Anais do XV Congresso USP de Controladoria e Contabilidade
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Clique para abrir o trabalho de código 171, Área Temática: Track III: Gênero, Raça e Sexualidade

Código: 171

Área Temática: Track III: Gênero, Raça e Sexualidade

Título: Desigualdades de Genero na Atuacao de Contadores e Auditores no Mercado de Trabalho Catarinense

Resumo:
Propsito do Trabalho:
O mercado de trabalho brasileiro possui evidencias de desigualdades de genero que vem sendo combatidas durante as ultimas decadas, no entanto, ainda podem ser percebidas na realidade social do pais. Um melhor entendimento e visao de genero, se faz necessario para compreensao dos aspectos aqui retratados. O Instituto Brasileiro de Geografia e Estatistica (IBGE), considera desigualdade de genero como as diferencas sociais existentes entre os sexos e que foram construidas ao longo dos anos, diferentemente de sexo propriamente dito, no sentido unico de distinguir as diferencas biologicas entre homens e mulheres (IBGE, 2009). Segundo o IBGE, as mulheres representam 46,1% da populacao economicamente ativa no Brasil e 53,7% da populacao em idade ativa. No entanto, a distribuicao das mulheres entre os diferentes cargos e salarios e destoante. O fato de individuos igualmente produtivos serem avaliados de forma diferente com base em atributos nao produtivos, como e o caso do genero, constitui uma discriminacao (Cavalieri & Fernandes, 1998). Neste contexto, surge a questao que motiva esta pesquisa: quais aspectos evidenciam a desigualdade de genero na atuacao de contadores e auditores no mercado de trabalho do Estado de Santa Catarina? Nesta perspectiva, o objetivo deste estudo e investigar evidencias de desigualdade de genero na atuacao de contadores e auditores, no mercado de trabalho do Estado de Santa Catarina. A motivacao para realizacao deste estudo reside nos indicios da discriminacao por genero, apesar das mudancas sociais e economicas que ocorreram, ainda persistir no mercado de trabalho. Instiga-se sua realizacao a fim de verificar-se, no cenario do mercado de trabalho contabil, a pertinencia das diferencas de genero envolvendo profissionais da contabilidade.

Base da plataforma terica:
Uma das questoes de destaque nos meios sociais e, que tem chamado a atencao dos pesquisadores, refere-se a discriminacao no mercado de trabalho (Anker, 1998; Araujo & Ribeiro, 2001; Giubert & Menezes Filho, 2005; Cambota & Pontes, 2007; DIW, 2014). A discriminacao, segundo Araujo e Ribeiro (2001, p. 2) diz respeito a situacao onde individuos igualmente produtivos sao diferentemente avaliados com base em atributos nao produtivos, alem disso, os autores salientam que a discriminacao por genero encontra-se presente em praticamente todas as sociedades, independentemente dos tracos culturais e religiosos e dos sistemas politicos economicos. As desigualdades de genero podem ser evidenciadas de diversas formas no mercado de trabalho. Elas ocorrem principalmente de duas formas, por meio da discriminacao salarial (Anker, 1998; Cavalieri & Fernandes, 1998; Giubert & Menezes Filho, 2005; Cambota & Pontes, 2007) e por segregacao ocupacional (Anker, 1998; Cambota & Pontes, 2007). As mulheres sao discriminadas no mercado de trabalho em relacao ao salario quando, mesmo com qualificacao equivalente, ou desempenhando funcoes semelhantes, recebem pagamento inferior aos homens, e em relacao a segregacao ocupacional, quando tem acesso apenas a ocupacao de cargos mais baixos e pior remunerados (Araujo & Ribeiro, 2001; Cambota e Pontes, 2007). Existem diversas teorias debatidas na literatura, no sentido de elucidar as desigualdades de genero existentes no contexto laboral. Estas teorias podem ser divididas basicamente em tres grupos: neoclassica, segmentacao de mercado e teoria de genero/feminista (Abramo, 2007). Para Araujo e Ribeiro (2001, p. 2), a discriminacao que ha no mercado de trabalho, alem de falsear a imagem social de importantes segmentos humanos, afetam negativamente os estimulos as qualificacoes, contribuindo para a perpetuacao de desigualdades socioeconomicas. Conforme Cambota e Pontes (2007) o que tem ocorrido no Brasil, e que o mercado de trabalho pode estar impedindo que as mulheres ocupem cargos de melhor remuneracao e, por consequencia, dificulta a mobilidade social feminina e contribui para o grau de desigualdade socioeconomica existente. No contexto da atuacao feminina na contabilidade, a mulher contabilista tem conquistado seu reconhecimento no mercado de trabalho. Sua representatividade aumenta constantemente, demonstrando sua importancia na profissao contabil. Se analisarmos a historia, e possivel visualizar o caminho tracado pelas mulheres, que gradativamente, ultrapassaram obstaculos e vem conquistando seu espaco no mercado de trabalho em todos os setores (Mota & Souza, 2013). Sua insercao no mercado de trabalho brasileiro tem avancado significativamente, em 2003 eram apenas 34,07%, hoje ja representam 41%. Especialistas afirmam que esse crescimento da atuacao feminina no setor contabil, se deve a diversos fatores, mas principalmente ao acesso a educacao que proporciona melhores possibilidades aos graduados na area (CFC, 2014). Nos ultimos 10 anos, mais de 85 mil mulheres ingressaram na carreira contabil, representando 41% dos profissionais da Contabilidade atualmente. Ao todo, sao cerca de 201.367 mulheres contabilistas em plena atividade em todo o Brasil, porem, a expectativa e que nos proximos cinco anos esse numero cresca ainda mais e torne-se igualitario ao numero de homens. Na graduacao, elas ja superaram os homens, visto que o numero de matriculas no curso de ciencias contabeis era de 181 mil, em comparacao a 132 mil alunos do sexo masculino, conforme dados do Censo da Educacao Superior de 2012 (CFC, 2014).

Mtodo de investigao:
Em consonancia a problematica do estudo e, a fim de atender ao objetivo proposto, a pesquisa caracteriza-se como quantitativa no que se refere ao metodo de tratamento e analise dos dados, descritiva quanto ao objetivo e, documental no que tange os procedimentos de coleta dos dados. A populacao do estudo compreendeu os profissionais de contabilidade e auditoria do estado de Santa Catarina, com inscricao ativa em 31 de dezembro de 2013, no CAGED, referente a CBO, 2522.10 contadores e 2522.05 auditores, disponiveis no sitio do Ministerio do Trabalho e Emprego (MTE), na base de dados Microdados RAIS. A Relacao Anual de Informacoes Sociais (RAIS), de acordo com o MTE (2014), foi instituida pelo Decreto n 76.900, de 23/12/75, e tem por objetivo: o suprimento as necessidades de controle da atividade trabalhista no Pais; o provimento de dados para a elaboracao de estatisticas do trabalho; e, a disponibilizacao de informacoes do mercado de trabalho as entidades governamentais. A opcao pelo Estado de Santa Catarina justifica-se por possuir um numero consideravel de profissionais mulheres sendo 8.299, em um total de 200 mil no pais. Alem disso, Santa Catarina e deveras significativa em termos economicos, representando o quarto maior PIB nacional, o maior entre os estados da Regiao Sul (IBGE, 2012). De mesmo modo, o Estado distingue-se em termos de desenvolvimento humano, onde Santa Catarina se destaca nacionalmente no ranking nacional de Indice de Desenvolvimento Humano Municipal (IDH-M), ocupando a terceira posicao dentre as 27 unidades federativas. A amostra, por sua vez, compoe-se dos registros dos trabalhadores catarinenses cuja atividade profissional, no ano de 2013 estava classificada pela CBO como contabilidade e auditoria e que possuiam informacoes completas. Para composicao da amostra foram excluidos 38 homens e 22 mulheres por possuirem informacoes incompletas correspondente as variaveis analisadas, desta forma, a amostra final compos-se de 6861 profissionais contadores e auditores. Os dados foram coletados na base de Microdados RAIS do MTE relativos aos registros coletados no ano de 2013. Para a verificacao dos dados aplicou-se o metodo estatistico de analise de regressao linear multipla por meio do software Statistical Package for the Social Sciences - SPSS 21.

Resultados, concluses e suas implicaes:
As desigualdades de genero, conforme Matos (2008), tiveram sua enfase inicial nos estudos desenvolvidos no campo da antropologia, a fim de compreender as desigualdades existentes nas relacoes de poder entre homens e mulheres, principalmente frente ao contexto familiar. A partir dai, surgem as pesquisas voltadas as ciencias sociais, buscando sistematizar os aspectos de desigualdade nos diversos contextos sociais e organizacionais, envolvendo caracteristicas raciais, etnicas, salariais, assim como tantos outros fatores, a fim de elucidar as questoes inerentes as desigualdades de genero (Humphries & Rubery, 1994; Toharia, 1999). Os estudos que investigam desigualdade de genero vem sendo cada vez mais consolidados com o auxilio de metodos estatisticos que auxiliam os pesquisadores na apreciacao e compreensao dos dados, haja vista, a dinamicidade peculiar dos fenomenos relativos a sociedade e sua constante transformacao. Neste sentido, o objetivo deste estudo foi investigar evidencias de desigualdade de genero na atuacao de contadores e auditores, no mercado de trabalho do Estado de Santa Catarina. Para isso, utilizou-se uma amostra de 6.861 trabalhadores com registro de contrato de trabalho vinculado a CBO 2522.10 contadores e 2522.05 auditores, com dados disponiveis em 31 de dezembro de 2013, no banco de dados de Microdados RAIS disponivel no sitio do Ministerio do Trabalho e Emprego. Apos a aplicacao dos metodos propostos, a analise dos resultados demonstrou que as mulheres, mesmo com a faixa media de escolaridade igual a dos homens, possuem uma remuneracao media inferior, o que sugere evidencias de desigualdade de genero no contexto do mercado de trabalho contabil catarinense. Os modelos 2 e 4 ratificam as diferencas de media relatadas, onde verificou-se uma diferenca significante nos coeficientes correspondente a -1,036, revelando que os individuos do genero masculino recebem, em media, maior valor do que os do genero feminino, ainda que a diferenca entre os coeficientes de escolaridade seja pouco expressiva, resultando em -0,068. Com relacao aos fatores influentes na remuneracao, novamente constata-se indicios de desigualdade de genero, considerando-se que, os atributos faixa etaria, tempo de emprego, escolaridade e tamanho de empresa, poderiam justificar as diferencas nas remuneracoes recebidas entre os generos, demonstraram-se similares para homens e mulheres. A pequena diferenca verificada e insuficiente estatisticamente para fundamentar a disparidade evidenciada entre os generos, no que diz respeito as remuneracoes auferidas. Assim como nos estudos de Baptista (2000), Araujo e Ribeiro (2001), Bruschini e Puppin (2004), Matos e Machado (2006), Carleial e Araujo (2011) e Cunha e Vasconcelos (2012), de maneira geral, na amostra investigada, constata-se uma desproporcao nas remuneracoes recebidas entre homens e mulheres, embora os fatores possivelmente influentes nestes rendimentos nao sejam igualmente desproporcionais. Como limitacoes do estudo, pode-se considerar aquela relacionadas a fonte de coleta de dados CAGED, o recorte temporal e a opcao de investigar um unico Estado. Tais limitacoes podem suprimidas em pesquisas futuras, para tal, recomenda-se a aplicacao dos procedimentos utilizados neste estudo em amostras distintas, verificando-se possiveis similaridades e diferencas entre os contextos contabeis regionais e estaduais, possibilitando-se assim, a comparabilidade de resultados com a pesquisa ora realizada, bem como, com analise de dados em painel, que permita avaliar o comportamento das diferencas identificadas, no decorrer dos anos.

Referncias bibliogrficas:
Anker, R. (1998). Gender and Jobs: sex segregation of occupations in the world. Genebra: International Labour Office, 444 p. Araujo, V. F. & Ribeiro, E. P. (2001). Diferenciais de salarios por genero no Brasil: uma analise regional. Disponivel em: http://www.ufrgs.br/pdf/epr/veronica_ribeiro1.pdf. Acesso em: 27/08/2014. Carleial, A. N. & Araujo, A. M. M. (2011). Genero e trabalho: comparando o Ceara com o Rio Grande do Sul. Mulher e Trabalho, 2. Cavalieri, C. & Fernandes, R. (1988). Diferenciais de salarios por genero e cor: uma comparacao entre as regioes metropolitanas brasileiras. Revista de Economia Politica, 18(1), 69. CFC Conselho Federal de Contabilidade. (2014). Dados estatisticos. Disponivel em: http://www.portalcfc.org.br/coordenadorias/registro/cadastro/quantos_somos. Acesso em: 24/09/2014. Cunha, M. S. & Vasconcelos, M. R. (2012). Evolucao da desigualdade na distribuicao dos salarios no brasil. Economia Aplicada, 16(1). Cunha, J. V. A. Cornachione Jr, E. B. & Martins, G. A. (2008). Pos-Graduacao: o curso de ciencias contabeis da FEA/USP, Revista Contabilidade e Financas, 9(48), 6-26. Dixon, R. (1982), Women in Agriculture: Counting the Labour Force in Developing Countries. Population and Development Review, 8, 539-566. DIW - Deutsches Institut fur Wirtschaftsforschung. (2014). Gender income gap und gender tax gap: frauzen erzielen im Durchschnitt nur halb so hohe Einkommen wie manner. Disponivel em: http://www.diw.de/documents/publikationen/73/diw_01.c.480436.de/14-35-1.pdf. Acesso em: 04/02/2015. Favero, L. P. Belfiore, P. Silva, F. & Chan, B. L. (2009). Analise de dados: Modelagem multivariada para tomada de decisoes. Rio de Janeiro: Elsevier. Hair Jr, J. F. Anderson, R. E. Tatham, R. L. & Black, W. C. (2005). Analise multivariada de dados. 5. ed. Sao Paulo: Bookman. Humphries, J. & Rubery, J. (1994). La autonomia relativa de la reproduccion social: su relacion com el sistema de produccion. In: BORDERIAS, C. CARRASCO, C. ALEMANY, C. (Org.). Las mujeres y el trabajo: rupturas conceptuales. Barcelona: Ed. Icaria-Fuhem, 393-423. IBGE - Instituto Brasileiro de Geografia e Estatistica. (2012). Pesquisa mensal de emprego PME. Mulher no mercado de trabalho: perguntas e respostas. Rio de Janeiro: IBGE. Matos, M. (2008). Teorias de genero ou teorias e genero? Se e como os estudos de genero e feministas se transformaram em um campo novo para as ciencias. Estudos feministas, 16(2), 333-357. Mendes, P C. M. Silva, D. & Rodrigues, F. F. (2007). A Mulher Contabilista: Participacao e perfil das profissionais que atuam nas empresas de auditoria independente do Distrito Federal. ANAIS... VII Congresso USP de Controladoria e Contabilidade. Sao Paulo. MTE - Ministerio do Trabalho e Emprego. (2014). O que e a RAIS. Disponivel em: http://www.rais.gov.br/RAIS_SITIO/oque.asp. Acessado em 10/12/2014. Monteiro, V. S. (2003). Estado promove primeiro encontro de contadoras. Jornal do Comercio, Rio grande do Sul, 3. Mota, E. R. C. F. & Souza, M. A. (2013). A evolucao da mulher na Contabilidade: os desafios da profissao. Congresso Convibra. Nascimento, V. M. S. & Alves, F. J. S. (2014). Genero e Carreira: um estudo de caso das percepcoes de contadores publicos. ANAIS... XIV Congresso USP de Controladoria e Contabilidade. Sao Paulo. Panhoca, L. (2010). Serie de entrevistas mestres da contabilidade: Cecilia Akemi Kobata Chinen. Revista Contabilidade e Controladoria, 2(1), 137-139. Toharia, L. (1999). El mercado de trabajo: teoria y aplicaciones. 2. ed. Madrid: Alianza Editorial.

 

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