Anais do XIV Congresso USP de Controladoria e Contabilidade
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RESUMO DO TRABALHO

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Código: 109

Área Temática: Área IV: Contabilidade Gerencial

Título: Aplicao do Princpio da Controlabilidade como Mediador de Conflito e Ambiguidade de Papis e o Desempenho Gerencial

Resumo:
Propsito do Trabalho:
O princípio da controlabilidade propõe que os gestores só devem ser avaliados por fatores que estão sob seu controle na organização. A avaliação de desempenho dos gestores sem a aplicação desse princípio pode resultar em percepções injustas, por lhes atribuir a responsabilidade sobre fatores que não tenham controle. Isso pode influenciar negativamente na motivação dos gestores e desencadear conflito e ambiguidade de papéis. Assim, este estudo objetiva verificar a relação entre o princípio da controlabilidade e o conflito e ambiguidade de papéis no desempenho gerencial, na percepção de gestores de alto, médio e baixo níveis hierárquicos de uma cooperativa de produção com gestão por unidades de negócios. Apesar do princípio da controlabilidade ser abordado há bastante tempo na literatura internacional (Choudhury, 1986; Merchant, 1987; Antle & Demski, 1988; Arya, Glover & Radhakrishnan, 1998; Huffman & Cain, 2000; Merchant & Van der Stede, 2007; Burkert, Fischer & Schaffer, 2011; Langevin & Mendoza 2010; 2013), no Brasil identificaram-se apenas algumas pesquisas que investigaram a aplicação deste princípio em organizações (Aguiar, Teixieira, Nossa & Gonzaga, 2012; Angonese & Beuren, 2012). Este estudo, fundamentado na pesquisa realizada por Burkert et al. (2011) com gestores de empresas da Alemanha, busca contribuir na perspectiva teórico-empírica ao verificar em que medida o princípio da controlabilidade atua como mediador em um ambiente em que o conflito e a ambiguidade de papéis tendem a ser mais contundentes. Conforme Albuquerque (1996), as cooperativas são mais propensas à existência de conflito de papéis devido ao seu cunho social, em que os sócios são também proprietários, trabalhadores e produtores e, por essa razão, os papéis que desempenham tendem a se confundir.

Base da plataforma terica:
O princípio da controlabilidade, de acordo com Giraud, Langevin e Mendoza (2008), estabelece que os gestores só devem ser avaliados nos aspectos que estão sob seu controle. Merchant (1987) afirma que é quase uma obviedade que na avaliação de desempenho do gestor não deve ser levado em consideração algo fora do controle da sua divisão. Bisbe, Batista-Foguet e Chenhall (2007) explicam que o princípio da controlabilidade depende de duas dimensões para ser determinado: a) sensibilidade nas medidas de desempenho; b) precisão nas medidas de desempenho. Uma das justificativas para a aplicação do princípio da controlabilidade, segundo McNally (1980), é o conflito e ambiguidade de papéis, que advém do acesso ou autoridade limitada para exercer sua função, fatores que podem ser minimizados com a aplicação do referido princípio. Katz e Kahn (1964) salientam que cada pessoa na organização está ligada a um conjunto de membros e que cada membro deste conjunto detém uma expectativa de papel sobre a pessoa que está no foco do grupo. De acordo com esses autores, tais expectativas referem-se a atividades que lhe são exigidas. As complicações que permeiam tais expectativas derivam do fato de que nas organizações, conforme Katz e Kahn (1964), os membros de um grupo estão frequentemente em desacordo com relação ao que a pessoa em foco deve fazer, o que pode resultar em conflito de papéis, como: incompatibilidade entre várias funções realizadas pela pessoa e incompatibilidade entre as exigências de papéis e valores da pessoa que os desenvolve. McNally (1980) explica que o conflito de papéis pode ocorrer quando um gestor tem acesso limitado a recursos para desenvolver suas atividades ou informação insuficiente para tal; enquanto que ambiguidade de papéis pode ocorrer quando o gestor não é capaz de antecipar as consequências de sua ação ou também quando não possui informação que o oriente a respeito do comportamento adequado. Ashforth e Mael (1989) ressaltam que nas organizações existem grupos de trabalho dentro dos departamentos e que os papéis a serem desenvolvidos podem ser conflitantes entre eles, ainda mais se pertencerem a níveis hierárquicos diferentes. Para minimizar tais conflitos é essencial a definição de qual papel é mais importante a ser desempenhado e assim receber uma classificação de prioridade. Por sua vez, a ambiguidade de papéis acontece quando as especificações de uma função não estão bem definidas, quando seus objetivos e formas de realização são obscuras e ambíguas, assim a pessoa incumbida de desempenhá-la não é capaz de realizá-la de acordo com as expectativas (Kahn et al., 1964). Rizzo, House e Lirtzman (1968), Mcnally (1980), Burkert et al. (2011) apontam que o desempenho gerencial, ou seja, a qualidade das decisões tomadas, a perfeita execução das tarefas, alta criatividade e liderança, podem ser afetadas negativamente pela ambiguidade e conflito de papéis, já que estes causam desmotivação e afetam a capacidade de realização das tarefas. De acordo com Burkert et al. (2011), as expectativas de papéis que são confiados ao gestor estabelecem fortes pressões no desempenho de suas funções. Estas podem provocar no gestor uma sensação de incapacidade para a realização de suas atividades, ocasionando o conflito e a ambiguidade de papéis. Esses autores destacam que o conflito e a ambiguidade de papéis, em consonância com a teoria dos papéis, relacionam-se com o princípio da controlabilidade, uma vez que esta teoria considera a posição hierárquica e a definição da autoridade do gestor como fatores preponderantes para a percepção dos papéis.

Mtodo de investigao:
Esta pesquisa descritiva com abordagem quantitativa foi realizada por meio de um levantamento junto aos gestores de uma das maiores cooperativas agroindustriais do Brasil, com unidades de negócios disseminadas na região Centro-Sul. A seleção da cooperativa se deu em razão de sua estrutura organizacional, que é composta por diversas unidades de negócios e por possuir gestores de alto, médio e baixo níveis hierárquicos, estrutura ideal para esta pesquisa. A percepção dos gestores da cooperativa foi capturada com a aplicação de um questionário, fundamentado no seguinte construto: a) Princípio da Controlabilidade, aferido por Fatores incontroláveis, Medidas de desempenho, Precisão nas medidas de desempenho e Sensibilidade nas medidas de desempenho; b) Ambiguidade de Papéis, decomposto em Autoridade, Clareza, Responsabilidade e Confiança no superior (variável de controle); c) Conflito de Papéis, mensurado pela Definição de tarefas, Incompatibilidade de tarefas, Infração às regras, Falta de recursos, Trabalho desnecessário e Confiança no superior (variável de controle); d) Desempenho Gerencial, medido pelo Planejamento, Investigação, Avaliação, Supervisão, Pessoal, Negociação, Representação e Nível hierárquico. O instrumento de pesquisa foi direcionado aos gestores de alto, médio e baixo níveis hierárquicos de todas as unidades organizacionais da cooperativa. Na coleta dos dados, aplicou-se o questionário traduzido do estudo de Burkert et al. (2011), composto de 39 assertivas, medidas por escala do tipo Likert de sete pontos, modificadas conforme as variáveis que os autores pretendiam mensurar na pesquisa. O envio do questionário aos gestores das unidades de negócios foi realizado pelo Google Docs, no período de agosto a outubro de 2013, sendo que na primeira rodada do envio do questionário obtiveram-se 29 respostas, na segunda 14 e na terceira 7. Dos 50 questionários recebidos, todos foram validados para fins de análise. Na análise dos dados utilizou-se o método das equações estruturais (Structural Equation Modeling - SEM), baseado nos mínimos quadrados parciais (Partial Least Squares - PLS), seguindo-se os seguintes passos: testes para validação e adequação do modelo e análises de relações entre os construtos. Em seguida, migraram-se os dados para o software SmartPLS para as análises do modelo de mensuração e do modelo estrutural.

Resultados, concluses e suas implicaes:
A análise descritiva do estudo demonstrou que a organização pesquisada aplica o princípio da controlabilidade, porém em níveis moderados. Observou-se ainda que há uma preocupação em fornecer informações que possibilitam a correta execução das tarefas, impedindo a existência de ambiguidade de papéis. No quesito desempenho gerencial, os gestores demonstraram um alto nível de envolvimento e comprometimento com as atividades de gestão organizacional. Contudo, constataram-se níveis relativamente altos de conflito de papéis, o que indica que há divergência entre as tarefas exigidas e a pessoa que deve executá-las. O efeito mediador do conflito e ambiguidade de papéis em relação ao desempenho gerencial apresentou-se de forma não significante, conforme a análise dos dados realizada. Esses resultados divergem do estudo de Burkert et al. (2011), que apresentou significância em relação a essas variáveis. A divergência pode ter sido ocasionada pelo fato do ambiente dessa pesquisa ser focado em apenas uma cooperativa, enquanto que aquele estudo compreendeu uma amostra de empresas de marketing. Pela análise das hipóteses formuladas, tem-se que o princípio da controlabilidade não está associado com a ambiguidade de papéis na cooperativa, ou seja, não há evidências de que os gestores tem responsabilidades para além daquelas que lhe são impostas. Também não há relação entre o princípio da controlabilidade e o conflito de papéis, indicando que na cooperativa não existe esse conflito de papéis entre os gestores, cada um tendo responsabilidade sobre suas obrigações. Os resultados mostram ainda que a ambiguidade de papéis está associada ao desempenho do gestor, o que coaduna com os achados de Burkert et al. (2011). Infere-se que para os gestores da cooperativa, a existência de informações e autoridade para a elaboração de suas tarefas é mais importante do que serem avaliados somente por fatores que estão sob seu comando. A falta de informações ou autoridade por parte dos gestores afeta o seu desempenho gerencial. Todavia, não foi constatado efeito significante entre o conflito de papéis e o desempenho gerencial dos gestores, confirmando os resultados de Burkert et al. (2011). Portanto, o conflito de papéis entre os gestores não afeta o desempenho gerencial da cooperativa. Os resultados mostram que os efeitos diretos do conflito e ambiguidade de papéis no desempenho gerencial não são significantes, mas a ambiguidade de papéis consta como mediadora entre a aplicação do princípio da controlabilidade e o desempenho gerencial. Observou-se ainda que não há relação significativa entre conflito de papéis e confiança no superior, ou seja, a confiança não é afetada diante de possíveis conflitos. Outro aspecto contatado é que o nível hierárquico dos gestores é moderado pelas relações entre aplicação do princípio da controlabilidade, conflito e ambiguidade de papéis. Os resultados mostram uma forte moderação do nível hierárquico baixo dos gestores sobre a relação entre aplicação do princípio da controlabilidade, conflito e ambiguidade de papéis, mas não se encontrou relação significativa para o nível alto, já para o nível médio apresentou baixa significância. Portanto, o nível hierárquico médio de gestores da cooperativa pesquisada não é influenciado pelo conflito e ambiguidade de papéis. Mas no nível hierárquico baixo houve significância, demonstrando que é influenciado pelo conflito e ambiguidade de papéis, ao contrário do nível alto, em que não foi constatada significância estatística. Assim conclui-se que o princípio da controlabilidade e o conflito de papéis não estão associados com o desempenho gerencial, apenas a ambiguidade de papéis mostrou-se significativamente associada. A aplicação do princípio da controlabilidade em termos de ambiguidade só é significativa e relevante estatisticamente para os gestores de baixo nível hierárquico, diferente do estudo de Burkert et al. (2011) que observou significância também para os gestores de médio nível hierárquico. As diferenças constadas em relação aos resultados do estudo de Burkert et al. (2011) se revelam um campo aberto para futuras pesquisas.

Referncias bibliogrficas:
Burkert, M., Fischer, F. M., & Schäffer, U. (2011). Application of the controllability principle and managerial performance: the role of role perceptions. Management Accounting Research, 22(3), 143-159. Giraud, F., Langevin, P., & Mendoza, C. (2008). Justice as a rationale for the controllability principle: A study of managers’ opinions. Management Accounting Research, 19(1), 32-44. Kahn, R. L., Wolfe, D. M., Quinn, R. P., Snoek, J. D., & Rosenthal, R. A. (1964). Organizational stress: studies in role conflict and ambiguity. New York: John Wiley. McNally, G. M. (1980). Responsibility accounting and organizational control: some perspectives and prospects. Journal of Business Finance & Accounting, 7(2), 165-181. Merchant, K. A. (1998). Modern management control systems: text and cases. New Jersey: Prentice Hall. Merchant, K. A., & Van der Stede, W. A. (2007). Management control systems: performance measurement, evaluation and incentives. Pearson Education. Onyemah, V. (2008). Role ambiguity, role conflict, and performance: empirical evidence of an inverted-U relationship. Journal of Personal Selling and Sales Management, 28(3), 299-314. Rizzo, J. R., House, R. J., & Lirtzman, S. I. (1968). Role conflict and ambiguity in complex organizations. Administrative Science Quarterly, 13(1), 65-105.

 

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