Resumo:
Propsito do Trabalho:
A sustentabilidade envolve a renovação da estratégia organizacional (Hart, 1995), acompanhada da criação de novas práticas de cálculo, que direcionam a contabilização e divulgação de sustentabilidade corporativa (Adams & Whelan, 2009). Acompanha-se a essa renovação o surgimento de paradigmas alternativos para a maximização de lucros financeiros, como no conceito da “tripple bottom line” (TBL), que integra critérios econômicos, sociais e ecológicos (Elkington, 1997). As questões de Responsabilidade Social Corporativa (RSC) vinculam-se à temática de sustentabilidade, afirmando que um modelo de negócios que se centraliza na criação de valor irá permitir que conceitos de RSC sejam embasados dentro da estratégia ou do nível social da empresa (Wheeler et al., 2003).
Porém, aponta-se que os gestores possuem dificuldades em utilizar os Sistemas de Controle Gerencial (SCGs) no sentido de promover melhorias na RSC e que são necessários estudos que auxiliem e aperfeiçoem a integração entre SCGs e RSC. Desse modo, faz-se importante a realização de um levantamento mais recente de publicações no sentido de averiguar se estas novas pesquisas estão se preocupando em expor novas técnicas de controle gerencial sustentável, relacionando o uso dos Sistemas de Controle Gerencial como ferramenta de implementação e controle de melhores níveis de Responsabilidade Social Corporativa nas empresas. O objetivo deste estudo foi realizar um levantamento bibliográfico em periódicos internacionais de alto prestígio na área de Contabilidade, sobre trabalhos realizados abordando RSC e SCG. Por meio dessa pesquisa, objetiva-se ainda a obtenção de uma visão mais detalhada sobre a visão de diferentes pesquisadores de Contabilidade relacionadas a este tema.
Base da plataforma terica:
O campo de pesquisa em contabilidade gerencial tem se expandido desde o início da década de 1980, com o surgimento de novos tópicos de estudo e de novos periódicos com foco exclusivo na área, convidando para o exame desse fenômeno em múltiplas perspectivas (Hesford et al., 2007). As pesquisas mais inovadoras em contabilidade gerencial têm demonstrado diversos raciocínios por trás da prática da contabilidade gerencial; a variedade de maneiras e finalidades em que é utilizada; o potencial das tecnologias de contabilidade gerencial e a natureza imprevisível, não linear, e socialmente integrada de suas mudanças (Baxter & Chua, 2003).
Os sistemas de gestão de sustentabilidade apresentam o maior nível de atividades necessárias para que haja progresso no sentido do desenvolvimento sustentável. Atingir estes objetivos demanda uma mudança na postura e filosofia empresarial (Glavič & Lukman, 2007). Por isso o papel da estratégia é fundamental para a implementação e manutenção da RSC nas empresas.
De acordo com Holme (2010), ao desenvolver sua estratégia, a organização enfrenta escolhas. E ao realizar essas escolhas, ela alcança uma posição única, toma caminhos diferentes de seus competidores. Assim, o uso estratégico da responsabilidade social corporativa deixa de ser apenas uma prática de boa cidadania empresarial e de mitigar consequências danosas resultantes da atividade corporativa, tornando-se uma integração de benefícios sociais e de negócios que traz vantagem competitiva.
A sustentabilidade tem sido incorporada às preocupações da contabilidade gerencial desde os anos 70, com enfoque em ações afirmativas e oportunidades iguais. Mas como as pesquisas naquela época haviam se desenvolvido pela robustez da economia, tornaram-se menos expressivas com o declínio dos lucros das empresas (Birnberg, 2009). Mais recentemente observa-se um retorno da temática como interesse aos pesquisadores da área: a mensuração de questões e objetivos não-financeiros têm se tornado cada vez mais relevante uma vez que questões sociais e ambientais recebem a atenção de vários grupos de stakeholders (Hansen & Schaltegger, 2012).
O assunto da Reponsabilidade Social Corporativa, que se tornou de novo um tópico de pesquisa, liga conceitos como comportamento socialmente responsável e eficiência energética a ações que promovem sustentabilidade em longo prazo. Porém, a maioria dos artigos dessa área aparece significativamente em periódicos que não são de contabilidade, ou então com maior frequência somente em periódicos europeus (Birnberg, 2009).
Um modelo ou abordagem que possa capacitar as empresas a avaliar a adaptabilidade da RSC em nível organizacional ou em projetos específicos facilita a implementação da RSC e promove uma tomada de decisão racional neste sentido (Weber, 2008).
Gond et al. (2012), a partir de uma revisão literária extensiva, desenvolvem um pacote de Sistemas de Controle Gerencial utilizados para a formulação ou apoio de estratégias e que podem ser adaptados para a sustentabilidade. Este pacote é utilizado na classificação de artigos proposta neste trabalho, e divide os SCGs entre as classes: Planejamento Estratégico, Orçamento, Sistemas de mensuração financeira, Sistemas de mensuração não financeira, Sistemas híbridos de mensuração e Mecanismos de análise de remuneração.
Mtodo de investigao:
A pesquisa preocupa-se em diagnosticar se os temas já delimitados são uma preocupação de pesquisa relevante. Por isso, dado o alto número de publicações internacionais na área, faz-se necessária uma seleção daquelas que são mais influentes e possuem maior prestígio e relevância entre a comunidade acadêmica contábil internacional.
Vieira e Gomes (2011) estabelecem que a contagem de citações tem sido usada para avaliar o desempenho científico dos documentos publicados em um dado periódico. Assim, as opções de indicadores de qualidade de periódico que foram consideradas para este trabalho, baseados na contagem de citações, são o Impact Factor, o SCImago Journal Rank (SJR) e o Source Normalized Impact per Paper (SNIP). Dessas opções, foi escolhido o SJR, pois é uma medida não só de popularidade, como também de prestígio, levando em conta o efeito que a qualidade e reputação de um periódico causam em outros (González-Pereira et al., 2010). O SJR corrige as principais deficiências do impact fator, por descontar benefícios excessivos de autocitações, estabelecendo uma porcentagem máxima de trabalhos de mesmos autores que podem ser inclusos no cálculo (Colledge et al., 2010). Assim, a aplicação da classificação dos periódicos de Contabilidade em ordem de SJR, na base de dados SCOPUS, trouxe o resultado final de oito periódicos.
A estruturação e tratamento do banco de dados utilizado para esta pesquisa iniciou-se com a coleta de todos os artigos dos periódicos selecionados, nos anos de 2009 a 2012. Com estes artigos devidamente organizados, procedeu-se a análise de suas abordagens, onde foram classificados quanto à adoção e/ou tratamento das temáticas de SCG e/ou de RSC. Aqueles que trataram uma ou ambas as temáticas foram reanalisados e classificados de acordo com o quadro de SCGs e de SCGs aplicados à sustentabilidade proposto por Gond et al. (2012).
Os artigos foram analisados de forma direta (um a um), iniciando-se por uma análise eliminatória: aqueles cujos títulos remetessem aos temas propostos eram marcados, e seus resumos foram analisados, atribuindo-se aos artigos um valor de “0” (não aborda) ou “1” (aborda o tema), para os temas de SCG e de RSC. O conteúdo de artigos com valor “1” era analisado para classificação mais específica quanto ao conteúdo, de acordo com o modelo de Gond et al. (2012).
Resultados, concluses e suas implicaes:
Os oito periódicos internacionais considerados como melhores na área de Contabilidade publicaram 1.307 artigos entre os anos de 2009 e 2012. Nessa amostra, foram encontrados 74 estudos sobre Sistemas de Controle Gerencial (SCG), e 28 pesquisas que abordaram diretamente a Responsabilidade Social Corporativa (RSC). Porém, ainda que a maioria destes 28 artigos se encaixe dentro do quadro de Gond et al. (2012) – o que mostra certo nível de relação com temas de Controle Gerencial, somente dois artigos estabelecem uma relação direta de pesquisa entre SCGs e RSC. Estes dois únicos artigos dentro da amostra selecionada são os que abordam o uso de estratégias para implementação de maiores níveis de RSC.
Destaca-se a parcela expressiva de pesquisas que se enquadram dentro da categoria “Divulgação”: do total de 28 artigos abordando a RSC, 11 pesquisam assuntos relacionados à divulgação de informações socioambientais pelas empresas – mais relacionados à Contabilidade Financeira do que à Contabilidade Gerencial. Esta parcela de aproximadamente 40% do total de artigos sobre RSC é a mais expressiva dentro da divisão proposta por este trabalho (desconsiderando-se a categoria “outros assuntos”, já que nela difusas abordagens à RSC foram reunidas).
A principal conclusão obtida após a análise destas publicações é que a temática da RSC, ou sustentabilidade empresarial, tem sido muito pouco explorada dentro da Contabilidade. E mesmo dentro dessa pequena amostra, as pesquisas sobre RSC se concentram mais nas ferramentas de divulgação, mais ligadas às motivações da Contabilidade Financeira, do que em métodos de gestão da sustentabilidade empresarial.
Carter e Cintra (2012) afirmam que é através da contabilidade gerencial que devem ser abordadas, inicialmente, as questões de sustentabilidade nas empresas, mas que as direções de pesquisa acabam sendo mais expressivas na divulgação externa de performance sustentável. Os achados deste trabalho corroboram com as afirmações destes autores, mas levantam profundas questões sobre o motivo de tal ocorrência. Por que os pesquisadores da área de Contabilidade estão priorizando pesquisas sobre a divulgação da informação socioambiental das empresas, ao invés de abordar o modo com que as empresas têm implementado as estratégias no sentido de promover aumento na Responsabilidade Social Corporativa?
Porém, mesmo a temática do disclosure de informações socioambientais pelas empresas é relativamente pouco abordada. No geral, constata-se que a RSC e as aplicações da Sustentabilidade Empresarial dentro da Contabilidade são raramente abordadas dentro da amostra selecionada – que consiste nos periódicos internacionais mais influentes da área. Já que a RSC é comprovadamente um tema de essencial discussão e abordagem, por que os periódicos não o têm abordado?
Analisando-se as missões e os objetivos declarados pelos oito periódicos analisados, percebe-se que todos se mostram abertos e preocupados em abordar temáticas modernas e que reflitam as necessidades que os usuários tenham sobre a Contabilidade. Contudo, este trabalho mostra um sério contraste com estas declarações.
Moizer (2009), em uma revisão da literatura, constatou três principais fatores que atrapalham o surgimento de pesquisas inovadoras: as taxas de aceitação de trabalhos submetidos a estes melhores periódicos em Contabilidade são muito baixas, o tempo gasto no processo de revisão é alto (causando uma demora em refletir as pesquisas inovadoras), e há uma preocupação excessiva na qualidade técnica de um manuscrito, ao invés de priorizar a sua contribuição acadêmica.
A pesquisa em RSC ou em Sustentabilidade Empresarial acontece, uma vez que este mesmo trabalho utilizou-se de um extensivo referencial nesta área de pesquisa. O problema é que a divulgação destas pesquisas não se veicula dentro dos melhores meios do campo específico da Contabilidade. Assim, deixa-se em aberto a explicação para este fenômeno, os motivos que levam as abordagens do Controle Gerencial à RSC a serem tratadas por periódicos e profissionais de outras áreas que não a Contabilidade.
Referncias bibliogrficas:
Adams, C. A., & Whelan, G. (2009) .Conceptualising future change in corporate sustainability reporting. Accounting, Auditing & Accountability Journal, 22(1), 118 – 143.
Birnberg, J. (2009). The Case for Post-Modern Management Accounting: Thinking Outside the Box. Journal of Management Accounting Research, 2, 13-18.
Colledge, L. et al (2010). SJR and SNIP: two new journal metrics in Elsevier’s Scopus. Serials, 23(3), 215-221.
Gond, J. P, Grubnic, S., Herzig, C., & Moon, J. (2012). Configuring management control system: Theorizing the integration of strategy and sustainability. Management Accounting Research, 23(3), 205-223.
Hansen, E., & Schaltegger, S. (2012). Pursuing Sustainability with the Balanced Scorecard: Between Shareholder Value and Multiple Goal Optimisation [Working Paper]. Centre for Sustainability Management, Leuphana University of Lueneburg, Germany.
Hart, S. (1995). A natural resource-based view of the firm. Academy of Management Review, 20(4), 986–1014.
Simons, R. (1990). The role of management control systems in creating competitive advantage: new perspectives. Accounting, Organizations and Society, 15(1–2), 127-143.
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