Anais do XV Congresso USP de Controladoria e Contabilidade
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RESUMO DO TRABALHO

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Clique para abrir o trabalho de código 273, Área Temática: Área III: Contabilidade Financeira

Código: 273

Área Temática: Área III: Contabilidade Financeira

Título: Praticas de Sustentabilidade Empresarial, Estrategias de Enfrentamento as Mudancas Climaticas e Criacao de Valor: um estudo com as empresas nao financeiras listadas na BM&FBOVESPA

Resumo:
Propsito do Trabalho:
Durante muito tempo, as questoes socioambientais foram negligenciadas pelas organizacoes. A busca por bons resultados financeiros e pela geracao de lucro ignorava os impactos das atividades empresariais sobre os recursos humanos e naturais. Todavia, em funcao das pesquisas sobre a ciencia do clima, das evidencias de intensificacao dos problemas relacionados as mudancas climaticas e do aumento das catastrofes naturais, as discussoes relacionadas as estas questoes estao ganhando destaque na conjuntura mundial (Intergovernmental Panel on Climate Change [IPCC], 2007). Como prova disso, observa-se as iniciativas de diversas bolsas de valores em criar indices somente com empresas comprometidas com a sustentabilidade, como e o caso da Dow Jones Social and Sustainability Index (DSJI) nos Estados Unidos, do FTSE4Good Index no Reino Unido, do Indice de Sustentabilidade Empresarial (ISE) e do Indice Carbono Eficiente (ICO2) no Brasil, dentre outros. Evidencias empiricas revelam que o envolvimento empresarial com as causas socioambientais e influenciado por diversos fatores que, em sua maioria, se encontram associados a necessidade de obter melhor imagem e reputacao perante os stakeholders, incluindo a possibilidade de vantagens financeiras, por meio de reducao de passivos ambientais, diminuicao do custo de capital, aumento do retorno das acoes, ampliacao de market share e criacao de valor corporativo. (Sussman & Freed, 2008; Wittneben & Kiyar, 2009; Pinkse & Kolk, 2009; Ziegler, et al., 2011). Dessa forma, com base na teoria dos stakeholders buscou-se investigar se existe relacao entre praticas de sustentabilidade empresarial, estrategias de enfrentamento as mudancas climaticas e o valor das empresas nao financeiras listadas na BM&FBOVESPA.

Base da plataforma terica:
A adocao de praticas de sustentabilidade empresarial envolve uma gestao com compromisso socioambiental. Historicamente, a preocupacao ambiental so era colocada em primeiro plano no momento em que ocorriam grandes desastres ambientais. (Coelho, 2009). No entanto, pesquisas revelam que atualmente existe uma tendencia crescente de organizacoes que estao empreendendo esforcos para compatibilizar o crescimento economico com as questoes sociais e ambientais (triple bottom line) (Rossi JR, 2009; Lourenco et al., 2012; Andrade et al., 2013; Oliveira, 2014). A teoria dos stakeholders se propoe a predizer/explicar esse comportamento organizacional. Segundo Donaldson e Preston (1995) essa teoria permite compreender a complexidade da relacao empresa-sociedade. Desse relacionamento, decorrem as chances de sucesso da organizacao (Post, Preston & Sachs, 2002). Diante disso, o modelo de gestao que se baseia unica e exclusivamente na maximizacao de riqueza para o proprietario poe em risco a sobrevivencia da empresa ja que no contexto atual o mercado, a sociedade e a propria regulamentacao pressionam as empresas a atuarem com mais respeito ao homem e ao meio ambiente (Machado & Oliveira, 2009). Assim, as empresas tem respondido a essas pressoes com modelos de gestao e estrategias diferenciadas, que buscam alinhar as praticas da empresa as demandas sociais, com o proposito de adicionar valor e preservar a legitimidade da organizacao. A adequacao ou os beneficios de conduzir os negocios sob o prisma da responsabilidade social, considerando as mais diversas partes interessadas nao e largamente aceita. A gestao que considera somente o socio/proprietario como parte interessada da entidade e defendida por Friedman (1970). O autor considera que a funcao dos gestores e fazer com que os resultados positivos da empresa se multipliquem e em seguida sejam destinados a seus proprietarios, sendo funcao do Estado zelar pela esfera social e ambiental de uma nacao. Atualmente percebe-se uma fragilidade dessa teoria para explicar a dinamica das organizacoes em razao do despertar da sociedade para necessidade de insercao das questoes socais e ambientais no dia-a-dia das entidades. Nessa linha, Jensen (2001) afirma que a teoria dos stakeholders tem recebido o apoio formal de muitas organizacoes profissionais, grupos de interesses especiais e orgaos governamentais. De acordo com a teoria dos stakeholders, para Freeman e McVea (2000) os gestores devem tomar decisoes que levem em conta os interesses de todas as partes interessadas em uma empresa. As partes interessadas incluem todos os individuos ou grupos que podem afetar substancialmente, ou ser afetados pelo alcance dos objetivos da empresa (Freeman, 1984), uma categoria que inclui nao so os detentores de direitos financeiros, mas tambem os funcionarios, clientes, comunidade e governo (Jensen, 2001). Sabendo que a preservacao do meio natural e interesse coletivo, esse estudo considera que ao implementar meios/estrategias para a promover o desenvolvimento sustentavel por meio da mitigacao e controle das mudancas climaticas as empresas demonstram estar agindo sob a otica da teoria dos stakeholders, ou seja, buscando atender as expectativas de diversas partes interessadas que nao simplesmente o acionista/proprietario.

Mtodo de investigao:
A amostra desta investigacao corresponde a todas as companhias nao financeiras listadas da BM&FBOVESPA, cujo os dados para o ano de 2013 estavam disponiveis na base de dados Economatica no mes de setembro de 2014. A exclusao das empresas financeiras justifica-se pelo fato destas possuirem caracteristicas bem peculiares de sua estrutura patrimonial em relacao as demais (Rossi jr., 2009; Claro & Claro, 2014; Sousa, et al., 2014). A amostra final foi formada por 179 empresas. Para testar as hipoteses levantadas neste estudo, realizou-se analise de regressao linear multipla. Nesta pesquisa, a variavel dependente, e o valor da empresa, medido pelo Q de Tobin. Para o calculo do Q de Tobin, utilizou-se o modelo aproximado e simplificado de Chung e Pruit (1994). Para o escopo desta investigacao, consideraram-se como variaveis independentes principais a pratica de sustentabilidade empresarial e as estrategias de enfrentamento as mudancas climaticas. Para mensurar a variavel pratica de sustentabilidade empresarial, utilizou-se como proxy o Indice de Sustentabilidade Empresarial da BM&FBovespa, atribuindo-se 1 para as empresas que faziam parte da carteira em 2013 e 0 para as demais. Para mensurar a variavel estrategias de enfrentamento as mudancas climaticas, analisou-se as respostas das empresas ao questionario ISE em relacao ao criterio Gestao da Dimensao Mudancas Climaticas. Para o escopo deste trabalho, analisou-se o criterio Gestao, em razao deste contemplar as estrategias de enfrentamento as mudancas climaticas implementadas pelas organizacoes. Utilizou-se como variaveis de controle do modelo: o Tamanho da Empresa, Endividamento, Rentabilidade dos ativos e do Patrimonio Liquido. Estas variaveis foram empregadas em estudos que investigaram a relacao entre o valor da empresa (Q de Tobin) e as questoes ambientais (Rossi JR, 2009; Andrade et al., 2013; Claro & Claro, 2014; Sousa et al., 2014; Oliveira, 2014).

Resultados, concluses e suas implicaes:
Os resultados indicam que nao existe relacao positiva estatisticamente significativa entre praticas de sustentabilidade empresarial e o valor das empresas, ao nivel de significancia de 5%, portanto, rejeita-se a hipotese H1. De modo geral, estes resultados coadunam com os dos estudos de Oliveira (2014). No entanto, divergem dos encontrados por Rossi Jr. (2009), Andrade et al. (2013) e Claro e Claro (2014). Constatou-se tambem que nao existem evidencias de relacao estatisticamente significativa entre as variaveis estrategias de enfrentamento as mudancas climaticas e valor da empresa, ao nivel de significancia de 5%, por isso, rejeita-se a hipotese H2. Esses resultados corroboram com os dos estudos de Lee (2012) e vao de encontro com os encontrados por Ziegler, et al. (2011) e Boiral et al. (2012). Assim, os achados demonstram que, para o periodo e amostra analisados, nao foi possivel afirmar que praticas de sustentabilidade empresarial e estrategias de enfrentamento as mudancas climaticas podem contribuir para criacao de valor (Q de Tobin) das empresas nao financeiras listadas na BM&FBOVESPA. Dessa forma, pode-se inferir que tais informacoes ainda nao sao consideradas como relevantes pelo mercado de capitais brasileiro para fins de tomada de decisao de investimentos. A rejeicao das hipoteses levantadas nesta investigacao nao corrobora com o aparato conceitual da teoria dos stakeholders, pois indica que o envolvimento da empresa com questoes para alem das responsabilidades tradicionais, nao contribui para criacao de valor corporativo (Q de Tobin). Estes resultados, portanto, podem contribuir para as discussoes academicas no campo de investigacao contabil, principalmente para os estudos na area de contabilidade ambiental. Dentre as limitacoes deste estudo, tem-se que os resultados restringem-se ao periodo e a amostra investigada. Sugere-se que pesquisas futuras ampliem a amostra para outros paises e utilizem um horizonte temporal mais longo, para que se possa tracar um perfil mundial deste fenomeno de maneira consistente. Alem disso, poder-se-ia utilizar outras proxies para mensurar as estrategias de enfrentamento as mudancas climaticas e o valor das empresas. Propoe-se investigar a relacao entre o retorno das acoes, o desempenho economico-financeiro e as estrategias de enfrentamento as mudancas climaticas evidenciadas nos relatorios de sustentabilidade. De modo adicional, estudos poderiam investigar quais fatores influenciam a adocao destas estrategias, na percepcao dos gestores, de companhias nacionais e multinacionais.

Referncias bibliogrficas:
Chung K. H, Pruitt S. W. 1994. A simple approximation of Tobin's q. Financial Management 23(3): 70-74. Donaldson, T., & Preston, L. E. (1995). The stakeholder theory of the corporation: Concepts, evidence, and implications. Academy of management Review, 20(1), 65-91. Jensen, M. C. (2001). Value maximization, stakeholder theory, and the corporate objective function. Journal of applied corporate finance, 14(3), 8-21. Lee, S. Y. (2012). Corporate carbon strategies in responding to climate change. Business Strategy and the Environment, 21(1), 33-48. Lourenco, I. C., Branco, M. C., Curto, J. D., & Eugenio, T. (2012). How does the market value corporate sustainability performance?. Journal of business ethics, 108(4), 417-428. Pinkse J.; Kolk A. (2009). International Business and Global Climate Change. Routledge: New York. Wittneben, B. B., & Kiyar, D. (2009). Climate change basics for managers.Management Decision, 47(7), 1122-1132. Ziegler, A., Busch, T., & Hoffmann, V. H. (2011). Disclosed corporate responses to climate change and stock performance: An international empirical analysis. Energy Economics, 33(6), 1283-1294.

 

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