos sinais dos insiders, destacando que o "lado B" do insider trading existe e que n�o pode ser ignorado. Por fim, ressalta-se que os autores desta pesquisa n�o defendem o insider trading ilegal, contudo n�o se pode negar que os insiders negociam as a��es das empresas onde eles trabalham e essas negocia��es podem conter informa��es importantes sobre o futuro da empresa. Por isso, destaca-se que este tema ainda precisa ser explorado com maior profundidade no Brasil, qualitativamente em pesquisas futuras, de modo a se repensar a forma de regulamenta��o desse fen�meno no mercado de capitais. Ainda, � importante ressaltar que os resultados aqui apresentados ficam limitados � amostra analisada, por�m, pode-se ter uma ideia geral do comportamento dos investidores, pela forma como a amostra est� caracterizada.

Referncias bibliogrficas:
Akerlof, G. A. (1970). The market for "lemons": quality uncertainty and the market mechanism. The Quarterly Journal of Economics, 84(3), 488-500. Cohen, L., Malloy, C., & Pomorski, L. (2012). Decoding inside information. The Journal of Finance, 67(3), 1009-1043. Fama, E. F. (1970). Efficient capital markets: a review of theory and empirical work. The Journal of Finance, 25(2), 383-417. Grossman, S.J., & Stiglitz, J.E. (1980). On the impossibility of informationally efficient markets. The American Economic Review, 70(3), 393-408.

 

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