Anais do XI Congresso USP de Iniciação Científica em Contabilidade
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RESUMO DO TRABALHO

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Código: 302

Área Temática: Área III: Contabilidade Financeira

Título: Análise do Grau de Atendimento do Relatório Natura 2012 à Proposta de Estrutura Conceitual para Relatórios Integrados

Resumo:
Propsito do Trabalho:
O tema deste estudo está relacionado com a nova proposta do formato de Relatório Anual, integrando os relatórios financeiros e os de sustentabilidade, chamado Relatório Integrado. Para desenvolver esse projeto, foi criado o Conselho Internacional de Relatórios Integrados (International Integrated Reporting Council - IIRC), organismo formado por reguladores, investidores, empresas, organismos de normatização, representantes do setor contábil e Organizações Não Governamentais (ONGs) globais. Em abril de 2013, foi apresentada uma proposta global de estrutura conceitual para a elaboração de relatórios integrados pelas empresas, o Consultation Draft of the International <IR> Framework. A estrutura conceitual define sete elementos de conteúdo caracterizados com uma pergunta que as empresas devem responder ao elaborar seus relatórios: “visão geral da organização e ambiente externo”, “governança”, “oportunidades e riscos”, “estratégia e alocação de recursos”, “modelo de negócios”, “desempenho” e “panorama futuro”. A orientação às empresas é que incluam em seus relatos, não só o capital financeiro, mas também informações sobre os capitais intelectuais, manufaturado, humano, social e de relacionamento e natural. Dessa forma, tem-se a seguinte questão de pesquisa: Qual o grau de atendimento do relatório integrado apresentado pela empresa Natura no ano de 2012 aos Elementos de Conteúdo fornecidos pela Estrutura Conceitual do IIRC? A escolha pela Natura é justificada pelo pioneirismo da empresa na elaboração de relatórios integrados, fazendo parte inclusive do quadro de empresas do Programa Piloto do IIRC. A motivação para o tema é a crescente necessidade de integração das áreas de conhecimento em busca do desenvolvimento sustentável.

Base da plataforma terica:
Sustentabilidade Para Vellani e Ribeiro (2009), a sustentabilidade está ganhando status de vantagem competitiva em um contexto em que as expectativas da sociedade com relação às empresas são cada vez maiores e se aliam à escassez de recursos naturais. Em se tratando do desempenho em sustentabilidade das empresas, foram desenvolvidos parâmetros buscando oferecer diretrizes para os relatos de sustentabilidade que as empresas desejam fornecer. Fazem parte dessa iniciativa, organismos como o Global Reporting Initiative (GRI) e o International Integrated Reporting Council (IIRC). Modelo GRI e Diretrizes G3, G3.1 e G4 A GRI tem por objetivo básico fazer com que a elaboração de relatórios não financeiros tenha “o mesmo rigor analítico e quantitativo dos relatórios econômico-financeiros” (BM&FBovespa, [2012?]). A terceira geração das Diretrizes para Relatórios de Sustentabilidade da GRI, as G3, foram lançadas no ano de 2006 (ECCLES e KRZUS, 2011) e em 2011, foram lançadas as Diretrizes 3.1 da GRI. Atualmente, as duas versões são aceitas (GLOBAL REPORTING INITIATIVE, 2012). Em maio de 2013, a GRI lançou a nova geração de diretrizes para a elaboração de relatórios de sustentabilidade, a versão G4, sendo essa, uma tentativa de alinhamento das novas diretrizes com outros modelos de relatório, por exemplo, o modelo proposto pelo International Integrated Reporting Council (IIRC) (KPMG, 2013). Relatórios Integrados Proposto pelo IIRC, o relatório integrado, em sua definição mais simples, combina as principais informações financeiras e não-financeiras, revelando os impactos de uma informação sobre a outra. O IIRC tem como objetivo fornecer padrões para a elaboração do relatório integrando aspectos financeiros, econômicos, ambientais e sociais (ECCLES, 2012). Até esse ponto, não existe a integração de informações. Muito embora as informações financeiras sejam de extrema importância, o que se depreende por meio da nova realidade é que elas fornecem um quadro cada vez menos completo ao relatar desempenhos passados das empresas. No momento, adentra-se a era em que as diferentes atividades das empresas não podem ser desassociadas. As informações não financeiras, agora geram valor aos sócios e demais stakeholders, revelando o papel que as empresas desempenham em suas relações com o meio ambiente e com a sociedade e “o relatório integrado é uma forma de garantir que as empresas façam parte do esforço”, na busca por soluções para os problemas do planeta (ECCLES e KRZUS, 2011). Estrutura Conceitual – versão 1.0 A Estrutura Conceitual apresentada orienta que um relatório integrado deve satisfazer as recomendações propostas no framework. Porém, na descrição de seu Objetivo, informa que não está focada em regras, mas sim em princípios, não estabelece referenciais e nem prescreve indicadores específicos a serem utilizados em um relatório integrado. Esclarece também que não requer que as organizações “tentem quantificar todos os usos e efeitos dos capitais”, ao alegar que muitos usos e efeitos podem ser mais bem reportados em formato de narrativa do que por indicadores quantitativos (IIRC, 2013). Ao considerar todas as observações acima destacadas, pode-se depreender que a empresa, ao buscar uma orientação para elaborar seu relatório integrado, encontra informações muito abrangentes e pouco objetivas, muitas vezes sem a necessária clareza para um framework, além de parâmetros pouco compreensíveis que ela possa tomar como base ao relatar suas informações.

Mtodo de investigao:
A Estrutura Conceitual do IIRC apresenta Elementos de Conteúdo, expressos na forma de perguntas, de modo a orientar as empresas para a elaboração de um relatório integrado. Na presente pesquisa, decidiu-se pela utilização de tais elementos como base para a elaboração de direcionadores que irão conduzir a análise do relatório integrado divulgado pela Natura. A partir da leitura da descrição fornecida pela Estrutura Conceitual para cada Elemento de Conteúdo, descrição na qual são apresentados os tópicos que devem ser abordados na elaboração do relato integrado, foram elencados 54 direcionadores, sendo: 9 para Visão Geral da Organização e Ambiente Externo; 9 para Governança, 4 para Oportunidades e Riscos, 10 para Estratégia e Alocação de Recursos, 10 para Modelo de Negócios, 6 para Desempenho e 6 para Panorama Futuro. Após a leitura da Estrutura Conceitual e do Relatório Natura 2012, cada tópico apresentado no Relatório foi relacionado a um Elemento de Conteúdo. Após essa etapa, foi feita uma análise do conteúdo selecionado no Relatório e sua relação com os direcionadores elaborados para cada Elemento de Conteúdo. Posteriormente às relações indicadas, houve o julgamento se o conteúdo selecionado respondia a cada direcionador com a finalidade de obter o grau de resposta às perguntas. Os critérios utilizados para essa análise são: Atende (O conteúdo apresentado atende satisfatoriamente ao descrito no direcionador), Atende Parcialmente (O conteúdo apresentado atende parte do conteúdo descrito no direcionador) e Não Atende (O conteúdo apresentado não atende ao conteúdo descrito no direcionador). Após o julgamento relacionado a cada um dos direcionadores dos Elementos de Conteúdo, buscou-se responder por que foi considerado que o conteúdo atendeu ou não aos critérios de classificação.

Resultados, concluses e suas implicaes:
Dos 54 direcionadores elaborados a partir do Elementos de Conteúdo da Estrutura Conceitual, o percentual de atendimento integral da empresa foi de 41%, enquanto que o atendimento parcial teve um percentual de 39%. Já para os direcionadores não atendidos, o percentual foi de 20%. Em primeiro lugar, cumpre destacar que a Estrutura Conceitual do IIRC analisada não oferece indicadores ou referências objetivas para a elaboração de um relatório integrado. Exatamente por isso, para o desenvolvimento da pesquisa fez-se necessária a estruturação de direcionadores a partir das descrições fornecidas pela Estrutura Conceitual. De modo geral, toda a Estrutura Conceitual está exposta de forma descritiva o que torna as orientações muito amplas e pouco objetivas. Os parâmetros fornecidos são de difícil compreensão e sem a clareza necessária para uma estrutura conceitual. Sendo assim, infere-se que as orientações do IIRC são insuficientes de tal modo que as empresas possam encontrar dificuldades na tentativa de elaborar seus relatórios integrados. Apesar das considerações acima, a análise do Relatório Natura 2012 foi realizada também como forma de demonstrar a visão do público externo à empresa com relação às informações fornecidas. Como pontos fortes do relatório, pode-se destacar a relação da empresa com seus stakeholders, ao demonstrar entendê-los como parte de sua estratégia de negócio e aproveitar as oportunidades que surgem desses relacionamentos. Também é possível destacar a importância dada pela empresa ao tema Sustentabilidade. Porém, ao analisar quais foram os direcionadores atendidos integral ou parcialmente, o que se depreende é que eles se relacionam às informações geralmente apresentadas em um Relatório de Sustentabilidade. Ou seja, o enfoque do relatório está baseado principalmente nas ações ambientais e sociais que a empresa realiza. São fornecidos alguns dados financeiros, mas basicamente, apenas o que é exigido pelas diretrizes GRI. A Natura disponibiliza a seus usuários somente um resumo das principais informações financeiras no tópico Geração de Valor Econômico, sendo que o grau de informações fornecido é muito “tímido” e isolado das informações não financeiras. A informação deveria ser mais bem trabalhada de forma a integrar outros conteúdos apresentados no relatório, sendo isso o que se espera de um relatório integrado. Dessa forma, pode-se concluir que o Relatório Natura 2012 ainda não apresenta dados suficientes que indicam uma integração de relatórios. A empresa ainda apresenta o relatório com uma divisão clara entre o seu relatório de Sustentabilidade e suas Demonstrações Contábeis. Há de se esclarecer que em um contexto em que a abordagem em Relatórios Integrados ainda é muito incipiente, é compreensível que as empresas ainda estejam passando por uma fase de adaptação. Por outro lado, é necessário que as exigências dos modelos a que a empresa se dispõe a seguir, sejam de fato cumpridas. A Natura apresenta em seu relatório grande destaque aos seus relacionamentos com seus públicos, porém, a urgência é que além desse destaque social e ambiental, as informações econômicas e financeiras sejam consideradas como parte da relação, principalmente, ao descrever o impacto das ações socioambientais sobre o a posição patrimonial e o desempenho financeiro da empresa. Logicamente que todas essas transformações demandam gastos e tempo para que sejam observadas, mas a sugestão proveniente da pesquisa é que a Natura e as empresas que fazem parte do Programa Piloto do IIRC, realizem um esforço “fiel” ao que propagam em seus discursos e busquem um pensamento integrado por meio de suas realizações e, de fato, adaptem sua forma de divulgação e disclosure visando o bem estar da sociedade. Entretanto, como já mencionado, infelizmente a Estrutura Conceitual do IIRC não está contribuindo para um esforço mais ousado por parte das empresas no sentido de promover a integração necessária de informações, visto que suas recomendações são bastante genéricas e não direcionadas objetivamente para que tal integração ocorra.

Referncias bibliogrficas:
BM&FBOVESPA. Novo Valor: sustentabilidade nas empresas.[2012?] Disponível em [http://www.bmfbovespa.com.br/empresas/download/guia-de-sustentabilidade.pdf]. Acesso em: 14 jan 2013. ECCLES, Robert G.; KRZUS, Michael P.. Relatório Único – Divulgação Integrada para uma estratégia sustentável. São Paulo: Saint Paul Editora, 2011. ECCLES, Robert G.; PERKINS, Kathleen Miller; SERAFEIM, George. How to Become a Sustainable Company. Mit Sloan Management Review, Cambridge, v. 53, n. 4, p.299-316, 2012. GLOBAL REPORTING INITIATIVE. Relatórios de Sustentabilidade da GRI: quanto vale essa jornada? 2012. Disponível em [https://www.globalreporting.org/resourcelibrary/Portuquese-Starting-Points-2-G3.1.pdf]. Acesso em: 8 maio 2013. INTERNATIONAL INTEGRATED REPORTING COUNCIL (IIRC). Consultation Draft of the International <IR> Framework. 2013. Disponível em [http://www.theiirc.org/consultationdraft2013/]. Acesso em: 14 jan 2013. KPMG. Diretrizes G4 da GRI: quais os efeitos nos relatórios corporativos de sustentabilidade? 2013. Disponível em: [http://www.kpmg.com/BR/PT/Estudos_Analises/artigosepublicacoes/Documents/Diretrizes_g4_GRI.pdf]. Acesso em: 9 jul 2013. NATURA. Relatório Natura 2012: versão completa GRI. 2013. Disponível em [http://natura.infoinvest.com.br/ptb/4264/RelatrioAnual_2012_CompletoGRI_Port.pdf]. Acesso em: 8 maio 2013. VELLANI, Cassio Luiz; RIBEIRO, Maísa de Souza. Sustentabilidade e contabilidade. Revista Contemporânea de Contabilidade, Florianópolis, v. 6, n. 11, p.187-206, 2009.

 

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