Anais do XIV Congresso USP de Controladoria e Contabilidade
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RESUMO DO TRABALHO

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Clique para abrir o trabalho de código 154, Área Temática: Área III: Contabilidade Financeira

Código: 154

Área Temática: Área III: Contabilidade Financeira

Título: Estrutura de Propriedade e Investimentos em P&D: uma anlise nas companhias abertas do Brasil

Resumo:
Propsito do Trabalho:
A relação entre a estrutura de propriedade e os investimentos em P&D tem sido estudada à luz da Teoria da Agência. Os investimentos em P&D possuem características específicas que envolvem trade-offs temporais, já que são incorridos no curto prazo, com retornos prováveis somente em longo prazo, envolvendo, inclusive, riscos relativos à sua ocorrência (David, Hitt, & Gimeno, 2001), além que a decisão de investir em P&D pode diferir entre acionistas e gestores e entre acionistas minoritários e majoritários. Além disso, destaca-se que a identidade do acionista controlador pode estar relacionada com as decisões de investimentos em P&D, já que diferentes tipos de acionista controlador possuem distintos perfis quanto à alocação dos recursos da empresa, de modo a dar seguimento a objetivos específicos e particulares (Ortega-Argilés et al., 2005; Kim et al., 2008; Chen & Hsu, 2009; Zeng & Lin, 2011; Brossard et al., 2013). Destarte, sob os preceitos da Teoria da Agência, o estudo propõe o seguinte questionamento: Qual a relação entre a estrutura de propriedade e os investimentos em P&D nas empresas de capital aberto do Brasil? Para tanto, a hipótese geral defendida da pesquisa é que há uma relação entre a estrutura de propriedade e os investimentos em P&D. Nesse sentido, constitui objetivo geral do estudo analisar a relação entre a estrutura de propriedade e os investimentos em P&D nas empresas de capital aberto do Brasil. Para tanto, a amostra compreende 66 empresas de capital aberto do Brasil que possuem acionista controlador e divulgaram os investimentos em P&D nas Notas Explicativas no período compreendido entre 2009 e 2012. Para atender o objetivo geral, recorreu-se à Análise de Correspondência Múltipla e à Regressão Linear Múltipla com dados em painel.

Base da plataforma terica:
A Teoria da Agência, proposta por Jensen e Meckling (1976), afirma que gestores e proprietários possuem interesses e objetivos distintos. De um lado, o proprietário almeja a maximização do valor da empresa; do outro, o gestor atua na tomada de decisões estratégicas da empresa, baseadas em preferências pessoais, que não necessariamente coincidem com os interesses dos proprietários. Destarte, os conflitos de agência estão associados à estrutura de propriedade. Johnson e Greening (1999) e Chen e Huang (2006) defendem que a estrutura de propriedade tem forte influência sobre as decisões estratégicas da empresa, dentre as quais, destacam-se os investimentos em pesquisa e desenvolvimento (P&D), que são recursos complexos e com alta probabilidade de falhas (Baysinger et al., 1991; Wu, Levitas, & Priem, 2005), que são imediatos, requerendo alocação de grande volume de recursos, cujos retornos podem ocorrem somente após um grande lapso temporal, o que torna esses investimentos mais arriscados (Lee & O’Neill, 2003; Kor, 2006). Gul, Kim e Qiu (2008) afirmam que a concentração de propriedade pode influenciar as decisões da gestão sobre os investimentos em P&D, dependendo do tipo de efeito da concentração de propriedade: efeito alinhamento ou efeito entrincheiramento. Sob a perspectiva do efeito alinhamento, os acionistas podem ser menos avessos ao risco em matéria de inovação, já que a redução de um dos investimentos não afetará significativamente o valor total da carteira (Brossard et al., 2013). Por outro lado, os gestores não possuem os mesmos interesses, pois tendem a preferir estratégias de baixos riscos e com retorno imediato (David et al., 2006). Quanto ao efeito entrincheiramento, os acionistas controladores têm a oportunidade de desviar os recursos da empresa em detrimento dos acionistas minoritários, já que em mercados em desenvolvimento, como o Brasil, a proteção legal dos acionistas minoritários é baixa (La Porta et al., 1999; Claessens et al., 2002). Esse efeito de autobenefício por parte do acionista controlador pode ter uma repercussão negativa sobre os investimentos em P&D nas empresas (Zeng & Lin, 2011). A Teoria da Agência deve reconhecer que os acionistas não adotam as mesmas atitudes para a estratégia de inovação das empresas (Hoskisson, Hitt, Johnson, & Grossman, 2002). Para Monks e Minow (1995), devem-se considerar diferentes investidores como um grupo heterogêneo, com comportamentos diferentes em termos de diversificação de carteiras ou rotatividade de investimentos. Nesse sentido, acredita-se que as diferentes tipologias de investidores podem diferir entre si e possibilitar a compreensão da relação entre estrutura de propriedade e investimentos em P&D, argumento defendido, também, por Kim et al. (2008). Quanto às tipologias de investidor, Astrachan (2003) e Zahra (2005) anuem que as empresas familiares possuem fortes incentivos para investir em projetos de inovação tecnológica e desenvolvimento econômico. Em princípio, argumenta-se que a propriedade estatal possui forte incentivo para acompanhar as decisões tomadas pela gestão, reduzindo os custos de agência, o que gera efeitos positivos sobre os investimentos em P&D (Hess, Gnuasekarge & Hovey, 2010; Zeng & Lin, 2011). Alguns estudos têm demonstrado que a propriedade detida pelo investidor institucional influencia potencialmente os investimentos em P&D (Baysinger et al., 1991; Kochhar & David, 1996). Para Choe, Kho & Stulz (1999), os investidores estrangeiros tendem a ser equiparados aos investidores institucionais em termos de monitoramento das decisões dos gestores.

Mtodo de investigao:
A amostra da pesquisa reúne 66 empresas de capital aberto do Brasil, totalizando 264 observações. Os dados da pesquisa foram obtidos nas Notas Explicativas (investimentos em P&D), Formulário de Referência (estrutura de propriedade) e Demonstrações Financeiras Padronizadas das empresas, disponíveis no website da BM&FBovespa no período compreendido entre 2009 e 2012. Com base na literatura, o estudo levanta duas hipóteses: H1 – Há uma relação entre a concentração de propriedade e os investimentos em P&D; H2 – Há uma relação entre a identidade do acionista controlador e os investimentos em P&D; Para responder ao questionamento, aplicam-se a Análise de Correspondência Múltipla (ACM) e a Regressão Linear Múltipla com dados em painel. A ACM procurou verificar o inter-relacionamento dos investimentos em P&D com a estrutura de propriedade das empresas; para tanto, a identidade do acionista controlador foi classificada em familiar, estrangeira, institucional e estatal, e a concentração acionária e os investimentos em P&D foram classificadas em baixa, médio-baixa, médio-alta, e alta. Inicialmente, realizou-se o teste Qui-quadrado, que é pressuposto para a utilização da ACM. Posteriormente, realizou-se a Regressão Linear Múltipla com dados em painel, em que há a combinação do componente transversal, representado pelas 66 empresas da amostra, com o componente temporal, já que o período de análise é de 4 anos, totalizando 264 observações organizados em painéis balanceados. Para a consecução dos objetivos da pesquisa, foram desenvolvidos quatro modelos matemáticos, em que há uma equação correspondente a cada identidade de acionista controlador – familiar, estatal, estrangeiro e institucional – e sua concentração acionária. Ainda se utilizaram as variáveis de controle alavancagem, desempenho, tamanho e setor. Realizaram-se testes (LM de Breusch-Pagan e Hausman) para verificar qual a melhor abordagem para a representação dos dados em painel: pooled, painel de efeitos fixos ou efeitos aleatórios. Verificou-se que a abordagem adequada para a representação do conjunto de dados da amostra é a forma de efeitos aleatórios para as quatro equações representadas. O tratamento dos dados foi realizado mediante auxílio dos softwares SPSS® e Stata®.

Resultados, concluses e suas implicaes:
Sob os preceitos da Teoria da Agência, o presente estudo teve como objetivo analisar a relação entre a estrutura de propriedade e os investimentos em pesquisa e desenvolvimento (P&D) nas companhias de capital aberto do Brasil. Para tanto, foram analisadas as empresas de capital aberto listadas na BM&FBovespa que divulgaram em suas Notas Explicativas os investimentos referentes a P&D, bem como as empresas que possuíam acionista controlador, para a caracterização do tipo de acionista controlador, referente ao período compreendido entre 2009 e 2012. Através dos resultados da Análise de Correspondência Múltipla (ACM), verificou-se que há relação entre os investimentos em P&D e os aspectos da estrutura de propriedade (concentração acionária e a identidade do acionista controlador). Dentre os achados, convém destacar que as empresas sob controle estrangeiro possuem alta concentração acionária, contudo apresentam altos investimentos em P&D. Ressalta-se que resultado semelhante fora encontrado para empresas sob controle familiar. No que tange à análise de regressão com dados em painel, foi possível verificar que a concentração acionária não se mostrou um fator influenciador dos investimentos em P&D. Quanto à identidade do acionista controlador, foi possível verificar que a presença de acionista controlador estrangeiro ou estatal influencia os investimentos em P&D. Adicionalmente, foram encontradas evidências empíricas do efeito de características como o tamanho e o setor de tecnologia da informação como atributos que podem, de fato, influenciar os investimentos em P&D. De modo geral, foi confirmada a hipótese de que a estrutura de propriedade influencia os investimentos em P&D no contexto das empresas brasileiras, haja vista que a concentração acionária, bem como a participação do acionista controlador estrangeiro ou estatal não se mostraram significantes em nenhum dos modelos propostos. Ressalta-se que este estudo se insere no escopo de pesquisas que procuram fundamentar-se nos preceitos da Teoria da Agência e tentam trazer, especificamente, evidências empíricas do possível efeito da estrutura de propriedade nos investimentos em P&D, principalmente em mercados emergentes, como o Brasil. Sob os pontos de vista teórico e prático, compreender a relação entre a estrutura de propriedade e os investimentos em P&D possibilita que pesquisadores e profissionais possam perceber as decisões dos gestores, principalmente no que concerne aos investimentos em P&D, que podem ser influenciadas a partir de diferentes configurações da estrutura de propriedade, esta, por sua vez, potencializada em mercados emergentes. Por fim, ressalta-se que as conclusões desta pesquisa não podem ser generalizadas, visto que o estudo apresenta algumas limitações. Sugere-se a realização de pesquisas que tenham o caráter comparativo da relação entre a estrutura de propriedade e os investimentos em P&D entre países desenvolvidos e países em desenvolvimento, já que a literatura defende maiores níveis de investimento em inovação nos países desenvolvidos.

Referncias bibliogrficas:
Barker III, V. L., & Mueller, G. C. (2002). CEO characteristics and firm R&D spending. Management Science, 48(6), 782-801. Baysinger, B. D., Kosnik, R. D., & Turk, T. A. (1991). Effects of board and ownership structure on corporate R&D strategy. Academy of Management Journal, 34(1), 205-214. Brossard, O., Lavigne, S., & Sakinç, M. E. (2013). Ownership structures and R&D in Europe: the good institutional investors, the bad and ugly impatient shareholders. Industrial and Corporate Change, 22(4), 1.031-1.068. Jensen, M. C., & Meckling, W. H. (1976). Theory of the firm: managerial behaviour, agency costs and capital structures. Journal of Financial Economics, 3(4), 305-360. Kim, H., Kim, H., & Lee, P. M. (2008). Ownership structure and the relationship between financial slack and R&D investments: evidence from Korean firms. Organization Science, 19(3), 404-418. Lee, P. M., & O’Neill, H. M. (2003). Ownership structures and R&D investments of US and Japanese firms: agency and stewardship perspectives. Academy of Management Journal, 46(2),212-225. Ortega-Argilés, R., Moreno, R., & Caralt, J. S. (2005). Ownership structure and innovation: is there a real link? The Annals of Regional Science, 39(4), 637-662. Zeng, T., & Lin, H. (2011). Ownership structure and R&D spending: evidence from China's listed firms. Chinese Management Studies, 5(1), 82-93.

 

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