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Anais do XV Congresso USP de Controladoria e Contabilidade
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RESUMO DO TRABALHO |
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Código: 55 |
Área Temática: Área III: Contabilidade Financeira |
Título: O valor preditivo do resultado lquido contbil, dos accruals e do fluxo de caixa operacional das seguradoras |
Resumo: Propsito do Trabalho: O objetivo deste trabalho foi de verificar se as variveis contbeis resultado lquido contbil, accruals e fluxos de caixa operacionais (FCOs) possuem capacidade de prever fluxos de caixa operacionais das seguradoras brasileiras reguladas pela Susep do 1 semestre de 2005 at o 2 semestre de 2013 (18 semestres). Adicionalmente foi verificado qual destas trs variveis contbeis a mais eficiente na previso de fluxos de caixa operacionais, bem como se os accruals incrementam a capacidade preditiva dos FCOs.
Conforme o Financial Accounting Standards Board (FASB) (2010) e o International Accounting Standards Board (IASB) (2010), a informao contbil relevante quando possui valores preditivos ou confirmatrios. O valor preditivo das informaes contbeis se relaciona com os valores futuros e o valor confirmatrio se relaciona com a predio anterior que pode ser comparada com informaes reais divulgadas posteriormente.
A declarao dos dois normatizadores corroborada por diversos autores que se utilizaram das informaes contbeis para confirmar a capacidade preditiva do lucro lquido, dos accruals e dos fluxos de caixa com o objetivo de estimar os valores futuros: (a) do retorno de aes; (b) dos lucros lquidos; (c) dos fluxos de caixa; e (d) de outras variveis contbeis.
Diante do objetivo deste trabalho, apresentada a seguinte questo de pesquisa: Considerando o resultado lquido contbil, os accruals e o fluxo de caixa operacional das seguradoras reguladas pela Susep, qual desses preditores de fluxo de caixa operacional o mais eficiente?
Considerando que esse estudo aborda a predio dos fluxos de caixa futuros utilizando as variveis resultado lquido contbil, fluxo de caixa operacional e accruals, foram elaboradas cinco hipteses de pesquisa.
Base da plataforma terica: O regime de competncia, os fluxos de caixa e os accruals so termos importantes no contexto desta pesquisa, pois deles so provenientes as variveis utilizadas no procedimento emprico, tais como: (a) os resultados lquidos contbeis gerados pelo regime de competncia; (b) os fluxos de caixa operacionais que fazem parte dos fluxos de caixa totais; e (c) os accruals gerados pela diferena entre os resultados lquidos contbeis e os fluxos de caixa operacionais.
Uma das formas para avaliar o desempenho de uma empresa a anlise da demonstrao do resultado, que preparada utilizando-se o regime de competncia. Para Lopes e Martins (2005, p. 68), o regime de competncia oferece uma informao contbil mais relevante para os investidores, pois o lucro lquido possui maior capacidade de prever fluxos de caixa.
A demonstrao do resultado pelo regime de competncia baseada no reconhecimento da receita e na confrontao das despesas com as receitas, independentemente do recebimento das receitas ou do pagamento das despesas.
Dechow e Dichev (2002, p. 37) definem accrual como a diferena entre: (a) o resultado do perodo apurado pelo regime de competncia; e (b) os fluxos de caixa. As autoras afirmam ainda que o sistema contbil adiciona accruals aos resultados para resolver o problema de descasamento dos fluxos de caixa.
A capacidade preditiva das informaes contbeis tem sido estudada nas ltimas dcadas. Entretanto, at o momento parece no haver consenso na literatura sobre qual varivel contbil oferece a maior capacidade de prever os lucros e os fluxos de caixa operacionais das empresas.
Um marco importante ocorreu quando O Financial Accounting Standards Board (FASB) (1978, p. 3), por meio do Statements of Financial Accounting Concepts (SFAC) n 1 afirmou que o lucro lquido o melhor preditor de fluxos de caixa. Esta afirmao foi a motivao para uma srie de trabalhos empricos.
Alguns trabalhos concluram que o lucro lquido o melhor preditor de fluxo de caixa, corroborando com a afirmao do FASB, dentre eles: (a) Greenberg et al. (1986) para 157 empresas dos EUA; (b) Murdoch e Krause (1990) para 603 empresas da base de dados da Compustat Industrial; (c) Dechow et al. (1998) para 667 empresas dos EUA; (d) Takhtaei e Karimi (2013) para 51 empresas do Ir; e (e) dentre outros.
Dos trabalhos avaliados, alguns autores contrariaram a afirmao do FASB e concluram que os fluxos de caixa superam os lucros lquidos na previso de fluxos de caixa de perodos subsequentes. Dentre estes autores possvel citar: (a) Bowen, Burgstahler e Daley (1986) para 324 empresas dos EUA; (b) Percy e Stokes (1992) para 99 empresas da Austrlia; (c) Finger (1994) para 50 empresas constantes da base de dados da Compustat; (d) Barth et al. (2001) para 10.164 observaes de empresas dos EUA; (e) Stammerjohan e Nassiripour (2001) para 944 empresas dos EUA; (f) Chotkunakitti (2005) para 291 empresas da Tailndia; (g) Seng (2006) para 213 empresas da Nova Zelndia; (h) Farshadfar, Ng e Brimble (2008) para 323 empresas da Austrlia; (i) Waldron e Jordan (2010) para 267 empresas da base de dados da Compustat Industrial; (j) Gumbi (2012) para 69 empresas da frica do Sul; e (k) dentre outros.
Apesar da afirmao do FASB, no h um consenso entre os resultados apresentados. Os resultados das pesquisas que testaram a afirmao do FASB no so conclusivos, porm a maioria dos estudos revela que as variveis lucro lquido, accruals e fluxo de caixa operacional, divulgadas pelas empresas, possuem poder para prever fluxos de caixa futuros.
Mtodo de investigao: Quatro modelos foram empregados para estimao da capacidade preditiva das trs variveis contbeis, extradas de 1.492 demonstraes contbeis de 98 seguradoras.
Para verificar se houve atendimento aos pressupostos do estimador dos Mnimos Quadrados Ordinrios (MQO) foram realizados os seguintes testes/estatsticas: (a) testes Shapiro-Francia e Shapiro-Wilk, para avaliar se os resduos possuem distribuio normal; (b) teste de White, para verificar a ausncia de heterocedasticidade; e (c) estatstica VIF (variance inflating factor), para verificar a ausncia de multicolinearidade.
Com base nos testes de Shapiro-Francia e Shapiro-Wilk foram verificados a aceitao ou a rejeio da hiptese nula de normalidade. Entretanto, em funo do grande tamanho da amostra, com base no teorema do limite central, possvel afirmar que os estimadores do mtodo MQO tm uma distribuio assintoticamente normal (Gujarati, 2006).
Foi realizado o teste de White para verificar a presena de heterocedasticidade dos resduos. Quando detectada a heterocedasticidade foram utilizados os erros-padro robustos.
H duas abordagens de estimao dos dados em painel: (a) a de efeitos fixos; e (b) a de efeitos aleatrios. Alm destas duas abordagens, tambm so analisados os dados agrupados (ou dados empilhados). Tambm conhecidos como pooling, os dados agrupados no so considerados um modelo de dados em painel, mas so utilizados para explicar as diferenas introduzidas pelos modelos de efeitos fixos e de efeitos aleatrios. O empilhamento dos dados consiste na reunio de sries temporais e transversais, como nos dados em painel, entretanto no so controladas as variaes por indivduo ou por tempo.
Para cada um dos quatro modelos, visando identificao de um modelo que mais se ajusta aos dados (regresso agrupada, painel com modelo de efeitos fixos, ou painel com modelo de efeitos aleatrios) foram realizados testes auxiliares, tais como: (a) Chow; (b) Breusch-Pagan; e (c) Hausman.
Para a hiptese H4, foi verificado o critrio de informao de Akaike para apontar se houve poder incremental dos accruals na previso de fluxos de caixa. Para as hipteses, H5a H5b e H5c o critrio de Akaike foi utilizado para verificar qual varivel possui a maior capacidade de prever fluxos de caixa: (a) o resultado lquido contbil; (b) os fluxos de caixa operacionais; ou (c) os accruals.
Resultados, concluses e suas implicaes: Com o objetivo de verificar qual modelo o mais ajustado para cada um dos quatro modelos, foram analisados o modelo de efeitos fixos, o modelo de efeitos aleatrios e a regresso agrupada. Com esta finalidade foram utilizados os testes auxiliares de Chow, de Breusch-Pagan e de Hausman.
importante ressaltar que o modelo de dados em painel mais ajustado em cada equao contempla estatsticas provenientes das regresses considerando o erro padro robusto, uma vez os resduos foram heterocedsticos em todos os modelos.
Os resultados apontam que o resultado lquido contbil, os accruals e o fluxo de caixa operacional possuem capacidade de prever fluxos de caixa operacionais do perodo subsequente, confirmando o entendimento do FASB e do IASB (e tambm do CPC, pois seus pronunciamentos esto convergentes) que a informao contbil relevante, pois capaz de fazer a diferena nas decises tomadas pelos seus usurios.
Nos perodos analisados houve dois eventos que poderiam ter afetado o resultado das seguradoras: (a) a aplicao dos pronunciamentos editados pelo CPC; e (b) o RTT. As seguradoras aplicaram todos os CPCs nas suas demonstraes contbeis individuais a partir do exerccio de 2011. Assim sendo, h informaes disponveis para o exerccio de 2010 antes da aplicao de todos os CPCs (demonstraes contbeis de 2010, comparveis com 2009) e aps a aplicao dos CPCs (demonstraes contbeis de 2011, comparveis com 2010). Foram feitos testes de mdia nos resultados contbeis das seguradoras (lucros ou prejuzos) e os resultados apontaram que no h diferenas estatisticamente significativas entre os resultados contbeis divulgados para o exerccio de 2010 nos dois critrios contbeis, antes e aps a aplicao dos CPCs. Como o evento fiscal do RTT depende das mudanas nas prticas contbeis provenientes dos CPCs, logo, entende-se que o RTT tambm no afetou o resultado contbil das seguradoras.
Com o intuito de verificar se o Fluxo de Caixa Operacional (FCO) pode ser previsto pelo lucro lquido, pelo prprio fluxo de caixa operacional e pelos accruals, todos com uma defasagem, quatro modelos foram testados. Trs dos modelos verificaram se as variveis, individualmente, possuem capacidade para prever os fluxos de caixa operacionais do perodo subsequente. O quarto modelo testou se os accruals incrementam a capacidade do fluxo de caixa operacional na previso do fluxo de caixa operacional das seguradoras do perodo subsequente.
Os resultados dos quatro modelos indicam que as trs variveis, individualmente (resultado lquido ajustado, fluxo de caixa operacional e accruals) possuem capacidade de prever fluxos de caixa operacionais do perodo subsequente e que os accruals no incrementam a capacidade preditiva do fluxo de caixa operacional. Adicionalmente, os resultados apontaram os accruals como o melhor preditor de fluxo de caixa operacional.
Referncias bibliogrficas: Barth, M. E., Cram, D. P., & Nelson, K. K. (2001). Accruals and the prediction of future cash flows. The Accounting Review, 76(1), pp. 27-58.
Bowen, R. M., Burgstahler, D., & Daley, L. A. (1986). Evidence on the relationships between earnings and various measures of cash flow. The Accounting Review, 61(4), pp. 713-725.
Dechow, P. M.; & Dichev, I. D. (2002). The quality of accruals and earnings: the role of accruals estimation errors. The Accounting Review, 77, pp. 35-59.
Dechow, P. M., Kothari, S. P., & Watts, R. L. (1998). The relation between earnings and cash flows. Journal of Accounting and Economics, 25(2), pp. 133-168.
Financial Accounting Standard Board. (1978). Statement of Financial Accounting Concepts No. 1: Objectives of Financial Reporting by Business Enterprises, Financial Accounting Standards Board (FASB), Stamford. Acesso em 22 de julho de 2013, disponvel em http://www.fasb.org/cs/BlobServer?blobcol=urldata&blobtable=Mungo Blobs&blobkey=id&blobwhere=1175820899258&blobheader=application/pdf.
Finger, C. A. (1994). The ability of earnings to predict future earnings and cash flow. Journal of Accounting Research, 32(2), pp. 210-223.
Greenberg, R. R., Johnson, G. L., & Ramesh, K. (1986). Earnings versus cash flow as a predictor of future cash flow measures. Journal of Accounting Auditing and Finance, 1(4), pp. 266-277.
Waldron, M. A., & Jordan, C. E. (2010). The comparative predictive abilities of accrual earnings and cash flows in periods of economic turbulence: the case of the it bubble. The Journal of Applied Business Research, 26(1), pp. 85-97.
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