Resumo: Propsito do Trabalho: Este trabalho tem como objetivo entender as diferentes estratégias adotadas no processo de tomada de decisão e o seu potencial relacionamento com o uso de práticas de contabilidade gerencial. As estratégias de decisão podem variar em relação a diversas características, tais como o montante de informação processada e o nível de análises quantitativas versus qualitativas utilizadas pelo tomador de decisão. Sabendo que uma das atribuições do conhecimento de contabilidade é lidar com as informações, encontra-se grande importância em investigar os aspectos comportamentais da tomada de decisão, que são influenciados pelo uso da informação contábil da entidade.
O uso da contabilidade pode influenciar a tomada de decisão pelo fato de que as informações, de modo geral, serem uma parte fundamental do processo de tomada de decisão (EINHORN & HOGARTH, 1981). Este trabalho busca justamente investigar como os indivíduos aplicam as informações contábeis quando tomam suas decisões do ponto de vista dos modelos de estratégia de decisão.
Cada administrador possui um estilo de gestão, e existem diferentes estratégias para tomar decisões. Ao mesmo tempo, o Sistema Gerencial possui alguma influência sobre as decisões, pois é o responsável por gerar informações que sirvam de argumento para as escolhas realizadas. O problema que este projeto propõe reside na investigação do papel da contabilidade gerencial dentro de uma decisão, ou seja, como o usuário interno da organização recepciona a contabilidade, dentro do modelo mental de estratégia de decisão que ele escolheu.
Base da plataforma terica: Os relatórios gerenciais têm como característica principal a de serem uma ferramenta para a tomada de decisões em planejamento, direção, motivação e controle (GARRISON et. al., 2007). Para atender a essas necessidades, são construídos os mais variados relatórios, e junto com essas necessidades verifica-se que cada relatório pode ser construído com elementos direcionados para determinada decisão.
Na questão da relevância dos elementos, Hendriksen & Van Breda (1999) argumentam que as informações são relevantes quando servem de insumo à tomada de decisão. Além disso, de acordo com Bronner (1993) existem diferentes níveis de questões, e diferentes necessidades de informações financeiras, de tal forma que decisões mais complexas exigem um maior conhecimento dos recursos envolvidos, e relatórios gerenciais mais complexos.
De acordo com Payne et. al (1992) os sujeitos utilizam diferentes estratégias de decisão em diferentes situações, incluindo as várias heurísticas de simplificação do problema. Essas estratégias, do ponto de vista psicológico e que podem ser encontrados em Payne et. al (1992), podem ser entendidas como modelos de estratégia. Tais modelos possuem propriedades que os diferenciam. Neste trabalho são estudadas duas propriedades que influenciam esses modelos: a compensatória, e a não compensatória.
Estratégias compensatórias podem ser encontradas quando uma dimensão do problema consegue compensar outra dimensão (BARON, 2008). Quando, de acordo com Payne et, al (1992), estamos relacionando diretamente os atributos de uma potencial escolha, estamos utilizando estratégias compensatórias. Portanto as estratégias compensatórias utilizam muito esforço mental e são utilizadas quando se tem poucas alternativas, e esse esforço todo é justificável.
Por outro lado, estratégias não compensatórias são aquelas utilizadas quando a escolha torna-se complexa (Payne et. al, 1992). O uso de apenas uma dimensão do problema é a característica sublinhada por Baron (2008). Também podemos diferenciá-las como sendo as estratégias que buscam simplificar o problema a ser resolvido, estabelecendo uma regra para reduzir o número de alternativas.
Desta forma uma decisão binária de investir ou não pode ser beneficiada pela boa qualidade da informação, e pelo fato de que modelos compensatórios são melhores em poucas alternativas (PAQUETTE & KIDA, 1988). Porém, determinados indivíduos poderão adaptar um modelo não compensatório, e reduzir a necessidade de informações de boa qualidade (LÖBLER e ESTIVALETE, 2008). Assim, este estudo pretenderá verificar como a contabilidade pode influenciar a decisão.
Desta forma, acredita-se que as informações contábeis podem influenciar a decisão de muitas maneiras, a começar pela sua apresentação (VESSEY, 1991) e passando pela sua estrutura e complexidade (MANSOR et. al., 2012 e SHIELDS, CHEWNING & HARREL, 1990), mas existe um limite para tal a ser definido pelo equilíbrio entre o que o tomador de decisão busca e o que está sendo apresentado, conforme proposto por Vessey (1991), e encontrado empiricamente por Chewning & Harrel (1990). Além disso, verifica-se que o desempenho da decisão é diretamente afetado pelas características compensatórias e não compensatórias (PAQUETTE & KIDA, 1988). Por fim, o próprio tomador de decisão pode ter atributos que alterem a sua decisão, tais como o fato de ser experiente ou novato (LÖBLER & ESTIVALETE, 2008).
Mtodo de investigao: Com as considerações levantadas, é realizado um estudo exploratório sobre a estratégia utilizada numa decisão de investimento, com uso de informações contábeis. Para tanto, é construído um formulário e entregue por mensagem eletrônica aos alunos de graduação da Faculdade de Economia, Administração e Contabilidade da Universidade de São Paulo (FEA/USP). As mensagens foram enviadas durante o primeiro semestre de 2013.
O processo de preenchimento do formulário é feito da seguinte forma: análise do projeto; atribuem-se notas aos projetos e seus respectivos atributos. Verificam-se as respostas dadas aos atributos (se houve a percepção de qual projeto possui o lucro maior, por exemplo). Em seguida, são apresentadas as frases para a concordância, ou não do respondente, onde será possível classificar o modelo utilizado. No último passo, são coletados dados demográficos.
Com os dados coletados analisa-se a diferença entre as notas dadas para os projetos 1 e 2, e seu relacionamento com as demais variáveis. As notas dadas aos atributos tornam-se nível de informação (expresso pela soma de todas as notas) e tipo de informação (comparação entre as notas das informações agregadas e desagregadas). Por fim, são feitas análises fatoriais para a medição da estratégia de decisão.
Observa-se uma baixa variabilidade de pessoas na amostra. Nela, 68% são homens, 90% possuem menos de 30 anos e 86% dos indivíduos estão na primeira graduação. A experiência profissional também é muito baixa, sendo que 52% não possuem experiência alguma. Por outro lado, 70% dos respondentes estão acima dos dois anos de curso.
Além disso, a distribuição dos indivíduos entre os cursos oferecidos pela FEA/USP (vale lembrar que o formulário não foi distribuído para estudantes de fora dessa faculdade) está relativamente uniforme, sendo que apenas 8% são alunos de Ciências Atuariais (dentro da faculdade, este é de fato o curso que tem o menor número de estudantes).
Resultados, concluses e suas implicaes: Resultados:
O resultado principal desse trabalho caminha no sentido de que os modelos não influenciam a decisão em si, mas que a lucratividade dos projetos foi influente na definição da atratividade. Os modelos de estratégia de decisão não foram influentes na escolha da lucratividade.
Partindo do princípio de que a lucratividade foi, de fato, o atributo que definiu a decisão da atratividade dos projetos, confirma-se que os modelos compensatórios foram utilizados no sentido de realizar pesos entre os atributos agregados e desagregados.
A baixa correlação entre o total de informação e a atratividade dos projetos pode ser explicada pelo processo realizado pelos modelos compensatórios, que mesmo sem utilizar a informação contábil agregada, realiza trade-offs entre os atributos desagregados até encontrar o projeto atraente, por exemplo.
O uso dos modelos compensatórios foi constatado, bem como a percepção de informações contábeis desagregadas e agregadas. Dessa forma, de acordo com a interpretação que foi dada aos estudos de Mansor et al (2012), os tomadores de decisão deveriam escolher um mesmo projeto, dado que todos tiveram o acesso à mesma informação. Como isso não ocorreu, é mais provável que aspectos comportamentais influenciem a tomada de decisão, conforme a interpretação dada ao estudo de Shields (1995).
Conclusões
Constatou-se na teoria um provável relacionamento entre a informação e o modelo de estratégia de decisão utilizado. Tal interação poderia ter relacionamento tanto com a complexidade da informação como por preferencias do tomador de decisão. A interpretação dada ao estudo de Mansor et al (2012) não foi capturada neste estudo. Em outras palavras, a complexidade das informações não guiou a decisão, mas sim o uso efetivo que o tomador de decisão decidiu dar às informações apresentadas. Os resultados são mais próximo do que Shields (1995) constata a respeito da implantação do método de custeio e que aspectos comportamentais afetam o uso da informação.
De fato, o uso da informação não se relaciona com a decisão tomada, caminhando apenas no sentido de que a importância dada a determinada informação é que definiu a decisão. Os resultados tanto com as regressões e com as correlações indicaram uma baixa relação entre as variáveis, com a única exceção da relação entre a lucratividade e a atratividade dos projetos. Os indivíduos que deram altas notas para a lucratividade deram altas notas para a atratividade do projeto mais lucrativo. Nenhum aspecto demográfico, porém, parece definir tal preferência de informação contábil.
No mais, as variáveis testadas parecem não se correlacionar. Tanto o total da informação quanto a estratégia de decisão não se correlacionam devidamente com a atratividade, o que caminha para uma conclusão de que tais fatores não foram determinantes para essa tomada de decisão. O tipo de informação, por outro lado, foi a principal variável que influencia essa tomada de decisão.
Como se trata de um estudo exploratório é possível que haja outras variáveis influenciando a decisão. Além disso, a regressão não paramétrica seria, aparentemente, o método mais indicado, porém deu-se preferência para o método tradicional por questões operacionais. Também deve ter em conta a predominância dos modelos compensatórios nessa amostra, onde apenas dois respondentes confessaram não utilizar mais de uma informação. Se for observada a Tabela 3 (ver em Metodologia) é constatado um alto valor de desvio padrão da variável idade e experiência, o que indica certa uniformidade entre os respondentes.
Finalmente, muitos aspectos que não foram tratados neste estudo seriam potenciais variáveis para explicar o fenômeno estudado. Principalmente os diferentes tipos de processamento que definem os modelos (processamento baseado nas alternativas e o processamento baseado em atributos, por exemplo) poderiam explicar as diferenças encontradas. Tais processamentos permanecem como alternativas de futuros estudos.
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