Resumo: Propsito do Trabalho: Com o advento da Revoluo industrial e a consequente globalizao entre os sculos XIX e XX, respectivamente, foi imposta uma nova relao comercial mais dinmica e degradante, impactando de forma direta a sociedade e o meio ambiente (Tinoco & Kraemer, 2008). Desse modo, notrio nas ltimas dcadas o aumento de discusses e presses por parte de rgos governamentais, no governamentais, sociedade e empresas sobre o impacto causado pelas atividades empresariais na relao socioambiental e na imagem das empresas aos stakeholders (Oliveira, 2003).
Em meio a essas discusses, houve um crescimento na preocupao pela adoo de politicas de responsabilidade social por parte das empresas. Tais politicas envolvem uma gesto empresarial mais transparente e tica e a insero de preocupaes sociais e ambientais nas decises e resultados das empresas. Diante disso, foi implementado na Frana, em 1977, o Balano Social, que posteriormente se difundiu para outros pases, chegando ao Brasil na dcada de 80 (Tinoco & Kraemer, 2008).
Visando auxiliar na transparncia e comparabilidade dos relatrios sociais, diversos rgos no governamentais elaboraram diretrizes para a criao de demonstraes. Dentre estes, destaca-se o Global Reporting Iniciative (GRI, 2006). Nesse contexto, a presente pesquisa prope-se a responder a seguinte questo de pesquisa: qual o grau de aderncia das empresas do segmento de engenharia e construo civil s diretrizes do GRI para a elaborao de seus relatrios ambientais no exerccio de 2012? O estudo tem como objetivo analisar o grau de aderncia plena aos indicadores essenciais do GRI de empresas brasileiras atuantes no segmento de engenharia e construo civil, bem como comparar o nvel de evidenciao das informaes contbeis dessas companhias.
Base da plataforma terica: 2.1 Balano Social
A partir da guerra entre Vietn e Estados Unidos, entre os anos 60 e 70, que gerou profunda insatisfao popular, passou-se a exigir que as empresas adotassem nova postura moral e tica perante os cidados, se preocupando menos com aspectos financeiros e passando a dar maior ateno s relaes sociais. Surgiram, a partir disso, as primeiras informaes e indicadores sociais que passaram a ser publicados e divulgados juntamente com as demonstraes contbeis. Em 1977 foi elaborada, na Frana, a Lei n 77.769, que obrigou todas as entidades que possuam 300 ou mais funcionrios a publicar o Balano Social. Posteriormente, vrios pases europeus adotaram ditames da lei francesa (Tinoco & Kraemer, 2008).
No Brasil, as primeiras discusses sobre o tema tiveram inicio na dcada de 1960, a partir da instituio da Associao dos Dirigentes Cristos de Empresas (ADCE) em 1961, que deu incio a uma pregao sobre a responsabilidade da empresa nas questes sociais. A partir dos anos de 1990, houve um maior interesse da sociedade sobre o assunto, sendo que empresas de diversos setores passaram a divulgar, de forma mais recorrente, relatrios com perfil mais social e humano, tornando os balanos sociais uma realidade para um nmero cada vez maior de organizaes (Cunha & Ribeiro, 2007).
A publicao do Balano Social no pas ainda no obrigatria, porm, se torna cada vez mais exigida por ser um relatrio que fornece informao contbil, social e ambiental. Os modelos mais utilizados so o do IBASE (Instituto Brasileiro de Anlises Sociais e Econmicas) e o do GRI (Global Reporting Initiative) (Godoy, 2007).
Salienta-se, no entanto, que diversas crticas tm sido direcionadas aos diferentes modelos de Balanos Sociais apresentados pelas organizaes, dentre as quais se destacam: falta de transparncia, carncia de informaes relevantes, excesso de informaes e falta de padronizao e tempestividade (Dias, 2006). Para Siqueira e Vidal (2003, p.2), o que vem sendo observado nos relatrios sociais publicados uma tendncia de valorizao da divulgao dos aspectos positivos em detrimento dos negativos como uma forma de promover a imagem da organizao. Tal fato prejudica uma anlise aprofundada do relacionamento das empresas com o meio ambiente e seus interessados.
2.2 O Global Reporting Initiative (GRI)
O Global Reporting Initiative (GRI) uma organizao no governamental, criada em 1997, que objetiva oferecer uma estrutura confivel para a elaborao de relatrios sustentveis, de forma a padroniz-los a organizaes de todos os tamanhos, setores e localidades (GRI, 2002, p. 1). A adeso aos indicadores GRI feita voluntariamente, na qual qualquer instituio pode se utilizar do modelo proposto, bastando apenas haver o interesse da organizao em divulgar as informaes por eles solicitadas (GRI, 2002).
Quanto sua composio, os relatrios ambientais alinhados ao guia GRI devem possuir informaes relevantes e indispensveis em trs tipos de contedo: 1) Perfil; 2) Forma de gesto; 3) Indicadores de Desempenho (GRI, 2013), subdivididos em: indicadores de desempenho econmico; indicadores de desempenho ambiental; e indicadores de desempenho social (Godoy, 2007, p. 6-10).
Ao utilizarem os indicadores GRI de forma correta, as organizaes tero uma viso mais ampla a respeito de suas atividades e a respeito de desperdcios gerados a partir de suas atividades operacionais, pois os indicadores foram desenvolvidos de forma que evidenciem os aspectos negativos de sua atividade econmica (GRI, 2002, p.25).
Mtodo de investigao: Para a realizao desta pesquisa, foram considerados os relatrios do ano de 2012, cujas informaes remetiam s diretrizes ambientais, sociais e econmicas dos indicadores essenciais do GRI de empresas brasileiras cujas atividades encontram-se relacionadas ao segmento de engenharia e construo civil. No total, foram selecionadas cinco empresas brasileiras, a saber: Construtora Andrade Gutierrez, Even Construtora e Incorporadora, Galvo Engenharia, Mendes Junior e Tecnisa Construtora e Incorporadora.
Quanto anlise dos dados, foram considerados os indicadores GRI essenciais dos grupos: econmico, social e ambiental. Para o tratamento dos dados, o critrio utilizado se baseou nos modelos preconizados por Dias (2006) e Carvalho (2007), sendo a aderncia aos indicadores do GRI classificada em: plena (todos os dados requeridos no protocolo indicador essencial da G3 foram devidamente fornecidos pela empresa); parcial (apenas parte dos dados requeridos foram apresentados pela entidade); dbio (informaes fornecidas no so suficientes para o usurio avaliar se a aderncia plena ou parcial); inconsistente (informaes fornecidas pela organizao diferem daquelas requeridas no protocolo do G3); no aplicvel (a organizao reconhece que os dados requeridos pelo indicador no so pertinentes s suas atividades ou ao setor em que ela atua); omitido com justificativa (a organizao omite a informao requerida pelo protocolo da G3, por sua deciso, porm apresentando uma justificativa para tal omisso); ou omitido (quando nada comentado sobre o indicador, como se o mesmo no existisse).
Posteriormente, foram elaborados os clculos do grau de aderncia plena (GAPIE) das organizaes analisadas, permitindo avaliar, em porcentagem, o quanto as empresas esto respeitando as determinaes estabelecidas pelo GRI; e o Grau de Evidenciao Efetiva (GEE), que objetiva mensurar o percentual da quantidade de informao efetivamente relatada pela organizao dentro do potencial total de informao do modelo GRI (Dias, 2006; Carvalho, 2007).
Os resultados da amostra podem ter variaes de 0%, que corresponde ao menor grau de aderncia, e 100%, que representa o maior grau. O critrio de apresentao dos indicadores foi explicitado de acordo com os trs Nveis de Aplicao sugeridos pela GRI (A, B e C), sendo classificados como alto, mdio e baixo.
Resultados, concluses e suas implicaes: Aps a realizao dos clculos dos GAPIEs das empresas da amostra, com o objetivo de realizar uma anlise comparativa das entidades, os nveis de adequao foram divididos por indicadores de desempenho econmico, social e ambiental. De acordo com a metodologia utilizada nesta pesquisa, a nica empresa que poderia estar classificada no grupo alto de aderncia aos indicadores a Construtora Andrade Gutierrez. A Even construtora e incorporadora S.A, apesar de ter se declarado no nvel A+, obteve aderncia de 51%, sendo classificada como nvel mdio. O resultado demonstrado diverge daquele obtido no estudo de Dias (2006), no qual cinco, das oito empresas analisadas, obtiveram resultado considerado com alto grau de aderncia para esse indicador, no entanto, se aproxima dos resultados alcanados no estudo de Castro, Siqueira e Macedo (2009) e Carvalho (2007), em que nenhuma empresa da amostra apresentou alto grau de aderncia plena.
Observou-se, ainda, uma variabilidade significativa nos resultados gerais, tal fato evidenciado pelo desvio padro geral no GAPIE das empresas, que atingiu aproximadamente 19%. Com relao elaborao do calculo do Grau de Evidenciao Efetiva (GEE), nenhuma empresa pode ser classificada no nvel alto de aderncia.
Partindo para uma anlise individualizada das empresas, no que se refere Construtora Andrade Gutierrez, pode-se inferir que o relatrio da companhia se apresenta em um nvel relativamente alto, tendo em vista o grau de aderncia plena e a objetividade na prestao de informaes. No entanto, se caracterizou por uma alta exposio das qualidades e por omisso de informaes que so relevantes para a avaliao do modelo de relatrio em anlise. Quanto ao relatrio da Even Construtora e Incorporadora, este se caracterizou por apresentar a maior parcela dos indicadores requeridos, no entanto, muitos deles foram reportados de maneira incompleta ou com informaes incompatveis com o que era de fato requisitado, haja vista a considervel quantidade de classificaes inconsistentes.
O relatrio da Galvo Engenharia, por sua vez, se apresentou com carncia de vrias informaes no que tange ao que solicitado pelo modelo de anlise, tendo em vista que foram apresentados apenas 35% do total de indicadores essenciais, sendo que, dos apresentados, 17% foram evidenciados de forma parcial ou dbia. O relatrio social da Mendes Junior se caracterizou pela omisso de vrias das informaes utilizadas para anlise, haja vista que os indicadores classificados como omitidos sem justificativa representaram 65% do total utilizado no estudo. Dentre os dezessete indicadores apresentados, sete foram julgados como faltando informaes relevantes ou sem consonncia com o que realmente solicitado, evidenciando que a entidade carece de melhorias ao reportar as informaes.
Finalmente, a demonstrao da Tecnisa Construtora & Incorporadora se notabilizou por omitir informaes importantes, principalmente aquelas relacionadas a uma descrio mais precisa de como funciona a organizao, a exemplo de itens que pedem descrio de aspectos negativos como emisso de gases e polticas internas para combater a corrupo, se caracterizando pelo maior enfoque aos aspectos positivos. No entanto, para os indicadores em que as informaes so apresentadas, estas so evidenciadas de forma satisfatria, uma vez que, dos vinte indicadores apresentados, quinze foram classificados como aderidos plenamente.
Diante do exposto, observa-se que, apesar dos esforos do Global Reporting Initiative (GRI) em uniformizar os relatrios sociais e fornecer um substrato para a melhoria na qualidade de divulgao das informaes de cunho contbil/ambiental, as empresas do segmento analisado, em geral, ainda carecem de melhorias no que se refere quantidade de informaes prestadas e forma de apresentao das mesmas. H necessidade, portanto, de convergirem para uma maior uniformidade e transparncia ao reportarem os indicadores requeridos e para a reduo de vieses que distoram as informaes divulgadas.
Referncias bibliogrficas: Carvalho, F. de M. (2007). Anlise da Utilizao dos Indicadores Essenciais da Global Reporting Initiative nos Relatrios Sociais em Empresas Latino-Americanas. Dissertao (Mestrado em Cincias Contbeis) - FACC/UFRJ, Rio de Janeiro, 2007.
Cunha, J. V. A. & Ribeiro, M. de S. (2007). Evoluo e estrutura do balano social no Brasil e pases selecionados: um estudo emprico. RAC-Eletrnica, 1(2).
Dias, L. N. S. (2006). Anlise da Utilizao dos Indicadores do Global Reporting Initiative nos Relatrios Sociais em Empresas Brasileiras. Dissertao (Mestrado em Cincias Contbeis) - FACC/UFRJ, Rio de Janeiro, 2006.
Godoy, M. et al. (2007). Balano Social: Convergncias e divergncias entre os modelos do Ibase, GRI e Instituto ETHOS. In: Congresso UFSC de Controladoria e Finanas, 1, Florianpolis. Anais... UFSC: Florianpolis-SC, 2007.
GRI Global Reporting Initiative (2013). Diretrizes para Relatrio de Sustentabilidade.
Oliveira, J. A. P. (2003). Um balano dos balanos sociais das 500 maiores empresas S.A. no-financeiras do Brasil. In: Enanpad, 27, Atibaia. Anais... ANPAD: Atibaia, 2003.
Siqueira, J. R. M. & Fernandes, F. S. (2009). Balanos Sociais no Brasil: uma anlise crtica das prticas corporativas. Revista de Contabilidade do Mestrado em Cincias Contbeis da UERJ (online), Rio de Janeiro, 14(2), pp. 18-31, maio/ago.
Tinoco, J. E. P. & Kraemer, M. E. P. (2008). Contabilidade e Gesto Ambiental. So Paulo, Atlas.
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