Resumo: Propsito do Trabalho: O estudo de modelos de estrat?gia de decis?o tem contribu?do de forma significativa para entender como decis?es s?o tomadas do ponto de vista cognitivo. Tais modelos ajudam a compreender o comportamento de um tomador de decis?o diante de fatores intr?nsecos e extr?nsecos ?s informa??es apresentadas. Dependendo do modo como a informa??o ? apresentada, o tomador de decis?o pode interpretar as alternativas e o cen?rio de diversas formas, e esta ? uma das principais justificativas desse trabalho.
O presente trabalho tem o objetivo de apresentar a discuss?o existente em torno do uso das informa??es cont?beis sob a perspectiva dos modelos de estrat?gia de decis?o. Para tanto, ser? conduzido um experimento a fim de que possamos observar o comportamento dos usu?rios de informa??es cont?beis diante de uma decis?o que ser? constru?da de acordo com Iselin (1988), Mertins e Long (2012) e McDaniel e Hand (1996).
Tal perspectiva pode ser promissora porque os modelos de estrat?gia de decis?o lidam com aspectos fundamentais da interpreta??o cognitiva que ? feita durante um processo de tomada de decis?o. Fatores que se desviam do comportamento racional esperado pela teoria tem gerado importantes contribui??es ?s pesquisas em contabilidade (Shields, 1995; Mansor, Tayes e Pike, 2012; Biggs, Bedard, Gaber e Linsmeier (1985)). Al?m disso, pesquisas que levam em considera??o fatores como stress tem contribu?do para o entendimento do processo de tomada de decis?o (Berret, Vessey e Mumford, 2011).
Base da plataforma terica: Modelos de estrat?gia de decis?o s?o os diferentes caminhos cognitivos que podem ser feitos para uma tomada de decis?o. Dentro desse processo, existem diferentes m?todos para solucionar a quest?o, em que um determinado ganho pode ser visto sob diferentes aspectos: ele pode ser exatamente o que o tomador de decis?o procura, ou ent?o pode ser avaliado em termos relativos. Payne et al (1992) enumeram diferentes modelos, e diferentes caracter?sticas desses modelos. Eles podem ser baseados nos atributos da decis?o, ou podem gerar uma avalia??o geral das alternativas. Podem fazer uma avalia??o qualitativa, ou uma avalia??o mais quantitativa, por exemplo.
Uma das principais caracter?sticas estudadas ? a diferen?a entre modelos compensat?rios e n?o compensat?rios, tidas por Payne et al (1992) como uma distin??o central entre os modelos. Uma amostra desses modelos ? a Heur?stica Elimination By Aspects (EBA) descrita por Tversky (1972 apud Payne et al, 1992). Nela, o tomador de decis?o escolhe um atributo chave (por exemplo, lucratividade) e escolhe a alternativa com o melhor valor neste atributo (ou seja, com melhor lucratividade).
Um exemplo pr?tico do uso dessas teorias na an?lise das informa??es cont?beis pode ser visto em Biggs et al (1985). Trata-se de um estudo sobre os efeitos de determinados aspectos da estrat?gia de decis?o no comportamento de analistas de cr?dito. De acordo com Biggs et al (1985), aumentar a similaridade entre os relat?rios de an?lise de cr?dito pode reduzir o uso dos modelos n?o compensat?rios.
Mas qual a implica??o em identificar se um modelo ? mais ou menos compensat?rio? Decis?es n?o compensat?rias s?o utilizadas, de acordo com Biggs et al (1985), para reduzir o "esfor?o de pensar" enquanto que os modelos compensat?rios tendem a ser utilizados quando as alternativas s?o similares. Os modelos compensat?rios permitem avaliar a alternativa como um todo o que, no caso de uma an?lise de cr?dito, significa o processamento de v?rios aspectos relevantes. Al?m dessa implica??o, Biggs et al (1985) encontram que a medida que o n?mero de quest?es aumenta, maior ? a variabilidade de informa??es a serem buscadas.
Ora, se a variabilidade de informa??es aumenta, mais dif?ceis s?o as compara??es entre as informa??es. Assim, os modelos utilizados se tornam n?o compensat?rios. Por outro lado, Biggs et al (1985) encontraram que os percentuais das informa??es adquiridas diminuem na medida em que o n?mero de quest?es aumenta. Esses resultados tem um impacto direto no
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uso de informa??es por tomadores de decis?o. Em se tratando de informa??es cont?beis, o uso de todo um relat?rio tende a diminuir.
Do ponto de vista do n?mero de alternativas, Paquette e Kida (1988) descobriram que modelos de estrat?gia de decis?o compensat?rios s?o melhores quando a decis?o envolve poucas (no m?ximo 3) alternativas. Os modelos n?o compensat?rios, por sua vez, s?o mais interessantes para muitas alternativas. Os modelos compensat?rios "acertaram mais" uma estrat?gia de decis?o quando existiam duas alternativas, mas n?o foram bons o suficiente ao lidar com nove alternativas. Dessa forma, decis?es mais complexas necessitam de informa??es mais sint?ticas.
Mtodo de investigao: A pesquisa conduzida tem como base a aplica??o de um experimento a um grupo de estudantes da Universidade de S?o Paulo. Nele, s?o tomadas duas decis?es, uma com informa??es que s?o semelhantes entre as alternativas, e outra com informa??es diferentes entre as alternativas. Essa diferencia??o serve para comparar os resultados dessa pesquisa com os obtidos em Biggs et al (1985), e Paquette & Kida (1988).
O experimento est? focado nas altera??es que podem existir entre um relat?rio com informa??es agregadas e outro com informa??es desagregadas. As demais vari?veis se mantem est?ticas. S?o apresentados relat?rios agregados e desagregados, que na ess?ncia cont?m a mesma informa??o. Tal estrutura ser? detalhada quando for descrito o experimento.
? utilizada a metodologia whitin subjects que neste trabalho tem como fundamento diferenciar randomicamente determinada ordem de apresenta??o do experimento. A metodologia whitin subjects leva esse nome pois a manipula??o no experimento ? feita com cada indiv?duo (BARON, 2008, pg. 47).
De modo geral, trata-se de uma decis?o de investimento. O respondente assumir? o papel de um alto executivo que escolher? tr?s propostas de constru??o de um alto forno. S?o as propostas A, B e C. Cada uma delas se diferencia por quatro dimens?es principais, de acordo com a vis?o proposta por Iselin (1988): Potencial de Receita, Custo do Projeto, Risco (probabilidade do projeto ficar mais caro, devido a atrasos, por exemplo), Tempo de Conclus?o.
No estudo de Biggs et al (1985), s?o verificados que relat?rios mais padronizados podem beneficiar o uso de modelos compensat?rios. ? esperado um uso maior de diferentes informa??es. J? nos relat?rios n?o padronizados as intera??es esperadas podem ser visivelmente diferentes.
Por fim, ? realizada uma etapa de "avalia??o individual" simultaneamente a cada decis?o. Trata-se de uma escala quantitativa que tem o objetivo de confirmar a escolha realizada, ou seja, o projeto escolhido deve ser o de maior atratividade. Al?m disso, existe a possibilidade de estudar o que a percep??o da atratividade ? influenciada pelo uso das informa??es dispon?veis.
Resultados, concluses e suas implicaes: A correla??o entre os projetos A e C, e a total falta de correla??o do projeto B demonstra que a avalia??o feita pelo tomador de decis?o se baseou nos pesos dados a esses dois projetos, mesmo que no final ele acabe escolhendo o projeto B. Este ? o primeiro ind?cio de que as compara??es foram extremamente relevantes para os participantes deste experimento.
A rela??o entre o projeto escolhido e a atratividade do projeto C representam um indicio de que apenas este projeto foi a base de avalia??o para os demais projetos. Por?m, o teste-t para amostras independentes resultou que as m?dias podem ser diferentes, ou seja, podem ter ocorrido pelo menos dois comportamentos diferentes em uma mesma avalia??o, apenas porque a ordem dos relat?rios foi alterada.
? poss?vel observar uma interessante rela??o positiva entre o tempo compensat?rio total (TC) e essa vari?vel, al?m da respectiva rela??o negativa (muito pr?xima de zero, pois o tempo est? sendo medido em mil?simos de segundo) entre as atratividades A e B. O que nos permite concluir a partir do modelo ? que o usu?rio que mais dedicou tempo na an?lise dos relat?rios agregados foi, em m?dia, quem considerou a maior atratividade do projeto C.
A vari?vel ?Tempo Compensat?rio Total? ? medida no momento da an?lise do relat?rio agregado. Nesse instante, o usu?rio tem a sua disposi??o os tr?s projetos, e pelos resultados, quem dedicou mais tempo nessa an?lise escolheu o projeto C. J? o tempo n?o compensat?rio (TNC) possui uma signific?ncia baix?ssima, e n?o nos permite dizer se existe uma prefer?ncia durante a an?lise dos relat?rios desagregados.
A an?lise fatorial citada ao final da metodologia gera um p-valor baix?ssimo para TNC (praticamente zero), e essa mesma vari?vel n?o se relaciona bem quando os grupos s?o analisados em conjunto. A conclus?o que permite chegar ? a de que os modelos n?o compensat?rios s?o beneficiados pelo uso de relat?rios desagregados, mas estes mesmos relat?rios podem n?o serem otimizados quando utilizados sozinhos, e a pessoa que o utiliza n?o tem uma ideia espacial de determinadas vari?veis.
As m?dias das atratividades e dos projetos escolhidos nas duas analises levam a concluir que os tomadores de decis?o tendem a ?afinar? as suas atratividades e decis?es na medida em que s?o apresentadas mais informa??es. Mesmo com o comportamento diferenciado entre os grupos, as m?dias das atratividades se alteram quando se vai do relat?rio agregado para o desagregado, e vice versa.
Retomando a discuss?o apresentada por Biggs et al (1985) ? poss?vel dizer que os relat?rios agregados permitiram uma melhor comparabilidade, e fizeram com que os participantes tivessem uma ideia melhor acerca dos projetos apresentados. Por outro lado, os relat?rios desagregados se ajustam melhor em determinadas situa??es, provavelmente quando o tomador de decis?o tem um conhecimento melhor sobre as vari?veis envolvidas. E principal evid?ncia que suporta essa afirmativa ? que o fato do TNC n?o terem sido bem ajustados a regress?o calculada mas estarem relacionados a an?lise fatorial classificada pelos grupos.
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