Anais do XV Congresso USP de Controladoria e Contabilidade
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RESUMO DO TRABALHO

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Código: 281

Área Temática: Área IV: Contabilidade Gerencial

Título: Folga organizacional e desempenho financeiro sob a perspectiva da teoria da agencia e contingencial: um estudo com empresas listadas na bm&fbovespa

Resumo:
Propsito do Trabalho:
A folga organizacional tem como papel principal ajudar a garantir a sobrevivencia da empresa no longo prazo (ILBAY, 2009). Diferentes tipos de folga dao aos gestores, maior ou menor grau de discricao e flexibilidade na tomada de decisoes. (SHARFMAN et al. 1988). A partir dessa visao, a literatura internacional classifica a folga em tres tipos: folga disponivel quando os recursos ainda nao estao comprometidos com determinadas atividades organizacionais; folga recuperavel quando os recursos ja foram absorvidos em operacoes, mas ainda podem ser recuperados atraves do aumento da eficiencia; e folga potencial que sao os recursos futuros gerados pelo aumento ou reducao adicional da divida ou do capital proprio (ILBAY, 2009). Nesse contexto, grande parte da literatura existente tem estudado a folga organizacional sob a otica de duas abordagens concorrentes: a teoria da contingencia, que enfatiza uma relacao positiva entre a folga e o desempenho, e a teoria da agencia que determina uma relacao oposta (ILBAY, 2009). Sob a otica da teoria da contingencia, a folga de recursos financeiros atua como estimulo para fazer escolhas estrategicas proativas, que tornem as empresas competitivas em convergencia aos objetivos pessoais e organizacionais (BOURGEOIS III, 1981; GEORGE, 2005;); enquanto que a luz da teoria da agencia a empresa e tratada como um nexo de contratos entre o principal e os agentes, onde sao colocados em equilibrio os objetivos conflitantes desses, dependendo o funcionamento adequado da empresa, do equilibrio contratual existente (IUDICIBUS; LOPES, 2008). Nesse sentido, tem-se o seguinte problema de pesquisa: Qual a relacao entre a folga disponivel, recuperavel e a potencial com o desempenho financeiro das empresas listadas na BM&FBovespa?

Base da plataforma terica:
O desenvolvimento empresarial e a consequente abertura de capital no mercado de acoes trouxe a tona a conflito de agencia, situacao a qual partes cooperantes tem diferentes objetivos e divisao de trabalho (JENSEN; MECKLING 1976; ROSS, 1973). Nessa otica, a folga organizacional so aparece quando a empresa nao esta em equilibrio, podendo estar relacionada a recursos ociosos e comportamentos gerenciais prejudiciais ao desempenho, devendo ser minimizado por uma questao de eficiencia (SHARFMAN et al. 1988). Segundo Em contraponto a teoria da agencia, Singh (1986) afirma que as empresas que possuem melhor desempenho e detem maior quantidade de folga, conseguem formular respostas mais eficientes a uma maior gama de contingencias ambientais do que as empresas de baixo desempenho que nao possuem folga. Nesses casos, as folgas atuam como um "tampao", um mecanismo para amortecer choques, quando surtos repentinos ou mudancas ambientais sao introduzidas (THOMSON; MELLAR , 2001). Como se pode observar a teoria da agencia e a contingencial, possuem visoes distintas a respeito das funcoes da folga organizacional no desempenho das empresas, sendo que nenhuma delas oferece uma visao completa sobre o tema, no entanto sao perspicazes em contribuir no estudo da relacao entre a folga organizacional e desempenho da empresa (TAN; PENG, 2003). O conceito de folga organizacional ganhou notoriedade na literatura como uma variavel independente que explica certos tipos de comportamento organizacional (BOURGEOUIS III, 1981; DANIEL et al. 2004). Cyert e March (1963) definiram folga como a diferenca entre os recursos disponiveis para a organizacao e os pagamentos necessarios para manter a coalizao. Para Bougeouis III, (1981) a folga organizacional e vista como uma almofada de recursos interpostos, reais ou potenciais, que permite que uma organizacao se adapte com sucesso as pressoes internas e se ajuste as pressoes externas; Para Sharfman et al. (1988), a folga organizacional e o excedente de receitas sobre os custos de producao que e armazenada para uma utilizacao futura; e George (2005), define folga como os recursos potencialmente utilizaveis que podem ser desviados ou redistribuidos para a consecucao dos objetivos organizacionais. A folga organizacional e o excesso de recursos do qual a empresa pode usufruir, sendo classificada em tres tipos de acordo com a facilidade de acesso a ela, Os tres tipos de folga sao: folga disponivel e nao absorvida, recuperavel e absorvida e a folga potencial. (BOURGEOIS & SINGH, 1983). O intuito dessa pesquisa e verificar a relacao da folga organizacional com o conjunto de condicoes internas da organizacao, que conforme Sharfman et al. (1988), sao: Tamanho, idade, tecnologia e estabilidade interna, desempenho. Quanto ao quesito tamanho organizacional, pode-se argumentar que quanto maior a organizacao, mais oportunidades e recursos ela tem para desenvolver a folga necessaria. Alem disso, as grandes empresas normalmente tem uma maior capacidade fisica e financeira de manter recursos em excesso. Assim, quanto maior a empresa, maior e o nivel absoluto de todas as folgas de recursos (SHARFMAN et al. 1988). Nesse contexto, a previsao sobre o relacionamento entre a folga e o desempenho, espera-se que quanto maior o desempenho maior a folga, mantendo uma relacao crescente, desde que nao haja interacao com variaveis ambientais, ou seja, em condicoes Ceteris Paribus (SHARFMAN et al. 1988).

Mtodo de investigao:
Definiu-se como populacao da pesquisa as empresas com sede no Brasil que negociam acoes e estao listadas na BM&FBovespa, conforme dados disponiveis em agosto de 2014. Para definicao da amostra, foram excluidas aquelas que nao atendiam ao criterio de selecao estabelecido, perfazendo uma amostra de 314 empresas. Para a coleta, foram elaborados dois constructos, que apresentam os indicadores utilizados para o calculo dos tres tipos de folga organizacional: disponivel, recuperavel e potencial. No primeiro constructo, foram utilizadas, as metricas propostas por Bourgeois & Singh (1983), seguidas de Singh (1986), Cheng e Kesner (1997), Greenley e Oktemgil (1998), Thomson e Millar (2001), Rust et al. (2002); que se diferenciam das utilizadas por Dallabona et al. (2013), conforme sugestao de pesquisa do mesmo, a fim de comparar os resultados dos estudos. No segundo constructo elaborado, foram utilizadas as variaveis de desempenho financeiro e controle, onde a variavel de desempenho utilizada foi a rentabilidade do ativo (ROA), a qual relaciona o lucro liquido com o ativo total das empresas. Ja as variaveis tamanho da empresa e idade, classificadas como variaveis de controle, sao medidas respectivamente atraves da receita e data de abertura da empresa. Inicialmente foram calculadas, as folgas disponivel, recuperavel e potencial referentes aos exercicios sociais de 2012 e 2013, assim como a medida de desempenho ROA utilizada pelo estudo. Posteriormente, utilizou-se um software estatistico, para o calculo da regressao linear multipla com intuito de responder a pergunta de pesquisa. Os modelos estatisticos utilizados pelo estudo, foram os mesmos da pesquisa de Dallabona et al. (2013), pois um dos objetivos a ser atingido e a verificacao da qualidade desses modelos. O primeiro modelo tem como objetivo avaliar a relacao dos tipos de folga e o desempenho, o segundo, terceiro e quarto modelo buscam identificar a influencia do tamanho e idade nos tres tipos de folga organizacional (DALABONA et al.2013), a saber: 1-ROA? = 0 + 1DIS + 2REC + 3POT + eat; 2-DIS? = 0 + 1TAM + 2IDA + eat; 3-REC? = 0 + 1TAM + 2IDA + eat e 4-POT? = 0 + 1TAM + 2IDA + eat, em que ROA= Rentabilidade do Ativo, DIS= Folga Disponivel, REC= Folga Recuperavel, POT= Folga Potencial, TAM= Tamanho das Empresas, IDA= Idade das Empresas e eat = Termo Residual

Resultados, concluses e suas implicaes:
A fim de garantir os pressupostos da normalidade dos residuos, transformou-se em logaritmo as variaveis assimetricas e filtrou-se os extremos. Em media as variaveis analisadas apresentaram estabilidade nos exercicios sociais de 2012 e 2013, porem observa-se que houve um ligeiro aumento no volume de folga disponivel e potencial, em face de uma pequena reducao no volume da folga recuperavel no ano de 2013. Os resultados das folgas disponivel e potencial, estao em consonancia com os pressupostos da teoria contingencial, a qual concebe que a folga pode ser benefica para as empresas. Ja no que tange a folga recuperavel, o resultado alinha-se a teoria da agencia, que prega que a folga nao e benefica para as empresas. Os coeficientes de correlacao de Pearson entre as Folgas Organizacionais e as variaveis de desempenho e controle foram divididos em tres grupos e analisados nos exercicios de 2012 e 2013, e logo depois foi feito uma analise dos dados consolidados. Em relacao a ROA, no exercicio de 2012, as variaveis folga potencial e recuperavel apresentaram uma correlacao moderada. Ja no exercicio de 2013 e nos dados consolidados, o ROA apresentou uma correlacao moderada com os tres tipos de folga organizacional. Dessa maneira os indices de correlacao encontrados assemelham-se a pesquisa de Dallabona et al. (2013) e Ilbay (2009). No que se refere a influencia do tamanho e idade nos tres tipos de folga organizacional, a correlacao de Pearson corrobora o modelo proposto por Dallabona et al. (2014), que preve que as caracteristicas da organizacao (tamanho e idade) sao consideradas antecedentes das folgas organizacionais, sendo essas capazes de explicar em parte a variabilidade das mesmas (SHARFMAN et al. 1988). Em atencao ao objetivo geral do estudo, no modelo proposto de regressao linear multipla a variavel dependente e a rentabilidade do ativo (ROA), sendo assim, o R2 e o coeficiente que determina a explicacao da variabilidade do ROA, explicadas pelas folgas potencial, recuperavel e disponivel. Pode-se observar que no exercicio 2012, 27,9% dessa variabilidade e explicada pelas folgas organizacionais, e que em 2013, 24,5% da variabilidade do ROA sao explicadas pelas respectivas folgas, ja ao analisarmos o modelo consolidando, os dados revelam que 24,9% da variancia do ROA e explicada pelas variaveis independentes. Os achados da pesquisa sugerem que nos tres periodos analisados, ha uma relacao significante e positivita entre ROA e folga potencial, ou seja, quanto maior o nivel de folga potencial das empresas estudas melhor o seu desempenho, o que se contrapoe ao estudo de Dallabona et al. (2013), e converge com Daniel et al. (2002), que verificaram relacao de regressao entre folga potencial e variaveis de desempenho. A relacao entre ROA e folga disponivel apresentou relacao de regressao significante e positiva no exercicio de 2013 e consolidado, corroborando com os estudos de Dallabona et al. (2013), Ilbay (2009) e Daniel et al. (2002). Os resultados deste estudo se diferem do estudo de Dallabona et al. (2013) e se aproximam dos resultados de Ilbay (2009) pois identificou relacao de regressao para os tres tipos de folga, enquanto Dallabona et al. (2013) so observaram relacao de regressao entre ROA e folga recuperavel no exercicio de 2010 e entre ROA e folga disponivel no exercicio de 2011. Percebe-se que os resultados de Dallabona et al. (2013), se aproximam aos pressupostos da teoria da agencia, que supoe que o aumento de folga pode induzir ineficiencia organizacional, enquanto que a presente pesquisa em consonancia com o estudo de Ilbay (2009) tem uma grande aproximacao da teoria contingencial, que sugere que as empresas usam a folga organizacional para melhorar o desempenho. Quanto ao objetivo especifico, o qual quis identificar a influencia das variaveis de controle, pode-se verificar que a variacao na folga disponivel e recuperavel pode ser explicada pelo tamanho das empresas. Em parte esse resultados corroboram os achados da pesquisa de Dalabona et al. (2013) e Ilbay (2009), porem os estudos citados, encontraram relacao de regressao tambem com o variavel idade o que nao foi possivel neste estudo.

Referncias bibliogrficas:
BOURGEOIS, L. J. On The Measurement Of Organizational Slack. Academy of Management Review, v. 6, p. 29-39, 1981. ______. SINGH, J. V. Organizational slack and political behavior among top management teams. Academy of Management Proceedings. p. 43-47, 1983 DALLABONA, Lara Fabiana et al. Antecedentes E Efeitos Da Folga Organizacional Em Empresas Listadas Na BM&FBovespa;: Analise Sob As Perspectivas Contingencial E Agencia. In: XXXVII Encontro da ANPAD, 2013, Rio de Janeiro. Anais ENANPAD, 2013: DANIEL, Francis et al. Slack Resources And Firm Performance: A Meta-Analysis. JournalOf Business Research, n. 57, p. 565-574, 2002 ILBAY, O. Antecedents and Effects of Organizational Slack. Master Thesis. VrijeUniversiteit Amsterdam. FaculteitEconomischeWetenschappenenBedrijfskunde, 2009. SENDER, G. O papel da folga organizacional nas empresas: um estudo em bancos brasileiros. 2004. 226f. Dissertacao (Mestrado em Administracao) Universidade Federal do Rio de Janeiro, Rio de Janeiro, 2004. SHARFMAN, M. P. et al. Antecedents of Organizational Slack, The Academy of Management Review, v. 13 (4): p. 601-614, 1988. TAN, J.; PENG, M. W. Organizational Slack And Firm Performance During Economic Transitions: Two Studies From An Emerging Economy. Strategic Management Journal, 24: p. 1249 - 1263, 2003.

 

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