Anais do XV Congresso USP de Controladoria e Contabilidade
Anais do XV Congresso USP de Controladoria e Contabilidade
Anais do
XV Congresso USP de Controladoria e Contabilidade
Página inicial Voltar para a página anterior Fale conosco

RESUMO DO TRABALHO

Abrir
Arquivo

Clique para abrir o trabalho de código 106, Área Temática: Área IV: Contabilidade Gerencial

Código: 106

Área Temática: Área IV: Contabilidade Gerencial

Título: Contribuicao da Teoria Ator-Rede ao paradoxo da Gestao Estrategica de Custos

Resumo:
Propsito do Trabalho:
O objetivo desse trabalho e analisar a aplicabilidade dos conceitos da Teoria Ator-Rede ao arcabouco da Gestao Estrategica de Custos, com foco em compreender a construcao da GEC como area de pesquisa. Obtendo tal compreensao sera possivel analisar se procede o aparente paradoxo da GEC: se informacoes de custos, que (supostamente) deveriam prover apoio a tomada de decisoes e controles gerenciais, sao relevantes para promover a competitividade e desempenho das empresas, por que, aparentemente, a tematica que envolve a GEC parece diminuir no que tange a sua atuacao e visibilidade? Dentro da literatura relacionada a Contabilidade, ha pouca enfase em estudos empregando metodos voltados a sociologia, psicologia e areas correlatas, metodologias diferenciadas em relacao as tradicionalmente aplicadas no ambiente contabil (Baxter & Chua, 2003; Chua, 2011). No entanto, Brignall (2007) aponta que o uso de diferentes abordagens metodologicas, bem como a analise das mais apropriadas de acordo com o problema de pesquisa, e desejavel na pesquisa em Contabilidade de Gestao. Ademais, a TAR nao tem seu uso expandido dentro da pesquisa em Contabilidade, apesar de estar crescendo ao longo dos anos (Zawawi & Hoque, 2010). A TAR ainda permite descrever efeitos que nao podem ser captados por outras teorias sociais (Latour, 2006), como a teoria da contingencia e a teoria institucional, mais comuns nos estudos da area (Justesen & Mouritsen, 2011; Lowe, 2001), o que e valido no sentido de garantir perspectivas multi-teoricas para a pesquisa em Contabilidade. Durante esta pesquisa nao foram encontrados estudos que mesclassem GEC e TAR.

Base da plataforma terica:
Foi por meio de Shank e Govindarajan (1997) que o entendimento da Contabilidade de Gestao Estrategica moveu-se para uma Gestao Estrategica de Custos, fortemente influenciada pelos estudos de Porter (1985). Anderson (2006) sugere que, tanto empresas quanto academicos, necessitavam expandir sua area de atuacao naquele periodo, ambiente que favoreceu a GEC. Nao se deve, no entanto, confundir os termos. A Contabilidade de Gestao Estrategica estaria mais ligada a criar artefatos de mensuracao contabil para auxiliar gestores em processos de tomada de decisao, enquanto a GEC estaria atrelada ao processo decisorio. Ainda nao e claro o framework que compoe a GEC (El Kelety, 2006; Langfield-Smith, 2008), alegando-se a natureza exploratoria em que ainda se encontram os estudos sobre o tema (El Kelety, 2006). Ja a pesquisa da Ernst&Young e IMA (2003) cita o baixo nivel de comprometimento dos gestores como uma das principais causas de insucesso na implantacao de novas ferramentas de custos nas empresas. Alem disso, quando implementadas, sobressaem praticas relacionadas a areas operacionais, argumento corroborado pelos estudos de Chenhall (2008) e Heckmann et al. (2009). Bhimani e Gosselin (2009) destacam a preferencia por ferramentas tradicionais de custos, informacao tambem citada no estudo de Dugdale et al. (2006) A Teoria Ator-Rede veio de estudos da ciencia e da tecnologia, sendo seus principais autores Bruno Latour, Michel Callon e John Law. Foucault tambem auxilia em algumas analises que envolvem poder, mas o foco principal e discutir os atores como efeitos das redes as quais pertencem (Gao, 2005). Justesen & Mouritsen (2011) mostram que, apesar de a maioria dos estudos serem etnograficos ou historiograficos, a TAR tem influenciado as pesquisas em contabilidade. Segundo os autores, o livro Ciencia em Acao e o mais utilizado nos estudos contabeis, onde sao explorados os principais conceitos que a abordagem propoe (Latour, 2000). A TAR nao e uma teoria sofisticada da forma pratica, ja que uma teoria tradicional procura explicar as coisas, no entanto, ela esta mais preocupada em descrever como os fatos acontecem (Hui, 2012).Um dos primeiros conceitos de que trata a TAR sao os Atores, que sao os participantes da rede, ou seja, todos aqueles que de alguma forma auxiliam a compor um fato e interagem no ambiente social, influenciando diretamente a concepcao e propagacao de um assunto. Dentro desse processo, Latour (2006) coloca que os atores que devem ser adicionados sao aqueles que de alguma forma acrescentam algo a descricao ou a explicacao, do contrario, nao podem ser considerados relevantes. Latour (2001) coloca que da associacao de humanos e nao humanos e que se constroi o coletivo. A construcao dos fatos cientificos e um processo coletivo, que e realizada com base na retorica de afirmacoes que reforcam ou invalidam os fatos (Latour, 2000). Outro conceito importante e o de translacao, sendo que por translacao entende-se o mecanismo pelo qual o mundo ganha forma, em outras palavras, a maneira como os atores se associam e se mantem fieis as suas aliancas (Callon, 1986). Latour (2000, p. 178) afirma que a translacao e . . . a interpretacao dada pelos construtores de fatos aos seus interesses e aos das pessoas que eles alistam. Em outras palavras, transladar interesses significa, ao mesmo tempo, oferecer novas interpretacoes desses interesses e canalizar as pessoas para direcoes diferentes (Latour, 2000, p. 194).

Mtodo de investigao:
Ensaio Teorico

Resultados, concluses e suas implicaes:
Pensando na aplicabilidade da abordagem da TAR aos estudos em contabilidade, e aqui especialmente a GEC, nota-se que a teoria de Latour foi uma das sete alternativas mencionadas para a pesquisa em Contabilidade de Gestao, em revisao dos estudos da area na Accounting Organization and Society por Baxter e Chua (2003). Os autores consideram que o uso dessas abordagens aumenta a consideracao da interdisciplinaridade na pesquisa em Contabilidade de Gestao, bem como pode sustentar contribuicoes distintas no futuro. Tais consideracoes foram realizadas apos analise de quao frageis sao os numeros contabeis, mostrando que eles sao construidos para acomodar certos interesses. Tambem e destacado o uso da translacao, que reflete interesses dos construtores de fatos que irao mobilizar suas redes para essa finalidade. Ademais, os numeros acabam sendo massa de manobra para influenciar politicas e tomadas de decisao em orgaos ou empresas em que se atue. Justesen e Mouritsen (2011) mostram como a TAR tem influenciado as pesquisas em contabilidade. Eles tambem comentam campos nao explorados da abordagem de Latour, principalmente os trabalhos mais recentes. Segundo os autores, um dos conceitos mais utilizados e o de translacao, como tambem se pode notar pelos textos apresentados ate aqui, que possibilitaria entender com mais clareza processos relacionados a mudanca dentro do ambiente contabil. Outro ponto levantado pelos autores e que as tecnologias contabeis e calculos tem um papel importante, uma vez que sao vistas como participantes da concepcao, desenvolvimento e estabilizacao das atividades na empresa, tal como os atores nao humanos (Latour, 2000). As novas abordagens do trabalho de Latour indicadas se referem ao nao distanciamento do empirismo e dos fatos, mas sim, a se entender como eles foram construidos, ou seja, na pratica isso significa ter menos foco no programa ou no contexto, e focar mais nos construtores da rede (fatos) e em seus truques retoricos. Em outras palavras, os autores argumentam que e importante compreender os numeros contabeis e inscricoes nao como ferramentas dotadas de poder por si so, mas sim, pela construcao social em que estao inseridos, ou seja, porque eles fazem parte da rede de atores pela qual a contabilidade se move, interagindo com os agentes desse movimento. Pelo exposto ate aqui, parte do beneficio na juncao de GEC e TAR estaria em entender como se configuram as relacoes que se estabelecem ate se chegar ao artefato ou tecnologia contabil, que atua como ponto de enfase ou reforco a esses processos. Ainda pensando na utilizacao conjunta, deve-se considerar o pensamento de Chua (2011), que coloca em cheque o progresso da Contabilidade como area de pesquisa enquanto os pesquisadores se restringirem as perspectivas ou metodos para os top journals da area. Logo, o uso de abordagens alternativas de pesquisa, como sugerido por Baxter e Chua (2003), pode permitir visualizar outra nuance na pesquisa em GEC. Ao observar o fenomeno de estudo, que se refere a evolucao da GEC como area do conhecimento, tanto teorica quanto pratica, a TAR traz subsidios para a compreensao de quem sao os agentes de maior influencia neste processo, bem como de que maneira ocorrem os processos que concebem, alteram e referendam a GEC como area de conhecimento e sua rede de atores. Ainda, e possivel compreender os mecanismos que levam a total institucionalizacao, legitimidade ou mesmo ao abandono de suas ferramentas, um passo anterior ao que geralmente fazem os estudos dessa area quando utilizam a Teoria Institucional para constatar a institucionalizacao de um artefato em uma organizacao. O proximo passo a essa pesquisa, aqui tido como sugestao de estudos futuros, e usar esse ferramental para efetivar pesquisas empiricas buscando as questoes elencadas. Ademais, entende-se que o estudo proposto pela TAR pode ser aplicado a outras areas que envolvam a Contabilidade de Gestao, dada a semelhanca entre os fenomenos da materia.

Referncias bibliogrficas:
Alcouffe, S., Berland, N., & Levant, Y. (2008). Actor-networks and the diffusion of management accounting innovations: A comparative study. Management Accounting Research, 19(1), 117. doi:10.1016/j.mar.2007.04.001 Anderson, S. W. (2006). Managing Costs throughout the Value Chain: Research on Strategic Cost Management. Handbook of Management Accounting Research, 2(October 2005). Berland, N., Joannides, V., & Levant, Y. (2010). Institutionalisation and deinstitutionalisation of budget. In European Accounting Association Congress. Bhimani, A., & Gosselin, M. (2009). Cost Management Diversity in a global world: What we can learn? Cost Management, 23(5), 2933. Briers, M., & Chua, W. F. (2001). The role of actor-networks and boundary objects in management accounting change: a field study of an implementation of activity-based costing. Accounting, Organizations and Society, 26, 237269. Callon, M. (1986). Some elements of a sociology of translation: domestication of the scallops and the fishermen of St Brieuc Bay. In Power, action and belief: a new sociology of knowledge? (Routledge, pp. 196223). London. Callon, M. (1991). Techno-economic networks and irreversibility. In J. Law (Ed.), A sociology of monsters: Essays on power, technology and domination. London. Callon, M., & Muniesa, F. (2005). Peripheral Vision: Economic Markets as Calculative Collective Devices. Organization Studies, 26(8), 12291250. doi:10.1177/0170840605056393 Chua, W. F. (2011). In Search of Successful Accounting Research. European Accounting Review, 20(1), 2739. doi:10.1080/09638180.2011.559033 Dugdale, D., Jones, T., & Green, S. (2006). Contemporary Management Accounting Practices in UK Manufacturing. London: CIMA Publishing. El Kelety, I. A. E. M. A. (2006). Towards a Conceptual Framework for Strategic cost Management - The Concept, Objectives, and Instruments. Universit\"atsbibliothek der Technischen Universit\"at. Retrieved from http://deposit.ddb.de/cgi-bin/dokserv?idn=980955033&dok_var=d1&dok_ext=pdf&filename=980955033.pdf Latour, B. (2000). Ciencia em acao como seguir cientistas e engenheiros sociedade afora (UNESP). Sao Paulo. Latour, B. (2001). A esperanca de Pandora: ensaios sobre a realidade dos estudos cientificos. (EDUSC). Sao Paulo. Latour, B. (2004). Whose cosmos, which cosmopolitics? - Comments on the Peace Terms of Ulrich Beck. In Common Knowledge. Duke University Press. Latour, B. (2005). Reassembling the Social: An introduction to Actor-Network-Theory (Vol. 7). New York: Oxford University Press. doi:10.1163/156913308X336453 Latour, B. (2006). Como terminar uma tese de sociologia: pequeno dialogo entre um aluno e seu professor (um tanto socratico). Cadernos de Campo, 14/15. Shank, J. K. (2006). Strategic cost management: upsizing, downsizing, and right sizing. In A. Bhimani (Ed.), Contemporary issues in management accounting. Oxford University Press. Retrieved from http://priatakberistri.com/download/accounting/Contemporary Issues in Management Accounting.pdf#page=372 Shank, J. K., & Govindarajan, V. (1997). A revolucao dos custos: como reinventar e redefinir sua estrategia de custos para crescer em mercados crescentemente competitivos. Rio de Janeiro: Elsevier.

 

APOIO
REALIZAÇÃO
PATROCINADORES
Logos dos Realizadores Logos dos Patrocinadores
Anais do XV Congresso USP de Controladoria e Contabilidade