Resumo: Propsito do Trabalho: A abordagem comportamental da contabilidade tem sido caracterizada na literatura como o campo de estudos que investiga fatores relacionados a mente e o comportamento humano (Birnberg; Luft; Shields, 2007). Diversos autores tem sugerido que as decisoes humanas estao indiretamente relacionadas ao inconsciente do individuo (Guerreiro; Casado; Bio, 2001; Guerreiro; Frezatti; Casado, 2006; Fernandes; Zonatto, 2013).
Guerreiro et al. (2001) promoveram uma reflexao sobre as causas de aceitacao por pessoas da area contabil de conceitos que ja foram comprovados como ineficazes para a gestao das empresas. Concluiram que as causas comportamentais condicionam e induzem um grupo de pessoas a aceitarem determinados conceitos e que a reflexao leva as pessoas a mudarem suas percepcoes, crencas, valores, conceitos e comportamentos.
Procurando compreender as razoes que podem levar determinados individuos a persistirem em suas conviccoes, Guerreiro et al. (2004) apresentaram algumas explicacoes para o inconsciente coletivo na contabilidade de custos. Neste contexto, a partir de tais suposicoes (Guerreiro et al., 2004), este estudo busca analisar o inconsciente dos diferentes grupos de alunos que cursaram ou nao a disciplina de contabilidade de custos quanto a aceitacao dos metodos de custeio variavel e por absorcao, fundamentando-se na teoria da psicologia analitica desenvolvida por Jung (1936) sobre arquetipos e inconsciente coletivo.
O estudo justifica-se pela importancia do tema e a escassez de pesquisas sob a configuracao proposta neste trabalho. A compreensao de fatores relacionados a formacao do inconsciente humano pode contribuir para o entendimento de fatores que podem favorecer ou inibir a adocao de conceitos adequados de praticas gerenciais nas organizacoes.
Base da plataforma terica:
Hoopwood (2007) explica que a pesquisa em contabilidade e fortemente interdisciplinar, visto que novos campos de investigacao estao frequentemente influenciando o seu desenvolvimento. O autor (2007) afirma que ha outro desenvolvimento decorrente das pesquisas em contabilidade, onde comecaram a abracar nao apenas o estudo contabil em si, mas tambem, as consequencias da contabilidade e seus modos de funcionamento nos contextos institucionais. Guerreiro et. al. (2001) destacaram preocupacao com a pesquisa de aspectos psicologicos que influenciam as crencas e preconceitos dos profissionais de contabilidade relacionados com a area de contabilidade de custos.
Neste contexto, Jung (1936; 1981) teorizou que as grandes decisoes da vida humana, sao muito mais sujeitos a instintos e outros fatores de inconsciente misterioso do que eles sao de consciente e de bom senso. Assim, Jung (1995) explica que o inconsciente coletivo e uma figuracao do mundo, representando a um so tempo a sedimentacao multimilenar da experiencia. Com o decorrer do tempo, foram-se definindo certos tracos nessa configuracao. Os arquetipos sao impulsos psiquicos inconscientes que sao impessoais, herdados por tracos que norteiam e motivam os pensamentos, emocoes e comportamentos muito antes de qualquer consciencia se desenvolver (CHANG et. al., 2013). Tal conceito e fundamental na abordagem da contabilidade de custos.
Assim, e importante mencionar o estudo do Slomski et. al. (2003) que objetivou tracar um paralelo das ideias do C. G. Jung sobre arquetipo e inconsciente coletivo com a aceitacao dos metodos de custeio variavel e por absorcao pelos alunos de graduacao em Ciencias Contabeis de duas universidades, da Universidade Estadual de Montes Claros UNIMONTES e da Universidade de Sao Paulo - USP. Os resultados encontrados evidenciaram que, para a amostra pesquisada, nao foram encontrados indicios que sustentem a formacao do inconsciente de grupo. Como os achados nao asseguram uma mudanca de concepcao, conforme os proprios autores, bem como os sinais nao seguem uma tendencia, percebe-se a necessidade de mais estudos em outros contextos para se comparar se os resultados sao analogos.
Neste contexto, destaca-se que a contabilidade de custos se baseia em duas correntes metodologicas para determinar o custo dos objetos a serem custeados: o custeio pleno (full cost) e o custeio variavel. Tan et. al. (2009) ressaltam que a escolha do metodo de custeio pode afetar significativamente as estimativas de custo. De forma mais abrangente, Santos (1976) explica que e possivel conceber a contabilidade como uma atividade antiga que possui uma comum base psiquica com certas semelhancas com o conceito de grupo de autoinconsciente. Este grupo constitui um tipo de inconsciente coletivo de formas de pensamento entre os contadores e pessoas que estao sob sua influencia. Estas formas de pensamento sao constituidas pelos diferentes conceitos, crencas e experiencias de muitos pessoas no campo da contabilidade durante um longo periodo de tempo.
Assim, o papel do ensino e importante na mudanca de comportamento, onde pode-se induzir a reflexao dos discentes. Guerreiro et al. (2006) menciona que o processo de reflexao e critica e fundamental para a quebra da inercia e para a escolha consciente de alternativas conceituais racionais e otimizadoras compativeis com valores fundamentais do grupo.
Mtodo de investigao: Foi realizada com discentes de Ciencias Contabeis das instituicoes: Universidade Estadual da Bahia (UNEB) Campus da cidade de Senhor do Bonfim e da Universidade Regional de Blumenau (FURB). Na UNEB foram 80 respondentes e na FURB foram 70 respondentes. Foram divididos entre grupo formado por discentes que nao cursaram a disciplina contabilidade de custos, outro grupo formado com discentes que estao cursando e um grupo formado por discentes que ja cursaram a referida disciplina.
Foi empregada na coleta de dados a aplicacao de questionario aos discentes em sala de aula, divididos em diferentes grupos. O instrumento de coleta de dados foi formado por dois blocos. O primeiro bloco busca capturar aspectos relativos a concepcao sobre os metodos de custeio, formadas por oito, sintetizadas na tabela 2. Vale ressaltar que o primeiro bloco foi estabelecido por Slomski et al. (2003). O segundo bloco foi formado por 8 perguntas que possibilitaram coletar afirmativas relacionadas ao metodo de ensino contabil, conforme tabela 4. O intuito desse instrumento e testar as explicacoes hipoteticas da pesquisa do Guerreiro et al. (2004) sobre o metodo de ensino de contabilidade.
Para o primeiro objetivo especifico, identificar a concepcao dos diferentes grupos de alunos sobre a aceitacao dos metodos de custeio, e o segundo objetivo especifico, analisar a concepcao de custos dos diferentes grupos de alunos sobre a aceitacao que possuem experiencia profissional na area contabil, foram alcancados com o uso da comparacao de medias (teste t). No terceiro objetivo, identificar o metodo e pratica de ensino do Professor que ministra a disciplina foi alcancado com o teste de comparacao de medias (teste t) e analise descritiva dos dados.
Resultados, concluses e suas implicaes: Os resultados apresentados na tabela 5 indicam existem diferencas significantes entre as medias dos grupos 1, 2 e 3 das duas instituicoes. Na Universidade do Estado da Bahia (UNEB) e na Universidade Regional de Blumenau (FURB), os alunos que ainda nao estudaram parecem assumir uma postura mais aderente ao custeio por absorcao. Ja os alunos que estudam ou ja estudaram, assumem medias mais aderentes ao custeio variavel. Assim, medias aumentam gradativamente de acordo a escala educativa. Os resultados sao condizentes com a afirmacao do Jung (1995) que teorizou que a reflexao e fundamental para que os individuos reavaliem conscientemente tudo o que eles tem aceitado inconscientemente, com a vista mudar o seu comportamento. Tambem corroboram os achados do estudo do Slomski et al. (2003).
De acordo com a tabela 6, os alunos que possuem experiencia profissional em contabilidade da UNEB e da FURB, nos grupos 1, 2 e 3, indicam aderencia ao custeio por absorcao, excetuando o grupo 3 da FURB que assumem uma postura mais aderente ao custeio variavel. Os estudantes dos grupos da UNEB obtiveram medias menores mesmo quando estudaram custos, bem como o grupo 1 e 2 da FURB. Harung (1993) afirma que a experiencia e considerada uma amiga, no entanto, atraves do condicionamento, ela pode se tornar uma inimiga, uma vez que habitos passados podem impedir a atencao objetiva nas condicoes do momento presente e produzir erros sistematicos de julgamento.
De acordo as tabelas 12, 13 e 14, pode-se concluir que o tema nao e abordado com profundidade para a maioria dos estudantes, sobretudo aos estudantes da Universidade do Estado da Bahia. Em grande parte dos resultados, houveram predominancia dos resultados para o quesito apenas apresentado e discutido superficialmente.
Em sintese, os resultados apontaram que os alunos que nao estudaram custos possuem postura com maior aderencia para o custeio absorcao. Com a evolucao na escala educativa, os estudantes mudam a postura e possuem maior aderencia ao custeio variavel apos estudarem custos. Esse resultado corroborou a pesquisa do Slomski et al. (2003). Para o grupo formado apenas por estudantes que possuem experiencia profissional na area contabil, os resultados dos estudantes da UNEB corroboraram as evidencias do estudo de Santos (1976) e do Guerreiro et al. (2004), visto que estudantes de contabilidade pertencentes a grupo especifico (aqueles que trabalham em area contabil) possui um tipo especifico de inconsciente coletivo de formas de pensamentos entre os contadores e pessoas que estao sob sua influencia.
Os achados tambem indicam que, embora haja mudanca de concepcao, os estudantes nao possuem clara definicao das diferencas existentes entre os custeios, uma vez que a maioria considera o custeio por absorcao importante para tomada de decisoes, alem de afirmarem que existe pouca diferenca entre os custeios. Estes achados encontrados vao ao encontro das explicacoes do Guerreiro et al. (2004
. Em relacao ao metodo e pratica de ensino em contabilidade de custos, os resultados apontaram que os temas nao foram abordados com profundidade para a maioria dos estudantes. Em grande parte dos resultados, houve predominancia dos resultados para o quesito apenas apresentado e discutido superficialmente os temas.
Em sintese, pode-se inferir que a falta de profundidade seja um fator que explique o porque os discentes nao reavaliarem conscientemente tudo o que eles tem aceitado inconscientemente, com vista a mudar o seu comportamento. A falta de profundidade dos temas pode ser um fator que explique o porque os discentes nao claramente discriminarem as diferencas entre o custeio de absorcao e variavel, bem como a manutencao de conceitos e praticas contabeis utilizadas para fins financeiros serem aceitas para fins gerenciais e explicar o baixo grau de implementacao nas praticas gerenciais das organizacoes.
Sugere-se para os proximos estudos, analisar se o genero e a idade influenciam na manutencao de arquetipos e inconsciente coletivo em contabilidade, bem como acompanhar um grupo de aluno durante a escala educativa que compreende a nao ter estudado custos ate o termino da disciplina.
Referncias bibliogrficas: Bradshaw, Sally; Storm, Lance (2013). Archetypes, symbols and the apprehension of meaning. International journal of Jungian studies, v. 5, n. 2, p. 154-176.
Chang, Huang-Ming et al (2013). From mythology to psychology: Identifying archetypal symbols in movies. Technoetic arts, v. 11, n. 2, p. 99-113.
Guerreiro et al (2001). Algumas reflexoes sobre os arquetipos e o inconsciente coletivo na contabilidade de custos: um estudo exploratorio. Revista de Contabilidade Sao Paulo: CRC SP, n. 15, mar. p. 4-21.
____________; Casado, Tania; Bio, Sergio R (2004). Some reflections on the archetypes in cost accounting: an exploratory study. Journal of Applied Management Accounting Research. v. 2, n. 1, p. 41-54.
Jung, Carl G (1936). The concept of the collective unconscious. Collected works, v. 9, n. 1, p. 42.
Pashang, Hossein; sterlund, Urban; Johansson, Kjell (2014). Cost Accounting, Ethical Accountability, and Accounting Principles. Journal of Modern Accounting and Auditing, v. 10, n. 1, p. 20-31.
Slomski, V.; Batista, I. V. C; Carvalho, E. M (2003). Os metodos de custeio variavel e por absorcao e o inconsciente coletivo na contabilidade de custos. Revista de Contabilidade do Mestrado em Ciencias Contabeis da UERJ, 8(1), 9-20.
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