Anais do XIV Congresso USP de Controladoria e Contabilidade
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RESUMO DO TRABALHO

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Clique para abrir o trabalho de código 510, Área Temática: Track III: Gênero, Raça e Sexualidade

Código: 510

Área Temática: Track III: Gênero, Raça e Sexualidade

Título: Como o Gênero pode afetar a Informação Contábil?

Resumo:
Propsito do Trabalho:
O presente artigo pretende discutir se existe rela��o entre a quest�o de g�nero e a qualidade da informa��o cont�bil que � divulgada pelas empresas abertas no Brasil. A discuss�o permeia a quest�o dos perfis comunitarista e contratualista entre mulheres e como esse perfil pode impactar o gerenciamento de resultado nas demonstra��es assinadas por essas contadoras. Os comunitaristas enxergam as corpora��es como institui��es poderosas com implica��es p�blicas substanciais (Millon, 1993). Assim, os comunitaristas podem encarar a publica��o dos n�meros cont�beis como a economia e a sociedade, e podem enxergar esse processo de forma diferente do contratualista. O conflito de interesses entre aqueles respons�veis pela elabora��o das demonstra��es financeiras e os seus usu�rios externos, que pode resultar em pr�ticas de gerenciamento de resultado, onde o respons�vel pela elabora��o das demonstra��es financeiras manipula o lucro divulgado ao exterior em prol de seus interesses individuais. O perfil comunitarista, ao se preocupar mais com a comunidade exterior � empresa pode ser respons�vel por menos gerenciamento de resultado e, como esse perfil � mais favor�vel �s mulheres, � poss�vel que empresas com contadoras apresentem menor gerenciamento de resultado. Por outro lado, � poss�vel considerar que o perfil comunitarista esteja relacionado com mais gerenciamento de resultado, ao entender que comunicar a realidade � construir a realidade (Hines, 1988). Assim, se existe a preocupa��o com a inser��o da empresa dentro da economia e da sociedade, � poss�vel que se manipule mais resultado de modo a apresentar uma situa��o saud�vel e evitar poss�veis fal�ncias e dist�rbios econ�micos.

Base da plataforma terica:
Os comunitaristas acreditam que a corpora��o tem responsabilidade social n�o somente com os shareholder mas com todos os stakeholders (Bradley et al, 1999). Enquanto a vis�o contratualista deriva da abordagem tradicional da literatura de governan�a corporativa que se embasa na teoria da ag�ncia e nos problemas associados com a separa��o entre propriedade e controle, a vis�o comunitarista envolve um foco mais amplo do relacionamento entre os v�rios stakeholders, e v� a organiza��o como uma entidade separada com direitos e responsabilidade como qualquer pessoa natural (Durden & Pech, 2006). A rela��o entre as vis�es comunitarista e contratualista e o g�nero � discutido por Sarra (2002). Para a autora, existe uma necessidade de uma voz feminista dentro do discurso de governan�a corporativa. O capital � largamente concentrado nas m�os de homens como um resultado de um processo hist�rico, cultural, econ�mico e pol�tico quanto � habilidade feminina de manter propriedade, o valor do trabalho feminino, e o papel de cuidadora que a mulher carrega na fam�lia e na sociedade. O comunitarismo e a economia social s�o alternativas ao modelo contratual, e s�o mais propensos encaixar as mulheres no ambiente corporativo. Essas alternativas acrescentam a no��o de responsabilidade social por cidadania corporativa e faz a liga��o entre os aspectos de pol�ticas p�blicas e leis privadas dentro da governan�a corporativa. O desenho de uma abordagem econ�mica e legal feminista � efici�ncia corporativa � intuitivamente atrativa, tomando o melhor dessas ideias e acrescentam valores �s corpora��es. Esse comportamento comunit�rio/individual pode estar refletido nas pr�ticas de gerenciamento de resultado. A literatura que versa sobre gerenciamento de resultados busca entender o motivo que leva os administradores a manipularem os lucros (e dados cont�beis), como eles fazem e as consequ�ncias desse comportamento, principalmente quando os objetos de estudo s�o as demonstra��es cont�beis (McNichols, 2000). Leuz et al (2003) menciona que os agentes internos da empresa, em uma tentativa de proteger seus benef�cios pr�prios (e consequentemente, aumentar seu bem estar), utilizam de m�tricas de gerenciamento de resultados para manipular a performance da empresa, escondendo dos agentes externos � empresa o real desempenho da mesma. Leuz et al (2003) apresenta algumas situa��es em que os agentes internos � empresa podem ter incentivos a adotar pr�ticas de gerenciamento de resultados. Os agentes internos podem exercer discricionariedade nas demonstra��es financeiras para superestimar lucros e esconder preju�zos. Ou ainda, podem utilizar da discricionariedade para criar reservas para per�odos futuros, reduzindo o lucro do per�odo, para compensar poss�veis preju�zos futuros, fazendo, portanto, o lucro reportado menos vari�vel do que seria a verdadeira performance da empresa. Dentre as diversas m�tricas de gerenciamento de resultados apontadas na literatura (Barth et al, 2008; Chen et al, 2010) as medidas de suaviza��o do resultado s�o umas das mais usadas. Essas medidas assumem que empresas que suavizam menos resultados exibem uma variabilidade maior nos lucros divulgados.

Mtodo de investigao:
Para prover ind�cios sobre as hip�teses do trabalho, foi comparado o n�vel de gerenciamento de resultado contido nas demonstra��es financeiras nos per�odos de 2011 e 2012 das empresas cujo respons�vel � uma contadora (g�nero feminino) com as empresas cujo respons�vel � um contador (g�nero masculino). Como proxie para o gerenciamento de resultado foi utilizado duas medidas de suzaviza��o de lucros, que medem a variabilidade desses lucros, controlando pelo ambiente econ�mico e pelos incentivos que a empresa t�m de reportar com transpar�ncias, na tentativa de isolar o efeito do perfil do contador. Menor vari�ncia nas mudan�as no lucro operacional � interpretada como evid�ncia de suaviza��o de resultados. Mas essas mudan�as s�o sens�veis a uma s�rie de fatores relacionados �s caracter�sticas das empresas, de modo que a medida usada aqui de variabilidade nos lucros � a vari�ncia dos res�duos de uma regress�o que associa a variabilidade do lucro com o tamanho, crescimento, estrutura de capital, auditoria e listagem em bolsa nos Estados Unidos. Em seguida, foi tamb�m utilizada outra medida de suaviza��o de resultados, baseada no quociente entre a variabilidade das mudan�as no lucro operacional pela variabilidade nas mudan�as no fluxo de caixa operacional. A ideia � que se as empresas usam accruals para gerenciar resultados, a variabilidade das mudan�as no lucro operacional deveria ser menor do que as do fluxo de caixa operacional (Barth, Landsman, & Lang, 2008). Assim, foi estimada outra regress�o que associa a variabilidade do fluxo de caixa operacional com as caracter�sticas da empresa. Os res�duos dessas regress�es � que representam a variabilidade das mudan�as no lucro operacional e no fluxo de caixa operacional, respectivamente. Uma vez apurados esses res�duos, foi feito o teste F para comparar a vari�ncia de cada grupo de res�duos divididos entre aqueles referentes a empresas com contadoras e aqueles referentes a empresas com contadores, para identificar se h� diferen�as significativas de suaviza��o de resultados que estejam relacionadas ao g�nero. As vari�veis usadas nas regress�es foram obtidas na base de dados Datastream da Thomson Reuters, e a identifica��o do g�nero do(a) contador(a) foi feita atrav�s do acesso da base de dados da base para a revista Exame Maiores e Melhores.

Resultados, concluses e suas implicaes:
Foram coletadas informa��es das empresas negociadas na BM&FBovespa para os anos de 2010 e 2011, totalizando 224 observa��es. Desse total, 54 observa��es se referem a empresas com contadoras, 24% da amostra, e 170 s�o de empresas com contadores do g�nero masculino. As Equa��es 1 e 2 foram estimadas atrav�s da t�cnica de regress�o linear e o teste F foi usado para identificar se as vari�ncias dos res�duos dessas regress�es s�o diferentes entre o grupo de empresas com contadoras e o grupo de empresas com contadores. A primeira m�trica, que mede a variabilidade das mudan�as no lucro operacional n�o apresentou diferen�as significativas (p-valor do teste F: 0,3194) entre os grupos divididos por g�nero. Mas a segunda m�trica sim (p-valor do teste F: 0,000), indicando que as mulheres fazem uso de accruals para suavizar os resultados reportados. Os resultados mostram evid�ncias de que as mulheres, no papel de contadora que assina as demonstra��es financeiras das companhias abertas brasileiras gerenciam resultado mais do que os homens no sentido de suavizar os lucros reportados ao mercado. Esse resultado sugere que a vis�o de Hines (1998) pode se aplicar a quest�o de g�nero dentro da contabilidade para usu�rios externos. Quando se acredita que a realidade � constru�da e que o(a) contador(a), ao informar ao mercado a situa��o econ�mica e financeira ele(a) est� na realidade construindo a realidade econ�mica e financeira n�o s� da empresa, mas do ambiente como um todo. Ou seja, a contadora pode estar preocupada com os poss�veis impactos negativos (desde dificuldades financeiras, fal�ncias at� crises) que a divulga��o de resultados abruptos pode gerar no mercado e, consequentemente, na economia e na sociedade, condizente com um perfil comunitarista. Esse resultado � apenas preliminar na quest�o da discuss�o de g�nero dentro da quest�o da informa��o cont�bil para o mercado. Primeiramente, outras m�tricas de gerenciamento de resultado, e outras proxies para se medir a qualidade da informa��o cont�bil podem ser usadas para relacionar a quest�o de g�nero com a informa��o cont�bil. E cada uma delas pode estar associada a um comportamento espec�fico das mulheres dentro do ambiente corporativo e, mais especificamente, dentro da contabilidade. E cada um desses comportamentos est� relacionado com a forma como homens e mulheres enxergam a contabilidade, para que e para quem ela serve. Essa quest�o ainda tem muito a ser explorada, tanto em termos quantitativos (mais empresas, mais per�odos, outras m�tricas), quanto em termos qualitativos, ou seja, buscar entender melhor como as mulheres e homens enxergam a contabilidade e como essa vis�o diferente impacta na produ��o da informa��o cont�bil.

Referncias bibliogrficas:
Millon, D. (1993). Communitarians, contractuarians, and the crisis in corporate law. Law Review, 50(4), pp. 1373-1393. Hines, R. (1988). Financial Accounting: in Communicating Reality, We Construct Reality. Accounting, Organizations and Society, 13(3), pp. 251-261. Bradley, M., Schipani, C. A., Sundaram, A. K., & Walsh, J. P. (1999). The purposes and accountability of the corporation in contemporary society: corporate governance at a crossroads. Law and Contemporary Problems, 62(3), pp. 10-86. Sarra, J. (2002). The Gender Implications of Corporate Governance Change. Seattle Journal for Social Justice, 1(2), pp. 457-502. McNichols, M. F. (2000). Research design issues in earnings management studies. Journal of Accounting and Public Policy, 19, pp. 313-345. Leuz, C., Nanda, D., & Wysocki, P. D. (2003). Earnings management and investor protection: an international comparison. Journal of Financial Economics, 69, pp. 505-527. Barth, M. E., Landsman, E. R., & Lang, M. H. (2008). International Accounting Standards and Accounting Quality. Journal of Accounting Research, 46(3), pp. 467-498.

 

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